BANHO DE LEITE


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Espécie de homo asinus
Levado ao voto
Em estado de cabresto
Inclinado a não marcar números
Tentando não escutar promessas
Organizadas por corruptos e            propagandas
Recortadas no xadrez desde 1500

   (Mesmo assim, vamos de LEITE)

CONVERSA COM DR. FLÁVIO GIKOVATE

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        Por esses dias, alguém me ‘jogou na cara” a pecha de egoísta. Ele simplesmente disse:

- Você é um egoísta! Aliás, somos todos egoístas (numa forma de amenizar um pouco a ofensa).
Como estou seguindo recomendação médica de não “levar desaforo para casa”, e como não me ache tal, egoísta, embora pareça sê-lo, tratei de refletir e pesquisar sobre o tema, buscando os fundamentos filosóficos, psicológicos, religiosos, morais e existenciais para minha maneira de ser (já que o “outro” me declarou uma guerra, procurei me municiar com todos os armamentos possíveis).
Desde o início, vi que o tema tromba com muitas dificuldades, por causa da terminologia. Egoísmo, individualismo, altruísmo, generosidade, filantropia, e por aí afora, sempre esbarram em princípios morais e religiosos, quer dizer, trata-se de um terreno pantanoso, de areias movediças.
Minha reflexão levou ao desfecho de que sou, sim, um egoísta, entendendo o egoísmo como uma forma da pessoa voltar-se para si mesma, assumir sua individualidade, tomar conta de sua vida. Desdobrei o termo, ego+ismo, entendendo que representa a ida (ismo) para o “eu” (ego). Em suma: a busca e a conquista da Liberdade. Sendo livre, tudo me é possível, inclusive o amor inteligente.
Entretanto, esta minha reflexão não vem ao caso – agora. Armamento mais poderoso encontrei numa postagem do psiquiatra Dr. Flávio Gikovate, em seu site, sob o título “Individualismo não é Egoísmo”.
A mesma dificuldade terminológica observei em seu texto. Também senti como ele se via pegando em “batatas quentes”. De qualquer modo, ele foi honesto, quando procurou precisar os termos. A partir de uma definição de conceitos, tudo se torna mais compreensível.
Como cheguei a um ponto da vida em que me dou a veleidades de imaginar coisas, eis que me senti frente a frente com o dr. Flávio Gikovate, realizando a entrevista, transcrita a seguir:
ET: Para falar sobre Individualismo, não seria bom, primeiro, precisar os conceitos?
FG: Certamente. O termo “individualismo” tem uma conotação negativa quando usado como sinônimo de “egoísmo”; da mesma forma, quando descreve uma pessoa incompetente para relacionamentos afetivos ou incapaz de se integrar em grupos de convívio.
ET: Já a conotação positiva...
FG: Ela vem quando alguém é capaz de exercer a própria individualidade, de ser autônomo.
ET: Quais os processos contrários à individualidade, ao individualismo.
FG: Certamente que são os relacionamentos amorosos, os que nos aconchegam aos outros e as causas coletivas.
ET: Você não faz referência explícita aos decorrentes da religiosidade, mas não importa. Não existe uma contradição entre as partes?
FG: Absolutamente. Veja você: não há contradição entre o exercício pleno de nossa individualidade e o desenvolvimento do sentido moral e de solidariedade social. Observe que, ao contrário, é o incompleto desenvolvimento emocional das pessoas, e que implica em se atingir o estágio individualista, que acaba provocando condutas moralmente duvidosas.
ET: Concluindo esta definição de conceitos.
FG: Individualismo não é sinônimo de e nem implica em egoísmo, mas é o egoísmo que deriva da imaturidade emocional, que se caracteriza pelo incompleto desenvolvimento da individualidade, do individualismo.
ET: Por que o egoísta não pode ser individualista?
FG: O egoísta não pode ser individualista porque ele tem que ser favorável à vida em grupo, já que não tem competência para gerar tudo aquilo que necessita. É do grupo, ou de algumas pessoas pertencentes ao grupo, que irá extrair benefícios.
            ET: Descreva mais detalhadamente o egoísta.
            FG: Pois não. O egoísta é aquele que precisa mais receber do que é capaz de dar. É um fraco, que usa da esperteza para enganar outras pessoas e delas obter o que necessita e não é capaz de gerar. Ele tem que ser simpático e extrovertido, não porque gosta das pessoas e de estar com elas, mas porque precisa delas e tem que seduzi-las com o intuito de extrair delas aquilo que necessita.
            ET: E de quem, em especial, o egoísta vai extrair as coisas?
            FG: Do generoso, aquele imaturo emocional, que precisa se sentir amado e benquisto. O egoísta, esperto e atento a todas as oportunidades de se beneficiar, percebe isso e trata de obter os favores práticos que o generoso está disposto a prestar com o intuito de se sentir aconchegado.
            ET: Como se dá o encontro do generoso com o egoísta?
            FG: Quando se encontram, egoísta e generoso, esses dois imaturos e dependentes, criam uma sólida e nociva aliança, um buscando aspectos práticos de sobrevivência e o outro, aspectos emocionais.
            ET: Esta aliança tem nome?
            FG: Sim, ela é chamada de sadomasoquista. O sádico é o egoísta e o masoquista, o generoso. Nela, o poderoso é o masoquista, ele é que dá as cartas!
            ET: Existiu sempre essa dualidade entre o bem e o mal, não é mesmo?
            FG: Essa é uma trama duvidosa, que se estabelece entre os “bons” – generosos – e os maus – egoístas. Considerar a generosidade uma virtude é compactuar com a perpetuação do modo de ser egoísta. Egoísmo e generosidade interagem e se reforçam de modo negativo nas relações entre casais, entre pais e filhos, entre sócios e na sociedade como um todo.
            ET: Quando irá desaparecer o egoísmo?
            FG: O egoísmo só irá desaparecer quando desaparecer a generosidade, ou seja, o parasita só desaparecerá quando não houver mais hospedeiro a ser parasitado. Assim, defender a generosidade como virtude é defender a existência dos egoístas.
            ET: Extraordinária esta sua colocação. Mas como é possível a superação da dualidade egoísmo-generosidade?
            FG: Ela se dará com a medida ser “justo”, aquele que não recebe mais do que se dá, mas que não se dá mais do que recebe. O justo é aquele independente, tanto do ponto de vista prático quanto emocional. Em suas relações com os outros, fará trocas de todos os tipos, mas trocas justas.
            ET: O “justo” é uma pessoa madura?
            FG: Sim. Pessoa madura é aquela que gosta de se relacionar social e afetivamente, mas que também gosta de ficar consigo mesma, ela que desenvolveu mais firmemente sua individualidade. A pessoa justa e, pois, individualista, exercita com prazer sua individualidade, é exigente na escolha de amigos e conhecidos. Existem até aqueles que preferem uma vida solitária.
            ET: O individualismo, afinal de contas, remete à ideia de que somos únicos e sozinhos. Mas será que ele representa um avanço?
            FG: Creio que sim: Só através dele que atingiremos a maturidade emocional, condição indispensável para o estabelecimento de relações afetivas de qualidade e que representa um efetivo avanço entre nós.
            ET: Muito obrigado, dr. Fábio Gikovate.
Etelvaldo Vieira de Melo






TRUMP CÃO

            
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          sTRUMePício

TRUMPeço
TRUMPetudo
TRÚMPego
esTRÚMPido
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aTRUMPelo
TRUMPlex 
TRUMPT

O HOMEM QUE DESCOBRIU A PAZ (Uma homenagem aos pais)

A postagem desta semana é de autoria de Ivani G Cunha, grande amigo.
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Todos em casa estranharam quando o homem estacionou o carro na garagem sem dar a freada brusca de costume. Abriu com calma o porta-malas para tirar a pasta e alguns livros. Depois saltou para a sala sorrindo, como não fazia desde um tempo do qual nem ele mesmo se lembrava mais.
O cachorro, habituado a cochilar atrás da porta, estava próximo da entrada e não arredou do lugar. Parecia um pouco desconfiado. A mulher e os filhos também preferiram ficar no seu canto, uns cuidando de suas tarefas e os outros queixando-se da falta do que fazer. Melhor esperar que o homem se explicasse. Mas, em vez de explicar alguma coisa, ele emitiu um sonoro boa-noite, que ecoou pela casa, e beijou a mulher como no tempo de namoro.
Difícil imaginar motivo dessa mudança. No trabalho, o clima continuava tenso por causa da mudança de chefes, introdução de novas normas e implantação de inúmeros projetos que sobrecarregavam a área de atuação do homem. Ele falou sobre esses problemas, e isso também era de estranhar, porque nunca se referia aos obstáculos do seu dia a dia. No entanto, parecia que aquelas dificuldades não o afetavam nem um pouco, pois o sorriso de muitos dentes não se afrouxava.
Naquela noite ele assistiu ao telejornal com paciência, sem criticar a mediocridade de alguns textos, a abordagem superficial dos assuntos, os equívocos cometidos pelos jornalistas na apresentação de alguns temas que deveriam merecer apuração mais rigorosa. Mais uma vez eles falaram sobre a gripe aviária em tom alarmista, sem deixar claro que o problema ainda está restrito a outros países e que, no Brasil, o vírus representa apenas uma ameaça. Mais uma vez, também, os editores não reservaram tempo suficiente para fazer referências ao trabalho desenvolvido pelo governo e a iniciativa privada para proteger o agronegócio avícola da influenza aviaria. Talvez imaginem que isso esfriaria a matéria, que afinal falava de mais um caso da doença registrado em país asiático. Enfim, estava tudo igual, reforçando a impressão de que é perda de tempo buscar uma relação entre a realidade e os fatos apresentados na telinha.
O homem não estava preocupado com isso naquele dia. Um dos filhos prestava mais atenção no pai do que no programa, e até poderia apostar naquele momento que, de repente, o homem voltaria a agir normalmente. Agora, pai e filho assistiam, sem reclamar, a um dos capítulos mais fracos da novela do horário nobre. O garoto até pensou que estivesse ao lado de um clone do pai crítico e intolerante de cada dia.
Apesar dos recursos da nova tecnologia, não se tratava de uma cópia do pai. Era o próprio, embora fosse nova a expressão de paz no seu rosto, a voz calma e baixa, que obrigava todos a chegar mais perto.
Foi o primeiro dia de uma grande mudança e todos na casa acostumaram-se ao novo homem que continuava a sair de casa bem cedo e retornava ao anoitecer, mas agora sempre com um sorriso e comentários amenos, carregados de fina compreensão, sobre tudo e todos.
Nunca mais se ouviu o homem censurar os familiares que não anotavam os recados de telefone para ele. Também parou de insistir com os de casa que lessem mais para exercitar a memória, pois não suportava esquecimentos. Nada mais era importante agora do que a harmonia do lar, o bem-estar de todos, a paz com longos braços para alcançar inclusive as pessoas de fora.
Parentes, amigos e vizinhos também notaram que o homem havia mudado, mas ninguém comentou. Havia sempre o medo de que ele sofresse uma recaída. Por precaução, a família tratou de tirar o máximo proveito do estado de graça e paz do homem. Agora ele atendia a todos e participava de programas que jamais o interessaram. Na véspera de um feriado prolongado, mandou a mulher e os filhos arrumarem as malas. Saíram sem rumo e sem pressa, entrando em estradinhas esburacadas que levavam a cidades desconhecidas, onde passavam horas travando amizade com as pessoas, experimentando a comida e a bebida locais. Sempre retornavam à estrada carregados de lembranças e com novos amigos registrados no diário – endereço, telefone, e-mail, tudo em letra de forma para não haver risco de erro em futuros contatos.
Era a prova definitiva: o homem passara mesmo por uma profunda conversão. Milagre dos bons.
Todos viveram felizes ao seu lado, até o dia da avaliação anual de saúde na empresa onde ele trabalhava. Os exames comprovaram os benefícios físicos da mudança de vida. Mas depois de uma longa entrevista com a psicóloga ele foi encaminhado a uma clínica psiquiátrica conveniada com a empresa. 
Isso foi há pouco mais de um ano. Desde aquela época o homem está recolhido num conceituado manicômio, onde não dá trabalho nenhum, embora sinta às vezes um pouco de saudade da família. Conforma-se e agradece ao destino, que lhe reservou um lugar como aquele, onde sempre há pessoas com todo o tempo do mundo para ouvir suas longas histórias, recheadas de mensagens de paz, harmonia, tolerância, amor ao próximo e à natureza. 

    *Ivani Cunha / Jornalista

O COBRA E O LAGARTIXO


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Imagens: imagensanimadas.com
Disse a lagartixa:
Deixe de ser besta,
cobra cascavel.
Seu veneno não mata.
Quem mata
é o susto do réu.

Vamos fazer
uma cabriola:
você pica
e eu dou bola.

A cobra esperou
até o homem passar
e picou com virulência
o seu calcanhar.

O homem olha para baixo
E o que vê?
A lagartixa mixa mixe.

Chuta-lhe o rabo.
Sai fora, bicho feio.
E segue para o nicho.


Agora, dona cobra,
façamos o contrário.
Eu mordo o pé do trouxa
E você aparece
pro otário.

Vem o homem assobiando.
Sentiu a picada
olhou/olha para o chão.

Surge-lhe à vista
a cobra cascavel.
Estou morto – e o morto
tomba na tumba.

Kalil quando mira
está isento de veneno
É você, leitor do vento,
o peçonhento.

RETRATO QUE DÓI


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Imagem: br.pinterest.com
Desde que li uma frase atribuída a Napoleão Bonaparte dizendo “nada muda tanto quanto o passado”, senti-me no direito de tornar os fatos históricos como se fossem bolas de pingue-pongue em animado torneio. Afinal, se todo mundo pode meter sua colher de pau na História, não serei eu quem irá ficar fora dessa brincadeira. Pode ser até que, usando de uma sacada envenenada, acabe acertando com a verdade verdadeira, e não inventando mais uma verdade inventada.
A título de exemplo, vamos recorrer à história da fotografia.
Como é do domínio público, foram os japoneses que inauguraram o hábito de documentar as viagens e os passeios através de fotos. Tanto isso é verdade que, ao ver uma máquina fotográfica, você tinha 100% de possibilidade de acerto, caso deduzisse que havia um japa por trás dela.
Eram os nipônicos motivo de chacota para outras nacionalidades, com o cinema americano se encarregando de espalhá-la.
Por aqui, os issei, nissei, sansei, yonsei, jassei, eussei e cansei cuidaram de preservar essa herança cultural da fotografia.
Com a invenção da Internet e a criação das redes sociais, puderam os japoneses fazer uso do ditado “quem ri por último, ri melhor”. Agora, todo mundo faz uso da máquina fotográfica para documentar suas baboseiras e babaquices, postando-as nas redes e grupos de família.
Aonde quero chegar? Por enquanto, a uma simples revisão histórica e que tem a ver com nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade.
Quando estudante, aprendi uma frase que ficou retida na minha mente até hoje. Referindo-se à sua terra natal, Drummond dizia: “Itabira é hoje um retrato na parede, mas como dói”. Entendia que o poeta não guardava boas lembranças de sua cidade, e Itabira passou a ser, na minha visão, uma espécie de cidade amaldiçoada.
Com esse direito de reler a História a meu bel prazer, direito conferido por uma das maiores unanimidades, Napoleão, levanto a hipótese de que o desconforto e a mágoa do poeta não dizem respeito à cidade, mas a si mesmo, quando se vê numa foto, sentando num banco da praça de Itabira. A cada ano, olhando para seu retrato na parede de casa, Drummond lamentava os estragos que o tempo estava fazendo em sua fisionomia, de um garoto – cabeludo e cheio de outros atrativos – para um senhor cada vez mais decrépito, caquético, sem sal e com uma vozinha cada vez mais tremeliquenta.
É assim que interpreto aquela famosa frase. Quer dizer: estou redimindo Itabira, vítima de bullying por tanto tempo. No mais, tem razão aquele escritor quando dizia “um retrato é sempre uma ofensa, uma punhalada nas costas”. É por causa de leituras descuidadas da História que muitos erros são cometidos. A frase mal interpretada de Carlos Drummond de Andrade sobre Itabira ocasionou pelo menos dois estragos irreparáveis: um complexo de inferioridade de sua população, que nenhum analista consegue extirpar, e a venda, a preço de banana caturra, de uma das maiores empresas do país, a Belgo Mineira, que tinha como berço essa repudiada cidade.
Estou participando de um grupo numa dessas redes. Meus parceiros querem porque querem que eu poste fotos de minha infância e juventude. Eu sabia que ia sobrar pra mim! Daqui a pouco estarei dizendo: “Santo Antônio do Amparo (minha cidade natal) é apenas um retrato nas páginas da Internet, mas como dói”.

Etelvaldo Vieira de Melo

O SAPO E O BOI

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O boi bumbá
passeava  ceava  garboso
no  prado.

O sapo,
vendo o boi  bambambã,
daquele tamanho,
até o céu,
os gordos mugidos
a contar o peso
e a robustez,
ficou danado
zangado afetado
por seu próprio mignon
(filé nenhum).

Chamou os amigos
os parentes os entes as mentes as gentes
e coachou fortemente
que chega, dementes!
“Vamos acabar com a grandeza do boi”.
Assim foi não foi foi...

O sapo
enche o peito
shshshshshiiiiii  shshshshsiiiii
de novo! shshshshsiiiii
e, muito aflito:
“Já estou, gentalha,
do porte do boi?”

KKKKK – não saiu do lugar!

“Vamo  qui vamo! Fiuiiiiii  fiuiiii  fiuiii!”
KKKKKK – nem sonhar!

“Só mais um pouco!  Xixiiiiiiii  xixiiiiiii”.
Vai fazer xixi!
“Agora vai! Sooooooooprrrrrrooooo   soooooooooprrrrrooooo.”

Nessa hora – má hora
Catibuuuuu burummmm bummm.
O sapo explodiu
               plodiu   p   l    o   d   i   u
                      S U M I U
vejam só o fumacê  que deu
              ardeu          

KKKKKKK cadê o sapo?
M OOOO RRRRE UUUUUU !

MORRRRALE  FINNNNNAAAALEEE
Quem vota no Kahlil
é sapo que faliu

(vai de novo, leitor!)

REPELENTE FÁBULA REPETENTE

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Que coisa! Passava Rogenildo pelo dissabor de ter de frequentar as aulas de um cursinho pré-vestibular. Coitado, ele que não gostava nada de estudar! Seus divertimentos preferidos eram dormir e assistir à TV, isso porque, naqueles tempos, ainda não tinha sido inventado essa maravilha maravilhosa do smartphone.
Quando se levantava, o sol já estava no meio do céu, seus colegas de pensão se preparavam para devorar o almoço. Aliás, era justamente o barulho desesperado de talheres batendo em pratos que despertava nosso herói.
Os colegas eram três e ficavam sentados à mesa de uma minúscula cozinha de um barraco de três cômodos, mais um banheiro externo.
Rogenildo, semidespertado pelo barulho de pratos e panelas, com a cara amarrotada pelos lençóis e travesseiro, ficava por momentos postado no vão que ligava a cozinha à sala, olhando pros colegas com olhar perdido, mais pra lá do que pra cá, e fazendo caretas, pois, além de dormir e assistir à TV, ele gostava muito de fazer caretas. E fumar, também ele gostava muito, o politicamente correto da época. Como já disse, ele só não gostava em demasia do smartphone porque este seria invento de tempos depois. Como já disse também, mas morrendo de medo de ser taxado de repetitivo, Rogenildo passava pelo dissabor de ter de frequentar as aulas de um cursinho pré-vestibular. O que não disse, digo-o agora, era o segundo ano de cursinho, já que, no primeiro, havia sido premiado com uma sonora bomba. E a segunda perigava vir. Porque Rogenildo gostava de muita coisa, mas entre elas não estava estudar. E, aqui e agora, seria pertinente a pergunta: - Como ele suportava as aulas do cursinho?
No primeiro ano, até que tudo correu relativamente bem. Rogenildo dormia de duas da madrugada até ao meio dia, quando era despertado pelo barulho de pratos e panelas; depois do almoço, saboreando um cigarro, assistia a filmes pela TV; às dezoito, ia se arrumar para as aulas; quando retornava, dava tempo para fechar com a última sessão de cinema na TV.
Quando foi renovar a matrícula, Rogenildo se esqueceu de um detalhe fatal: matriculou-se na mesma escola! Ora, é sabido de todos que ele só se segurava nas aulas por causa das piadas que os professores despejavam de tempos em tempos. Rogenildo não desgostava disso, muito pelo contrário; eram elas, as piadas, que o motivavam ir às aulas, depois de um cansativo dia de sono, TV, cigarros e caretas.
Neste segundo ano, tendo que ouvir as mesmas piadas e sem poder repassá-las para os colegas de pensão, carregando o peso de uma bomba nas costas, ele se sente muito, muito desmotivado para os estudos.
O que fazer?
Conclusão, a título de Moral:
Duas alternativas são viáveis e tangíveis: - ou os professores de cursinho pré-vestibular renovam anualmente seus estoques de piadas, para cuidar de possíveis Rogenildos; - ou os possíveis Rogenildos, ao tomarem determinada decisão, tenham o cuidado de verificar se ela já não foi decidida anteriormente.
PS: Foi Rogenildo quem me contou esta preciosidade.
Frequentando as aulas do cursinho, ele se sentava ao lado de um cego que, por sua vez, estava ao lado de uma garota.
Certo dia, à noite, o cego se virou para a menina e perguntou:
- Posso olhar pra ver como você é?
A garota, mineira, desconfiada, cheia de dedos e ressaibos, murmurou:
- Uai... acho que pode!
O cego passou lentamente as mãos no seu rosto, tão somente. Depois, falou:
- Puxa, como você é linda!
Rogenildo disse que a garota, de fato, era muito bonita.
Aquele cego foi capaz de ver com as mãos! Que coisa!
Etelvaldo Vieira de Melo

O CORVO VAIDOSO

                                         
Maître courbeau /sur um arbre penché / avait en son bec /un fromage ( Esope)

Mestre corvo                                    
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pendurado na árvore
tinha em seu bico
um pedaço de queijo.
                                         
“ Senhor corvo,
diz a raposa,
caso a sua voz
se assemelhe  à  plumagem,
acordes  maviosos
Huuum... saborosos...
ouviremos nós .”

Mestre corvo
orgulhoso  tenor
solta o queijo no ar
e se põe a grasnar.

“ Cante, penoso,
enquanto devoro
seu bem:
o MEU queijo.

O corvo,
raivoso  nervoso  raivoso outra vez  outra vez outra vez...
sentindo o engodo
vê que a vaidade
não o torna famoso.

Os candidatos
à Prefeitura
são essa feiúra:
enaltecem o povo
prometem o novo.
Depois de eleitos,
fogem do cenário.
Deixam os crentes
sem mentes
doentes
sem pão
sem queixo
com queixa.
Benfeito pra nós imbecis idiotas passados para trás para a frente do jeito pió






SOU REPETITIVO? E QUEM NÃO É?

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Já disse neste espaço nebuloso que alguém já me disse ser função do cronista olhar no entorno, descrevendo o que vê.
Houve época em que, para atender a este imperativo categórico, tive o cuidado de realizar viagens, onde reunia o útil ao agradável, o necessário ao supérfluo, podendo descrever um tanto de novidades. Já disse isto aqui também.
Como, nos últimos tempos, tenho latido no quintal para economizar a energia do Thor e, por via de consequência, seu consumo de ração, já que a situação pros meus lados anda brava, cortei as viagens e tento me contentar com as paisagens e novidades das ruas e avenidas de meu bairro. Já disse isto também? Que coisa!
(Se não deixar de ser repetitivo, corro o risco de não alcançar nunca a marca de hum milhão de acessos neste blog, estando faltando pouco, pouco mais de novecentos e setenta mil para atingir esse feito histórico.)
Caso esteja sendo por demais repetitivo, tento me consolar, recorrendo a personagens famosos da História, que não se cansavam de seus bordões e lorotas.
Fernando Pessoa, por exemplo, não disse mais de mil vezes que o rio de sua aldeia era mais belo que o Tejo?
Sócrates, considerado o homem mais sábio (destaque de uma das disciplinas, a Filosofia, que os “intelectuais” responsáveis pelo Ministério da Educação no Brasil querem eliminar da grade de ensino), no alto de sua sapiência, não repetiu ad nauseam a alegoria do sapateiro? Tanto é assim que um conterrâneo lhe perguntou:
- Como é, velho Sócrates, continua com suas histórias de sapatarias?
Sócrates estava acompanhado de jovens discípulos, numa das ágoras de Atenas.
Para quem não sabe, e espero que seja o seu caso, a palavra “ágora” significa “praça”. O termo “agora” daí deriva. Quando se perguntava a um jovem ateniense para onde ia, sua resposta, invariavelmente, era: - Pra ágora. A expressão, aportuguesada, ficou: “pra agora”, isto é, “pra já”.
Sócrates se preocupava com as questões éticas. Julgava que uma sociedade está condenada ao fracasso, caso não prevaleça o sentido de justiça: cada um ter e fazer o que é de sua competência. O exemplo do sapateiro vem a propósito: ele é o que tem competência para entender e produzir sapatos. O mau da política vem do fato dela ser exercida por maus profissionais, pessoas inabilitadas, impróprias para ter cargos públicos. As eleições municipais estão aí e irão mostrar, tim-tim por tim-tim, isto que estou dizendo. E não adianta os moralistas de plantão com frases edificantes, como: “Não é política que faz o político virar ladrão, é o seu voto que faz o ladrão virar político”. Trata-se de uma bonita frase de efeito, mas que não condiz com a realidade, não passa de um tró-ló-ló, conversa fiada. Não acho bom ficarem jogando nas costas do eleitor uma responsabilidade que não é dele, mas do sistema político que aí está, uma fábrica de ladrões e de corruptos. (O político que se julgar ofendido com minhas palavras, caso não tenha “culpa no cartório”, que se tome como exceção da regra.)
Aproveitando o ensejo, deixo no ar a questão: O que se passa pelas cabeças desses que respondem pelo Ministério da Educação, querendo tirar do currículo a Filosofia, a Educação Artística, a Educação Física? Onde estão com as cabeças?
Eu estava com a minha sobre os ombros, voltando para casa, caminhando pela via principal do bairro, transportando uma sacola com compras efetuadas num dos supermercados próximos. Era um domingo, por volta de meio dia, hora em que as ruas e comércio começam a perder movimento.
Passando perto de um senhor, que estava junto a um carro com porta aberta, fui por ele abordado:
- E aí, não quer que eu leve você até em casa com suas compras?
Como estou tendo cada vez mais dificuldade para entender as motivações das pessoas, deixo aqui algumas hipóteses, para que você faça seu juízo e tire suas conclusões:
 - Trata-se de um marginal. Assim que entrar em seu carro, ele vai sair em disparada até um lugar ermo. Chegando lá, arranca um revólver 42 e, apontando a arma para a minha testa, toma a sacola, além de me roubar os poucos dinheiros que possuo. Conclusão: vou ficar sem os iogurtes e os biscoitos de maisena, conseguidos à custa da economia dos latidos de Thor.
 - Como estamos em época de propaganda política, este senhor não passa de um cabo eleitoral. Estou vendo: assim que chegar em casa, vai me despejar nas mãos um tanto de “santinho” de seu candidato. Pode anotar.
- Trata-se de um senhor imbuído (que palavra mais feia!) dos mais nobres sentimentos de humanidade. Imagina que eu esteja sofrendo sob um sol de arrebentar mamona, e quer me ajudar desinteressadamente.
 - Trata-se de pegadinha de programa humorístico. Assim que colocar as compras no carro, o senhor vai arrancar depressa, me deixando ainda mais abobalhado do que normalmente sou. Uma câmera secreta está registrando tudo. Depois, o senhor volta com o carro e explica que fui vítima de uma brincadeira (bem idiota, por sinal).
Deste modo, chego ao fim de mais um capítulo desta jornada literária. Como já disse, na falta de picolé, contenta-se com chup-chup: na impossibilidade de se desfrutar das praias e palmeiras com havaianas ou em Bermudas, por que não a alegria de um passeio de bermuda e sandálias havaianas pelas avenidas e ruas... do bairro Palmeiras?

Etelvaldo Vieira de Melo