ESCREVER É RESISTIR                                 

À força do desamor
Imagem: acertodecontas.blog.br
aos conchavos políticos
aos podres poderes
ao assombro de viver
ao regime patriarcal
às mulheres transformadas em Barbies
à urgência de conter os sentidos
às mentiras da falsa liberdade
às agruras dos trabalhos pesados
aos princípios pregados pela mídia
à falta de educação
à penúria da saúde
ao desejo de consumo
à certeza de que há fome de tudo
no mundo em que vivemos.


O BOI, O LEÃO E A ÁGUIA

Não se assuste, estimado(a) leitor(a), porque o título acima não quer dizer que eu vá propor ao seu cansado e debilitado raciocínio aquele enfadonho, irritante Teste de Lógica, que lhe convida a encontrar meios de atravessar  esses animais em uma balsa por um rio, sem que se trucidem uns aos outros.
O título, na verdade, remete a um livro de Pierre Weil, “O Corpo Fala”, livro esse que se encontra, há muito, sumido de meu campo visual, mas cuja lembrança permanece vívida em minha memória, segundo expressão de meu irmão, Vicente.
Pierre inventa uma nova anatomia humana, dividindo o corpo em três partes: o abdômen representa a vida vegetativa e é simbolizada pelo boi; o tórax, a vida sensitiva e seu símbolo é o leão; por fim, a vida racional é expressa pela águia e se localiza na cabeça. O esquema, então, é simples, assim:
            * Abdômen = vida vegetativa > boi
            * Tórax = vida sensitiva > leão
            * Cabeça = vida racional > águia.
O autor também diz que o lado direito do corpo está sob o domínio da razão; o esquerdo, do sentimento.
Essa divisão faz lembrar um açougue, onde está estampado um mapa de um boi e suas partes. Você fica sabendo onde estão os pedaços nobres e aqueles de 2ª, 3ª, 4ª categorias. Porque com os bois (ou com as vacas, para não contrariar as feministas, que andam me olhando de maneira enviesada), vale como nunca aquela máxima de Lavoisier de que nada se perde, tudo se aproveita ou se transforma. Ultimamente, com o preço da carne bovina custando os olhos da cara, nossa atenção se prende naqueles menos valorizados, isso quando nos damos ao sacrifício de degustar uma carne. De minha parte, penso seriamente em me tornar vegetariano, não por convicção, mas por contingências da vida, maneira sutil de falar aperto financeiro.
Pierre Weil analisa as três dimensões do corpo, mas não me lembro de seu estudo da parte racional, talvez porque esteja me vendo mais para condor do que para uma águia propriamente.
O boi, ou vida vegetativa, é exemplificado com o desenho de uma pessoa em determinada festa, recusando o segundo (ou será o terceiro, o quarto?) pratinho de salgados. Ele faz um gesto com as mãos, enquanto estica a barriga, querendo dizer = estou satisfeito.
O leão mereceu vários exemplos, com destaque para aquele de um motoqueiro que, em final de semana, desfila em sua moto pelas ruas do bairro, com o leão todo estufado: vrum-vrum-vruuummm... esgoela a moto, chamando atenção das meninas para o “gato angorá”, todo emplumado de tão metido.
Quando minha filha era pequenina, saíamos em passeio pelas ruas do bairro. Muitas pessoas comentavam:
            - Que menina linda!
Eu estufava o peito, com o leão todo orgulhoso.
Tem pessoa cuja autoestima anda muito em baixa, com o leão rastejando. Se você chegar até ela e, discretamente, fizer um elogio, verá como seu leão desperta, abre os olhos e dá um rugido de satisfação.
Mais ou menos isso aconteceu comigo, nessa aventura de criar um blog. Eu me sentia incomodado diante da pouca repercussão com as postagens. Dias desses, recebi um e-mail de meu amigo Biba, dizendo que tinha lido tudo e que estava gostando muito. Eu lhe disse para postar um comentário no blog, pois estaria fazendo um bem danado pro meu ego, pro meu leão, para minha autoestima.
Uma última referência ao livro de Pierre Weil é uma ilustração de um casal, sentado em um banco. O rapaz puxa os ombros da menina em sua direção com sua mão esquerda (“quero subjugar você”), prende as mãos da garota com sua mão direita (“você vai ficar presa a mim”), todo seu corpo está voltado para ela (“vem cá, chega mais perto”). A garota, por sua vez, está dividida entre sentimento e razão: “quero, mas não posso”. Seu corpo se encurva em direção ao rapaz (“você me domina”), fecha as pernas (“não, eu me fecho”), prende o pé direito no pé do banco (“não, não quero”), mas seu pé esquerdo se volta para o rapaz (“sim, eu quero”).
E, assim, mostra-nos o autor a linguagem da expressão corporal. Muito educativo você observar aquele fulano que, numa apresentação, fala “Muito prazer”, com tom de voz de descaso, mas, quando aperta a mão do outro, parece que ela está dando choque, pela rapidez com que retira os dedos. Educativo observar se uma pessoa está à vontade na casa do outro, quando – sentado na poltrona – seus pés teimam em apontar a direção da porta. Educativo também ver uma pessoa demonstrar seu desconforto quando, conversando com alguém, fica o tempo todo com os braços cruzados.
Junto à linguagem corporal, temos a linguagem das palavras, que coisa!
Minha amiga Nina teima em achar que tenho algum conhecimento de inglês, por causa de uma crônica em que falo da onda de estrangeirismo. Estando viajando por estradas americanas em direção à Flórida, quase atropela um “deer” – foi assim que ela me descreveu por e-mail. Corri ao minidicionário para saber se tratava de algo tenebroso. Fiquei sabendo que significava um cervo, um veado.
Para terminar, conversando com minha amiga Graça, parceira do blog, ela fala que vai chamar seu cabeleireiro de “deer”. Eu falo para tomar cuidado com a entonação, pois, se ficar ofendido, ele pode – no mínino – fazer um estrago em seu cabelo.
            - Que nada! Ele vai é gostar. Se, por acaso, achar ruim, vou dizer que estou falando “dear”, que significa “querido”. De um jeito ou de outro, tudo acaba bem.
Etelvaldo Vieira de Melo
           



EU CREIO
Imagens - Bandeira brasil
Imagem: imagensface.com.br
Que a Copa não será capa para abusos governamentais;
Que os jogadores não serão transformados em super-heróis do povão;            
Que os problemas da saúde e da educação não serão esquecidos;
Que os manifestantes dos direitos do povo não serão tratados
   como bandoleiros, a poder de cassetetes e balas de borracha;
Que a Bandeira e o Hino Nacional não serão símbolos de futebol;
Que os estrangeiros turistas não serão alvo dos arrastões;
Que os países escalados levarão uma impressão de pátria do nosso país;
Que a Presidente ouvirá as vaias das torcidas;
Que o Mensalão e o Mensalinho não serão abafados pelo entusiasmo
   com o pão e o circo;
Que a mídia lembrará aos telespectadores que o nosso dinheiro está sendo
   doado ao Haiti e à África;
Que, em sendo campeão, o Brasil não se torne a terra do futebol, do samba
   e da especulação financeira;
Que a mulher não será apenas objeto, sob o olhar dos europeus;
Que depois da Copa a propaganda não a torne propaganda eleitoreira;
Que um Salvador virá nos livrar dos baixos contracheques e do Imposto de Renda.


MEA CULPA
Mal acabo de gestar um texto onde falo de meu quase estado de alienação, quando vejo o país ser sacudido por uma onda de manifestações e passeatas, como há muito tempo não se via.
Velhas raposas políticas passam a ocupar espaço na mídia, convidadas a fazer uma leitura dos fatos. São raposas que cuidam de seus galinheiros ou que estão de olho no galinheiro agora tomado por outras.
Impressionante como nenhum desses manifestantes chama atenção para o óbvio: o povo está cansado, cansado de tantos desmandos, impunidade e corrupção, de passar vergonha, de ter que se responsabilizar na escolha de políticos que cuidam dos próprios interesses ou dos interesses da minoria que detém o poder econômico. O povo está cansado e ele sabe que não basta fazer um remendo em um tecido velho e podre. Não basta trocar figuras, personagens que irão repetir os mesmos scripts. O que já não permite demora é uma reforma política, uma mudança nesse sistema, que dá direito, por exemplo, a um cidadão que pode ser preso em 181 países do mundo, ser eleito deputado federal.  Caso necessário, que se faça uma reforma constitucional e o país adote, de fato, um regime presidencialista ou parlamentarista, onde um poder não é mais refém de outro e não se torne usual o suborno, a compra de votos. Importa é que tenhamos partidos fortes e representativos, uma classe política enxuta e saída de bases distritais (e não mais paraquedista), que haja fidelidade partidária e que se acabe com excrescências como as figuras do suplente, do vice e de duas câmaras legislativas.
Aí está o texto produzido em 13/06/2013. Está prematuro, pois não passou por todo o processo de amadurecimento, como normalmente faço acontecer. A urgência dos fatos me pede para que seja postado agora, já.

Confesso: ando descuidado com as notícias do país, ando me aproximando daquele terreno tenebroso que a esquerda radical e raivosa de antigamente chamava de alienação. Pode você não saber, mas se existia uma expressão que nos provocava arrepios era ser chamado de alienado. Muitos dos que enchiam a boca para jogar esse termo na cara dos outros até que se deram bem: recebem indenizações do governo, isto é, do povo que paga os impostos, ou estão agarrados, quais carrapatos, em empregos públicos e burocráticos.
Tenho um amigo que não jogava nesse time de oportunistas, mas que carrega uma frustração de todo tamanho, o trauma de não ter caído nos porões da ditadura. Se tivesse sido preso pelo menos um dia, hoje estaria bem resolvido psicologicamente e com um dinheirinho extra para aliviar suas agruras financeiras.
Estou, como disse anteriormente, vivendo numa espécie de ilha da fantasia. Melhor assim. Quando procurava, par e passo, acompanhar os desdobramentos do que acontecia no país, era tomado por tamanha indignação, que chegava a passar mal. Minha revolta começava com o próprio jornal que me repassava, usando de seus filtros, a sua leitura dos fatos. Todos os dias, tinha eu que enviar mensagem de protesto contra a forma tendenciosa de como as notícias eram apresentadas. A conclusão é de que nunca se dignaram transcrever meu comentário em seu painel do leitor.
Agora, vez por outra, assisto a um jornal de TV, ouço um noticiário no rádio ou dou uma garimpada nas notícias pela Internet. É assim que me sinto razoavelmente inteirado do que acontece, sem que meu frágil estado de saúde fique ainda mais abalado.
Estou na iminência de me tornar aquele eleitor sonhado e idealizado por todos os políticos (claro que com algumas exceções, o que faz parte da regra): um ser passivo e acomodado, desinformado dos conchavos, das mutretas e falcatruas que o nosso sistema político permite e abençoa. Eu disse: quase; não disse que sou. Por isso, é bom que minhas palavras tenham crédito, pois elas traduzem, se fôssemos usar de uma analogia geográfica, os sentimentos de alguém lá do interior do Amapá em relação a Brasília, ou seja, quando abro a boca para reclamar alguma coisa é porque a situação está pra lá de Bagdá, está pra lá de feia.
Eu sei, apesar dos pesares, que devo buscar mais informações, mesmo que sejam aquelas expostas gratuitamente nas bancas de jornal. Porque sei que não podemos dar trégua para uma espécie humana que, por qualquer descuido, apronta das suas, aqueles que se escondem por detrás de um verniz, aparentando ser o que não são, enrolando o povo como se ele fosse bobina de motor. O poeta Mário Quintana fazia o mesmo tipo de desabafo: em geral, os sorrisos (e discursos) mais encantadores que a gente recebe na vida são os desses políticos em véspera de eleições. De dois em dois anos, exercemos o direito de levar tapinhas amistosos nas costas, enquanto os passeios das ruas ficam atulhados de cavaletes e nossas caixas de correio entupidas de “santinhos”, como se fossem latas de lixo.
PS: Antes que você conclua que apresento todos os sintomas de alguém mordido por um cão atacado de raiva, esclareço (como procuro sempre tentar esclarecer, cf. Terrível, Assustador, Perigoso, crônica postada em 03/11/2012; Cada Cabeça, Uma Sentença, de 24/11/2012): até disponho de grande simpatia para com o pensamento de Rousseau, de que o ser humano é, por natureza, bom, mas a sociedade o corrompe. Portanto, não tenho nada contra a pessoa do político; os sistemas eleitoral e político é que são os vilões da história. Enquanto forem assim desse jeito, não há como produzir algo que preste. A não ser como exceção, o que vem para confirmar o ditado, o de que toda exceção tem uma regra.

Etelvaldo Vieira de Melo

JUIZ LADRÃO

Juiz ladrão
a gente conhece
pelo jeitão:
tem  olho de mau
e perna de pau.

Imagem: conversasdexaxa4.blogspot.com
Juiz bandido                                             
na hora do jogo
está vendido.

Vaia e cobrança
nesse juiz.
Banana e ovo
no seu nariz.

Juiz de dia
que antipatia!
Juiz de tarde
nasceu covarde.
Juiz de noite
meu pai me fala
merece é bala!   
CHUTANDO AS IDEIAS
NÃO TEM CORÉ-CORÉ(*): É RIPA NA CHULIPA!(**)
Segundo dados estatísticos, o Brasil é um país onde 98,73% da população afirmam entender de futebol. Entender e gostar, é bom que se diga. Então, sendo assim, nada mais natural que reportagens de rádio e TV, jornais e outras publicações estejam abarrotadas de notícias sobre esse esporte.
Apesar de provocar toda espécie de comoção, seus jogadores e dirigentes ainda são vistos com reservas, como se fossem ignorantes ou semi-analfabetos. O presente texto quer mostrar a beleza, a profundidade e o toque sutil de comentários aparentemente simples e banais.  
#  De Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians: “O difícil, como vocês sabem, não é fácil”. (1) (Autor também da frase: “O Sócrates é invendável, inegociável e imprestável”.) (2)
Não, as pessoas nem sempre sabem que o difícil não é fácil. Dizendo: “como vocês sabem”, Matheus está convidando para que façamos um discernimento entre o que é fácil e o que é difícil. Se o difícil fosse fácil, ele não seria difícil; sendo difícil, ele não pode ser fácil. O problema da vida humana é que muitos tomam o fácil como difícil, tornando difícil aquilo que é fácil; de outro modo, outros acreditam que o difícil é fácil, facilitando aquilo que, por natureza, não é fácil, mas difícil. Uma frase, aparentemente simples, esconde toda a complexidade de ser e de não ser.
# De Zanata, ex-lateral do Fluminense: “Na Bahia, é todo mundo muito simpático. É um povo muito hospitalar”. (3)
Esta citação revela, primeiro, um valioso informe para aqueles que nunca conheceram ou venham a conhecer pessoalmente aquele Estado brasileiro. Depois, derruba o estigma de uma palavra que, normalmente, provoca arrepios. As cidades, em geral, possuem regiões hospitalares; agora, passam a ser chamadas “regiões hospitaleiras”. O povo, antes hospitaleiro, agora é hospitalar.
# De João Pinto, jogador do Benfica de Portugal (com tal nome, só podia ser, ora, pois, pois): “O meu clube estava à beira do precipício, mas tomou a decisão correta: deu um passo à frente...”.  (4) (É dele também a frase: “Não foi nada de especial, chutei com o pé que estava mais à mão”.) (5)
A frase pede uma distinção entre o que é correto e o que é certo. É certo, estando à beira do precipício, dar um passo à frente? Isso faz lembrar muitas decisões do Judiciário aqui no Brasil: são corretas, porque amparadas na Lei, mas seriam certas? O certo está no plano da Ética, enquanto o correto é formalidade; um é questão da Lógica, enquanto o outro é problema moral.
# De Jardel, ex-jogador do Grêmio: “Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe”. (5) (Também disse: “Clássico é clássico, e vice-versa”.) (6)
Simplesmente bonito demais, quando uma pessoa está tomada por fortes emoções, não conseguindo traduzir por palavras adequadas tudo o que sente. É como um adolescente tomado pela paixão, tentando encontrar palavras para traduzir tudo aquilo que pesa em seu peito. Dizer “Eu te amo?” Isso é tão pouco para o que está sentindo... Em momentos de fortes emoções, a gente confunde as coisas e acaba até colocando adrenalina no armário!
# De Dunga, ex-técnico da Seleção: “As pessoas querem que o Brasil vença e ganhe”. (7)
Dizem que o futebol é o esporte em que nem sempre vence o melhor. Daí, uma das razões do fascínio que exerce sobre as pessoas: é onde David pode derrotar Golias, o pequeno derrubar o grande, o pobre esmagar o rico. Entretanto, quando joga a Seleção, é preciso vencer e ganhar, isto é, vencer e convencer. Essa visão romântica tende a virar poeira da história, nas lembranças de um Telê Santana, de um João Saldanha. O futebol deixa de ser poesia, perde seu lirismo, para se tornar algo robotizado e mecânico. A fala de Dunga parece lembrar essa nova geração.
# De Vladimir, ex-Corinthians: “Eu disconcordo com o que você disse”. (8)
Quando você discorda de alguém, está se colocando em posição contrária, apelativa, como se estivesse disposto a uma briga. Isso não faz parte da índole, da natureza do brasileiro. A nossa história não é construída com armas, de lutas, de guerras, mas de acordos, sobre e debaixo de panos, com conchavos e tapinhas nas costas. Este é um país onde tudo se ajeita, é o país do jeitinho. Se discordar é ir para o outro lado da rua, disconcordar é - com mil pedidos de desculpas - quase que ficar ao lado.
# De Dario, ex-jogador do Clube Atlético Mineiro: “Não venham com a problemática, que eu tenho a solucionática”. (9)
Está aí uma citação que torna o rugido de leão um miado de gato. Ou seja, algo que poderia nos causar muita preocupação e ansiedade não passa de algo banal e insignificante. Problemas, onde? Que bobagem! Isso não passa de uma problemática, para a qual eu tenho a solucionática! E tem mais: “o amor é lindo!”
Finalizando, outras citações de jogadores, dirigentes e técnicos que dispensam comentários e convidam à reflexão:
- “Tudo a nosso favor era contra nós” (Danny Blanchflower). (10)
- “Quando você quer ganhar um jogo, você tem que ensinar; quando perde um jogo, tem que aprender” (Tom Landry). (11)
- “Quando você ganha, nada dói” (Joe Namath). (12)
- “Além de orgulho, lealdade, disciplina, coração e mente, a confiança é a chave para todas as fechaduras” (Joe Paterno). (13)
- “Se você pode acreditar, a mente pode alcançar” (Ronnie Lott). (14)
- “Para ter sucesso, você precisa encontrar algo para segurar, alguma coisa para motivá-lo, algo para inspirar você” (Tony Dorsett). (15)
- “Ninguém que já deu o seu melhor se arrependeu” (George Halas). (16)
- “A diferença entre uma pessoa bem sucedida e outras não é a falta de força, não é a falta de conhecimento, mas sim a falta de vontade” (Vince Lombardi). (17)
- “O futebol é um jogo honesto. É verdade para a vida. É um jogo sobre o compartilhamento. O futebol é um jogo de equipe. Assim é a vida” (Joe Namath). (18)
Concluindo, a citação de Don Shula: “O sucesso não é para sempre e o fracasso não é fatal”. (19) Assim é a vida, as conquistas passam e a derrota sempre aponta a possibilidade de um recomeço.
Etelvaldo Vieira de Melo
Créditos:

(*) Olavo Leite Bastos, o Kafunga   (**) Expressão popularizada pelo narrador Osmar Santos (1)(3)(4)((7) jorge-menteaberta.blogspot.com – (2)(5)(6)(8)(9)  gospelbrasil.topicboard.net – (10) bleacherreport.com – (11)(12)(13) sportsfeelgoodstories.com – (14)(15)(16)(17)(18)(19) greatest-inspirational-quotes.com
MANÉ E PELÉ

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Todo menino                                                                          
chamado Mané
nasce com a bola
no pé.

Todo menino
chamado Pelé
vem com a bola
cabriola
rola na marola
e a torcida grita
olé!

A bandeira está aberta.
O menino está alerta.
É um show!

A bola não se embola
enrola o adversário
e é gool!


VIRTUS IN MEDIUM EST

Tenho notado que, além de dores que se distribuem aleatoriamente pelo meu corpo, o tempo tem me proporcionado uma releitura da sabedoria popular, aquela que é traduzida em ditos ou chavões.
            “A virtude está no meio” é uma variante daquela outra, “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”.
            Esta máxima foi incutida em minha mente de forma tão subliminar que, muitas vezes, eu não sabia qual atitude tomar diante de uma situação, onde me sentia “num mato sem cachorro”, percebendo que, “se corresse, o bicho ia pegar; se ficasse, ele iria comer”.
          Como sou uma pessoa muito influenciável, não por um defeito de caráter, mas por causa de meu signo zodiacal, acrescentei mais esse à minha coletânea de defeitos: tornei-me um indivíduo muito inseguro.
         Como tenho aquela doença diagnosticada como “prolapso de fim de curso”, essa releitura dos ditos populares talvez seja uma resposta “quae sera tamen”, ainda que tardia, a todos os desaforos que carreguei ao longo da vida.
             Inconscientemente, foi por causa desse “a virtude está no meio” que resolvi construir minha casa a meio caminho entre uma maternidade e um cemitério. Entretanto, tal dito contraria outro de meus estigmas, os ensinamentos religiosos, notadamente a passagem apocalíptica que diz: Porque “és morno e não és nem quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca”.
           Tem razão o vizinho, que sempre diz: “Está complicado!” Está mesmo. Olha o que disse o médico ortopedista, quando acusei um problema no menisco:
            - Vou prescrever algumas seções de fisioterapia. Quanto à hipótese de cirurgia, ela fica descartada, considerando a relação de custo e benefício, devido à sua idade.
              Eu não disse para o doutor, mas registro aqui. Foi por sua culpa que estou deixando o projeto de retornar ao catolicismo: como vou fazer para me ajoelhar, com o menisco estourado como está?
             Com tantos ditos contraditórios, creio que devo ordená-los num somatório, tirar a prova dos nove e chegar à conclusão de que a vida merece ser vivida com atenção, de que é preciso olhar com cuidado cada momento.
         Alguém me disse que, em sua cidade, existem os “maridos de aluguel”, aqueles profissionais que resolvem problemas urgentes que surgem numa moradia: um entupimento, um chuveiro com resistência queimada, uma chave que quebra, a troca de uma lâmpada, e por aí vai. Tudo bem que existam esses profissionais, mas – como disse anteriormente – é preciso ter cuidado ao lidar com essas situações.
   Veja você o que aconteceu com uma senhora que era tida e havida como pessoa séria e compenetrada. Certo dia, um desses maridos de aluguel foi fazer um serviço em sua casa. Como acabou se molhando todo, o marido verdadeiro ofereceu-lhe um short e uma camiseta. Estando ele de costas, o de aluguel, de repente, sentiu-se abraçado por uma mulher, aquela séria e compenetrada, que, levando as mãos até suas partes baixas, apertou-as levemente, enquanto dizia, carinhosa:
                 - De quem são essas duas bolinhas?

 Etelvaldo Vieira de Melo 
Imagem: julysilver.blogspot.com
ATÉ PASSARINHO PASSA                                      
Passarinho
quebrou a asa.
Passarinho
não pode cantar.
Quebrou a asa
caiu do ninho
nunca mais
vai voar.

Passarinho
está tão quieto
não quer nem
tomar café.

A mesa posta
pra doze aves
que não sabem
nem comer.
Passarinho
é uma velhinha
do Asilo Bomviver.

MUITO CALOR HUMANO

Estou dentro de um lotação e estou indo para casa. O ônibus está cheio, o calor insuportável, todo mundo fala ao mesmo tempo, em concorrência com o aparelho de som do motô. O ritmo das músicas do rádio é baiano, coisa que não gosto, naturalmente, e eu acho que é um direito meu não gostar de certo ritmo baiano, embora existam muitos músicos baianos bons, é o que penso. Colado no vidro à minha frente, está um prospecto de um jornal chamado “Jornal do Ônibus”. Sua última coluna se chama “Gentileza Urbana é...”. O presente número estampa: “Gentileza Urbana é... Evitar comer alimentos com cheiro forte dentro do ônibus”. Em números passados, a coluna dizia coisas como: “Gentileza Urbana é...  Não conversar ou cantar em tom alto e nem gritar dentro do ônibus”;  em outro número falava que “Gentileza Urbana é... Não se irritar com alegria das pessoas que cantam dentro dos ônibus”. O jornal tem uma função altamente educativa, como foi expresso naqueles dizeres: “Gentileza Urbana é... Ter higiene e cuidar das axilas, dos pés e da saúde bucal”. Agora, minha cabeça ficou um pouco confusa depois que o saco plástico passou a ser execrado e o Jornal estampou: “Gentileza Urbana é... Usuário que sente enjôo durante as viagens ter sempre à mão um saco plástico”. O trânsito está insuportavelmente lento e eu vejo que a maioria absoluta dos carros só transporta o motorista, 94,83% - em bases estatísticas. Tudo isso (ônibus cheio e excesso de carros) reforça a minha tese de que as autoridades que cuidam do trânsito e coisas afins deveriam investir no transporte coletivo, penalizando com multa os motoristas particulares que cometessem a ousadia de sair de carro durante a semana. Posso estar desagradando uma montoeira de pessoas, mas é assim que penso e eu acho que também é um direito meu ter uma opinião a respeito desse assunto. Pensando bem, estendo um pouco o raciocínio, mas tendo o cuidado de não forçar demais – por causa do calor, do ônibus cheio, das conversas e da música baiana – estendendo o raciocínio, como eu dizia, acho conveniente que saúde e educação também devem ser serviços prioritariamente públicos. Existe até uma tese interessante dizendo que, a partir do momento em que os filhos das classes mais abastadas frequentarem escolas públicas, o nível de ensino irá melhorar, já que haverá mais cobrança. A tese pode envolver também o setor de saúde, com as autoridades dando exemplo. Acontece que, quando a situação aperta e um distinto vê que a vaca está querendo ir pro brejo, o que é que ele faz? Ele recorre a um hospital particular; procurando salvar a sua pele e demonstrando que não está nem aí para o conflito entre árabes x judeus, fica trocando figurinhas entre Sírio-Libanês e Albert Einstein. Também acho que já está passando da hora do bem comum ser tratado com mais seriedade em nosso país. Onde está escrito que as coisas boas são privilégio de países de primeiro mundo? O governo deveria desviar sua gana de arrecadar - das multas de trânsito, por exemplo - para outros setores, que melhorassem o nível de educação e de cidadania das pessoas. Assusta como as ruas e as casas estão mal-cuidadas; andando, você raramente vê um muro ou fachada de prédio sem que estejam pichados. A propósito, lá perto de casa tem um muro, onde alguém se deu ao trabalho de escrever, ao lado de sinais em código secreto: “Não pixo, faço protesto”. Acho que não podemos considerar, à priori, que ele esteja cometendo um erro de ortografia; é possível que, além de registrar publicamente seu protesto, esteja usando de uma licença poética, prestando sua singela homenagem à produtora cinematográfica “Pixar”. É preciso considerar que, entre o céu e a terra, existem coisas que vão além de nosso achismo. Isso é uma coisa que penso também, embora esteja usando do mesmo artifício, o de fazer uma suposição. Pensando assim, peço-lhe entender como licença poética toda vez que, por deslize ou ignorância, venha eu esmagar com os pés ou macular nossa última flor do Lácio, inculta e bela.   Mas vamos considerar, retomando o fio da meada, que está tudo errado, mesmo. No início do ano, aquelas pessoas, que cuidam de dar uma aparência decente para suas residências, são cobradas com pesados impostos, enquanto que os desmazelados recebem o prêmio de redução, ou até mesmo de serem isentos das taxas. Acho que está passando da hora de surgir um político com práticas inovadoras e que ajude a melhorar a qualidade de vida da população em geral. No mais, peço desculpas pelo desabafo; quero que você entenda que tudo isso tem um pouco a ver com o calor, o ônibus cheio, as conversas e a música baiana. Também a minha vizinha de banco andou comendo um daqueles salgadinhos bem fedorentos, fato que fez meu estômago ficar dando voltas o tempo inteiro. Tudo isso altera o humor da gente e leva a gente a dizer coisas que, normalmente, não diria. Ainda bem que o ônibus se aproxima de meu destino. Vou dar o sinal e descer com minhas sacolas de compras. Pronto. Triiimmm!!!

Etelvaldo Vieira de Melo