POESIA PARA QUEM ESTÁ VIVO AINDA

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Imagem: juniacaetano.blogspot.com

Palpitando no lodo,
Rimbaud ferido disserta:
Estou cansado, isso é claro,
não  sei mais quantas almas
nem quantas  horas tenho.
Lembro a minha própria paisagem:
sobre a névoa gris
nem a melancolia mudou.
As imagens oprimem
e as palavras aladas suplicam:
Limpem o Planalto Central enquanto é tempo
porque  aquela moçada apunhala por trás
o diesel
o sangue
o leite morno dos meninos.
Graça Rios


COZINHANDO A LÍNGUA

Às vezes, distinguir os pronomes -- a hora certa de usar um e outro -- pode representar questão de sobrevivência. Viva a gramática elementar!!!
Ivani Cunha

SE CANTAR ESPANTA OS MALES, ASSOVIAR PODE BOTAR PRA CORRER

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Sofrendo de leve perda auditiva, Eleutério se viu, em determinado momento, compelido por fatores externos e alheios à sua vontade própria a usar um aparelho para surdez.
Já falei sobre isso aqui e volto a repetir: não pense que tal assunto não lhe diz respeito; mais cedo ou mais tarde, ele estará no rol de suas preocupações. Então, quando Inês estiver morta (ou, de maneira mais incisiva: quando a vaca tiver ido pro brejo com chifre e tudo), você talvez se lastime por não ter me dado crédito. Talvez pense com seus botões: - Putz grila! Não é que aquele cara estava com a razão?
Está convencido, agora, cara pálida, da importância do tema? Pois voltemos ao Eleutério.
Quando ele formalizou sua decisão junto ao otorrino/laringo/logista, (estou falando com essa divisão pra não entortar de vez a língua) ele – aquele que se parece com Mr. Magoo e Yoda – deixou claro sua insatisfação:
- Como Pôncio Pilatos, lavo minhas mãos. Depois, quando encostar o aparelho de custo tão elevado, não venha com mi-mi-mi me responsabilizar, dizendo que sou culpado.
Já dissemos que Eleutério debitava sua lerdeza (PFL, retardo mental) na conta da surdez. Decidindo usar o aparelho, pensou:
- Quem sabe agora fico mais esperto, com reflexos afiados! Este é o sonho de minha vida: saber dar respostas inteligentes, rápidas e certeiras, não engolir desaforo.
Mas, no fundo, ele sabia que não tinha jeito, sua lerdeza era congênita, a surdez só acentuava o defeito.
Quando começou a usar o aparelho viu que ele acentuava mesmo eram os sons descartáveis: o tic-tac aborrecido do relógio da cozinha, o barulho irritante da descarga do vaso sanitário, o nhec-nhec da sandália no assoalho de casa. As coisas boas – com o som da TV e as falas das pessoas – ficaram praticamente do mesmo tamanho.
Por esses dias, alguém – que tinha ido até sua casa fazer entrega de uma encomenda – lhe disse:
- Está feliz, hein!
Eleutério estava assoviando.
- Quem assovia assim é porque está cheio de dinheiro ou é um sem vergonha – arrematou o cara.
Ficando vermelho feito pimentão maduro, Eleutério tentou explicar:
- Que nada! Isso que está vendo é um tique-tique nervoso que adquiri.
De fato, a mania de ficar assoviando veio com uso do aparelho auditivo. Nem bem descuidava um pouco, lá estava ele assoviando, geralmente as mesmas músicas, aquelas que eram temas de filmes de bangue-bangue à italiana, como Quando Explode a Violência, Era Uma Vez No Oeste, O Dólar Furado. Parece que o aparelho proporcionava uma acústica, tornando o assovio diferente. Era diferente, mas muito irritante, tanto para ele como para as pessoas ao derredor.
Estando em casa, na cozinha, enquanto refogava um arroz e afogava um legume, ou quando saía à rua ou estava num sacolão fazendo compras, geralmente estava assoviando.
As pessoas se sentiam incomodadas. Como ninguém hoje tem motivos para estar rindo e feliz, despejavam para ele olhares de rancor.
Quando retornou à fonoaudióloga para uma avaliação do aparelho, falou de seu desconforto com o tique nervoso que havia adquirido. A fono quis saber detalhes. Ele mostrou no computador vídeos onde apareciam aquelas músicas de filmes. A moça julgou aquilo interessante.
Na última visita, ela o recebeu na porta do consultório assoviando o tema de O Bom, O Mau E O Feio.
- Vixi! – pensou Eleutério.  – Estou achando que essa doença é contagiosa!
Nota: O vídeo abaixo é uma amostra do acerto do ditado “a assoviar e a coçar só custa começar”. Cuidado, amigo Leiturino, para não pegar a doença.
Etelvaldo Vieira de Melo


MANIFESTOS INTERESSANTÍSSIMOS


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A nossa independência ainda não foi proclamada.
Fizemos foi carnaval.
( Manifesto da Quaresma, 17/02/2018)
Dissimular o estado de decadência a que chegamos seria o cúmulo da insensatez.
Nós nos absteremos de política como de uma coisa idealmente infecta e objetivamente desprezível.
A arte não tem partido; é o ponto de reunião de todas as opiniões.
                             (BONNER, Michel.  Les manifestes Littéraires de la belle   Époque. Paris, 1966).
Viver e deixar de viver é que são soluções imaginárias. A   existência está alhures.
                                   (BRETON, André. Manifestes du Surrealisme.   1970).
E Klaxon não se queixará jamais de ser incompreendido pelo Brasil. O Brasil é que deverá se esforçar para compreender Klaxon.
Klaxon é klaxista.
                        (KLAXON, N.1, SP, 1922)
 Nós temos uma visão clara desta hora.
 Sabemos que é de tumulto e de incerteza.
 E de confusão de valores.
                    (FESTA, SP,1927)
Só a antropofagia nos une.Socialmente.    Economicamente. Filosoficamente.
Tupy or not tupy,  that is the question.
                        (Manifesto Antropófago, 1928)
Foi o índio que nos ensinou a rir de todos os sistemas e de todas as teorias.
Toda e qualquer sistematização filosófica entre nós será tapuia.
(Manifesto do Verde-Amarelismo ou da Escola da Anta, SP, 1929).
Graça Rios











DOMINGUEIRA

Por favor, participe da cruzada contra as idiotices predominantes nas narrações de futebol.
Ivani Cunha

FÁBULA NEBULOSA: OS AMIGOS E O URSO


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FÁBULA NEBULOSA 36: OS AMIGOS E O URSO (*)

Dois amigos andavam pela mata descuidados
(plac-plac-plac)
Quando por imenso e feroz urso são atacados.

Um deles, mais do que depressa, - vupt! - para a árvore correu
E em seus frondosos galhos se escondeu.

O outro deitou-se no chão, - zapt! - entregando-se à sorte
Esperando que, assim procedendo, evitaria a morte.

O urso deste se aproximou e o cheirou – huuummm! – cheirou.
Dando-se por satisfeito, aos poucos se afastou.

Desceu da árvore o esperto, - plec, plec, plec! - assim que o perigo foi posto de lado
E quis saber o que o urso havia dito ao que permanecera deitado.

Este respondeu: Ele falou que nunca devemos ser bobos ao ponto de confiar
Em quem, nos momentos difíceis, o que faz é nos abandonar!
(Ploc! Ploc! Ploc!)

(*) Invento e/ou leitura/releitura de Fábulas Universais

Etelvaldo Vieira de Melo

OH! QUANTA ALEGRIA

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Em fevereiro
os literatos escrevem
à  margem da folhinha
(só de folha na frente)
a  Folie órfica
dos foliões.
O bloco
Lambe-Lambe Rasurado
sai  na avenida
travestido  de  mulher.
(Será que ele é? Será que ele é?)
A língua samba entre lábios
pelos  peles  suor.
O poeta porreta
não  sabe que fim levou
o carro alegórico
das Putas Letras Eletrônicas.
Então beija linguisticamente
marinheiras  piratas palhaços
no meio no meio no meiiiiio
da multidão.
Graça Rios





SEM CONTRAINDICAÇÃO

Basta uma dose por dia, preferivelmente pela manhã, e você não precisa apresentar receita médica.
Ivani Cunha

DESFILANDO NU NO CARNAVAL

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Imagem: eduardoleite.blogspot.com.br

Amigo Leiturino,
Não sei se por causa de uma crise de tosse renitente que me acometeu, mas o fato é que tenho andado muito sem inspiração e com muita transpiração (o que tenho publicado faz parte de uma reserva de emergência e que já se encontra no final).
Outra coisa que me incomoda tem a ver com um defeito técnico do blog, que não está permitindo os comentários.
E é assim que me sinto: tossindo desesperadamente e não tendo o conforto de sua palavra amiga de apoio e de estímulo.
A vida de cronista tem este inconveniente: você tem que dançar conforme a música.  Isto é, não pega bem tratar de um tema dramático quando o clima é de alegria. Seria como colocar uma blusa de frio para uma temperatura de 40 graus. Assim sendo, como o clima agora é de carnaval, vamos colocar nosso bloco na rua, mesmo com tosse e tudo, pular feito milho de pipoca em frigideira.
Penso em organizar um desfile pelas páginas do blog. Para tanto, primeiro, teremos que visitar o galpão onde estão sendo produzidos os carros alegóricos e as fantasias. O galpão está lá em minha terra natal, anos e anos atrás...
Na década de 60, quando a televisão virou artigo popular, ela o fez provocando uma hecatombe nos costumes. Na minha cidade, por exemplo, os botecos e a pracinha da igreja matriz eram os locais mais frequentados à noite. Com a TV, suas novelas e seriados, tais lugares ficaram jogados às moscas e às traças (acho que estou empregando muita crase – preciso corrigir isso). Cheguei a pensar: pode o Pedrinho Odorico, o louco-manso da cidade, desfilar nu pelas ruas que ninguém vai dar conta.
    Com seu olhar perspicaz, Chico Buarque chegou a enxergar a mesma coisa, naquela música que diz: “e a própria vida ainda vai sentar, sentida, vendo a vida mais vivida que vem lá da televisão” (Eleutério, que frequenta um curso de redação, diz que essa repetição – sentar, sentida; vida, vivida – recebe o nome de aliteração).
    Estou lembrando tudo isso agora, quando este blog já completou seus 5 anos de existência. No início de tudo, havia a participação de leitores atentos, com o amigo Cleber se posicionando em comentários ferinos e mordazes. O tempo passou, Cleber partiu para outra, novos inventos surgiram, notadamente um tal de zap-zap, desbancando a própria TV, jogando este blog no buraco.
    Hoje, confesso que tem hora que dá uma vontade de “chutar o balde”, desistir dessa teimosia. Nos momentos de tristeza, quando noto somente um ou outro “gato pingado” fazendo comentário (isso antes do defeito técnico) tento me consolar com a frase que se tornou meu lema: “escrever é a arte de resistir”.
    Está bem, sei que devo resistir enquanto posso, e é um consolo lembrar já ter feito mais de 260 postagens. Mas tem hora que minha ideia é outra.
    Antigamente, mulheres eram contratadas para velórios, onde deveriam chorar. Eram profissionais, chamadas de carpideiras. Às vezes penso em contratar pessoas, não para fazerem um chororô aqui, mas para postarem comentários, aumentando assim o índice de acessos do blog. Meu ego está precisando disso.
    Mas fico tomado de dúvida, em vista de minha penúria financeira. Depois, quando vejo como as pessoas andam doentes e viciadas com esse zap-zap, sinto que posso cometer aquela loucura do Pedrinho Odorico. Estou nesse impasse: neste carnaval, ou contrato um bloco de carpideiras ou desfilo nu pelas páginas do blog.
     Observação: Você está notando que aproveito da instabilidade física-emocional para fazer um desabafo. A ideia de desfilar nu pela página do blog é atraente, ainda mais que estamos em pleno carnaval. Até esbarrar no medo de topar com um leitor acidental do MBL. Moralista de fachada, pode ele me processar por atentado aos bons costumes. Ao fim de tudo, estarei, com a tosse renitente, por trás das grades, vendo o sol nascer quadrado e sem ter nenhum juiz para me conceder o direito a qualquer tipo de delação premiada, já que não venho ao caso.

Etelvaldo Vieira de Melo

APROVEITA E GOZA OU AQUI JAZZ UM FREVO

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Imagem: queroimagem.blogspot.com

Escrevia no espaço
                                onde  ancorei um navio

Hoje grafo no temp(l)o
dedos rubros de prosa
 errata &  vinho.
A doida batucada
de  carnaval
a  lei proibiu
 pois  Zé
                                   Agora
quem  fala de mim tem paixão
ou  anda patrulhando
minha  sexy  fantasia
 de  mel com sal
Graça Rios





MANCHETES ESPERADAS

Muita gente diz que jornal não faz falta porque apresenta somente notícia ruim.
Ivani Cunha


PIMENTA NOS OLHOS DOS OUTROS É COLÍRIO (ATÉ ALGUÉM SE DAR CONTA DE QUE CHUMBO TROCADO DÓI, E MUITO)

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Com os nervos à flor da pele, Ingenaldo pede para que registre mais um de seus desabafos. Pois não, Ingenaldo, pode falar:
Com o agravamento das tensões ideológicas que experimentamos nos últimos tempos (*), a troca de mensagens agressivas nas redes sociais se intensificou.
Eu mesmo fui vítima de uma enxurrada de posts os mais ridículos e absurdos. Acontece que, por ser um sujeito tímido e não assertivo, ficava calado, recebendo muito desaforo e não dando o troco. Também pensava que não fazia sentido aderir à máxima do “olho por olho, dente por dente”; preferia encontrar subsídios para respostas consistentes, argumentativas e não simplesmente ofensivas.
Uma coisa que saltava aos olhos e mostra como as pessoas hoje só enxergam através de viseiras, como se fossem burros de carga, foi o fato de muitas de meu círculo de relações não se darem conta de que não estava gostando daquilo que me repassavam, como se eu fosse uma latrina de esgoto. Tais pessoas conhecem (ou deveriam conhecer) minha postura, já que não foram poucas as vezes em que manifestei meu posicionamento frente ao quadro político do país.
Em suma, eu me sentia desrespeitado, mas não “dava o troco” por causa da falta de assertividade, mas sabendo que haveria de chegar a hora de “soltar meus cachorros”.
Costumo brincar com uma verdade que aprendi com o tempo. Aproveitando ter passado por um pequeno susto com a saúde (um pequeno infarto), andei espalhando que, por recomendação médica, não mais iria levar desaforo para casa.  
E, assim, estou fazendo isso agora, um pouco atrasado, é verdade, também por causa de um retardo mental, o famoso Prolapso de Fim de Curso, PFL.
No entanto, não irei responder na mesma moeda. Minha resposta será propositiva e argumentativa, querendo ser útil àquelas pessoas que me desrespeitaram, motivadas por ignorância, má fé, ingenuidade, egoísmo, falta de sensibilidade – sei lá.
O que tenho a dizer é simples e pode ser resumido assim:
Não sou petista e nem eleitor de Dilma, mas sempre me posicionei contra o golpe que a destituiu da presidência. A razão encontra respaldo em declaração de Carlos Heitor Cony, quando do golpe militar de 1º de abril de 1964, chamado por ele de “Quartelada”:
“O movimento que depôs o sr. João Goulart contou com a simpatia de alguma parte da população. Sufocar a liberdade de um povo porque alguns líderes não souberam ser dignos do mandato do povo é trair o povo. Mais: é trair a dignidade da condição humana” – O Ato e o Fato, p. 35.
A filósofa Marcia Tiburi reforça essa tese. Segundo ela, “para que uma democracia seja sustentada é preciso legalidade, lastro jurídico, ética e respeito às diferenças. O golpe que destituiu a presidente Dilma Rousseff ignorou esses preceitos básicos, não há mais democracia no Brasil”.
Este é o princípio básico de minha defesa: o respeito para com as regras democráticas. Para mim, atentar contra tais regras é G-O-L-P-E.
Outra coisa (que não vem tanto ao caso, mas é apresentada mais como desabafo): Está passando da hora de dar um basta a tanta postagem CÍNICA. O cinismo é a arma de quem é ignorante, não sabe ou não tem argumentos. Ele é corrosivo, procura agredir e ridicularizar o outro (tem um famoso magistrado que chama Lula de “nine”, numa alusão à falta de um dedo da mão).
Sem ter uma procuração para defesa: para mim, só o fato de ridicularizar, agredir estupidamente, ofender moralmente, menosprezar, só por agir assim alguém já deixa de ter razão.
 Espero que aprendam a lição, antes tarde do que nunca: pimenta nos olhos dos outros não é colírio, chumbo trocado dói.
(*) Em decorrência do golpe jurídico-midiático-parlamentar ocorrido em 2016, destituindo uma presidente eleita pela maioria da população.

Etelvaldo Vieira de Melo