MELIANTE

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Imagem: blogdafloresta.com.br
O ônibus
solto na rua
espera que o passageiro
seja autuado em cadei(r)a.
Com bala ou com/balido
o transportado recebe
um trocado(r)
da súbita morte.
Infringente
o projétil disparado ignora
quem é, se igual, quem foi que
aboliu o interstício da lata.
(Os demais viajandos
da entrada articulam
a saída (i)medíática).
Enfim, acaba a sessão
com alguém lavando as mãos.
Agora é seguir o roteiro
e denunciar o volante.
Graça Rios

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO

Futebol é sempre a mesma coisa, mas alguns narradores de rádio pensam que até hoje é necessário explicar que a bola deve ser redonda, etc.
Ivani Cunha

QUANDO EXPLODE O PALAVRÃO (Fundamentos Teóricos Da Disseminação Do Palavrão Na Sociedade Brasileira)

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Imagem: maringapost.com.br

O palavrão é assim chamado não pelo tamanho (ele pode ser pequenininho), mas por ser ofensivo e feio, já que mexe com a moral e, frequentemente, com a sexualidade. Quando é feio demais, é tido também como cabeludo.
O palavrão não frequentava o cotidiano das pessoas, era usado com parcimônia, já que seu conteúdo é explosivo, de consequências imprevisíveis. Isso até surgir aquela operação chamada Lava Jato (Lava PaTo, seria melhor dizer). Ouso afirmar que a proliferação do palavrão no país é uma consequência da Lava Jato e seus vazamentos.
Como não sou de acusar e condenar baseado em suposições, vou arrolar uma série de razões que fundamentam minha tese. Ao final, quero ver você dizer se estou mentindo, se tudo que afirmo não passa de absoluta verdade.
No início, os vazamentos da Lava Jato eram seletivos, pois pretendiam colocar “lenha na fogueira”, inflamar os ânimos de parcela da classe média raivosa, fornecer subsídios para denúncias da chamada “grande” imprensa e abrir caminho para ações do Judiciário e do Congresso.
Os vazamentos logo deixaram de ser seletivos, não por vontade do meritíssimo e dos procuradores que respondiam pela operação, mas em decorrência de extrema pressão (leia-se: denúncias de corrupção), fazendo a mangueira espirrar para quase todos os lados. Só não espirou pros lados do PSDB porque juízes e promotores cuidaram de tapar os buracos com os dedos (eu me pergunto: aonde foi parar a delação do “fim do mundo” da Odebrecht, aquela que deixava todo mundo morrendo de medo?). Lá em São Paulo, por exemplo, tem um afrodescendente que, se jogasse noutro time, teria provocado um enorme número de prisões.
Mas não estou aqui, agora, para fazer esse tipo de acusação. Só quero observar que, com o vazamento, passamos a ouvir gravações de políticos e afins reclamando de propinas. O vocabulário desses, na intimidade, revelou-se  uma coisa horrorosa, cheia de palavrões. Como exemplo, veja a compilação que fiz de uma fala de determinado político:
- P*, fala praquele fdp* arrumar o dinheiro logo, senão eu vou f* com ele. C*!
Depois que essas gravações se espalharam qual tiririca (não estou me referindo ao palhaço, mas a uma planta da família das ciperáceas), todo mundo passou a se achar no direito de também soltar suas baboseiras. Conclusão daí: os jornais e as redes sociais ficaram entupidos de palavrões, cada qual mais cabeludo. Estou inventando?
Quem mais se achou no direito de aproveitar da situação foi a extrema direita. Ela, que vivia no armário até a eclosão do golpe de 2016, acabou se sentindo livre e solta para falar do jeito que era capaz: com truculência, agressividade, cinismo, e vocabulário pobre. Também pudera. Se formos arrolar suas lideranças, quem haveremos de encontrar? Uma delas, por nada, atuava como ator de filme pornô.
Quero dizer, e este é o sentido de minha tese, que a atuação da Lava Jato, especialmente quando espalhou as gravações, tornou possível juntar “a fome com a vontade de comer” de uma parcela significativa da população brasileira. O Brasil se tornou um país impróprio para menores de 16 anos. Onde está o Conselho de Censura para afastar nossas crianças e adolescentes de tanto vocabulário chulo?
Confesso que me sinto incomodado, pois não gosto de pronunciar e de ouvir palavrões. Com orgulho, ainda carrego comigo muito de inocência. Este texto, além de refletir sobre o que está aí, também é uma forma de protesto contra o vocabulário que as pessoas empregam.
O tempo de vida me pedia um texto leve, solto, bem-humorado. Isso não foi possível, pois acabei me dando conta de que vivemos um momento perigoso: o Brasil está montado sobre uma farsa, com mentiras sendo plantadas e espalhadas irresponsavelmente. As pessoas não se dão conta de avaliar as consequências de palavras mal ditas, já que nem querem saber da verdade. O pior de tudo é que, por trás da onda de palavrões, está algo mais explosivo: o ódio. A pergunta que fica é: até onde ele poderá nos levar?

Etelvaldo Vieira de Melo

SILÊNCIO

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Imagem: euviajant.blogspot.com.br

O país não comporta mais frases comuns
movimentos  & abaixo-assinados.

Há que empolar-se o humano verbo
a ser lavrado  em ata
nos  distintos congressos.

Oh, anos de prisões  mentais
& corpus epistêmicos
imitando a criação.

Os incógnitos brasilianos
acumulam  sossonhos na língua /
apátrida.
Fervem zero grau na garganta
da gente
palavras  nuas
de vozes escravas .
Graça Rios

FUTEBOL EM PEDAÇOS

No futebol (e no vôlei), fala-se agora na "bola quebrada", mais uma esquisitice dos narradores, comentaristas e atletas. Ainda não há registro da expressão no Google; por isso, arrisco-me a explicar que se trata de uma bola chutada (ou sacada) que se desviou após bater em algum obstáculo (ou jogador) e chegou fraca ("quebrada") a seu destino ou antes dele, portanto às vezes surpreendendo o adversário ou frustrando quem a enviou...

Ivani Cunha

DESABAFO

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Imagem: exame.abril.com.br

No prefácio da peça “Os Pais Abstratos”, de 1966, Pedro Bloch já dizia, mais ou menos, o seguinte: “vai chegar o momento em que o ser humano, profundo conhecedor de máquinas, só terá linguagem... para as máquinas”.
Passados mais de cinquenta anos, estamos vivenciando hoje essa triste e assustadora realidade. O texto de Denys Pereira, a seguir, mais do que desabafo, é um apelo para que cada um reflita sobre o que é óbvio, mas que ninguém parece enxergar: como as relações com as máquinas estão roubando, matando as relações humanas. Para quem pensa que não é bem assim, uma simples pergunta: quanto tempo você dedicou ontem ao seu smartphone e quanto tempo dedicou a conversar com outras pessoas?
A cena que presenciei hoje dentro de um ônibus, ao voltar para casa, e que atualmente já faz parte do nosso cotidiano, me fez lembrar das palavras recentes de Stephen Hawking. Grande físico, vencedor de vários prêmios, inclusive o Nobel de Física, criador da "teoria do tudo". Famoso por apresentar de forma fácil informações extremamente complexas do universo e que faleceu dia 14/3/18, aos 76 anos.
Em uma entrevista, ao ser questionado sobre a inteligência artificial, dizia Stephen que a tecnologia empregada nas máquinas chegaria a tal ponto que o ser humano seria dominado pelas próprias criações.
Refletindo sobre essas palavras, e diante da cena que vi, o futuro será apenas o ápice dessa dominação que já se faz presente entre nós.
Vamos à cena:
Estava eu dentro do ônibus e, em uma parada no sinal, me deparo com um silêncio inusitado a chamar minha atenção. Procurei entender o motivo de tanto silêncio. Percebi, então, que não havia sequer uma pessoa no ônibus que estivesse sem a sua máquina nas mãos, o venerado smartphone.
Nem precisei gastar fosfato para descobrir o causador de tanto silêncio.
Estamos ou não já dominados pelas máquinas? E esse é o tipo de dominação que a pessoa não percebe e se julga dominante e não a dominada.
Tenho apenas 40 anos e sou do tempo em que não existia essa maquininha. Quando pegávamos ônibus para trabalhar, o que realmente não havia no interior do veículo era silêncio.
Construíamos amizades, conhecíamos novas pessoas. A comunicação fluía. Paquerávamos e, quando faltava alguém, percebíamos. 
Tinha a turma do "fundão", onde conversávamos sobre tudo. E era a maior zoeira. Futebol era o melhor assunto, e, quando meu time perdia, a zoeira era fatal; quando ganhava, era o melhor momento do dia.
Bons tempos aqueles.
Será que percebi tudo isso apenas porque meu celular estava sem bateria?
Denys F Gomes Pereira

CAVALINHOS

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Imagem: br.depositophotos.com

O que não cabe no poema?
Um país dividido em dois.
Um partido repartido.
Uma estrela que não brilha.
Um povo analfabeto
com o governo que merece.

O que cabe no poema?
A indignação reprimida.
A educação perdida.
A saúde mais doente.
A corrupção passiva.

Os deputados comendo
e nós, cavalinhos,
correndo.

ANTES DE PUBLICAR, APURAR!

O escritor norte-americano Mark Twain (1835 - 1910), grande crítico da imprensa, dizia que o bom jornalista deve apurar com rigor as informações e, depois, pode distorcê-las à vontade. Afirmava também que "o jornalista é um sujeito que ainda não tem profissão". Atualmente, a  profissão está regulamentada e a apuração dos fatos é cada vez mais rigorosa...   

Ivani Cunha

SER JOVEM, SER VELHO

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Imagme: paranormais.wordpress.com

Quando estudante, ouvi certo professor dizer:
- Jovem é aquele que caminha com as ideias; velho é aquele que se estrutura. Neste sentido, ser “jovem” ou ser “velho” não é uma questão de idade, mas de disposição de vida.
E arrematava o mestre:
- Numa tendência natural, acontece das pessoas mais velhas se estruturarem. Só amamos o que construímos; portanto, é compreensível um idoso se estruturar em defesa daquilo que construiu. Afinal, trata-se de seu patrimônio, seja ele financeiro, psicológico ou moral.
A Filosofia, não enquanto corpo doutrinário mas disposição de vida, é, essencialmente, jovem. Melhor dizendo: ela é infantil, porque brota do espanto, do encantamento, da curiosidade, da vontade de saber.
Com o tempo, essa admiração vai se desfazendo, e nos tornamos pretensiosos, julgando que já sabemos de tudo. É nesse processo que nos tornamos “velhos”, nos estruturamos. E é justamente aí que mora o perigo.
Então, é assim: as pessoas se estruturam em defesa do que elas construíram e do que elas são. Qualquer ameaça a essa estrutura torna-se algo perigoso e que deve ser combatido.
Isto que estou falando é facilmente verificável quando analisamos a questão da ideologia.
Iniciamos 2018 sob intensa guerra ideológica, que se arrasta por dois anos, com a perspectiva do quadro ir se agravando cada vez mais.
Nessa guerra, e porque se trata justamente de uma guerra, razão e busca da verdade são deixadas de lado para aflorarem as armas de defesa e de ataque. Então, passa a valer tudo (alusão à música “Vale Tudo”, de Tim Maia), já que as partes envolvidas quase sempre acreditam na máxima de que os fins justificam os meios.
Numa análise maniqueísta e muito simplista, temos, de um lado, os “demônios” e, de outro, temos os “santos".
Estes termos, “demônios” e “santos”, não configuram os tipos ideológicos. Sendo assim, o demônio é tão somente aquele que tem uma postura cínica; santo é aquele descrito como dogmático. Numa ordem natural, acontece dos cínicos tenderem mais para a ‘direita’, enquanto os dogmáticos ficam mais à ‘esquerda’. Mas isso não ocorre necessariamente. O que destaco é que o comportamento do cínico é destrutivo, corrosivo. Em geral, não sabe argumentar; logo apela para a ofensa, a agressão. Já os dogmáticos se escondem por detrás de uma fé inabalável em verdades incontestáveis, seus dogmas.
Num confronto de agressões entre essas partes, estabelece-se, então, o que chamamos “diálogo de surdos”: ninguém ouve ninguém, ninguém dá razão a ninguém, todo mundo quer impor seu ponto de vista.
Entretanto, entre essas partes, surge por vezes aquele que podemos chamar de irônico. Enquanto cínicos e dogmáticos se fecham em suas posições, o irônico busca, através do diálogo, uma aproximação com a verdade. Isso porque a Ironia é dialógica, como tão bem a empregou Sócrates em sua Maiêutica. Ela não é corrosiva como o cinismo, nem sectária, como é próprio do dogmático. O bom da ironia é que não teme a verdade, vai atrás dela, esteja onde estiver. (É bom notar que o irônico se serve e pode ser encontrado com frequência em textos de humor.)
Esta análise nos mostra que muito pouco se salva dessa guerra ideológica que vivemos hoje. Vivemos um conflito de “gente velha” em defesa de estruturas. Como ninguém reconhece os próprios erros, acabam as pessoas se apegando a pedaços de verdade e se arvorando como donas da verdade inteira.
O Brasil se tornou um país “velho”, está tomado de velhice: velho é o judiciário, velhíssima é a política, caindo de velhos estão as classes dos empresários e dos banqueiros (embora eu desconfie de que esses serão sempre velhos); velhos são os “demônios” e os “santos”, os “cínicos” e os “dogmáticos” em seus diálogos de surdos – eles que tanto aparecem nas redes sociais.
Para quebrar tanta caduquice, pessoas “jovens” estão fazendo falta, muita falta.
Etelvaldo Vieira de Melo

O QUE É A FELICIDADE

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Imagem: alexandrybarreto.blogspot.com

Estava almoçando quando vi o meu netinho de dois anos empurrando a cadeira de comer pela sala. Para aonde iria a onda? Virou à esquerda e posicionou-a em frente ao órgão, não sem antes puxar com esforço a que estava lá. Em vão tentou alcançar o assento. Deixei o prato e realizei-lhe o intuito. Após vinte minutos, quis retornar à refeição, mas o menino aprontou um escarcéu. A mamãe o socorreu, depois o papai, e ele manejou as teclas e os botões da astronave, incansável e interessadíssimo. David, o gênio genioso engenhoso, sabe cantar a multidão das músicas infantis. Neste semestre, vai!“ler”!  O Patinho Feio, O Barquinho Vai, Os Sanduíches da Maricota, na escolinha. Esse prazer pelas artes (desenho, pintura a dedo, comida e água boa) é o conceito absoluto de felicidade para mim.
Ana Clara viveu os três últimos anos na Malásia. Retorna, aos nove anos, para BH, onde vai ficar até... o papai engenheiro mudar. Então, vai aos dois melhores centros de estudos do inglês locais.  Chega o examinador e aplica-lhe um teste com 56 quesitos, do básico ao avançado. Ao final, ele comenta com os pais: Não sei o que fazer com essa menina! Acertou 52 questões. (Por que não as 56, netinha? Ah, vó, fiquei cansada e larguei elas para lá). Outra: - Ah! Ganhei de novo. Por que você teima em jogar damas e cinco marias comigo, hein, vovó?!?... No computador: É assim que faz. Vou explicar pela décima vez, dona Maria. Ou: 2000 pontos no jogo. Ah! Vamos fazer o slime, vó. Comprou a água boricada? E o gliter? Ainda: Nessa prova que te passei, vovó, você tirou 5. Na oral, nem zerou! O que é, o que é? É todo colorido e está neste quarto. – O cachorro manchado, de pelúcia? A colcha de vaca? O travesseiro do gato de óculos? (– Tá frio, tá frio!) – Pode falar, Clara. Não adivinho mesmo. – Claro que é a bola, debaixo da sua cama!...  Mais um conceito absoluto de felicidade para mim, a que sabe que nada sabe.
As estrelas de Hollywood se vestem de preto, em protesto contra abusos machos, embora usem decotes quilométricos e ardentemente sedutores. Trump e Kim Jong-Ung disputam uma guerra nuclear pelo tamanho dos botões. Na política, a corrupção grassa feito erva daninha. Neymar, herói da Pátria, fraturou o dedinho do pé e acionou a marinha, a aeronáutica, a polícia internacional para operar no Brasil, durante a operação em BH. O tráfico de homens, prostitutas e drogas continua prestigiado no planeta. Tenho hoje 69 anos, significando crescente decrepitude dos órgãos e da escrivância. Horror! Desatino das nações! Eu deveria me matar.
Ana Clara, a niilista: Nada, vó. Nadinha de nada. David, o cantador: Fui morar numa casinha nha nhá! Infestada dadá! De cupim pimpim! Saiu de lalalá! Uma lagartixa xaxá! Olhou pra mim olhou pra mim e fez assim: Permita-se ser feliz, Maria da Graça. mantenha no imo de sua alma a paz e a saúde necessárias à luta pela justiça, pela igualdade entre os povos, pela destruição dos males que assolam a humanidade. Faça da felicidade infantil o motivo de viver 100 anos, como sua genitora, em prol da grandeza do amor universal. Sal sal sal. Seja o sal da terra, vovó.
Graça Rios




EM DOIS TEMPOS

Ter confiança, olhar para cima -- assim deve ser, mas convém variar...
Ivani Cunha

TESTAMENTO

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Imagem: ivonezeger.com.br

Quando minha vida chegar ao fim
- Tal fantasia que se esvai -
Quero me ver assim:
Como uma esperança que se desfaz
Um sonho que acaba
Uma luz que se apaga.

Quando minha vida chegar ao fim
As decepções estarão perdidas com o tempo
Bem como tristezas e alegrias.
Que não venha a doer meu coração
Pois não irei carregar sentimento de culpa
Nem de mágoa. Assim espero.
Quando minha vida chegar ao fim.

Quando minha vida chegar ao fim
O que irá restar?
Um pouco de melancolia talvez
diante da incerteza do que há de vir,
do que semeei e plantei
do que ajudei a construir
daquilo que realizei
e, tristeza maior,
do que sonhei mas não fiz.

Quisera ter renovado a esperança
Alimentado os sonhos
Espalhado sorriso e alegria
Construído pontes para aproximar pessoas
Para iluminar os caminhos
Trazer a paz
Tornar o mundo mais feliz.

Quando minha vida chegar ao fim.
Etelvaldo Vieira de Melo




NORTE

Excepcionalmente, estamos antecipando as postagens da semana.
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Imagem: flickr.com
Piso minas e rios
chuleados de bala
e política

Na imprecisão
dos tempos de guerra

já estamos mudos antes dos fuzis

Entre circuitos de fala EX/barrada
 o balé do estilhaço enreda

entre lobos latinos
eu, Trump, Kim Jong-Un, Graham, Kipling

sediados pela grandeza dos botões
Graça Rios

      




MUNDO ANIMAL

Cada vez mais você precisa saber em que águas vai se refrescar e exercitar os músculos.
Ivani Cunha

APERTANDO O CINTO

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Imagem: blushbycrpm.blogspot.com.br

- Colegas de auditório, vamos cumprimentar o senhor presidente.
- Boa noite, senhor presidente. – O auditório, todo ele feminino, fala em uníssono, como se tivesse ensaiado.
- Data venia, boa noite. É com prazer inusitado que me dirijo às senhoritas e aos milhares, milhões de telespectadores.
- Ai! I, i, i, i... – ri o apresentador, replicando os “is” como se estivesse engasgado. – Mas vamos ao que interessa. Como dizem os amigos americanos: time is money. A questão é: a Previdência está quebrada?
- Quebradérrima, diria eu. Se não fizermos uma reforma urgente, não terei como pagar aos meus queridos aposentados nos próximos meses.
- Por que isso aconteceu?
- Os fatores são vários. Eu detectaria, em primeiro lugar, que estamos pagando o preço da evolução, da modernidade.
- Como assim?
- Na vida, tudo tem um preço. Veja bem: eu mesmo, para chegar aonde cheguei, tive que pagar caro. Agora mesmo estão os deputados me cobrando para arquivar mais uma denúncia de corrupção. Está claro que vou pagar, embora o dinheiro não seja meu propriamente, mas da mãe Joana.
- Vamos nos ater ao script, para que eu não me perca.
- Pois, então: eu me referia à expectativa de vida. Não faz sentido um trabalhador braçal se aposentar aos cinquenta anos, como aconteceu comigo, e viver até os sessenta, setenta anos. Imagine quando ele puder chegar aos noventa, cem anos! Vivendo mais dez, vinte anos, o aposentado estaria contrariando aquela máxima de ser chamado de “pé na cova”.
- Se entendi bem: vivendo mais, trabalhar mais. Faz sentido.
- Eu, por exemplo, embora recebendo uma gorda aposentadoria, continuo trabalhando como político. E digo para vocês: o trabalho enobrece o ser humano.
- Além da expectativa de vida ter aumentado, existe outro fator de quebra da Previdência?
- É preciso que o telespectador entenda: o buraco da Previdência fica mais em cima, assim como o da Saúde, da Educação, do Saneamento, enquanto quase todos os outros estão em baixo. Assim, apesar de arrecadar muito, e nesse sentido ela não é deficitária, tem que repassar valores para outras partes.
- Exemplos, por favor.
- Eu pergunto para você: tem sentido gastar com aposentado enquanto deixo de desonerar e perdoar dívidas de latifúndios, grandes empresas e bancos? Faz sentido eu pagar alguns milhares de reais para aposentadoria de milhões de pessoas, quando esse dinheiro poderia ser repassado para engordar outras aposentadorias de magistrados (e de seus descendentes), de desembargadores, procuradores e políticos?
- Eu mesmo tive um banco que, se não houvesse ajuda do governo, teria me provocado grandes dores de cabeça. Ai, Ai! I, i, i, i... Mas, realmente, o senhor tem razão. Eu só iria discordar se não vivêssemos num regime de castas.
- Ainda bem que você entende. A reforma trabalhista que aprovamos foi justamente para colocar cada um no seu devido lugar, em especial os párias.
- Diante desse quadro, o que sugere que seja feito pelas pessoas?
- Minha sugestão é que busquem aposentadorias complementares. Como o governo é uma mãe Joana só para alguns, sugiro aos assalariados reservarem uma quantia todo mês, algo em torno de R$500,00 (quinhentos reais), para uma aposentadoria complementar. Assim, aqueles que puderem e derem conta, estarão com os restantes dias de vida um pouco resguardados para arcar com medicamentos e planos de saúde.
- Infelizmente, nosso tempo se esgotou. Pelo que vi e senti, Ai! Ai! I, i, i, i..., o senhor está fazendo jus ao slogan: “uma ponte (e não uma pinguela) para o futuro”.
- Muito obrigado pela oportunidade desse profícuo diálogo com os cidadãos de nosso amado país. Data venia.
- Colegas de auditório: a seguir, muitos aviõezinhos de cinco e de dez reais. Aguardem, após os comerciais. Agora, vamos aplaudir e dar um adeusinho pro nosso presidente.
O auditório, de pé, aplaude e acena um adeusinho.
Etelvaldo Vieira de Melo