FIM DA POLÍTICA

Imagem: diariodocentrodomundo.com.br








volto a votar
embora a Sereníssima República
continue dormindo em berço esplêndido
embora o desejo de todos
seja ir embora para fora
embora haja luta física e poucos projetos
entre os candidatos
embora o governador eleito ontem
já esteja envolvido com jatinhos
embora os botox não escondam
os olhos velhos e vermelhos de Aécio
embora Dilma não rime
de jeito nenhum com renovação
nesta eleição de domingo
eu volto a votar

TUDO PASSA

26/10: aniversário de 2 anos do blog BBCR

Quando me aventurei no espaço da blogosfera, imaginava estar entrando numa terra de ninguém, infestada de modernos bandoleiros, denominados hackers, onde valia a lei do mais forte e onde minha vida não valeria um dólar furado, mesmo que eu usasse o pseudônimo de Django e contasse com a direção de Quentin Tarantino.
           
Passados, agora, dois anos, vejo que meu prognóstico pessimista não se concretizou, certamente por ter tido um comportamento discreto e, sempre que necessário, ter procurado a ajuda dos donos deste empreendimento cibernético, a Equipe Blogger. Existe também uma explicação baseada no tamanho de minha insignificância, ou seja, o fato de que eu represento um grão de areia no deserto saaraônico da concorrência e ser uma espécie de Mosquito Namouss, o Perceptivo, aquele que, durante muitos anos, morou na orelha de um elefante. Quando, por imperiosas razões, teve que se mudar, achou por bem dar uma satisfação ao proboscídeo. O elefante respondeu que estava tudo ok, mas não quis confessar que, na verdade, nunca havia percebido a presença daquele mísero inseto em sua orelha.
           
Feito o registro de minha alegria incontida por estar presente neste espaço, menciono os dois sentimentos que tomaram conta de mim ao longo desses meses.
           
O primeiro foi o de pensar que estava aqui para refletir sobre o comportamento da terceira classe social do país, aquela que começava a usufruir das benesses do consumismo. Meus primeiros textos falavam muito de lojas de 1,99 e de shoppings populares, mencionava o fenômeno da globalização e alertava para os riscos das pessoas serem controladas pelo sistema e seus segmentos.
           
O segundo sentimento que tomou conta de mim foi o de assombro por perceber que, quase sempre, estava repensando ou fazendo uma releitura dos ditos populares. Essa descoberta me trouxe muita alegria também, já que havia adotado a máxima de que “aprendizagem é a arte de desocultar mistérios”. Eu, que busco ansiosamente um significado para a existência, percebo que o trato com a sabedoria popular é uma forma de me aproximar da cultura, da essência de tudo aquilo que a humanidade construiu ao longo dos séculos. Se tudo isso não me traz uma resposta para minhas indagações existenciais, pelo menos me aproxima mais da condição humana. Aparentemente pode parecer coisa banal, mas isso me parece da mais extrema importância: sentir que sou gente, que sou um ser humano, que carrego uma herança cultural de muita riqueza, sabor e beleza.
           
Por que o “tudo passa”? “Tudo passa, tudo passará” é trecho de uma canção de Nelson Ned, um cantor de estatura pequena, mas que tinha um vozeirão e enxergava longe. Sua lembrança, ele que também já passou desta, vem a propósito de uma terceira ideia que anda me rondando e eu pretendo colar às outras duas, mencionadas anteriormente, nem que tenha que recorrer a um super adesivo de secagem rápida.
           
Ao longo desse tempo, que se estende desde outubro de 2012, creio que mudei muito, que me tornei uma pessoa melhor, mais interessante. Do ponto de vista físico, nem quero fazer consideração, pois sei que os espelhos fabricados hoje em dia passam longe, quando se trata de qualidade, dos de antigamente. Há uns 30 anos atrás, eu podia demorar em frente a um espelho, analisando com cuidado cada parte do meu rosto. Hoje, devido à péssima qualidade dos mesmos, só me olho de relance, com um sentimento de aversão como a de um vampiro frente uma cruz. Mas eu já encontrei uma solução para esse problema meu e de tantos outros; ela foi postada numa crônica em que falo do projeto de exportar ideias (28/09/2013).
           
Detalhando os ganhos, posso dizer que me tornei uma pessoa mais atenta à vida e aos acontecimentos, agucei minha curiosidade frente ao que é novo, melhorei meu vocabulário, aprendi muito ao compartilhar ideias com minha parceira de blog, retomei o hábito da leitura, produzi textos (104 publicados até hoje) que, em outras circunstâncias, não haveriam de vir à luz. Resumindo, quero dizer que desenvolvi o hábito da reflexão. Hoje, posso fazer minhas as palavras de Aristóteles ao afirmar que “a vida sem reflexão não merece ser vivida”.
           
Tudo passa, mas também permanece, tudo se renova. Assim é a vida para quem não se contenta em ficar olhando pela janela. Até as mínimas coisas ensinam essa lição do novo. Semana a semana, compartilho com você essas descobertas e aprendizagens. Muito obrigado pela sua companhia amiga. Espero contar com você sempre e sempre me tornar cada vez mais digno de sua atenção.

Adendo (só pra não perder o trem da História):
          De repente, eu me vejo pensando em trechos de duas músicas.
A primeira, de Dorival Caymmi: “Marina morena Marina você se pintou/ ... Me aborreci, me zanguei / ... desculpe Marina, morena / Mas tô de mal, de mal com você”.
A outra é uma transversão daquela de Antônio Barros e cantada por Ney Matogrosso, já apresentada duas semanas atrás, neste blog: “Neste mato tem rastro de cobra, tem couro de lobisome / Se ficar, o bicho pega; se correr, o bicho come”.  

Etelvaldo Vieira de Melo  

MENTIRAS

Imagem: gazeta24horas.com.br





Os discursos políticos
prometem ouro
a quem não tem pão.

POSITIVISMO

“Amor como princípio e ordem como base; o progresso como meta”: Ordem e Progresso.

A
s pessoas deveriam abandonar as opiniões extraídas de suposições e achismos.
        
O espírito científico deveria impregnar as mentes humanas, de tal modo que a manifestação de ideias fosse baseada na certeza de que essas ideias brotaram de verificações empíricas, nunca de suposições.
        
A vida humana, norteada dessa maneira, caminharia a passos largos para o progresso e o bem estar de todos. Não obstante, fica claro que as questões últimas e cruciais só conseguem ser tratadas na base de suposições, de achismos. Infelizmente.
        
Voltando ao dia a dia, 98% das opiniões emitidas poderiam ser removidas, porque fundadas no tal achismo, sendo trocadas por outras, essas, sim, escoimadas (!) em dados científicos. (Às vezes, eu me surpreendo com a versatilidade de meu vocabulário.)
        
Um exemplo é você dizer que determinado fulano enxerga com a barriga, numa alusão ao fato de que ele é amante de comida, gosta de comer desbragadamente. Quando está com ele em um restaurante (‘restorante’), a comida em seu prato chega a competir com a altitude de uma Cordilheira dos Andes ou de um Monte Everest. Antes de condená-lo por isso, trago à sua consideração o que li em uma tampa de iogurte (iorgute – quase ia dizendo): o intestino possui mais de 100 milhões de neurônios; por isso, ele é conhecido como “segundo cérebro”.
        
Esta simples observação levará a um novo juízo de valor, onde o fulano em questão não mais será difamado. Sabendo que os neurônios se concentram em duas bases, você irá inferir que, no mencionado indivíduo, a central localizada na cabeça sofreu uma pane e necessita reparos.
        
Olhando sob essa perspectiva, como tal pessoa tem tendência a engordar, inúmeros gastos com regimes emagrecedores, internações em Spas e cirurgia para redução de estômago poderiam ser evitados. Um simples serviço de eletricista resolveria o problema, ativando os neurônios situados no cérebro nº 1.
        
Outra consideração diz respeito aos bebuns, os alcoólatras. É sabido que tais pessoas se alimentam mal, tornam-se magras, exatamente porque o álcool mata os neurônios do segundo cérebro e, com o tempo, chega a comprometer os que estão no primeiro.
        
Observo que os AAs da vida teimam com a técnica de quebra de copos, como tentativa de solução para a dependência alcoólica. Meu raciocínio lógico, positivista, recomenda a aplicação de vitaminas para o fortalecimento dos neurônios do segundo cérebro. Foi isso que inferi da leitura do texto inscrito na tampinha do dito iogurte. E é isso que eu acho, mesmo achando que não tenho direito de achar nada.
Etelvaldo Vieira de Melo 

IGREJA DE ALEIJADINHO

Imagem: folhadoindaia.blogspot.com




         A mão ferida fabrica o altar. Enquanto se esvai no sonho, renasce um anjo bom.
        
         Aleijadinho morrendo e as santas rejuvenescendo, brancas, em pedra-sabão.

         O coto do artista se esfumaça, magoado de negras manchas, mas o Cristo vai se formando, ressurrecto e cicatrizado.

         As pernas do Aleijadinho estão cobertas de chagas, daí os cinzas das vestes, porém os soldados fortes supliciam a Cruz.

         O feio artesão se esconde e as figuras resplandecem, em vermelhos azuis ofuscantes.

         Olhos oblíquos saem da pedra para verem o rosto acabado. Aleijadinho é o monstro inconfidente que produz cataclismos em Minas Gerais.

         Vede essa Virgem sorrindo e as cores de seu vestido. Olhai os laços doirados que enlaçam finas cinturas.

         A cabeça de Aleijadinho está magra e suarenta, mas os anjos esbanjam gordura e bebem no céu estrelado.
                  
         É de nimbos a boca do artista; de cúmulos, a dos santos.

         Suspirai por essas coroas, não mireis os esboços da vida. Belas são as faces dos anjos, triste a carapinha do artista.

         Entretanto é o caminho espinhoso que conduz aos roseirais.

         Ide por essas rendinhas, subi pelas falas dos púlpitos, contemplai essas dores franjadas que compõem o cenário barroco.

         Esquecei as mazelas do homem que, terminada a sua obra, também estará terminado.

CORDEL CABULOSO

Quadrienalmente, no reino animal
Acontece uma feroz competição
Através de uma corrida nacional
E pela qual alguém se consagra campeão.

Para a corrida de determinado ano, inscreveram-se o javali
Mais a raposa, o ganso, a arara e o nhambu.
Chegando um pouco atrasado, apareceu o jabuti
E, por ser de baixa estatura, quase não se via o tatu.

As regras determinavam como principal requisito
Que o trecho fosse percorrido a pé, não cabendo recurso
Fato que prejudicava ganso, arara e nhambu em tal dito
De não poderem usar voo durante o referido percurso.

Favoritos para ganhar a disputa estavam a raposa e o javali.
Institutos de pesquisa diziam serem eles os prováveis campeões.
Correndo por fora, devagar quase parando, vinha o jabuti
Com o peso de sua carcaça a lhe provocar lamentações.

Tudo seria diferente se o veado entrasse na competição
Mas o tatu interpôs recurso por motivo de veadofobia
Que ele não reunia princípios éticos, estéticos, de fiscalização
E que, por isso, participar da corrida não podia.

Durante a maratona, em quatro intervalos regulares
Deviam os competidores frente à emissora de televisão
Trocar insultos com seus pares
Pra ver quem mais tinha razão.

A raposa dispunha de uma assessoria especial
Sabendo que seu telhado era de vidro em profusão
E temendo tornar-se um alvo principal
Achou por bem de estilingue ter a posição.

Enquanto a raposa usava dessa tática genial
Sua cotação caía pelas tabelas, e era assim que queria
Sabendo que chegaria o dia
Em que haveria de dar o golpe fatal.

Assim, o jabuti passou a chamar a atenção
E, sendo usado como boi para piranha
Embora entusiasmado com a súbita promoção
Sem perceber que era vítima de uma artimanha.

A bem da verdade, era o jabuti um animal articulado
Dono de um falar inteligente e pausado
Logo tornou-se foco de geral atenção
Com risco de roubar do javali a taça de campeão.

Estampavam jornais em edição:
Quem haveria de ganhar a competição?
Seria por acaso o truculento javali
Ou ele iria sucumbir frente ao delicado jabuti?

Enquanto isso, o ganso de olhar distraído
Balançava o longo pescoço em trejeito
Parecendo não querer de nada tirar partido
Achando que tudo estava bem feito.

A arara de plumagem loura e olhar azul
Atirava pra tudo quanto é lado
Não se importando se do norte ou do sul
Até que, descuidada, acertou o próprio rabo.

O tatu desde que sua fobia de veado foi ciência da população
Não cresceu de tamanho mas passou a chamar atenção
Comprou uma briga feia com o ganso e a arara
Chegando à ameaça de lhes dar uns tapas na cara.

O nhambu procurava falar em tom comedido
Desde que em entrevista pra televisão
Ao soltar um “pum” foi surpreendido
Fato que provocou enorme repercussão.

A corrida caminhava para a reta de chegada
Quando o jabuti passou a sofrer um processo de desconstrução
Com o javali procurando lhe dar cabeçada
 A raposa atirando pedra e escondendo a mão.

Cientistas políticos perguntavam, mesmo a troco de nada:
Quem criou aquela trama, quem forjou a desconstrução?
E diziam à boca pequena que o Maquiavel da bicharada
Era um sorrateiro pássaro que atendia pelo nome de Gavião.

Assim, da palpitação passou o javali para um suspiro aliviado
As noites de insônia sumiram quando clareou a situação
O temível jabuti havia sido jogado de lado
Aquele animal de couraça dura estava fora da competição.

 Pensava o javali: brigar com a raposa é mais seguro
Com seu teto de vidro, não vou jogar no escuro
Com o jabuti seria muito mais perigoso
Seu jeito manso esconde um animal ardiloso.

De uma coisa o javali não sabia:
Enquanto dava suas cabeçadas no jabuti
A raposa trocava os vidros de seu duplex
Substituindo-os por temperados, por blindex.

No final, tudo acabou como no quartel de Abrantes
O que veio depois perdendo para o que era antes:
Javali e raposa apontando na reta de chegada
Enquanto os demais ficavam comendo poeira pela estrada.

A raposa se escondeu atrás do jabuti
Evitando assim que lhe atingisse cabeçada
De um raivoso e acuado javali
Ao tempo em que preparava sua faca afiada.

A pergunta final é: quem será campeão
Ao final dessa maratona que buliu com nossa paciência?
Quem levará os louros da competição
Dessa corrida que tanto brincou com nossa inteligência?

Neste mato tem rastro de cobra, tem couro de lobisome
Se ficar, o bicho pega; se correr, o bicho come.
Etelvaldo Vieira de Melo










DEFINIÇÃO

Imagem: educacao.cc

                                                   






  

  


Espécie de Homo Asnus
Levado ao voto
Em estado de cabresto.
Inclinado a não marcar números
Tentando não escutar promessas
Organizadas por corruptos e propagandas
Recortadas no tabuleiro de xadrez desde  1890.

ÓI NÓIS AQUI TRAVEIS

Imagem: novacharges.wordpress.com
               

        Ai,ai, aiai, está chegando a hora...
da população brasileira praticar tiro ao alvo. 
Bom seria se fosse, como naquela outra 
música de Adoniran Barbosa e Osvaldo 
Molles, “Tiro ao Álvaro”. Nesse caso, 
seriam uns poucos a serem atingidos. 
No caso das eleições, e estou falando 
delas mesmo, os “álvaros” somos todos 
nós. Por isso, todo cuidado é pouco pra 
fugir de uma bala fatal. Bom seria se ela 
passasse de raspão ou que, no máximo, 
atingisse nosso dedão do pé. Mas não 
tem jeito: todos – em maior ou menor 
escala – sairemos feridos.
           
Vivemos um arremedo de democracia. Tanto é assim que nem dispomos do princípio básico de escolha: somos obrigados a comparecer às urnas e votar. A democracia aqui é tanta que se tornou obrigatória. Quando chegamos à sala de votação, estamos referendando um jogo de cartas marcadas. E tudo por conta de nosso sistema político corrupto e corrompido.
           
Com tanto “santinho” para colar numeração, tem gente que pensa que a eleição para presidente é a principal. Ledo engano. Ali, quem quer que seja eleito, terá que se submeter às chantagens e ao fisiologismo de um Congresso que funciona na base do “dá cá, que eu vou pensar se dou lá”.
           
Estou sendo pessimista demais? Que nada! Tanto é que, muitas vezes, chego a ser confundido com meu amigo Ingenaldo, a pessoa mais crédula que existe na face da Terra.
           
Considerem vocês outra questão: gasta-se muito e cada vez mais com as eleições em nosso país. Advinha quem financia esse gasto. Pense mais um pouco: quem vai pagar a conta? Colocando lenha na fogueira, levantamento feito pelo UOL constatou que “sete das maiores empresas doadoras de campanha nas eleições de 2010 foram ou estão sob investigação, devido a indícios de corrupção envolvendo contratos públicos ou por conta de relacionamentos com partidos e políticos”.
           
Comenta-se à boca pequena que, como o país para a cada dois anos, ele para para (!) que alguns possam encher seus bolsos com dinheiro à rodo.
           
Além dos “cientistas políticos” e tantos mais, quem ama de montão as eleições são os institutos de pesquisa.
           
Engraçado: ao longo de meus não sei quantos anos de eleitor, nunca, mas nunca mesmo, fui entrevistado por um desses institutos. Pergunto para as pessoas de meu círculo de relações se algum já foi (entrevistado). A resposta é sempre a mesma: Não!
           
De duas, uma: ou os institutos têm um quadro fixo de um mil e pouco eleitores-padrão, ou eles realizam suas pesquisas usando de um atributo peculiar ao meu cãozinho de estimação, Thor: o olfato.
           
É quase certo que tais institutos funcionem movidos por sensores olfativos, quando não por montões de “Deus seja louvado”. Se eles dispõem do chamado “quadro fixo”, seria melhor que tal quadro nos representasse nas eleições, proporcionando aos cofres públicos (isto é, nossos bolsos) uma economia fabulosa.
           
Para dar um desfecho a este texto, deveria recheá-lo com dados estatísticos. Vou fazê-lo, embora lidar com números seja para mim uma tremenda dor de cabeça. Quando eles envolvem valores, aí a coisa complica de vez. Como assalariado, consigo lidar com valores até R$10.000,00; passando disso, minha cabeça entra em parafuso. No entanto, em defesa da honra, vamos lá:

O desfecho foi inspirado numa daquelas revistas antigas que folheio, quando minha mente fica vazia. A revista em questão é de 2012, com quase dois anos de existência, sendo, pois, página da História que, todo mundo sabe, é essa sucessão de fatos sucedidos sucessivamente. A reportagem, de duas páginas, descreve as perspectivas de gastos com as eleições daquele ano.
           
            Resumidamente, a estimativa era que o TSE iria gastar R$6 bilhões para organizar a eleição daquele ano. O custo da propaganda eleitoral gratuita para o contribuinte seria da ordem de R$606 milhões e R$52 seria o custo do voto de cada eleitor aos cofres públicos. Para não me sentir completamente perdido diante desses números, dados complementares me chamam à razão: naquele ano, o governo iria destinar R$260 milhões para a erradicação do trabalho infantil e R$70 milhões no combate à violência sexual contra crianças e adolescentes. Só não entendi os R$50 milhões que seriam desprendidos na prevenção e combate à corrupção. Isso foi o que li na revista.

Como esses dados representavam previsões, procurei confrontá-los com outras fontes posteriores, obtendo resultados bem diversos. Quem me ajudou a ter uma compreensão melhorada do gasto na eleição daquele ano foi o Jornal Folha de São Paulo, edição de 31/12/2012. Para o que vem ao caso, destaco as seguintes notas:

- Os quase meio milhão de candidatos a prefeito e a vereador desembolsaram cerca de 4,1 bilhões de recursos públicos e privados, próprios ou captados;

- Em média, a eleição municipal custou a candidatos R$29,44 para cada um dos 138,5 milhões de eleitores;

- Quanto aos gastos públicos, foram investidos cerca de R$1,3 bilhão (R$286,3 de Fundo Partidário R$606,1 milhões não arrecadados p/horário eleitoral gratuito R$395,3 milhões de gastos operacionais do TSE).

No frigir dos ovos, vejo que os dados apresentados pela Folha se aproximam daquela projeção inicial de R$6 bilhões, passando a ser esse valor referência para minhas considerações.

Quanto às eleições de 2014, ou o STF está fazendo boca de siri, ou não estou sabendo pesquisar corretamente. De qualquer modo, consegui encontrar em alguns sites os seguintes dados:
           
- Só os onze candidatos à presidência deverão gastar quase 1 (hum) bilhão de reais;
           
- Já os 178 candidatos à vaga de senador deverão gastar um pouco mais que 1 (hum) bilhão de reais;
           
- A soma do limite de gastos de todos os candidatos já registrados na Justiça Eleitoral será de R$73,9 bilhões;
           
- O limite médio de gastos com campanha é de R$2,9 milhões por candidato.
           
Concluindo, quero deixar registrada a minha indignação diante de tanto gasto. Sei que, ao fim de tudo, quem vai pagar a conta é o povo, conta que será acrescida de juros e correção monetária. Gostaria de poder contar com a ajuda de meu amigo de adolescência, Aloísio, o Homem Que Calculava, para determinar o quanto de tempo deverá trabalhar um cidadão de salário mínimo para ganhar o que se gasta numa eleição. Eu me pergunto: a quem pode interessar ver o país parado de dois em dois anos por causa de uma suposta democracia, graças a um Sistema que torna a eleição um jogo de cartas marcadas? Como gente do povo, eu me recuso a aceitar a acusação de ser responsável pela classe política que temos aí. As eleições, nos moldes em que estão postas, são uma fonte de desmando e de corrupção. Dizem que é um grande negócio, com muita gente ganhando muito dinheiro (ao ponto de certos políticos terem dificuldade em administrar “sobras de campanha”). Certamente é por isso que somente o povo quer as regras mudadas, o povo, ninguém mais.
Etelvaldo Vieira de Melo