Este
texto de ficção tem referência em fatos reais, todos eles am- plamente
documentados. Não quer ser nenhuma espécie de fobia, não quer condenar ninguém.
Seu propósito é o de contribuir para tornar
esse mundo menos poluído, mais humano.
Olhando
para ela, vestida daquele jeito, ninguém arriscaria a hipótese de que estivesse
indo para uma escola. Mas estava. Imagino que, lá, deveria sofrer toda espécie
de bullying; ela deveria fingir-se indignada, puxando o vestido curtíssimo,
como se ele fosse de borracha e pudesse ser esticado.
Em
sala, conseguiria provocar muita comoção, quebrando a sequência lógica dos
discursos dos professores e roubando a atenção dos alunos, com os mais afoitos
tendo ímpetos de subir pelas paredes.
Caso
alguém se desse ao trabalho de lhe perguntar o que estava fazendo ali, haveria
de responder, sorrindo:
-
Não está vendo que estou estudando? Quero garantir meu futuro.
Dentro
do princípio de que os fins justificam os meios, estaria certíssima, já que seu
QI era incapaz de captar aquelas fórmulas esquisitas - repassadas pelos
mestres, haveria de usar seu QF para atingir seus objetivos. Aquele ambiente
insosso da escola haveria de lhe proporcionar os meios, haveriam de ver.
Havia
também a possibilidade de se aproximar do mundo do futebol e agarrar um jogador
em início de carreira. Poderia ser um cara feio, mas ela iria mostrar a máxima
de que “o essencial é invisível para os olhos”, iria se apaixonar pela sua
beleza interior. Depois, caso alguém dissesse que havia se vendido, haveria de
postas fotos sensuais nas redes sociais, como a dizer:
-
Vocês acham que me vendi? Olhem pro meu corpo e digam se meu preço ainda não
ficou barato! (*)
Entretanto,
aquela perspectiva do mundo da bola, de ter que entrar em disputa com outras
Marias Chuteiras, tudo isso a deixava desanimada, cansada antes da hora, ela
que já não gostava nem um pouco de futebol. Cheia de pretensão, queria mesmo
era entrar no mundo artístico, queria ser estrela de TV.
Certo
dia, ela vai até a faculdade com vestido curto e justo, diferente demais para
frequentar uma sala de aula, sendo, então, hostilizada, xingada de inúmeros
palavrões. O caso vai parar nas redes sociais e ganha repercussão nacional. No
mês seguinte, ela é expulsa e se torna manchete nos principais jornais do
mundo. Era o trampolim que esperava para conquistar seu espaço na TV.
Hoje,
ela se promove tornando pública sua vida íntima, num desserviço para com as causas
femininas, envergonhando aquelas mulheres que lutam contra todas as formas de
machismo ainda persistentes na sociedade. Aquilo que deveria ser segredo passa
a ser compartilhado por revistas, jornais e programas de TV: remodelagem de
nariz, lipo na barriga, correção de cicatriz em siliconado seio, ninfoplastia.
Quem tropeça nesse tipo de reportagem, corre o risco de ouvi-la falar:
-
Ninguém me segura mais. – E, numa alusão àquela outra figura que fez leilão de
sua virgindade: - Estou pensando seriamente nessa possibilidade, já que tenho
tudo em estado de seminovo, principalmente a antiga couve-flor, agora uma
borboleta, uma flor de laranjeira ou um botão de rosa.
Caso
ela venha a leilão, seria bom que viesse com um manual de instrução ou uma
bula. Afinal, com tanta química no corpo e tantos produtos artificiais, é
importante levar em consideração aqueles portadores de alergia e de
intolerância a glúten.
(*) Bem
diz o ditado: Quem ama o feio, bonito lhe
parece. É sabido que Vênus, a mais bela das deusas, tornou-se esposa de
Vulcano, o menos favorecido dos deuses e que era coxo. Portanto, está passando
da hora dessa implicância com modelos, que se casam com jogadores de futebol.
Quem disse que não pode ser uma questão de amor? Está certo que o relato mitológico
permite uma segunda leitura: Vulcano era o artista dos céus, era ele quem
fabricava todas as coisas... presentes, inclusive.
Etelvaldo Vieira de
Melo
1 comentários:
Estava inspirado, hein!!!!!
Postar um comentário