GAFANHOTO E O MESTRE PÓ

 

Tenho o costume de compartilhar semanalmente com meus afetos e alguns desafetos determinada mensagem. Desta vez, foi uma citação de Lao-Tsé (“Para ganhar conhecimento, adicione coisas todos os dias; para ganhar sabedoria, elimine coisas todos os dias”). Tal pensamento me proporcionou a seguinte reflexão: “Sapiência: Ter equilíbrio entre as adições e as subtrações. Que você seja sempre feliz nessa aritmética da vida”.

Algumas pessoas reagiram a esta mensagem, como por exemplo:

- Genésia Solaris: “Nossa! Excelente reflexão! Estou tentando fazer isso neste início de 2022.”

- Renevildo Ruzac: “Depois de aprender que é importante enxergar sempre a beleza das coisas, deixando a feiura de lado, estou vendo que também importa saber usar a matemática da vida com inteligência e equilíbrio.”

- DB Cristhaldo: “Eliminar a banha que é o problema, seu Lao.”

Ao que respondi: “Gafanhoto, a banha que sai é a mesma que entra. Como querer eliminar aquilo que você permite que entre?

- Profunda sapiência, - retrucou Cristhaldo.

Lendo esses comentários, lembrei-me de um manuscrito que guardo comigo, datado de 1827, um diálogo entre Gafanhoto e o Mestre Pó. Ei-lo:

 

- Mestre, o que é conhecer?

- Conhecer é você adicionar coisas ao seu saber. O resultado disso é chamado de conhecimento.

- E a sabedoria?

- Nem todo conhecimento se torna saber. Sabedoria é você descartar o conhecimento que não é saber.

- Quando o conhecimento deixa de ser saber?

- O conhecimento está a serviço da vida. Ele não tem um propósito em si mesmo, isto é, não procuramos conhecer por conhecer. O conhecimento deixa de ser saber quando perde o seu sabor.

- Quer dizer que sabedoria é o conhecimento saboroso?

- Podemos assim dizer. Mas a sabedoria não se constitui exatamente o ato de subtrair coisas. Esse ato é chamado de sapiência.

- Mestre, tenho uma certa dificuldade em entender o que é o conhecimento.

- O conhecimento é tudo aquilo que você torna seu, e é somente tudo aquilo que você pode tornar seu. Tornar seu no sentido de possuir, não simplesmente de ter.

- Pelo que estou entendendo, mestre, possuir vai muito além do simplesmente ter.

- Exato. Está aí a razão da infelicidade de muitas pessoas. Nem sempre o que você tem, você poderá possuir. O sábio descarta aquilo que não pode possuir.

- É por isso que o sábio é leve, já que não carrega coisas sem utilidade, não é isso, mestre?

- O conhecimento – tudo aquilo que você torna seu, volto a repetir – está a serviço da vida. Muitas pessoas acumulam coisas que quase nada atendem às suas necessidades. O resultado disso é que teremos conhecimentos supérfluos para vidas vazias.

- Mestre, o conhecimento pode ser confundido com informação?

- A informação fornece subsídios para o conhecimento, mas não é conhecimento. Conhecemos quando introjetamos, tornamos nossa a informação que nos é passada. Acontece muito hoje: pessoas que convivem com informações, vivem abarrotadas de informações, sem tomarem conhecimento, sem ciência e muito menos consciência.

- E qual o resultado disso?

- Pessoas informadas, e até mesmo bem informadas, sem, contudo, terem conhecimento das coisas.

- Correm o risco de viverem a ilusão de acharem que sabem, quando, na verdade, nada sabem, não é?

- Quando confundem a informação com o conhecimento, quando trocam o conhecimento pela informação, as pessoas correm o risco de moldarem suas vidas por explicações (razões) que não lhes são próprias. Abrem mão de suas individualidades, passam a ter comportamento de massas. Tornam-se indivíduos massificados, coisificados.

- Pelo que estou vendo, precisamos ter cuidado com as informações.

- O primeiro filtro para elas é o conhecimento, que é o ato de tomar ciência. O seguindo filtro é o ato de avaliar se aquele objeto de ciência atende às necessidades da vida. É isso que chamo de re-flexão, esse voltar-se do indivíduo para dentro de si mesmo. Quando o conhecimento atende a uma necessidade, e não simplesmente a um desejo, ele se transforma em saber, sabedoria.

- Obrigado, mestre Pó, por suas sábias palavras.

- Não tem de quê, caro Gafanhoto. Lembre-se: a vida sem reflexão não merece ser vivida. A reflexão é o oxigênio da vida. É por isso que ela se torna perigosa, ao permitir o pleno exercício da liberdade.

Etelvaldo Vieira de Melo


FAL TA

 

Se te ausentas, príncipe lunar,

contorce-me um torvelinho.

Tornada ida ardente, mostro-me

Instável pleonasmo: Desencadeio

tempestade chuva ácida.

 

Quero-quero - atlântico esforço -

achar-te achar-me acha fogaréu.

Calma - digo n’alma. Entretanto

Tende a enervar-me sal pacífico.

 

Aí, envolvo amor/temor com lã de estrela

cadente anêmona insolvente ver verde

ver-te

beijando a esmo bocas da noite.

Transbordo volúpia até vou voo astronave

 

ave atrás de ti nau 100 prumo ramo rumo.

 

Escorro rios d´’água tranço dança tango go

gol na rede arcanja harpa ao pé do desterro

entoo sino hino algum alguém nem há

houvera Hades infernal perdido no insensato

adeus a Deus prazer de ser res saudade porta

aorta aberta crua tua aonde anda onda nossa

ai

 

caos do chão

caótico céu

contramão

chã pó te ah teu

Graça Rios


ISSO NÃO ESTÁ CERTO

1987. Durante os preparativos para as disputas dos Jogos Panamericanos de Indianápolis nos Estados Unidos, a delegação brasileira fica hospedada numa pequena cidade próxima à cidade-sede. Naqueles jogos, o time de basquete do Brasil ganha a medalha de ouro, derrotando os donos da casa, os Estados Unidos, por 120 X 115, um feito histórico. Foi “a primeira vez que a seleção norte-americana masculina de basquete perdeu um jogo em casa, a primeira vez que foi derrotada em finais e a primeira vez que sofreu mais de cem pontos diante de seus torcedores” (Wikipédia). A soberba dos americanos era tanta que os organizadores dos jogos nem dispunham da gravação do hino brasileiro para ser tocado na hora da premiação.

Acompanhando o noticiário sobre os jogos, um detalhe me chama logo a atenção: o enorme gasto que a prefeitura da cidadezinha onde o Brasil está hospedado tem com a segurança, quando comparado com o dispendido com educação e saúde.

Penso comigo: - Isso está certo, essa inversão de prioridades? Depois, considero que o capitalismo nos Estados Unidos pode permitir esse tipo de coisas, os cuidados com saúde e educação ficando por conta da iniciativa privada.

Mais depois, penso: - Será que o Brasil não vai caminhar para isso, os gastos com segurança “engolindo” quase toda a verba do orçamento?

1988. Com Oscar Schmidt, Marcel e companhia ainda saboreando o título de campeões dos jogos de Indianápolis, temos Jair Bolsonaro indo para a reserva do Exército, depois de ali “ter prestado serviço” por 12 anos. Neste ano, também dá início à sua brilhante carreira política, primeiro como vereador no Rio de janeiro e, logo depois, como deputado federal. Gostou tanto que logo tratou de iniciar os filhos, o 01, o 02 e o 03, na carreira, dentro da máxima “o que é bom para mim, também é para os meus filhos”.

2019. Eleito presidente da República, Bolsonaro – a exemplo do que acontece na Venezuela, que militarizou o governo – procura se cercar de militares da reserva e da ativa, empregando-os em postos variados. Com isso, tais militares veem seus saldos bancários engordarem, com seus soldos mais que dobrando. E eu pergunto pra mim mesmo: - Isso está certo?

2022. Leio no jornal Folha de São Paulo, 26/12/2021, reportagem cuja manchete é: 

DEFESA GASTA VERBA DA COVID PARA COMPRAR FILÉ MIGNON E PICANHA, DIZ TCU."

O subtítulo diz: “Pasta gasta R$535 mil com itens de luxo”.

A reportagem detalha, segundo dados do TCU (Tribunal de Contas da União): Em 2020, parte do dinheiro usado para compra de itens não essenciais foi obtida da ação orçamentária “21CO – Enfrentamento da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional decorrente do coronavírus”. Ou seja, trocando em miúdos: recursos destinados ao combate à pandemia covid-19 foram usados indevidamente para aquisição de itens não essenciais, sendo o Ministério da Defesa responsável por 96% dos recursos dispendidos (R$535 mil), utilizados para compra de filé mignon, picanha, bacalhau, salmão, camarão e bebidas alcóolicas. Enquanto isso, milhares de pessoas morriam infectadas pelo vírus...

Sem entrar em detalhes, a reportagem termina, mostrando um quadro com os gastos governamentais com alimentação no período de 2017 a 2021:

Ministério da Defesa: 4 bilhões

Ministério da Educação: 2 bilhões

Ministério as Saúde: 567 milhões.

Tirando por base o que esses três ministérios gastam só com o item “alimentação”, acredito que aquela pergunta que eu fazia em 1987 já foi suficientemente respondida: assistimos hoje a uma total inversão de prioridades e valores, com investimentos em aparelhos (digestivos) de segurança lá nas alturas, enquanto educação e saúde ficam jogadas às traças.

Coitados do Brasil e seu povo!

Colocando uma cereja neste bolo noticioso: Segundo leitor, em “Comentários” (não será fake news?), um militar próximo a Bolsonaro disse: “No fundo, estamos pensando no povo, quanto mais picanha e filé mignon comermos, mais bois são mortos e desossados. Logo, mais ossos estarão sobrando para a população se fartar.”

Definitivamente, isso não está certo.

Nota: Para quem acha ruim o que estou falando, é só fazer o que é certo. Aí, não vou dizer que não está certo.

Etelvaldo Vieira de Melo

 


ELA, OUTRA

 

Meu pai tomava o violino,

afinando-lhe primeiro

as longas cordas.

 

Deitava-o, a seguir,

na fronha acetinada

Adormentada afinação.

Preparo de ritual.

 

Meio afobado

triste meio plenilúnio,

prendia sob o rosto

 

algo redondo e negro:

 a queixeira

 o queixume.

 

Maestra gesta mão

virtuose

abria a Caixa,

provava-lhe a carne

revestida a rubro veludo.

 

Selecionava,

neste console antigo,

as melhores composições

próprias alheias,

 

murmurando notas

belas harmônicas

carinhosas:

Fá fá fá

mi ré lá

sol si dó.

 

Cobiçoso olhar febril

elevava o frágil corpo

do instrumento.

Prendia-o ao peito

de meu pai.

 

Enlaçando o bronzeado

da fêmea perna,

sob a liga da lisa coxa

sobre a suave ave face

daquela amada coisa

 

inclinava-se, sonhador

amante diamante anterior

dedo médio unhando

nela lento a cava central.

 

Cerrava, pois, a mente

crente luminosa

ente. Suspirava fundo

incenso de rosa da

mor esbelta flor.

 

Depois o tempo

depois pausado

pousado movimento

mirava-me entre lágrimas.

 

Entoava somente

arquejante para mim:

Oh, linda imagem de mulher

menina...

Se eu pudesse...

 

Poderia?

 

Tocava, além, ressentido

a singular cintura

desenhada em arabesco

de sua companheira

ela minha obesa eu

essa dama.

 

E naufragava

madrugada adentro

no canto da sereia

 

ser hei a

 

Graça Rios


LOGÍSTICA PAZUELLANA PARA O ANO NOVO SER FELIZ



Na passagem de ano de 2020 para 2021, Eleutério estava na área externa da cozinha de casa assistindo, junto a Percilina Predillecta e Thor, ao espoucar dos fogos de artifício, que davam adeus ao ano velho e saudavam o ano novo. Os fogos foram poucos, já que não havia muito o que comemorar e as perspectivas para 2021 eram pouco animadoras. Percilina documentou o evento com fotos tiradas com seu smartphone recém-adquirido, enquanto Thor mascava raivosamente um osso sintético como forma de amenizar seu nervosismo diante do barulho e das imagens fantasmagóricas espalhadas pelo céu.

Por causa da pandemia, Eleutério lamentava ter sido obrigado a abrir mão de ir se hospedar no Capacabana Pallace, para assistir à tradicional queima de fogos na praia em frente. Seu desgosto era proporcional ao do jogador Neymar, duramente criticado por querer aglomerar com seus “parças” em sua mansão de Mangaratiba, no Rio de Janeiro.

A passagem para 2022 foi encontrar Eleutério assistindo pela TV à sua série favorita. Tendo ele o hábito de usar um fone de ouvido, não se deu conta da passagem do tempo e, quando foi ver, o relógio já havia passado da meia-noite e os fogos já haviam cessado. Percilina disse que eles, os fogos, a exemplo do ano anterior, foram em número reduzido, não chegando a estressar o Thor, que ficou dispensado de tomar um comprimido de Rivotril.

Este ano, Eleutério também abriu mão de viajar para o Rio de Janeiro e se hospedar no Copacabana Pallace. Aliás, um de seus propósitos para o Ano Novo é justamente o de evitar, dentro do possível, passeios desse tipo. Assim, vai descartar viagens ate Dubai, Paris, Constantinopla, Sidney, Patagônia, Acapulco e até mesmo Disneylândia (neste caso, atendendo também a uma recomendação do ministro Paulo Guedes).

Por esses dias, o amigo DB Cristhaldo quis saber dele se havia jogado na Mega Sena da Virada. Conversa vai, conversa vem, e Cristhaldo confidenciou que, caso viesse a ganhar o prêmio, ia sumir no mundo.

- E ia deixar os amigos? – quis saber Eleutério.

- Ia, mas eles iriam saber que eu estava feliz.

- E a riqueza traz felicidade?

- Trazer não traz – ponderou DB, - mas compra. Conforme diz Millôr Fernandes, o dinheiro compra o cão, o canil e o abanar do rabo. Por isso, a riqueza é tudo, embora as pessoas ricas sejam, em regra, as mais chatas possíveis.

- Pois, então: caso ganhe na Mega Sena, ou você vai sumir ou vai se tornar um chato.

- Mas eu já estou treinando para me tornar um chato. Com sucesso.

- Cruz credo!  Mas, seguindo seu conselho, vou tentar ganhar no jogo de bicho. Se tirar uma bolada boa, vou comprar um caminhão.

- Pra quê? – quis saber DB.

- É que estão dizendo que este ano vai ser de muitas mudanças. Vou ficar rico fazendo fretes.

Os dois riram bastante, pois o sintoma de uma boa amizade é a sua capacidade de fazer os amigos rirem.

No mais, Eleutério gostou dessa ideia de correr em busca da tal felicidade. Sendo assim, ao ir dormir na madrugada do dia 1 de janeiro de 2022, traçou mentalmente esses projetos para o ano novo:

1 – Desacelerar o ímpeto de ficar rico;

2 – Moderar o consumo de carne vermelha, notadamente de filé mignon e picanha;

3 – Abrir mão de entrar na política, enquanto persistir esse modelo partidário que temos no país;

4 - Suspender o sonho de consumo de um Playstation 5;

5 - ¨¨ (Censurado);

6 – Encontrar um novo time de futebol para torcer;

7 – Seguir a recomendação médica de não levar desaforo para casa. Para isso: evitar ao máximo sair de casa;

8 – Em casa, ter sempre a última palavra com a Percilina: - Sim, senhora!

9 – Começar a aprender mandarim para ajudar nas compras de bugigangas da China.

Nota: Saindo para almoçar na casa da irmã de Percilina, Adieidy Flauzene, Eleutério avistou à margem do Anel Rodoviário um cartaz onde se lia: “Motel Dubai – Pernoite e café da manhã a R$109,99”. Eleutério falou para seus botões: - Estou cancelando é o Dubai dos Emirados Árabes.Esse Dubai do bairro Madre Gertrudes dá pra visitar.

Etelvaldo Vieira de Melo

SOB AREIA PESADA

 



Deixa-me inflamada

excitada descarada,

como se tirasses o véu

da mulher mundana.

 

Oferta-me uma cor nova

de falso brilho: lantejoila

ouropel farfalho de tafetá

ou seda indiana.

 

Acrescenta-me alguma

variante justaposta

pele a pele.

Cinge minha cintura

com todos os nós

do real banal.

 

Penetra-me experiente

em camas box de luxe,

onde meus olhinhos

pisquem  pisquem

pesquem peixe

exaustos de prazer.

 

Aprofunda-te bem aí

nas raízes passadas.

Por efeito, eu ouso

por ébrias injunções

frequentar segredos

dessa nossa ausência tentadora, catando

antiguidades do futuro.

Graça Rios

 

 

SETE DESEJOS PARA O ANO NOVO GUARDADOS A SETE CHAVES

CHAVE 1:

CHAVE 2:

CHAVE 3: 

CHAVE 4:


CHAVE 5:


CHAVE 6:


CHAVE 7:

Etelvaldo Vieira de Melo



















A CAIXA

 

Encomendei à Sylvia P. uma caixa de abelhas

mínima, tipo exportação.

Bees... bees...

Sob pontuações imprecisas,

pergunto se têm amantes.

Desconfiadas, ignoram

a feminina minha humana histriônica raiz.

Conscientizam-se apenas

da colmeia sex levada a tiracolo.

Dentro dela - dizem, melosas - moram

bolsinhas, absorventes, camisinhas,

revistas, toalhinhas, dinheiro,

endereço de Motel, óleo vaginal...

 

Melindrosas fazem cera. Desejam abrasar-me, aprazar-se,

vasculhar seios, orifícios lá e cá, bis... bis...bis...

- O que querem as abelhas?

- Zangãos pra nós.

- E nós?

- Apenas nós.

Graça Rios

 


ANO NOVO: MORADA DE SONHOS E FANTASIAS, DE DESEJOS E ESPERANÇAS

 


ETEVALDO BRITTO DIAS: UM ANO NOVO DE VERDADE

Tenho dito, e agora repito, que a vivência do Ano Novo deve ser pautada pelo espírito do Natal. Afinal de contas, foi em nossa preparação para a chegada do Menino Deus que fizemos revisão de vida e recolhemos as melhores lições para ela: humildade, simplicidade, coração fraternal, disponibilidade ao perdão, relação equilibrada com os bens materiais... e outras. Na pandemia do covid, que ainda estamos atravessando, mais lições: aprendemos que a nossa vida está inteiramente interligada aos outros, ao próprio universo; que precisamos muito uns dos outros; que podemos e devemos cuidar-nos mutuamente, do mais novo ao mais vivido; que a saúde de muita gente pode estar em minhas mãos, dependendo às vezes de uma pequena decisão minha: vacinar-me ou não, manter as mãos purificadas ou não dar bola para a higiene, usar ou não usar máscara, frequentar ou não aglomerações... Na pandemia, como seres corporais que somos, também experimentamos na carne o que significa estar perto ou estar separado das pessoas que amamos; aprendemos que a nossa manifestação e troca de afeto é condição essencial para nossa própria saúde mental. Pois bem! Está aí à nossa porta o ano 2022. “Ano novo - vida nova!"- diz o jargão. Mas, novo em que sentido? Só porque é mais um? Não basta. É preciso que seja novo mesmo. Que traga alternativas para opções transformadoras da vida. E que nele eu também seja novo, renovado (por que não?). "Novo homem", como diz Paulo apóstolo, para viver uma nova realidade. "fabricada" pelo empenho de muitas mãos, inclusive a minha. E, finalmente, mais uma lição: É que 2022, sendo ano eleitoral, é oportunidade preciosa para semear as mudanças que desejamos para a nossa sociedade: que superemos os preconceitos de qualquer ordem; que acolhamos os diferentes; que sejamos capazes de construir uma Economia solidária que inclua os deserdados; que invistamos mais na salvação da Natureza, dos povos da floresta, do planeta, enfim. Que venha 2022! E que, no Ano Novo que chega, o nosso voto também seja novo: voto consciente, responsável e pela vida de TODOS. A todos e todas um Feliz e abençoado Ano Novo!

 

GERALDO UZAC: GENEROSIDADE

O Dicionário Aurélio define o conceito de Generosidade, como sendo: “Característica da pessoa generosa, de quem se sacrifica em benefício de outra pessoa; bondade: ele expressa sua generosidade ajudando crianças.” Na Bíblia Sagrada, aparece por três vezes a palavra generosidade e por cinco vezes a palavra generoso. Na segunda carta do apóstolo Paulo aos cristãos da cidade de Corinto, por exemplo, ele escreve: “Vocês serão enriquecidos de todas as formas, para que possam ser generosos em qualquer ocasião e, por nosso intermédio, a sua generosidade resulte em ação de graças a Deus” (2 Co. 9.11). Em I Timóteo 6.17-18, há uma orientação bem específica àqueles que possuem melhores condições financeiras: “Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação. Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos a repartir.”

Todos sabemos que a Pandemia, decorrente da COVID-19, fez um enorme estrago, não só na economia do nosso país, como em todo o mundo.

As classes menos favorecidas são as mais prejudicadas, e pelo o que se tem notícia, demorarão décadas para se recuperarem. A miséria se instalou em muitos países, dentre os quais o Brasil.

Com a inflação em alta, os preços dos alimentos subiram bastante, fazendo com que aqueles que têm um menor poder de compra gastem a maioria dos seus salários com gêneros alimentícios, além de outras despesas como transporte, moradia, etc.

Por outro lado, as pessoas de maior poder aquisitivo, verão os seus investimentos crescerem, pois dispõem de capital especulativo, investindo tanto em bolsa, como em renda fixa. São os chamados “rentistas”, pois agregam uma renda extra advinda das suas aplicações financeiras.

Assim, no intuito de tentar minorar o sofrimento das classes menos favorecidas, existem em todo o país milhares de ONG´s, bem como pessoas que doam o seu tempo em prol da diminuição das necessidades básicas das famílias carentes, doando cestas básicas, distribuindo alimentos nas ruas e comunidades, ou seja, ocupando os espaços que o poder público não consegue suprir.

Assim, no meu modesto entendimento, acredito que o único caminho existente para tentar diminuir as desigualdades sociais e a fome no nosso país continuará a ser através das ONG´s, do trabalho de voluntários, bem como com a implementação de políticas públicas.

Em Belo Horizonte existem diversos grupos de voluntários que realizam um maravilhoso trabalho, tanto com moradores de rua, quanto nas comunidades, levando alimentos e ações voltadas para atenuar as condições precárias existentes.

Sabemos que esse trabalho, por melhor que seja, ainda é muito pequeno, em face da demanda existente, haja vista que o número de desempregados no Brasil atinge mais de 14 milhões de pessoas, e a renda média per capita no país é de R$1.065,00. Em alguns estados, como Maranhão e Bahia, a renda atinge R$676,00 e R$965,00, respectivamente.

Finalizando, desejo que em 2022 possamos ser mais generosos, acolhendo, dentro das nossas possibilidades, nossos irmãos que mesmo antes da Pandemia da COVID-19 já viviam de forma precária, sem esperança de dias melhores, e o pior: sem comida nas suas mesas.

 

JÚLIA MARA DA COSTA MELO: PRONTOS  PARA OS DESAFIOS

Crie gatos, não crie expectativas.

Começo 2022 sem expectativas. Apenas o sentimento de que fiz o meu melhor em 2021. Que venha 2022 para novos desafios. Desejo saúde para mim e para os meus. E que este ano tenhamos mais empatia e compaixão. Esta é a minha receita para um mundo melhor.

 

MARCOS G. SOARES: ESPERANÇA, APESAR DE TUDO

Durante o ano em curso, fomos agraciados em todos os finais de semana com as belas crônicas publicadas no Blog de nosso redator e amigo Etelvaldo. As mesmas provocaram ótimas reflexões sobre a realidade do país, tratando com humor e reverência os mais complicados momentos. Infelizmente ainda convivemos com muitas fakes, que foram a tônica das redes sociais, mas, por outro lado, fizeram que corrêssemos atrás da verdade. Conseguimos atenuar o medo da PANDEMIA, mas ainda não podemos baixar a guarda, pois devemos estar atentos àquilo que acontece no mundo. Nem todos os brasileiros foram vacinados: alguns por se evolverem com a filosofia de vida dos nossos governantes, outros por motivos vários. A CPI da Covid deixou bem claro como o governo tratou com displicência a saúde pública dentre outras questões sociais.

Ao contemplarmos a aproximação de mais um ano, começamos a ter esperanças que as coisas tendam a mudar para melhor. Novos projetos políticos entrarão em discussão e o povo terá a oportunidade de usar o direito de fazer uso do voto para operar tal mudança. Torcemos para que a verdade prevaleça sobre a mentira e possamos assim ter dias mais felizes.

Fica aqui a minha mensagem a todos os leitores: Que 2022 seja repleto de grandes realizações. Boas Festas!

P.S. Meus agradecimentos ao grande amigo com os desejos de muita inspiração no próximo ano. Saúde e Sabedoria. Abraços.

 

MAURO PASSOS: CONFIANÇA

Como escreveu Lya Luft, que a Senhora Confiança, dádiva de que tanto necessitamos, venha com este Ano Novo e permaneça todo tempo para renovar as pessoas e a esperança.

 

RAIMUNDO SANTIAGO FERREIRA: AMIZADE

O tempo passa, mas o velho amigo fica. Nesse período em que estamos retomando um pouco de nossa vida congelada em pandemias, isolamento, por que não trocamos a nossa rotina diária de blá-blá-blá, dos afazeres do dia a dia, horários, tudo certinho, às vezes até uma certa monotonia, e criamos novas memórias, momentos únicos de lembranças simples e esquecidas, pelo olho no olho e abraços?

Apostamos que todas estas banalidades serão transformadas em risadas e mais risadas terapêuticas, lembradas até o próximo Natal.

 

SEBASTIÃO RIOS JÚNIOR: O PRINCÍPIO E O FIM DO ANO   

Recomeço do fim.  Vivencia-se uma economia estática e caótica abalando o mundo. Conforta, no entanto, como perspectiva positiva, neste país, o perceptível indício de lenta reação e recuperação. Porém, enquanto cresce a riqueza da elite privilegiada, a plebe mais sofre, carece e empobrece. O desemprego, a fome e a miséria conservam-se ameaçadores. Bocas ainda tapadas pela centenária provação divina, cujas variantes assinalam um desfecho imprevisível.

Um ano cruel se vai, em que os mandatários se digladiaram, em disputa do poder e da ambição. Continuarão assim, até que conquistem seu objetivo audacioso e malicioso. Polarizado no próximo ano, dele dependerá a fartura ou o esgotamento da teta benfazeja. Esvai-se, então, o sentido decadente e residual de democracia. Camadas expressivas do povo permanecem inconscientes e ingênuas. Abraçam as causas insensatas e se aquecem com o pão e circo oferecidos de mão beijada pelos ambiciosos, destituídos de caráter, hombridade e sentimento humanitário.

Em meio a tanto infortúnio, um monstro ameaçador e avassalador avança, sem que a humanidade se dê conta e o perceba. A tecnologia, que caminha a passos largos para o ápice, o imaginável. Na telemedicina, robôs estão a explorar, desvencilhar os segredos do corpo humano e reparar as falhas de seu organismo, operando verdadeiros milagres. Substituem e encolhem o trabalho diuturno, árduo e estafante. Por sua vez, a ciência os aperfeiçoa e os primeiros ensaios da sensação e consciência sentimentais neles se fazem presentes.

Especialistas preveem, e o noticiário jornalístico anuncia, para os próximos anos, inovações tecnológicas sem precedentes. Destaca-se a entrada em operação da banda de redes 5G que, até julho próximo, deverá estar instalada nas capitais do país. Aumentará a capacidade de transmissão de dados, com alta concentração e baixa latência. Os meios de comunicação, em especial a telefonia, sofrerão um impacto considerável. As indústrias passarão a utilizar a inteligência artificial, com o predomínio da robótica, tal qual a telemedicina nas suas funções, de certa forma antes comentadas. Um avanço incomensurável, nos próximos anos, na condução de grande parte dos processos de inovação, em todos os segmentos industriais, tornando a produção mais sustentável. O aprendizado de máquina (machine learning) e a computação em nuvem se destacarão, entre as demais tecnologias. Por fim, afigurar-se-ão, como as inovações mais importantes, a banda 5G, a inteligência artificial, o aprendizado de máquina e a computação em nuvem. Todas essas impactarão as diferentes áreas de atuação, em especial as de comunicação, saúde, ensino e educação a distância, controles de tráfego, administrativos e financeiros, e outras.

Na abalizada opinião de entendidos da matéria, o progresso tecnológico dos próximos anos será vertiginoso e até mesmo incontrolável, correspondendo a, praticamente, metade ou mais do que conseguem os humanos.

Por outro lado, os elementos químicos alcançam poderes inimagináveis. Conseguirá o homem equilibrar e contornar os seus efeitos, e utilizá-los em benefício da humanidade? A ação fulminante de sua aplicação tanto pode proteger e beneficiar, como provocar situações destrutivas.

Será, também, que o homem vencerá a queda de braço com a inteligência tecnológica, a qual repassa os seus conhecimentos, ou essa o levará à derrocada?

Nessas condições, os fins devem justificar os meios. Todo o dito parece se constituir num autêntico desafio ao Criador.

Apesar da turbulência de que se revestirá o próximo ano, com economia instável, disputa de poder, dificuldades financeiras, desemprego e tantas outras, pode ser que essas transformações não passem despercebidas, tal será a sua dimensão e a sua repercussão nas atividades e áreas gerais de atuação.

 

TADEU GANDRA: CONVICÇÃO

Pode ser bom, pode ser ruim. Bom porque a gente não gosta de incertezas, ruim porque nos fechamos na nossa ideia. Que no ano de 2022 estejamos mais abertos até para as pessoas que julgamos estarem completamente equivocadas. Mais compreensão, mais paciência, mais amor. E que tenhamos governantes com mais atenção aos mais pobres, à nossa natureza e ao Brasil.

Brasil, não acima de todos, mas para todos.