DIA DE ANO NOVO: MORADA DAS FANTASIAS E DESEJOS, DE SONHOS E ESPERANÇAS

         Estavam Realisvaldo e Risvaldo sentados em cadeiras em torno de uma mesa, sob uma árvore de jaca e bebendo suco de maracujá, enquanto aguardavam a vinda de Ingenaldo e Cinisvaldo para, juntos, comemorarem a chegada do Ano Novo.
           
- Este foi um ano muito atribulado para mim, por causa dos problemas de saúde – falou Risvaldo. – E coisas muito estranhas andaram acontecendo no mundo, particularmente no Brasil, mas confesso que ainda não tenho uma opinião clara sobre o assunto.
           
- As pessoas fazem ideia de que as mudanças acontecem como se fossem um arco-íris, mas quase nunca é assim – falou Realisvaldo, passando a mão sobre a barba malfeita. – O Brasil sofreu um impacto profundo em 2013 e acredito que este novo ano será ainda mais dramático. Estou seriamente preocupado, pois a ordem social foi comprometida e os fatos programados para o ano poderão agravar mais a situação.
           
- Vivemos uma nova ordem – ponderou Risvaldo. – As autoridades, mais por culpa própria (pelos desmandos, impunidade e corrupção), perderam o controle social. Com isso, as pessoas se sentem soltas, mas perdidas, porque lhes faltam referências.
           
- E isso é muito preocupante – concluiu Realisvaldo – pois pode levar o país ao caos, à anarquia. Um país vivendo um estado de anarquia, com o quadro de desigualdades sociais que temos, pode experimentar muito mais do que vandalismo e depredação.
           
- Este pé de jaca até que tem sua simbologia. Só espero que o suco de maracujá possa nos acalmar – arrematou Risvaldo.
           
- Ora, ora, até parece que estamos num velório – aproximou-se Cinisvaldo, tendo ao lado Ingenaldo e seus inseparáveis óculos azuis.
           
- Pois é – resmungou Ingenaldo. – Será que não estão ouvindo os estouros de foguetes? E você – dirigindo-se a Risvaldo – como anda a sua força?
           
- Pra dizer a verdade, estou com a sensação de que as pastilhas e as lonas de freio do meu carro já eram.
           
- Deixa de fazer chantagem – falou Cinisvaldo, enquanto bebericava um pouco de suco. – Você ainda vai rodar muitos quilômetros, zerando o velocímetro. E quanto ao Ano Novo, vocês têm algo a dizer?
           
- O ser humano necessita de ritos para tornar o ordinário algo extraordinário, sobrenatural – quase filosofou Risvaldo. – O rito da passagem de ano quer dizer isso, justamente. Já pensaram se, na vida, tudo acontecesse sem essas pausas que nos resgatam a alegria e os bons propósitos? As pessoas, Ingenaldo, têm mais que arrebentar foguetes. Quanto mais foguetes estouram nos céus, maior é o grau de alegria e esperança nos corações das pessoas.
           
- Muito bem dito, Risvaldo. De minha parte, espero que o Ano Novo seja de muita alegria – falou Ingenaldo.
           
- Eu quero realizar muitas descobertas, conquistas; quero que o ano seja de muita aprendizagem para mim – comentou Cinisvaldo.
           
- Minha pretensão é que o ano seja transbordante de amor – foi a vez de Realisvaldo. – Quero amar e ser amado por meus familiares, esposa e filha; quero dividir amor com vizinhos, parentes e amigos; quero ver amor transbordando no mundo.
           
- Particularmente, sonho com saúde e paz – concluiu Risvaldo. - Como não somos pessoas egoístas, vamos estender esses votos para todas as outras: que tenham um ano de muita alegria; que a vida proporcione a cada um a possibilidade de aprendizagem e crescimento; que o egoísmo ceda lugar nos corações para o amor; que amar seja um verbo conjugado por palavras e ações por todas as pessoas e que elas possam viver com saúde e paz.  Finalmente, vamos fazer votos de que, apesar das nuvens de turbulência, uma nova ordem social possa nascer, com as pessoas vivendo com maior dignidade e decência.
           
Os quatro levantaram seus copos de suco num brinde. Lá no horizonte, o sol de um novo dia começava a despontar.
Etelvaldo Vieira de Melo



            

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