PENSANDO NA MORTE DA BEZERRA

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Imagem: YouTube
Eleutério, nas vezes em que tenta entender o sentido da vida, não se conforma com a teoria de que ela, ao fim e ao cabo, seja tão somente um caminho entre dois túmulos. Também não chega a considerar como Percilina Predillecta, sua dileta esposa, que a vida só se justifica, em última análise, pela procriação, pela perpetuação da espécie. No entanto, há muito ele deixou de lado a pretensão de encontrar pelos próprios meios uma explicação racional e definitiva sobre esta questão. Como “quem não tem cão caça com(o) gato”, passou a prestar atenção nos ditados populares, por entender que são eles fontes de sabedoria, um extrato daquilo de importante que a humanidade aprende ao longo do tempo.
Tudo isso está sendo dito aqui porque aconteceu dele se encontrar com o amigo Ingenaldo, estando esse com olhar triste e distraído.
- Que fisionomia é essa de quem está “pensando na morte da bezerra”? – perguntou Eleutério.
- Como assim? – quis saber Ingenaldo.
- Ora, esse olhar distante, pensativo, alheio a tudo.
- Isso é por conta de minha sensibilidade. Esta semana, por exemplo, três fatos me deixaram profundamente triste e pensativo. Primeiro, foi aquela moradora de rua lá de Niterói, que, aos 31 anos, levou um tiro e morreu, depois de pedir a um cara 1 real (pra comprar pão, já que estava com muita fome). Segundo os relatos, o sujeito atirou e saiu andando tran-qui-la-mente, como se não tivesse feito nada demais. Esse assassinato pode ser contabilizado na conta daquelas autoridades que estimulam o porte de armas. Como alguém me disse, “armas e ignorância juntas não podem dar boa coisa” - ignorância de quem tem a arma e de quem autoriza o seu porte. Depois, teve aquele professor negro que, ao atravessar uma avenida, é abordado por um indivíduo, chamando-o de “macaco”. Ao tirar satisfação, é agredido brutalmente, sendo esfaqueado nas costas e no ombro. Finalmente, tivemos aquele declaração estúpida do ministro da Economia, ameaçando também ele com a volta da ditadura.
- Realmente, é muita notícia ruim pra uma semana – falou Eleutério.
- Mas de onde vem esse ditado “pensando na morte da bezerra”? – quis saber Ingenaldo.
- Em minhas pesquisas sobre as origens dos ditados, fiquei sabendo que este veio da Bíblia. Como é sabido, os hebreus tinham o costume de sacrificar bezerros para Deus num altar. Quando Absalão, por não ter mais bezerros, resolveu sacrificar uma bezerra, seu filho menor - que tinha grande carinho pelo animal - se opôs. Mas em vão. A bezerra foi oferecida a Deus e o garoto passou o resto da vida sentado ao lado do altar ‘pensando na morte da bezerra’. Consta que meses depois veio a falecer.
- Você sabe muito bem que este blog odeia visceralmente fake news, principal responsável pelo Brasil estar do jeito que está – falou Ingenaldo em tom de repreensão. – Você garante o que está dizendo?
- Bom – falou Eleutério, se engasgando um pouco. - Em 2 Samuel 14.27 está dito: “Também nasceram a Absalão três filhos e uma filha cujo nome era Tamar”. Mas 2 Samuel 18.18 declara: “Ora, Absalão, quando ainda vivia, levantara para si uma coluna, que está no vale do rei, porque dizia: Filho nenhum tenho para conservar a memória do meu nome; e deu o seu próprio nome à coluna, pelo que até hoje se chama o Monumento de Absalão”.
- Mas, afinal, ele tinha ou não tinha filho pra validar de vez esse ditado?
- Os eruditos Keil e Delitzsch salientam, em relação a 2 Samuel 14.27, o seguinte: “Contrariamente ao uso comum, não são dados os nomes dos filhos. A razão provável disso não é outra senão o fato de terem morrido na infância. Consequentemente, visto que Absalão não tinha herdeiros, erigiu seu mausoléu, ou pilar, a fim de preservar seu nome”. Aparentemente, Absalão teve o desgosto de perder seus três filhos na infância e sua esposa não lhe deu outros filhos. Parece que Tamar teria sido a única filha a sobreviver. Desse modo – concluiu Eleutério - você pode riscar definitivamente esse ditado do rol dos fake news.
- Sendo assim – disse Ingenaldo – você pode dizer que estou, sim, “pensando na morte da bezerra”. Só espero que os mais apressados não entendam esse sentimento de tristeza seja mais por conta da queda do Cruzeiro Esporte Clube para a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol. Embora isso tenha a ver com meu desgosto.
Etelvaldo Vieira de Melo

VALE ESPERAR

Para o rádio, as horas passam realmente num piscar de olhos. Carpe diem-- aproveite o tempo.
Ivani Cunha

VOANDO AZUIS DE ÍRIS E GRAÇA

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Imagem: You Tube
Ave suave adejando meu ninho
Tecido de laços no fuso do Não:
Leva-me na asa da tua amplidão.

Tu, mas só tu, ditoso passarinho,
Refazes as penas de lã e arminho
Soltas ao vento no vil momento.

Fica em teu bico, eis o clarão,
O canto fundo de meu coração.

É um raio de lua por onde anda
A mão contando na exata balança
Certezas de riso e uma nova aliança.
Graça Rios

DON'T INTERCEPT!

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Imagem: elofoz.com.br
Preciso tomar cuidado com o que ando falando, pois o Intercept pode estar me interceptando para futuros vazamentos seletivos, e eu não quero provar de meu próprio veneno como ocorreu com Sérgio Moro, Dallagnol e companhia limitada (eles que, a bem da verdade, deveriam, agora,  estar “vendo a vó pela greta”, caso o Brasil fosse um país sério).
Como bem diz o ditado, “seguro morreu de velho” (mas morreu, como me garantiu o senhor Leal – um vizinho que, até onde sei, não bastasse o nome, é digno de crédito). Daí, preciso estar me acautelando a fim de evitar dissabores. É por isso que ando evitando fazer compras pela Internet, hábito que estava cultivando regularmente. Quando vi o que estava acontecendo com a República de Curitiba, um sinal amarelo acendeu na minha testa dizendo para mudar aquele costume.
Até que está sendo bom fazer minhas compras ao vivo e a cores. Pela Internet corria o risco de “comprar gato por lebre”. Ao vivo isso não acontece, pois posso ver, cheirar, pegar e apalpar o objeto de meu desejo. No caso de dúvida, posso até puxar o rabo do bicho pra ver de se ele berra ou se mia. Hoje mesmo, impaciente por esperar a Blake Fraude, fui até uma loja comprar um par de sapatos. Olhando as opções na vitrine, quis saber da vendedora se tinha um BBB (bom, bonito e barato) em promoção. Havia. Na hora de pagar, o dono da loja brincou comigo, quando eu quis parcelar a compra em dez vezes sem juros.
- Não é possível. Três vezes no máximo, para você que está com “o burro amarrado na sombra”.
- E com seu rabo dentro d’água?
- Pode ser – riu o estribado do dono.
- Burro amarrado na sombra, essa é boa! – falei. – Pois fique sabendo que nem burro eu tenho.
Na hora de embrulhar a compra, fiz questão de que o sapato fosse colocado numa caixa (colecionar caixas é um de meus hobbies). Depois, tirei uma sacola de minha bolsa (também tenho mania de andar com sacola) para que o embrulho fosse colocado lá. Ajeitando daqui e dali, a vendedora conseguiu com muito custo colocar a caixa na sacola.
- Esta sacola é igual coração de mãe – falou.
- Não – eu disse. – Coração de mãe é elástico, e esta sacola não é.
Ao me despedir, falei para o dono da loja:
- Agora vou ali fora pegar um burro emprestado para ir pra casa.
Dirigi-me ao ponto de ônibus, embarcando pouco tempo depois. Estou, agora, sentado num banco amarelo, aquele que é “Reservado preferencialmente para idosos”. Sim, eu sou um idoso, no alvorecer da “melhor idade”, ainda sem chegar ao ponto da imagem que está na placa junto aos dizeres, a figura de um velho com as mãos nas escadeiras e empunhando uma bengala. Por enquanto, tenho dispensado a bengala.
Voltei para casa com o sentimento de dever cumprido, tendo feito um bom negócio e sem ter corrido o risco de ser interceptado pelo tal do Intercept, cruz credo.
Etelvaldo Vieira de Melo

HAJA CALORIA!

Os maiores gênios não estão nas academias e, sim, nos botecos.
Ivani Cunha

NÃO PERMITA DEUS QUE EU MORRA

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Imagem: conexaolusofona.org
Em 1982, visitei os Açores, visando a fazer um curso de Literatura Portuguesa.
Conheci, então, a rainha da formosura insular. Era, de fato, uma criatura do Éden, sob o camartelo de Aleijadinho. Eu jamais vira uns cabelos tão negros. A pele rósea, o corpo geométrico, confundiam-se com o verde mar e o céu azul e as azáleas (digam azáleas, por favor) e as hortênsias e as fontes termais... Enfim, jamais imaginara tamanha perfeição em detalhes de silhueta.
Na época, faleceram lá cerca de sete dezenas de ilhéus e quatrocentos se feriram, vítimas do Sismo d’Oitenta. Graciosa, Terceira, São Jorge, três das nove encantadoras ilhas, viram destruídas quinze mil casas locais. Os heróis do tempo de minha estada eram pescadores, viúvas trajadas de negro pelos entes mortos na guerra ultramarina, condutores de ovelhas nas ruas. A ilha Terceira reconstruía à noite habitações derrubadas pelo tremor marítimo da manhã, quando escrevi o texto O Açor Emigrante.
Aluna da Universidade de São Miguel, constatei que a flama e a saga histórica do povo consistiram sempre em movimentar-se pela libertação da maior Zona econômica da Europa: seu próprio oceano. Quanta luta me foi relatada nas aldeias: confiança na exportação de tinta do Pastel, folclore incomum, influência estrangeira no lugar.
Em 1982, vislumbrei céu e terra explodindo dos olhos daquela linda Miss. Neles, a profundidade dolorida dos vulcões entornava lavas candentes sobre o Universo. As fumarolas, os estames de mágoa da Flores, a comida sensual cozida debaixo do solo da Faial, tudo se revelou  força para meu brasileiro coração. Em minha Pátria, naquela e nas vindouras datas, o penar também enfurnar-se-ia na roubalheira de colarinho branco, nos crimes, nas miseráveis favelas do Brasil.
A seguir, os anos 2003/2016 seriam o retrocesso fatal dos sonhos nacionais. Comecei a terminar certa escrita fervorosa contra os males que Lobato mencionara em minha gente. Ó quão semelhante ao meu, o antigo estado daquela mulher esplendorosa.
Pobres e mor tristes nós. Duas criaturas, antes contemplativas do cenário belíssimo, ora caótico e amargo, do país ilhado na corrupção política de hoje.
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Graça/19

FALTA BOM SENSO, SOBRA ESTUPIDEZ

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Sempre considerei que defender um certo equilíbrio social é uma questão de bom senso, independente da matriz ideológica que esteja por detrás de tal suposição.
Como minha história de vida não registra nenhuma ascensão social, você pode pensar que sou assim por um sentimento de frustração ou de inveja, parecido com aquele da raposa da fábula, que se desculpou por não conseguir apanhar as uvas sob a alegação de estarem elas verdes.
Mas, honestamente, devo dizer que não, que essa minha maneira de ver a vida em sociedade é fruto da observação e do raciocínio.
No seu livro “Homem Livre: Ao Redor do Mundo Sobre Uma Bicicleta”, Danilo Perrotti Machado registra que, quanto mais rico é um país, mais suas estradas são bem traçadas e modernas, mais as casas são bem cuidadas, menos as pessoas são amistosas e receptivas. Quando chegava a um país pobre, junto com as condições precárias das estradas e das construções, encontrava ele pessoas amistosas e calor humano.
Buscando subsídios para esta presente reflexão, cito Afrânio Silva Jardim, quando diz: “Constatamos que, em escala mundial, os mais ricos são mesmo egoístas, gananciosos e insensíveis à desgraça alheia”. E completava sua observação: “O individualismo corrói a ‘alma humana’, dilacera o espírito e degrada a difícil convivência entre as pessoas”.
E assim estamos nós, neste mundo dito moderno: fechados em nosso individualismo, cada vez mais insensíveis aos dramas e às vicissitudes alheias.
Com os governos ultraliberais se espalhando, sob as bênçãos de igrejas ditas cristãs, acentuam-se as diferenças entre as pessoas, com umas – a minoria – tendo cada vez mais, enquanto as outras sobrevivem como párias.
É este quadro que precisa ser olhado com inteligência e bom senso. Estupidez é pensar que a liberação do porte de arma pode dar conta da explosão de violência engendrada pelo ódio, pela ganância e pela exploração dos mais fracos e desprotegidos.
Tem que ser assim? Até quando teremos que nos monitorar com armas, cercas elétricas, concertinas e uma parafernália de equipamentos eletrônicos de segurança, como se vivêssemos em campos de concentração?
- Até que ponto chegamos, onde indivíduos pensam que a felicidade deles depende da infelicidade dos outros? Como pode um ser humano debochar, rir da infelicidade alheia? -  Esta foi a pergunta que fiz ao Ingenaldo.
- Depois de assistir ao filme “Coringa”, estou revendo meu juízo sobre esta questão do riso – respondeu Ingenaldo. – Em alguns momentos, o personagem – interpretado brilhantemente por Joaquin Phoenix – quando atacado por uma crise de riso, mostra uma carteirinha plastificada para as pessoas ao redor, explicando que não consegue controlar aquela gargalhada estridente, macabra, inapropriada e irritante, por conta de seu problema de saúde, chamado epilepsia gelástica.
- Mas o que isso tem a ver com o que falamos? – perguntei, desnorteado.
- Veja você. Na madrugada do domingo, 10 de novembro, de uma viatura policial, tentando dispersar uma tentativa de baile funk, um soldado atirou e atingiu com uma bala de borracha uma adolescente de 16 anos, que ficou cega do olho esquerdo. Ensanguentada, com muitas dores e vomitando, ela pediu ajuda aos quatro militares da viatura, e eles disseram “- se vira”. Um chegou a dizer “- vá se foder”, enquanto outro dava risada.
- Isto é terrível, embora tenha se tornado assunto banal no país.
-  Daí é que passei achar que milhares de brasileiros sofrem desse distúrbio neurológico, essa tal de epilepsia gelástica. Só isso explica o fato de ficarem rindo, debochando daqueles que sofrem perdas. Só falta agora, por exemplo, alguém vir, através das redes sociais, ridicularizar os parentes daquela menina que, aos cinco anos de idade, foi vítima de uma “bala perdida” lá no Rio de Janeiro e acabou falecendo. Caída no chão, o que ela se lembrou de dizer foi: “- Mãe, não chora não, mãe”. Enquanto uns ridicularizam, outros se calam, indiferentes. A eles se junta o silêncio tenebroso das autoridades, mostrando que o Brasil está sofrendo de uma grave patologia, está muito doente. E nem podemos ter a desculpa do país ser desenvolvido, de primeiro mundo.
Etelvaldo Vieira de Melo

MOMENTO DO CONHECIMENTO

Esquisitices da locução esportiva. Regra nº 1: os locutores têm de explicar as imagens que você vê na telinha.
Ivani Cunha


BELÉM, BELÉM!

       
pintura de bebês em tecido
Imagem: escoladepintura.com.br
              
                                         
                 

                             








Vem, vem, vem, mamã do neném?
Papá do neném vem, vem, vem?
Irmão Janjão vem, bem, vem?
Mana Nina vem vai vem?
Vem vovó, vovô também?
Titio e titia vêm de trem?
A escolinha, viu se vem?
Delém, delém!
Vêm que vêm.
      Hoje, tem festa do neném.   
                                                                                                            Graça Rios

LEMBRANÇAS DE VIAGEM: VOLUME 8 (RELATO DE ELEUTÉRIO)

Chegamos a Madrid na manhã da segunda-feira, dia 16 de setembro. Às 5:30 já estávamos sentados na sala de embarque do aeroporto, aguardando Genésia Solaris que estava vindo de Lisboa. Ao meu lado está sentado um rapaz gordinho. Ele disse, não entendi bem, que é de Santo Domingo. Está voltando para casa, pois não se adaptou ao clima da Espanha: - Hace mucho frío aquí, ele disse.
Deusarina Rebelada tem implicado comigo, dizendo que só uso mímica. Talvez seja o caso de usar agora o portunhol, tentando uma conversa. O rapaz se mostra receptivo, aliás, até receptivo demais, o que me leva a ter desconfiança. Às vezes ele se levanta, anda pelo hall, para depois voltar a sentar no mesmo lugar, perto de mim, sendo que existem muitos outros assentos vagos. Ele ouve músicas pelo celular; quando vira o aparelho pro meu lado, vejo que a tela de fundo é uma mulher gorda mostrando a bunda. Acho tudo aquilo muito estranho, tenho medo de cochilar e o gordinho, esperto, meter a mão na minha bolsa, roubando o passaporte e o dinheiro. Já pensou? – aí o passeio vai azedar de vez. Instintivamente, abraço a bolsa, desistindo de qualquer conversa. Até que o gordo também se cansa de tentar uma aproximação e acaba indo embora.
Assim que Genésia apareceu, fomos fazer um lanche. Foi quando tomei conhecimento pela primeira vez de um sistema de cobrança através de uma máquina, onde você coloca o dinheiro e ela mesma dá o troco. Achei muito legal aquilo. Pensei: - Breve tal invento chega ao Brasil. Foi também quando comecei a me familiarizar com o uso de moedas, elas que são tão desprezadas no meu país. (Percilina, ao contrário, custou a se dar conta de que as moedas na Europa valem bastante; durante muito tempo, ficou se desfazendo das suas, oferecendo para os outros acompanhantes, se sentindo incomodada com o peso, até perceber que seus euros estavam evaporando.)
Assim que chegamos ao apartamento, alugado através de um sistema chamado Airbnb, tomamos um banho e fizemos uma rápida siesta (hábito muito difundido na Espanha, que leva o comércio a cerrar suas portas por breves momentos). Depois rumamos em visita ao Parque do Retiro, um imenso e agradável jardim, uma das atrações de Madrid. Ali, enquanto tomávamos sorvete, Deusarina Rebelada foi abordada por uma senhora, querendo porque querendo tirar uma foto ao seu lado.
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- Por favor, déjame tomar una foto a tu lado.
- ¿Pero por qué? – perguntou Deusarina, arranhando o espanhol.
- Porque eres Manoela Torres.
- No no – falou Deusarina. - No soy Manoela Torres.
- No importa – falou a senhora, sorrindo. – Se queda. – Deve ter pensado: quien no tiene perro cazando con gato.
Orgulhosa por ter sido confundida com uma cantora célebre, Deusarina fez pose para a foto. Depois que a senhora deu as costas, foi pesquisar na Internet quem era essa tal de Manoela Torres. Aí, não se sentiu tão orgulhosa assim: achou Manoela velha e feia.
Depois do passeio no parque, caminhamos pela cidade. Atravessando uma rua, onde havia uma feira de livros, imaginei que tive esta conversa com um livreiro:
- Por favor, ¿tiene el libro “Caminos de la vida: los reflejos y las estaciones”, o entonces “Friki, Teteo e los otros”: historias de relaciones que no siempre son amigables con los perros y otros animales”?
- ¿Cuál es el autor? Él pregunta pensativamente.
- El autor se llama Etelvaldo V Melo.
- No, lamentablemente falta.
- Muchas gracias – falo em pensamento, tomado de orgulho.
Passando em frente ao Museo del Prado, fomos sentar numa escadaria perto da estátua de Goya.
- Estão descuidados – falou Percilina Predillecta. – Vejam o cocô de pombo na cabeça da estátua.
- E eu pensando que fosse por conta do cabelo branco – falei.
Perto dali, numa praça, ficava o imponente prédio da Casa da Moeda, cenário de uma série de muito sucesso da Netflix, La Casa de Papel. As mulheres da comitiva - Percilina, Genésia e Deusarina –se deliciaram, tirando fotos e mais fotos. Genésia era comedida nos cliques, Percilina procurava captar a estrutura do prédio em seus detalhes, enquanto Deusarina sempre procurava se colocar em primeiro plano, empostando o sorriso fotográfico, que seria sua marca nestas e em todas as outras fotografias que iria tirar ao longo do passeio. Genésia chegou a comentar comigo:
- Veja como Deusarina tem uma pose de artista!
- Também pudera – falei. – Depois de ser confundida com uma celebridade espanhola, ela vai ficar impossível.
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O dia chegava ao final. Para fechar com chave de ouro nosso primeiro dia de passeio, fomos tomar um vinho e comer uma pizza no Terraza Cibeles Cocktail Bar. Foi quando eu, monoglota, me lembrei daquela frase latina: “Alea jacta est”.
- O que significa? – perguntou Genésia Solaris.
- Significa: a sorte está lançada. Estou com uma bruta dor de barriga. Com a pizza e o vinho, ou melhora, ou tudo desanda de vez.
Suando frio, levantei a taça.
Etelvaldo Vieira de Melo

MEMORIES

Ivani Cunha

O GALO CANTOU

Imagem: rapaduracult.blogspot.com

Clara caiu e ganhou um galo.
- Colo, papai. Mãe, ai, ai!
- Conte ao doutor: aqui, ali, um ratinho rói?

- Rói, mói, faz dodói.
- Já viu retrato de gato que engole galo, que engole rato, que chia, que mia?
- Vovô mostrou isso. É radiografia.
- Então, senhor?

- Nada, nada. Só gelo na cara inchada de Clara.

Graça Rios/19

PONTO DE VISTA

Vinícius, uma criança pragmática, embora ainda desconheça o adjetivo.
Ivani Cunha

A HISTÓRIA ENCANTADA DO DENTE-DE-LEITE

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imagem: sorrisologia.com.br


Nesta janela da frente,
havia um dente-de-leite quase resistente.
Namorou uma residente no céu da boca,
amoleceu de paixão, caiu no colchão.
Então, joguei no telhado o doente apaixonado
pela estrela de um balão.
- PopStar, traz pra mim de Plutão um dente são?

Graça Rios