LÁ VEM O PAPO (IX)

 
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OS CAVALINHOS CORRENDO,

E NÓS NOS NÓS


- Rei soldado,
   quem bem o soldou
   em seu o quartel
       antes da eleição? 
 
                                        - Princesa candidata
                                 lavando as éguas, 
                        me espetou na parede 
                modes gadunhá voto
                                                                        DO
                                                                                MEU
                                                                    imexível
                                    esquadrão.

SMS

Dom Indez de Codorniz,

precisado de verniz

operou-se de variz

fez plástica na cerviz

tatuou seu pirulis.

Disque Dis

jurupariu six

gigabytes

mega xis.

  Pet gris em Paris,

sacou que: Ali bebeu, arroiz é riz.

 Causa mortis: Se fudeu.

 E o caso fez que deu, mas...

 PRA MAMÃE PASSEARINHAR

Fura-buxo vai à feira

com moedas pra comprar

cajá-manga verde murici amarelo amora azul coco branco
                         
                                                                                                                         Graça Rios







 

 

 

 

 

 

 

                             

A MALA: COMO AMÁ-LA?

Imagem: Dreamstime

Nota Explicativa: O presente texto é um documento histórico: 1º) fala de um tempo em que até mesmo as pessoas pobres podiam viajar, e não havia um ministro da Economia (nojento!) dizendo que isso – pobre viajar - é um absurdo; 2º) não havia restrição quanto ao volume e peso da bagagem, com as malas sendo usadas à vontade. 

Para neófitos em viagens longas, sem dúvida, a mala se constitui um problema crucial. Desde sua aquisição, passando pela montagem e transporte, ela se apresenta como motivo de medo, ansiedade, angústia, muita preocupação.

Comecemos pela compra e as perguntas inevitáveis: Qual o tamanho apropriado? Diante da opção por uma no limite do exagero, não seria conveniente que ela fosse um pouquinho maior, em razão do volume inimaginável que vai transportar? Qual deve ser a sua cor, para ser reconhecida mais facilmente na esteira do aeroporto? Será conveniente amarrar-lhe uma fitinha, para melhor identificação? 

Transposto esse round, que quase leva a nocaute nosso herói, eis que ele depara com novo desafio: como equipá-la? Para responder a essa questão, ele faz profundos cálculos mentais, multiplica o número de peças pelo número de dias, acrescenta o coeficiente de imprevistos, consulta o Dr. Google e internautas experts. Por fim, está atolado no lamaçal da incerteza, pois quando a dúvida chega, o bom-senso se afasta.

Com esse tempo destemperado em razão do aquecimento global, considera – ouvindo sábios conselhos - que deve levar agasalhos para todas as estações. Os especialistas dão orientações desbaratadas, cada qual com sua lógica e que merece ser atendida. A mala se torna insuportavelmente pequena, mas alguém dá a sugestão de se comprar um saco plástico do qual pode ser retirado o ar em excesso, por meio de um aspirador de pó, com a consequente redução de volume. Outro sugere que as roupas devem ser enroladas em tubinhos. Atende a todas as propostas, ele que se considera um analfabeto perante tantas sumidades.

Finalmente, a mala fica pronta, etiquetada e com dois lacinhos amarrados para identificação: um azul e outro verde. Olha, orgulhoso, para sua obra como a dizer:

- Está vendo? Eu venci...

Entretanto, parece que a mala está a lhe responder:

- Bem que você venceu esta batalha, mas e a guerra?

Nos primeiros momentos, a guerra lhe foi favorável: o entra e sai de táxi, o deslocamento no aeroporto, a retirada da esteira, o percurso de trem, a entrada no hotel, a acomodação no quarto. 

Ali, teve o primeiro revés: não teve como reativar o sistema a vácuo do saco plástico, que se tornou inútil e foi descartado. O volume ficou transbordante, o que levou à mudança de algumas peças para uma mochila de mão.

No deslocamento pela estação ferroviária, ela quebra sua base de suporte, o que faz com que se apoie apenas nas rodas, sendo impossível deixá-la na posição vertical. Com imensa dificuldade, é arrastada até o hotel do novo destino, sendo substituída por outra, naturalmente maior e melhor reforçada.

Com o suceder dos dias, vai a mala passando por arranjos e desarranjos, sofrendo e fazendo sofrer nos deslocamentos entre estações, trens e hotéis, com a compra de uma lembrancinha aqui e outra acolá, tornando-se naturalmente incapaz de transportar tudo que lhe é devido.  Ganha uma companheira, nas mesmas proporções e medidas, também capaz de provocar as mesmas ganas assassinas, quando aberta e arranjada no interior do quarto de hotel.

E assim transcorre aquele maravilhoso passeio, com a mala se destacando em primeiro lugar pelo tempo de arruma-desarruma, pelo aborrecimento de ter que deslocá-la, pelo esforço de acomodá-la em diferentes lugares, por se tornar insuficiente ao ponto de requerer mais duas companheiras. Pior é que os conselhos dos especialistas falharam miseravelmente: fazia muito calor e as roupas de inverno só serviram para ocupar espaço e aumentar o volume.

Na chegada, enquanto retira as suas da esteira, tem o consolo de verificar que o problema não é privilégio seu: outros passageiros também estão abarrotados de malas, etiquetadas e enfeitadas com fitinhas de todos os matizes...

Nota Complementar. Malartrose: Trata-se de uma virose decorrente do uso doentio de mala em viagem. Ela se manifesta através de pesadelos, durante oito noites, em que o paciente sonha que está arrastando malas entre aeroportos, estações e hotéis; em outros momentos, ele se vê arrumando a mala, mas ela nunca fica pronta, sempre há alguma coisa a ser retirada ou ali colocada. 

Infelizmente, ainda não se descobriu um medicamento apropriado para essa moléstia. Estudos, nos USA, em países da Europa e Ásia, já conseguiram uma regressão em torno de 34,52% nos casos pesquisados; entretanto, a droga definitiva continua sendo uma esperança para os turistas, notadamente de brasileiros que realizam, agora, aquele sonho/pesadelo de Ícaro: “Voar, voar, subir, subir...

Etelvaldo Vieira de Melo


LÁ VEM O PAPO (VIII)

 
Imagem: Cursos CPT

AQUÁRIO 

- Okay!  Pergunte, menina.

-  O nome? Tetra neon.

-  Pouco. Umas quatro. Manhã e noite.

- Troque a água até um quarto.

-  Gosta das conchas, plantas...

-  Braços? Ah, ah! São ah, ah! São guelras.

-  Claro. Cérebro, rim, pulmão, coração,

-  Leia a razão em seu livro de Ciências.

 

 

                                                PÕE NO FREEZER!

 gato

após o ato

do salto

sacode o hashi de cutucar sukiyaki,

gordo,

g RAT o.

 Sabia,      sábio        Sabiá?


          ANIVERSÁRIO

       Ciranda, cirandinha,

              meia     volta

  volta             e             meia

              vamos    dar,

 

     se a barriga se cansar de vazar.

Graça Rios


QUE CALOR!!!

 

Jornal A Pátria

Estou dentro de uma lotação e estou indo para casa. O ônibus está cheio, o calor insuportável, todo mundo fala ao mesmo tempo, em concorrência com o aparelho de som do motô. O ritmo das músicas do rádio é baiano, coisa que não gosto, naturalmente, e eu acho que é um direito meu não gostar de certo ritmo baiano, embora existam muitos músicos baianos bons, é o que penso. Colado no vidro à minha frente, está um prospecto de um jornal chamado “Jornal do Ônibus”. Sua última coluna se chama “Gentileza Urbana é...”. O presente número estampa: Gentileza Urbana é... Evitar comer alimentos com cheiro forte dentro do ônibus. Em números passados, a coluna dizia coisas como: Gentileza Urbana é... Não conversar ou cantar em tom alto e nem gritar dentro do ônibus; em outro número falava que Gentileza Urbana é... Não se irritar com alegria das pessoas que cantam dentro dos ônibus. O jornal tem uma função altamente educativa, como foi expresso naqueles dizeres: Gentileza Urbana é... Ter higiene e cuidar das axilas, dos pés e da saúde bucal”. Agora, minha cabeça ficou um pouco confusa depois que o saco plástico passou a ser execrado e o Jornal estampou: Gentileza Urbana é... Usuário que sente enjoo durante as viagens ter sempre à mão um saco plástico”. O trânsito está insuportavelmente lento e eu vejo que a maioria absoluta dos carros só transporta o motorista (94,83% - em bases estatísticas). Tudo isso - ônibus cheio e excesso de carros - reforça a minha tese de que as autoridades que cuidam do trânsito e coisas afins deveriam investir no transporte coletivo, penalizando com multa os motoristas particulares que cometessem a ousadia de sair de carro durante a semana. Posso estar desagradando uma montoeira de pessoas, mas é assim que penso e eu acho que também é um direito meu ter uma opinião a respeito desse assunto. Pensando bem, estendo um pouco o raciocínio, mas tendo o cuidado de não forçar demais – por causa do calor, do ônibus cheio, das conversas e da música baiana – estendendo o raciocínio, como eu dizia, acho conveniente que saúde e educação também devem ser serviços prioritariamente públicos. Existe até uma tese interessante dizendo que, a partir do momento em que os filhos das classes mais estribadas frequentarem escolas públicas, o nível de ensino irá melhorar, já que haverá mais cobrança. A tese pode envolver também o setor de saúde, com as autoridades dando exemplo (seria bom demais ver o presidente ser tratado num hospital do SUS, numa de suas internações por ter engolido, sem mastigar, um excesso de camarão!). Também acho que já está passando da hora do bem comum ser tratado com mais seriedade em nosso país. Onde está escrito que as coisas boas são privilégio de países de primeiro mundo? O governo deveria desviar sua gana arrecadatória - das multas de trânsito, por exemplo - para outros setores, que melhorassem o nível de educação e de cidadania das pessoas. Assusta como as ruas e as casas estão malcuidadas; andando, você raramente vê um muro ou fachada de prédio sem que estejam pichados. A propósito, lá perto de casa tem um muro, onde alguém se deu ao trabalho de escrever, ao lado de sinais em código secreto: Não pixo, faço protesto. Acho que não podemos considerar, à priori, que ele esteja cometendo um erro de ortografia; é possível que, além de registrar publicamente seu protesto, esteja usando de uma licença poética, prestando sua singela homenagem à produtora cinematográfica “Pixar”. É preciso considerar que, entre o céu e a terra, existem coisas que vão além de nosso achismo. Isso é uma coisa que penso também, embora esteja usando do mesmo artifício, o de fazer uma suposição. Pensando assim, peço-lhe entender como licença poética toda vez que, por deslize ou ignorância, venha eu esmagar com os pés ou macular nossa última flor do Lácio, inculta e bela. Mas vamos considerar, retomando o fio da meada, que está tudo errado, mesmo. No início do ano, aquelas pessoas, que cuidam de dar uma aparência decente para suas residências, são cobradas com pesados impostos, enquanto que os desmazelados recebem o prêmio de redução, ou até mesmo de serem isentos das taxas. Acho que está passando da hora de surgir um político com práticas inovadoras e que ajude a melhorar a qualidade de vida da população em geral. No mais, peço desculpas pelo desabafo; quero que você entenda que tudo isso tem um pouco a ver com o calor, o ônibus cheio, as conversas e a música baiana. Também a minha vizinha de banco andou comendo um daqueles salgadinhos bem fedorentos, fato que fez meu estômago ficar dando voltas o tempo inteiro – justo em frente ao prospecto Gentileza Urbana, que recomenda não comer alimento com cheiro forte dentro do ônibus. Tudo isso altera o humor da gente e leva a gente a dizer coisas que, normalmente, não diria. Ainda bem que o ônibus se aproxima de meu destino. Vou dar o sinal e descer com minhas sacolas de compras. Pronto. Triiimmm!!! Tchau!

Etelvaldo Vieira de Melo


LÁ VEM O PAPO (VII)

 

NOITE 10 ESTRELADA

- Vincent, por que

Van Gogh

tosou a orelha?

- Esqueceu-se de lembrar

17, 18,19, 20 primaveras 

da namorada.


ANIMAL! 

Se cobra não tem pé,

     lagarta nem tem mão,

        como

            sobem,

                 descem,

            fácil

                 do

                        pé

                                de

                                        mamão?


CIÊNCIA HISTÓRICA

Cabeça, ombro, joelho e pé.

   Braço, olho, dedo, nariz.

- Onde ficam, Flor de Lis?

   - Ouro Preto.

      No chafariz da Matriz de São Francisco de Assis.

Graça Rios

 

GOD SAVE THE QUEEN!

 


(UMA HOMENAGEM AOS INGLESES NA CELEBRAÇÃO DO JUBILEU DE PLATINA DE SUA IMPERATRIZ, A RAINHA ELIZABETH II)

Não, não tenho nenhuma disposição de crítica quanto ao modo inglês de ser, muito pelo contrário. Olhando para meu histórico de vida, percebo heranças que remontam a acordos comerciais entre aquele reino e Portugal, quando o Brasil não passava de incipiente colônia. Até mesmo o título deste blog é uma deferência para com os ingleses: BBCr é uma forma que encontrei de pegar carona com a famosa emissora BBC – Blog das Belas Coletâneas ridículas foi o nome sugestivo e apelativo, elegante e charmoso, insinuante e provocativo que encontrei para que meu espaço na Internet tivesse o merecido destaque frente à enxurrada de concorrentes. Minha esperança era de que alguém, ao pesquisar a BBC, sem querer esbarrasse na BBCr, em jogo de vale tudo nessa terra hostil e sem lei, frequentemente assaltada por bandoleiros modernos, denominados hackers, que infestam computadores com vírus letais.

Não haveria problema se eu assumisse uma postura ácida quanto ao tema (principalmente quando, em se tratando de política, vejo a subserviência da Inglaterra com os Estados Unidos, ou, por causa de seu jeito fleumático, o inglês passe certo ar de arrogância). Sendo que isso, dada a minha insignificância, não venha a afetar a ordem das coisas, vamos arrolar algumas esquisitices e outro tanto de qualidades que observo no comportamento do povo inglês. Primeiro, falemos das referências.

 Na Literatura, relegando o ícone da dramaturgia William Shakespeare, destaco as lembranças de Charles Dickens, com seus romances de crítica social, notadamente Oliver Twist e David Copperfield, além de seus memoráveis contos de Natal; Thomas Hardy, com seu melancólico Judas, o Obscuro; W. Somerset Maugham, autor do clássico Servidão Humana.

Quase cometo o deslize de incluir A. J. Cronin nesta relação de escritores fantásticos, ele que foi autor de obras memoráveis que embalaram muitos sonhos de minha adolescência: A Cidadela, O Castelo do Homem sem Alma, Sob a Luz das Estrelas e tantos outros. É quando me dou conta que não se trata de um escritor inglês, mas escocês. Como na busca de compreensão do mistério da Santíssima Trindade, torna-se difícil para um simples mortal latino-americano, sem dinheiro no bolso e vindo do interior, entender que a Grã-Bretanha é uma das ilhas Britânicas, composta por Escócia, Inglaterra e País de Gales; juntamente com a Irlanda do Norte – além de outras ilhas menores e diversos territórios ultramarinos - formam o Reino Unido.

No mundo do cinema, a Inglaterra se notabiliza com elenco de excepcionais atores: Julie Andrews, Albert Finney, Jeremy Irons, Boris Karloff, Vanessa Redgrave, Tim Roth, Peter Ustinov, Rachel Wisz, Kate Winslet e - por que não? – Elizabeth Taylor. Mas como deixar de mencionar Sarah Miles e seu desempenho em A Filha de Ryan? Como ignorar Jean Simmons, memorável em Spartacus e em Deus e o Pecado? Uma citação menor, mas de especial significado para mim e de quem guardava pedaços de película, é a da musa de minha adolescência Hayley Mills, que fez sucesso em filmes da Disney, destaque para Pollyanna.

E o que dizer dos diretores ingleses? 

Por que não começar com o indescritível Charlie Chaplin, de O Garoto e Tempos Modernos? Como esquecer seu discurso em O Grande Ditador? Depois, vem a lembrança do mestre do suspense Alfred Hitchcock, de Os Pássaros, Um Corpo que Cai e Psicose. Depois, David Lean, com Lawrence da Arábia, Dr. Jivago e Passagem para a Índia. Termino essa relação com Ridley Scott, diretor de Prometheus, Gladiador e o diferenciado Blade Runner – O Caçador de Androides.

Terminando essa série de referências culturais, resta falar da música. A Inglaterra parece ser a nação que abriga maior quantidade de músicos por metro quadrado. É inumerável a quantidade de intérpretes e bandas. Exemplos? Podemos começar com aquela banda que foi a maior de todos os tempos, não só marcando a música como também os costumes: The Beatles. Mas existem outras e outros famosos: Black Sabbath, Coldplay, The Hollies, Led Zeppelin, Oasis, Pink Floyd, Status Quo, The Holling Stones, The Animals (pela música The House of the Rising Sun), ficando só no universo das bandas.

Os ingleses inventaram o futebol e a Inglaterra abriga as principais escuderias da Fórmula 1. Os eventos culturais e esportivos ali primam pela organização e qualidade. Daí, a nossa observação ciumenta e invejosa “pra inglês ver”, quando queremos algo pelo menos aparentemente bem cuidado.

No plano das esquisitices, chama a atenção o fato dos carros ingleses terem a direção do lado direito. Remonta esse costume ao tempo das carruagens, quando os cocheiros ficavam assentados do lado direito dos coches, para não trocarem agressões com chicotadas quando cruzassem com outros cocheiros? Sei que o costume das pessoas se cumprimentarem apertando as mãos se deve ao receio de serem agredidas com socos; por isso, o cuidado de segurar a mão do outro num aperto de mãos...

Outra coisa estranha e peculiar aos ingleses é a mania de aposta. A Inglaterra é chamada de reino das apostas. No casamento real de William e Catherine, tudo era motivo de apostas: se a noiva deixaria o noivo no altar, se o carro dela iria quebrar a caminho da igreja, quem seria o primeiro a chorar, se a mãe da noiva ou o cantor Elton John. A Bolsa de Apostas de Londres opera tanto quanto as Bolsas do Mercado Financeiro...

Mania de inglês é a de promover leilões até de coisas banais e insignificantes. Frequentemente, tomamos conhecimento de eventos em que peças íntimas de personalidades são leiloadas. Resumo da ópera: qualquer bugiganga passível de render algum trocado pode ser levada a leilão. Como os ingleses são exímios negociadores, peças encalhadas podem render bons dividendos. Assim, o vestido que Amy Winehouse usou na capa de Back to Black foi vendido pela bagatela 43.200 libras; o excêntrico artista plástico Damien Hirst leiloou um touro em tanque de formol, com cascos, chifres e cabeça coroada por um disco de ouro por US$18,6 milhões; um anuário com foto de Madonna aos 13 anos de idade foi a leilão na Casa Christie’s, com expectativa de venda no valor de 1.500 libras. A Casa também iria leiloar uma calçola usada pela artista no filme Procura-se Susan desesperadamente, de 1985, avaliada em 800 libras. Se um suposto dente de John Lennon foi arrematado por 10 mil libras em outubro de 2011 e colheres do navio Titanic, que afundou em 1912, foram vendidas como preciosidades, não é o caso de baixar desespero para alguém em dificuldade financeira. Basta descobrir, encontrar ou até mesmo inventar algo exótico e extravagante, enviar para uma Casa de Leilão na Inglaterra e torcer para obter bons dividendos. 

Como minhas finanças não estão voando em céu de brigadeiro, estou propenso a estabelecer uma aposta. Nas comemorações dos Jubileus de Diamante (2012) e Platina (2022) da Rainha Elizabeth II, o mundo assistiu a eventos que realçam uma peculiaridade do inglês: o culto da autoridade. Nas comemorações do Jubileu de Diamante, casualmente assisti ao desfile da carruagem real, acompanhada pela cavalariça. O locutor descrevia os cavalos que puxavam a carruagem. Nós, simples mortais, ficamos sabendo que eram da raça Cleveland Bay, o mais antigo dos cavalos nativos da Grã-Bretanha, cuja seleção enfrenta controles rígidos; que se trata de um cavalo de temperamento estável, versátil e resistente; que 30 desses cavalos são mantidos no estábulo real... Enquanto tantas informações relevantes eram repassadas, percebi que muita sujeira era deixada no asfalto. Pois bem, creio que alguém, após o desfile se deu ao trabalho de juntar um tanto daquele cocô e de guardá-lo em casa. Daqui a cem anos, um dos herdeiros irá levar aquela preciosidade para leilão, possivelmente na Christie’s. Minha aposta, na proporção de 3 para 1, é a de que isso vai ocorrer. Meus descendentes e os de meu opositor poderão acertar o resultado dessa disputa. Leiturino, quer ser você a apostar comigo?

Etelvaldo Vieira de Melo

 


LÁ VEM O PAPO (VI)

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COLOMBO

Pinto

partindo

ovo,


por instinto

descobre

o Novo Mundo?

 

GIRIALT OCANDO O ZARALHO

                                                                                                                                 Migo. 

                                                                                                         Como poderei viver, 

                                                                                                       a tua companhia? 

                                                                                         Pega a visão. Sente. 

                                                                                    Sem ti, Sapão Carroça, 

                                                                             sou só cabuloso avuá. 

 Mermão, chapa quente, 

                                                                             

só no computer

largo a bala.

Na moral,

fala sério.

Apruma o corpo.

T roca uma ideia.

Pegar baú?                                                                                          

Tua partida jaé

pra mim, brother,

osso de borboleta.

E a saudade?

Nem parada.

Caramba. Fica.

Fica, gringo. Tô na rossa, se.


UNI-DUNI-TÊ

Experimente este sorvete

colorê

sabor mínguê,

seu Salamê.

Delicioso!

Graça Rios

ESSA MANIA DE QUERER LEVAR VANTAGEM

Imagem: Glam4You


Você já ouviu falar em Easy Space? Premido e espremido pela necessidade de comprimir roupas e afins em uma mala de viagem, tomei conhecimento desse novo produto, um organizador a vácuo, que consiste num saco plástico do qual é retirado o ar, após os artigos ali serem colocados ordenadamente. Com isso, a economia de espaço chega a ser de quatro vezes.

Estava numa loja escolhendo os tamanhos apropriados, seguindo orientação – via telefone – passada por minha esposa, quando observei que vários consumidores presentes eram tomados de curiosidade. Um deles quis saber do que se tratava:

- Trata-se de um organizador que diminui o volume das roupas, colocadas numa mala ou dispostas num guarda-roupa, possibilitando um melhor aproveitamento do espaço com agasalhos volumosos, tais como colchas, mantas, travesseiros, cobertores...

- Que ótimo, vou levar um.

- O preço está meio exagerado...

- Que nada! Levando esse organizador, eu me livro de comprar outro guarda-roupa, que minha esposa anda enchendo minha paciência para fazer!

E lá vai ele, todo feliz, pagar o produto, não cabendo em si de satisfação diante de sua esperteza.

Está bem que o gerente da loja não me ofereceu uma comissão de venda, mas já observou como conseguimos chamar a atenção de outras pessoas quando em lojas de departamento, por exemplo, paramos para observar um produto? Os psicólogos chamam isso de Percepção Associativa Relevante (PAR), onde uma pessoa é levada a copiar determinado comportamento, achando, com isso, estar levando alguma espécie de vantagem. (Você tem todo o direito de achar que esse tal PAR é um ‘chute’ que estou dando.)

A psicologia de venda, e isso não é um chute, ensina aos comerciantes fazerem trapaças com a mente dos consumidores. Ela sabe que um valor redondo é fatídico; então, recomenda uma pequena redução: o produto, de R$200,00, passa a ser vendido por R$199,99. Tal valor está na casa dos 100, nunca na casa dos 200. Muitos adolescentes são vítimas frequentes desse engodo.

- Quanto está sendo vendido aquele tênis? – pergunta o pai com o coração doendo.

- Não chega a R$900,00. Trata-se de 800 e alguma coisinha...  – responde o jovenzinho topetudo.

Quando o pai vai ver, o valor do tênis está em R$ 899,99.

Tomados por aquele obscuro desejo de levar algum tipo de vantagem nas compras, somos seduzidos por palavras mágicas, tais como “oferta”, “liquidação”, “pague 2 e leve 3”, “promoção”, “brinde”.

Certas lojas conseguem deturpar o sentido de liquidação. O tempo passa, os dias se sucedem, mas a placa apelativa lá está na entrada do estabelecimento: “Sensacional Liquidação!” E isso durante todo o ano!  

Não sei se acontece em todas as regiões do Brasil ou se é uma característica peculiar do mineiro a mania de pechinchar. Sei que os vendedores aqui já parecem vacinados. Você chega para comprar um produto, nem chega a abrir a boca para pedir um descontinho, e eles vão logo dizendo:

- Este produto custa (por exemplo) R$170,00, mas está em promoção por R$149,99.

Aí, você perde a graça e o prazer de realizar uma compra, pois um dos componentes essenciais do bom consumo é o sentimento de ter levado vantagem, de ter conquistado algo que não lhe seria repassado, se você não tivesse usado de esperteza.

Pior é você ouvir do vendedor:

- Olha, esse preço eu garanto agora. Depois, haverá um reajuste e eu não poderei fazer nada.

Assim, ele como que coloca uma corda em seu pescoço, roubando-lhe o prazer de estender a pesquisa para aumentar o seu grau de vantagem.

Chega a soar de maneira ridícula - essa mania de esperteza - quando, numa loja de artigos de 1 e 99, alguém, querendo comprar um conjunto de ferramentas, pergunta, inocentemente, para você:

- Será que isso é bom?

Você faz um gesto dúbio, que pode ser interpretado como um sim, um mais ou menos ou um definitivamente-não, enquanto pensa: “Por um valor assim, até que está bom demais!”.

E, assim, vamos tocando a vida, nessa sociedade capitalista, por um lado, e consumista, por outro, cada um querendo ter sua vantagem. Adivinhe quem, no fim de tudo, vai acabar levando a melhor.

Você pode pensar que este texto está cheirando a coisa velha e terá toda razão – ele veio à luz em 17 de novembro de 2012.  Você pode alegar que as compras hoje são feitas pela Internet, através das chamadas lojas virtuais. Está certo. Mas não pense que a situação está melhor para os lados do consumidor. Hoje, você é monitorado até na hora em que entra no banheiro. Quantas e quantas vezes, conversando com minha esposa (com o telefone desligado!), revelei um sonho de consumo. Daí a pouco, meu celular era entupido de propagandas. Depois, tem esses cookies, essas ‘bolachas’ cibernéticas, cuja utilização você é livremente coagido a aceitar, sob a alegação de que ‘permitem uma experiência de navegação mais personalizada pela Internet’ ...

Sei não. Em meio século e beirando um quarto de existência, nunca fui sondado por um Instituto de Pesquisa de Opinião Pública. Hoje, nem é preciso fazer amostragem. Sei muito bem que eles (os que estão do outro lado da telinha do smartphone) sabem não só de nossas preferências de consumo, afetivas, espirituais, sociais, sexuais, políticas, eleitorais e existenciais, como até mesmo a cor da cueca que estamos usando (eu, por exemplo, estou usando uma estampada, eles sabem disso).

Etelvaldo Vieira de Melo