O QUE ACONTECEU COM O POMBO DO MORAES? (RELATO DE UM COLUMBÓFILO)

Antes de entrar no mérito da questão, vou  enumerar algumas curiosidades sobre esse pássaro, o pombo-correio:

🐦Existem mais de 300 espécies de pombos. O pombo-correio é uma variedade domesticada do pombo-comum ou pombo-das-rochas. O pombo-das-rochas selvagem tem uma capacidade inata de retornar ao seu lar, acredita-se, usando a magneto recepção, ou seja, se orientando pelo campo magnético da Terra (cientistas revelaram que os pombos-correios têm minúsculas partículas de ferro no bico superior que funcionam como agulhas de uma bússola).

🐦 Os pombos vivem, em média, entre 15 e 20 anos.

🐦 Os predadores mais comuns são corujas, águias e gatos.

🐦 Um único pombo é capaz de produzir 2,5 quilos de fezes por ano.

🐦Os pombos possuem aguçada visão: são capazes de avistar um grão de milho a duzentos metros de distância.

🐦 Eles são monogâmicos e fiéis. A cada acasalamento geram cerca de dois filhotes e se revezam tanto para chocar como para alimentar os filhotes.

🐦 Os pombais são construções específicas para abrigar pombos-correios, destinados a participar em provas desportivas.

🐦 Os pombos são capazes de voar a até 80 quilômetros por hora e 800 km por dia. Os pombos treinados podem desenvolver velocidades máximas entre 87 km/h e 102 km/h, em distâncias que podem ultrapassar 1.200 km.

🐦 Os pombos-correios competem em provas com distâncias compreendidas entre 100 e 1000 Km. Há uma prova na Europa em que eles partem de Barcelona e chegam à Bélgica, percorrendo quase mil quilômetros. No Brasil, há uma em que saem de Brasília e chegam a São Paulo, ou seja, são mais de 900 quilômetros e tem pombo que volta no mesmo dia. Alguns deles voam direto, sem paradas. Outros até param para beber água, dependendo da condição de cada um.

🐦 Para se guiar no caminho de volta, o pombo possui três habilidades fundamentais:

→ A visão, pela qual localiza o Sol e identifica sua posição (leste, oeste e norte); → o relógio interno, por meio do qual identifica o período do dia (manhã, meio-dia, tarde, noite); → A memória, que ele utiliza para aprender a relação entre a posição do Sol e o horário.                                                                                                                   🐦 Atualmente a columbofilia é um desporto praticado em todos os continentes, contando com 56 países filiados à Federação Columbófila Internacional, sediada em Bruxelas.

🐦 Você sabe até quanto pode custar um pombo-correio? Um deles foi vendido pelo preço recorde de 1,25 milhão de euros (R$8 milhões, baseado na cotação do dia 22/09/2020). O pássaro, chamado Armando, também conhecido como “Lewis Hamilton dos pombos”, foi arrematado em um concorrido leilão por um comprador chinês.

Como columbófilo, fui consultado pelo amigo Ingenaldo, logo após a morte de Moraes Moreira, ocorrida em 14/04/2020. Ele queria saber se a Federação Columbófila Brasileira havia, em algum momento, prestado homenagem ao compositor baiano. Como é sabido, Moraes Moreira compôs em 1976, junto com Dodô e Osmar, uma marchinha chamada “Pombo-Correio”, que se tornou um dos grandes hits do carnaval brasileiro. Na visão de Ingenaldo, nada mais natural do que homenagear aquele que, de certa maneira, enalteceu um pássaro tão querido por nós.

- Não – disse eu. – Infelizmente, nunca entregamos a Moraes uma placa sequer de agradecimento. Agora que ele está morto, seria puro oportunismo de nossa parte fazer uma homenagem. De qualquer modo, agradeço sua preocupação, amigo Ingenaldo, e aproveito a ocasião para fazer um breve comentário sobre tal música e as implicações que ela teve certamente na vida do compositor.

Apesar do grande sucesso, acredito que “Pombo-Correio” pode ter trazido algum aborrecimento para seu autor, caso a letra tenha se inspirado em fatos reais. Um casal de namorados trocando correspondência por meio de... um pombo-correio. Moraes Moreira manda uma mensagem apaixonada para sua amada, dizendo, entre outras coisas: “Pombo correio, voa depressa e leva esta carta para o meu amor. Leva no bico, que eu aqui fico esperando pela resposta, que é pra saber se ela ainda gosta de mim. Pombo-correio, me traga uma notícia boa, com a mensagem dela dizendo: - Volta pra mim!”.

Ora, pois! Aí estão dois grandes problemas. Primeiro: a mensagem foi enviada no bico! E se, por acaso, choveu no trajeto? Depois, o mais grave:  Moraes ficou esperando uma resposta que nunca veio, porque, como todo columbófilo sabe, um pombo-correio, se vai, não volta e, se volta, não vai. Melhor dizendo: um pombo-correio só retorna ao seu pombal, donde podemos inferir que o pássaro em questão tinha sua casa na casa da namorada e, por isso, não podia trazer a resposta pro Moraes.

É isso que dá as pessoas fazerem as coisas sem se informar direito. Será que Moraes Moreira não conhecia uma música também chamada “Pombo-Correio”, composta por Benedito Lacerda e Darcy de Oliveira, gravada por Gilberto Alves em 1942? Lá está escrito com todas as letras:

- Soltei meu primeiro pombo-correio com uma carta para a mulher que me abandonou. Soltei o segundo, o terceiro, o meu pombal terminou. Ela não veio e nem o pombo voltou. Depois que aquela mulher me abandonou, não sei por que, minha vida desandou: o canário morreu, a roseira murchou, o papagaio emudeceu e o cano d’água furou. E até o Sol, por pirraça, invadiu a vidraça e o retrato dela desbotou.

Se tivesse buscado informação acertada, Moraes teria usado de maneira correta o pombo-correio e, consequentemente, sem o risco de ficar traumatizado.

Um trauma dessa natureza deve ter machucado muito o autor baiano. Quando cantava a marchinha nos carnavais, imagino que ele sentia, no fundo, como se estivesse levando uma facada no coração. Tanta dor certamente se agravou com o confinamento provocado pelo coronavírus. Quatro dias antes de falecer, ele havia dito em entrevista: “Tá chato demais esse negócio de quarentena. Insuportável”. Vai que seu smartphone e sua Internet, em certo momento, tenham dado problema. Fora do ar, sem contatos, Moraes se lembrou de seu pombo-correio, aquele que deveria ter sido mas que não foi...

Se imagino tanta coisa, isso pode ser verdade, também pode ser entendido como uma brincadeira inocente, uma maneira que encontrei para homenagear Moraes Moreira, um dos grandes nomes da Música Brasileira.

Etelvaldo Vieira de Melo


QUASE SILÊNCIO

 


- Isabel?   - Alô? Prima, querida. Você nem faz ideia. Ela surgiu de uma estrela. Eu sabia. Menina dos olhos de luz. Imagine! Dia três, QUATRO ANOS! Raciocínio de oito. Conta até vinte, soletra, mostra figuras. Pois é, Bel. Beleza? Uai. Já leu o livro da Bonequinha Preta? Igualzinha. Pés, mãos, nariz, fantasias. Gatinha cor-de-rosa, formosa, manhosa. Dei-lhe um par de brincos. Ouro com pérolas: ela. Brinque comigo, compota de figo. Jogamos baralho de bichos: macaco, macaca; rato, rata; boi, vaca. Ri radiosa fofa do verde focinho do jacaré. Ganha tudo, a sapeca perereca. Quem sou eu perto da corrida viva sabida tagarela? Remela. Inteligente, forte, brejeira.  A neta, ao invés de Luana, seria Fada Sininho. Carinho. Eu nunca esperei ser assim feliz flor-de-lis. Céus amigos... Montando quebra-cabeça, você precisa ver. Somei mais dequinze peças.Sozinha. Quietinha no canto. Nenhum trabalho. Acordo, busco no berço, ensino a rezar. Sal:

cenouraalfacebrócolistomatesalsacebolamanteigaboa.

Doce:tortadeabacaxicheesecakemorangobrigadeirosucobiscoitopãotarecogelatina - na geladeira hoje tem dez tipos. Acerto em cima com a carinhosa apetitosa Sheerazade. - O que disse, Bela? Pois é.  Ah, roupas: Cambraia. Rendas. Ponto de cruz do tempo antigo. Bordado cheio, macramê, vagonite, ponto russo, fitas trançadas. Linhas meadas, tudo à mão no casaco com lãs mescladas. Possuo estilo próprio.  Botões fechados a flores miosótis. Detalhes. Quero para Lua achar popLooks.  Não desprego do computador. Arremato avista meio fraca, encantada entre abelhas, rouxinóis, formigas, joaninhas. Imprimo tal maravilha no Clube do Bastidor. Posso enviar pra você. - Hein? O quê? Ferramentas? Exigente. Uso alfinetes, alfineteiros, vira-fitas, fita métrica, carretilha, marcadores variados. Mais: descosturador, dedal, corta-fio.  A máquina de Costura, importei da França, especialmente para Ana. Luana, lua, luar, rua, nau, lã, nana, nua, ar. UAU! Que horas são? Tão interessante, o papo. Diversificado. Sua opinião, prima, gorducha como o corpinho dela.

Tiau. Baubau.

Estavam ótimas   as suas opiniões. Procurem falar pouco, com muita variedade no assunto. Resumi para que você pudesse mostrar sua experiência.  Estão me chamando. Nem me deixam dizer umas palavrinhas á toa. Almoço e volto para ouvir sua importante participação na conversa.

Tiau.

Surda-muda é sua vó. Nem uma palavrinha...

            Minha gente impertinente.

                                        Impaciente...

                     Graça Rios

FUTEBOLÊS

A inexistência de diferenças entre substantivos masculinos e femininos comanda o grupo de esquisitices nas narrações de futebol.





CHOQUE CULTURAL

 

Sabia você que lá na Coreia do Sul, para ajudar pessoas deprimidas a apreciar a vida, foram criados lugares onde é possível se fechar em caixões para “experimentar” a morte?

Já imaginou se adotássemos aqui no Brasil tal costume, não só no sentido de valorizar a vida, mas também para mostrar como tudo é provisório e passageiro? Por exemplo, lá em Brasília, nas entradas dos prédios da Câmara, do Senado, do Palácio da Alvorada e do Supremo, poderiam ser colocados caixões para que nossos políticos e magistrados, diante da perspectiva da morte, colocassem um freio em suas ambições desmedidas e sede de poder.

Quando conhecemos outras culturas, outros costumes, muitas vezes acontece de confrontarmos nossos próprios valores.

Tal foi o que sucedeu comigo ao assistir, através de canal de streaming, a algumas séries coreanas. O choque foi tão intenso que fiquei viciado. Desde então, emendo uma série com outra, ao final do dia, quando os compridos fazeres e afazeres do lar foram todos cumpridos (agora, por exemplo, estou, extasiado, acompanhando a saga de “Mr. Sunshine”).

Os choques culturais são variados. Por exemplo, a sexualidade entre coreanos se expressa em apertos de mãos, abraços. Só muito raramente acontece um beijo. O mano Jovelino Floreano, o Jojó, assistindo a uma série que indiquei (“Live Up To Your Name” – Honra teu Nome), ficou frustrado, pois aguardava ansioso um beijo hollywoodiano e ele não acontecia.

Pensando bem, a gente vê como o ocidental “queima” etapas nos relacionamentos quando, em vez de valorizar os preliminares, vai logo para os finalmentes.

Outro exemplo pode ser dado com a série “Live”, que não fica entre as tops, mas que ensina muita coisa bonita. Ela retrata a formação de recrutas para a polícia militar e o dia a dia de uma corporação. Em certo capítulo, um recruta disse:

👮: Quero ser digno do salário que é bancado pelos cidadãos do país! (salário que nem é lá essas coisas, bem inferior ao que é pago aqui no Brasil).

Eu me pergunto: será que nossos políticos, nossos magistrados e militares pensam assim? Será que eles procuram ser dignos dos salários que lhes são pagos através dos impostos?

Na Coreia, impressiona a consciência dos limites possíveis, fixados através de “protocolos”. Por causa desses limites, acontece muito a gente ver civis ofendendo moralmente policiais, ao tempo em que os agride fisicamente com empurrões e cusparadas. Que coisa! Quando vejo a polícia de nosso país, matando primeiro para depois pedir explicações, penso: “- Quanta diferença!”.

Veja você uma manchete de jornal apanhada ao acaso: “PMs espancam jovens com socos e cassetetes em dispersão de baile em Osasco, SP” (UOL, 08/09/20020). Se tal fato ocorresse na Coreia do Sul, os soldados seriam expulsos da corporação e teriam que pagar pesada multa aos jovens.

Talvez você pergunte, ansioso em saber onde pretendo chegar:

- Mas, então, quer mudar para a Coreia?

Olha, a Coreia do Sul tem umas particularidades bem interessantes. Por exemplo:

💩 Para presentear um coreano, nada melhor do que lhe oferecer um chaveiro ou pingente em formato de... cocô. Para o povo daquele país, as fezes são um símbolo de fortuna e sorte;

👶 Lá na Coreia do Sul, os bebês já nascem com um ano de idade computado;

💃 Coreano cuida bem da saúde: apenas 3,2% da população estão acima do peso;

📺 Três gigantes da indústria mundial são sul-coreanos: a Samsung, a LG e a Hyundai;

👸 A Coreia do Sul é a capital mundial da cirurgia plástica. Entre cinco mulheres, uma já passou por cirurgia estética. É muito comum que garotas recebam uma cirurgia plástica nos olhos de presente de aniversário de 16 anos, para ter uma aparência mais parecida com a ocidental (para mim, um erro lamentável);

🏆 O taekwondo é um esporte coreano;

💕 O tipo sanguíneo é sempre levado em consideração na hora de se escolher o parceiro amoroso ideal. Assim como os signos do zodíaco, o tipo sanguíneo é usado para descrever traços de personalidade.

Quanto à sua pergunta, se quero mudar de país: quero mesmo é que possamos aprender com outras culturas, corrigindo as falhas de nosso caráter que, infelizmente, está se deteriorando a cada dia por causa de tanto mau exemplo.

Veja você: enquanto no Brasil a vegetação arde em queimadas, as árvores dos espaços urbanos na Coreia do Sul recebem nutrientes através de bolsas de soro. 

Como diz Ricardo Kotscho, no seu “Balaio do Kotscho": Vida que segue!

Etelvaldo Vieira de Melo

SAIBAM TODOS

 


FILOSOFINHAS DO DIA A DIA: FÁCIL & DIFÍCIL

 Foto sem maquiagem é fácil. Difícil é sem máscara
                                                                                         Imagem: guiame.com.br

           

   - Cumpadre, ocê tem um cigarrinho de paia pra me arrumá? Daqui eu vou até a venda e te trago um outro de lá.

   - Magina, cumpadre, num tem de quê. Esteje servido; enquanto isso, vamos proseá.

  - Que bom, pois lá na EJA, mandou o professor de redação que a gente escrevesse uma coisa fácil, seguida de uma difícil, como se fosse possível tal artifício, tudo numa dissertação. Pode me dar uma mão?

  - Cumpadre, nessa querela entre fácil e difícil, nem sempre prevalece a razão, com um se passando por outro, invertendo desse modo a avaliação.

  - Pois é, cumpadre, nem sempre o fácil é fácil, nem sempre o difícil é difícil. O difícil pode se tornar fácil e o fácil pode vir a ser difícil.

  - Mais uma coisa é certa: pior é temer o difícil, por pior que seja a dor; enquanto que, muitas vezes, pode ser dispensado o fácil, pois o fácil nem sempre tem valor.

  - Cumpadre, sua palavra é bem dita, mas vamos à dissertação, para que eu não caia na desdita de ficar em recuperação.

  👀Admirar a beleza multicolorida de uma borboleta é fácil; difícil é suportar as lagartas devorando seu canteiro de couve.

  👀 Fazer é mais fácil para quem fala pouco.

  👀Votar em eleição até que é relativamente fácil; difícil ou quase impossível é acertar na escolha de um bom candidato.

  👀É difícil falar o que é fácil pra quem torna tudo difícil.

  👀Uma mulher (ou homem) que se faz fácil é fácil; difícil ou quase impossível é que esse fácil não acabe por ser fácil.

  👀Ser honesto não é tão difícil; mais fácil é ser corrupto.

  👀Rebentar as paredes é mais fácil que erguer os tijolos.

  👀Dar um tratamento mais humano para os animais é fácil; difícil é a gente levar uma vida de cachorro vira-lata.

  👀Ver o que é uma pessoa quando ela está fora de si é fácil; difícil é saber isso quando ela está dentro de si.

  👀Tudo cabe dentro do difícil, até mesmo o que é fácil.

  👀É fácil ver sinceridade no ódio; ver sinceridade na admiração é difícil.

  👀É difícil, praticamente impossível, um camelo passar pelo fundo de uma agulha; daí, e só por isso, torna-se mais fácil um rico entrar no reino dos Céus.

  👀Para o jogo ser fácil, é bom o treino ser difícil.

  👀É fácil deixar o tempo passar; difícil é segurá-lo.

  👀Quando o aplauso é fácil, a vaia torna-se mais fácil ainda.

  👀Antigamente, era mais fácil um “ladrão de galinha” ser condenado e preso do que um “ladrão de colarinho branco”; hoje, é mais difícil um “ladrão de colarinho branco” ser condenado e preso do que um “ladrão de galinha”.

  👀Para quem mora no interior, é fácil escapar dos “vícios capitais”.

  👀O suborno é fácil, quando se sabe onde o outro deixa de ser difícil.

  👀É fácil colocar um homem público corrupto na cadeia: é só lhe tirar o dinheiro que tem; o que é difícil.

  👀Tudo se torna menos difícil e até mais fácil, se: antes de falar, você ouvir; antes de agir, pensar; antes de criticar, conhecer. E antes de desistir, você tentar.

  - Já chega, né, cumpadre? Minha cabeça até dói de tanto arranjar comparação. Creio que seu professor vai se dar por satisfeito com tanta citação.

  - Sei lá, cumpadre; o professor é encrenqueiro pra danar. De qualquer modo, obrigado e vamos ver o que vai dar.

NOTA: Assim que acabei de digitar o texto, pensei: “Agora está fácil, é só mandar imprimir as cópias para o professor e os colegas da EJA”. Havia me esquecido de um detalhe: a impressora podia estar sem tinta. Estava. Aí ficou difícil.

Etelvaldo Vieira de Melo


FUTEBOLÊS

 




KEN KA

 

BEL,  Ô GALRICHO.

Renuído KEN KH:  ,estau.

Mangram meus pertuitos.

Eslinham  esputar-les, munício. Só cuvico nas tus ustórias. Curro a estorcegar o

insaponicável  paraton  t  abléfano. PQ, mesto tanado, licranço das

 fréguas /éguas/méguas /

que haruspicem tel colportor?

Não folipo.

...meu fio

 fio náfego. Eus alvanéu chinchonos Cão Legos.

Vi zavinheira Tonica haruspice, recundentes abstergentes

 10000

bichancrandos  cabarbandos venibulandos:

                                             - groou... ossos. Ah, ção?... Distão, peouga...

Caro Varro Ken KH> Fociu acobilhada.

www timi@ógico.com

                             pescanço.

                              Sô ginge.

maminha seslinhou, pessuá.

sumu nóis areosa esputação.

Tetricia ligal.

Feticil dil.

- Pororó qs vozes grazina.

! cancrível nemipíticas

do analispto

Seroul o ustório

   siu Ki

Mijon.

mangrou-lhos

carcatou/?.

ku D’

tourel atossicante eslinho¨¨

absticenças

moribinda 

            tremiliaws.

Ken KH, manga só!.

                                                                               finto

aborar  anticons

Cotovoa, mavia, vuaus.

 

PQ

 PEk?

  trangolas,

abigouro

cambrão.

  chantre rânula!

                                         K. BAGOCHO.

Isso Num Rende

THE END?

Siso,

Graça Riso!

O PRISIONEIRO

 O Processo

Imagem: Portal Viu

Diante da porta, o senhor M estacou. O guardião anunciou que ele poderia sair porque não estava ali para proibi-lo, embora representasse a Suprema Justiça e tivesse ordens para resguardar o local. Apesar do aviso, ao vê-lo com a barba em riste, o semblante marcado de tisne, o senhor M permaneceu em pé junto ao muro, meneando um gesto qualquer.

Argus questionou:

- Quer um banquinho para se sentar, enquanto acontece o julgamento?

O senhor M recebeu o banco, assentou-se sem dizer palavra. Lá dentro, o processo continuava. Já estariam a cerca de um sexto dos embates. De que o acusariam hoje? Fazia cinco anos que se reuniam pontualmente às três horas, todos os dias. Nesse ínterim, os papéis e pastas se acumulavam, alcançando o teto em grande extensão do plenário. De semana em semana, um deles lia os relatórios sobre os crimes cometidos. Imputavam-lhe sentenças provisórias, enquanto discorriam acerca das acusações hesternas: haver lesado o Tesouro Nacional; corrompido as leis, através de propinas; aliciado o júri a votar-lhe em favor, mediante dinheiro público. Por exemplo. 

O senhor M sabia que as sessões nunca terminariam; e se terminassem, caberiam recursos e embargos eternos, a fim de se manterem em convívio dialético. Haviam adquirido o hábito do banquete platônico e desse prazer não abdicavam. Enquanto isso, ele, o réu, mantinha-se encarcerado numa cela de dois metros, coberto de percevejos e ratos, a feijão e arroz podres.

- Não o proíbo de sair – conjuminou novamente Argus, com o olhar extenuado, porém irisado de tons rubro-cinza. O senhor encontrará outras portas pela frente, mas os demais soldados lhe dirão o mesmo que eu.

Então, nessa hora, o senhor M se levantou. Deu alguns passos à frente. Aí, titubeou, parou e ficou mirando a altura do portal. Percebeu que o feroz Argus se afastara, talvez buscando um café. Perante a difícil liberdade, perdeu o ânimo e virou-se para o banco. Um torpor de morte o invadiu. Tornou a erguer-se, mudou o rumo, deitou-se no catre.

O vigia retomou o posto. 

- Por que não saiu? Deixei-lhe a porta sem tranca. Facilidades... Saia agora, saia! - Se puder!

O processo parecia temporariamente encerrado. Seriam umas dezoito horas. Os magistrados certamente partiam bocejando, depois de assinar a presente ata.

 Maria da Graça K. Rios

TENTANDO A SORTE

Em entrevista recente, a escritora italiana Elena Ferrante disse que “escrever é como girar a faca na ferida”. Para você entender a dramaticidade desta frase, veja bem o que aconteceu comigo.

Antes, porém, uma introdução necessária.

Não sei se você, amigo Leiturino, já ganhou algum tipo de sorteio. De minha parte, pelo que me lembro, isso só aconteceu uma vez: acertei o nome de uma pessoa numa relação de cinquenta outros, estampados numa cartela de raspadinha. Foi um relógio despertador, que acabou me acompanhando durante vários anos, na tarefa de me acordar para as lidas do dia a dia.

Quanto a jogos e loterias, “neca de pitibiriba” (ou seja: “bulhufas”). Nunca tive o prazer de acertar uma “quina”, uma “quadra” ou até mesmo um “terno” em loteria. Nos “jogos de bicho”, nem mesmo um desprezível “passe” fui capaz de adivinhar. Nos “bingos” beneficentes, morria “amarrado”, sem nada ganhar.

Por isso, posso me considerar uma figura rara, num país onde a jogatina é institucionalizada, com as pessoas sendo cercadas por loterias por todos os lados (mas com o Paulo Guedes, da Economia, querendo mais, com a legalização dos cassinos: “O cara entra, deixa grana lá que ele ganhou anteontem, – ele deixa aquilo lá, bebe, sai feliz da vida. Aquilo ali num atrapalha ninguém. Aquilo não atrapalha ninguém. Ô Damares. Damares. Damares. Deixa cada um … Damares. Damares. O presidente, o presidente fala em liberdade. Deixa cada um se foder do jeito que quiser. Principalmente se o cara é maior, vacinado e bilionário. Deixa o cara se foder, pô!”).

Diz um ditado: sorte tem quem acredita nela. Acho que é por isso que não tenho essa tal, já que, no fundo e a bem da verdade, não faço muita questão de ter. Se ganhar, por exemplo, o prêmio da Mega Sena, tenho medo que aconteça comigo o mesmo que sucedeu com aquele idiota ao viajar pela primeira vez até uma cidade grande. Chegando lá, se assustou ao ver tanta gente e, quando foi dormir em frente a um estabelecimento, cuidou de amarrar uma corda no tornozelo e numa estaca. Pensou assim: - Quando acordar de manhã, não haverá o risco de ter me perdido de mim mesmo!”.

Assim eu penso muitas vezes, quando bate à minha porta a possibilidade de ganhar um grande prêmio. Começo a ter taquicardia e a suar, temendo me perder de mim mesmo, deixar de ser eu. Por isso, acabo preferindo ir tocando a vida do jeito que está.

Se não tenho sorte com jogo, quem sabe eu posso me dar bem num concurso? Isso foi o que pensei quando a amiga Gláucia me enviou o link de um concurso literário, com esta recomendação: “- Tem a sua cara!”. Daí, que pensei comigo: “- Se tem a minha cara, isso não quer dizer nada, já que, em termos de aparência, sou igual a medicamento genérico”.

Esqueci o edital e fui tocando as lidas domésticas. Quando faltava cinco dias para o término das inscrições, me veio a ideia de participar. Daí em diante, foi uma correria danada, tendo que ficar horas frente ao computador, digitando, corrigindo, formatando. Tive até que recorrer a um amigo, o JD Vital, para fazer a revisão do texto. Consegui fazer a postagem quase em cima da hora, contrariando minha índole mineira.

No dia seguinte, fui tomado de uma dor insuportável na perna esquerda, em decorrência de uma inflamação provocada por postura inadequada. Durante vários dias, tive que me entupir de anti-inflamatório. A dor era tanta que eu chegava a pensar palavrão: “- Pô! Vou ter que ganhar essa disgrama!”.

Comecei a contar os dias para a divulgação do resultado. Queria e não queria ganhar o prêmio (R$1.000,00, R$600,00 e R$400,00 para os três primeiros classificados). Queria, quando pensava nos medicamentos, que haviam custado o “olho da cara”; não queria, quando fiquei sabendo que haveria uma solenidade para entrega dos troféus (que, depois, por causa da pandemia, seria trocada por uma videoconferência). Como não sei nem aparecer e quanto menos falar em público, as duas alternativas embrulhavam meu estômago.

Chegado o dia fatal, dividido entre sentimentos contraditórios, fui pesquisar o resultado do concurso. Estabeleci comigo mesmo: o terceiro lugar está ótimo, já que estarei na sombra dos dois primeiros. Assistindo à gravação, o apresentador anunciou o nome do terceiro colocado... e não era eu. Pensei comigo: “- Puxa vida! Serei o segundo?”. Também não fui. Suando frio, com o coração palpitando, disse para mim mesmo: “- Pois é, Eleutério, conforme-se com o primeiro lugar!” Pois, acredite, também não fui eu.

Com sentimento de alívio e frustração, abri o vídeo onde seriam anunciadas as dez menções honrosas. O locutor começou a anunciar os contemplados a partir do décimo colocado. Já mais tranquilo, fiquei aguardando o meu nome: 10º... 9º... 8º... - comecei a ficar preocupado - 7º... 6º... Quando chegou ao primeiro, vi que meu nome não constava nem na lista das menções honrosas.

Uma decepção profunda tomou conta de mim, sentimentos contraditórios começaram a dançar na minha cabeça, enquanto a dor na perna voltava a me atacar. Enumerei mentalmente uma série de razões para meu aparente fracasso:

👉1º) Tal qual a raposa da fábula das uvas, pensei: “Bah! Era um concurso vagabundo!”;

👉2º) Considerei a hipótese de meu texto ter sido recusado por não ter atendido alguma exigência do concurso;

👉3º) Por causa de minha “melhor idade”, os editores preferiram investir em autores jovens, que podem dar mais retorno financeiro;

👉4º) Certamente, o motivo de minha desclassificação foi ter falado mal do governo que está aí. O pessoal dessa editora é todo ele “gado do capitão” – também pensei;

Finalmente, ao fim de tudo, acabei me conformando de vez, quando me lembrei de uma citação de Chico Buarque, acho que logo depois de ter publicado “Leite Derramado”: - Escrever é uma merda!

Desliguei o computador e, arrastando a perna, fui para a cama me entregar aos braços de Morfeu. A facada ainda girava na ferida de meu peito. Pedi a Élpis, deusa da Esperança, para me agasalhar naquela noite, aliviando um pouco minha dor e tristeza. Como o próprio Chico Buarque cantava, pensei comigo: “Amanhã vai ser outro dia”.

Etelvaldo Vieira de Melo

VASTO, DIVERSO MUNDO

Sempre haverá mais perguntas que respostas.