Antes de entrar no mérito da questão, vou enumerar algumas curiosidades sobre esse pássaro, o pombo-correio:
🐦Existem mais de 300 espécies de pombos. O
pombo-correio é uma variedade domesticada do pombo-comum ou pombo-das-rochas. O
pombo-das-rochas selvagem tem uma capacidade inata de retornar ao seu lar,
acredita-se, usando a magneto recepção, ou seja, se orientando pelo campo
magnético da Terra (cientistas revelaram que os pombos-correios têm minúsculas
partículas de ferro no bico superior que funcionam como agulhas de uma
bússola).
🐦 Os pombos vivem, em média, entre 15 e 20 anos.
🐦 Os predadores mais comuns são corujas, águias e gatos.
🐦 Um único pombo é capaz de produzir 2,5 quilos de
fezes por ano.
🐦Os pombos possuem aguçada visão: são capazes de
avistar um grão de milho a duzentos metros de distância.
🐦 Eles são monogâmicos e fiéis. A cada acasalamento
geram cerca de dois filhotes e se revezam tanto para chocar como para alimentar
os filhotes.
🐦 Os pombais são construções específicas para abrigar
pombos-correios, destinados a participar em provas desportivas.
🐦 Os pombos são capazes de voar a até 80 quilômetros
por hora e 800 km por dia. Os pombos treinados podem desenvolver velocidades
máximas entre 87 km/h e 102 km/h, em distâncias que podem ultrapassar 1.200 km.
🐦 Os pombos-correios competem em provas com distâncias
compreendidas entre 100 e 1000 Km. Há uma prova na Europa em que eles partem de
Barcelona e chegam à Bélgica, percorrendo quase mil quilômetros. No Brasil, há
uma em que saem de Brasília e chegam a São Paulo, ou seja, são mais de 900 quilômetros
e tem pombo que volta no mesmo dia. Alguns deles voam direto, sem paradas.
Outros até param para beber água, dependendo da condição de cada um.
🐦 Para se guiar no caminho de volta, o pombo possui
três habilidades fundamentais:
→ A visão, pela qual localiza o Sol e identifica sua posição (leste, oeste e norte); → o relógio interno, por meio do qual identifica o período do dia (manhã, meio-dia, tarde, noite); → A memória, que ele utiliza para aprender a relação entre a posição do Sol e o horário. 🐦 Atualmente a columbofilia é um desporto praticado em todos os continentes, contando com 56 países filiados à Federação Columbófila Internacional, sediada em Bruxelas.
🐦 Você sabe até quanto pode custar um pombo-correio? Um
deles foi vendido pelo preço recorde de 1,25 milhão de euros (R$8 milhões,
baseado na cotação do dia 22/09/2020). O pássaro, chamado Armando, também
conhecido como “Lewis Hamilton dos pombos”, foi arrematado em um concorrido
leilão por um comprador chinês.
Como columbófilo, fui
consultado pelo amigo Ingenaldo, logo após a morte de Moraes Moreira, ocorrida
em 14/04/2020. Ele queria saber se a Federação Columbófila Brasileira havia, em
algum momento, prestado homenagem ao compositor baiano. Como é sabido, Moraes
Moreira compôs em 1976, junto com Dodô e Osmar, uma marchinha chamada
“Pombo-Correio”, que se tornou um dos grandes hits do carnaval brasileiro. Na
visão de Ingenaldo, nada mais natural do que homenagear aquele que, de certa
maneira, enalteceu um pássaro tão querido por nós.
- Não – disse eu. –
Infelizmente, nunca entregamos a Moraes uma placa sequer de agradecimento.
Agora que ele está morto, seria puro oportunismo de nossa parte fazer uma
homenagem. De qualquer modo, agradeço sua preocupação, amigo Ingenaldo, e
aproveito a ocasião para fazer um breve comentário sobre tal música e as
implicações que ela teve certamente na vida do compositor.
Apesar do grande sucesso,
acredito que “Pombo-Correio” pode ter trazido algum aborrecimento para seu
autor, caso a letra tenha se inspirado em fatos reais. Um casal de namorados
trocando correspondência por meio de... um pombo-correio. Moraes Moreira manda
uma mensagem apaixonada para sua amada, dizendo, entre outras coisas: “Pombo correio, voa depressa e leva esta
carta para o meu amor. Leva no bico, que eu aqui fico esperando pela resposta,
que é pra saber se ela ainda gosta de mim. Pombo-correio, me traga uma notícia
boa, com a mensagem dela dizendo: - Volta pra mim!”.
Ora, pois! Aí estão dois
grandes problemas. Primeiro: a mensagem foi enviada no bico! E se, por acaso,
choveu no trajeto? Depois, o mais grave: Moraes ficou esperando uma resposta que nunca
veio, porque, como todo columbófilo sabe, um pombo-correio, se vai, não volta
e, se volta, não vai. Melhor dizendo: um pombo-correio só retorna ao seu
pombal, donde podemos inferir que o pássaro em questão tinha sua casa na casa
da namorada e, por isso, não podia trazer a resposta pro Moraes.
É isso que dá as pessoas
fazerem as coisas sem se informar direito. Será que Moraes Moreira não conhecia
uma música também chamada “Pombo-Correio”, composta por Benedito Lacerda e
Darcy de Oliveira, gravada por Gilberto Alves em 1942? Lá está escrito com
todas as letras:
- Soltei meu primeiro pombo-correio
com uma carta para a mulher que me abandonou. Soltei o segundo, o terceiro, o
meu pombal terminou. Ela não veio e nem o pombo voltou. Depois que aquela
mulher me abandonou, não sei por que, minha vida desandou: o canário morreu, a
roseira murchou, o papagaio emudeceu e o cano d’água furou. E até o Sol, por
pirraça, invadiu a vidraça e o retrato dela desbotou.
Se tivesse buscado informação
acertada, Moraes teria usado de maneira correta o pombo-correio e,
consequentemente, sem o risco de ficar traumatizado.
Um trauma dessa natureza deve
ter machucado muito o autor baiano. Quando cantava a marchinha nos carnavais,
imagino que ele sentia, no fundo, como se estivesse levando uma facada no
coração. Tanta dor certamente se agravou com o confinamento provocado pelo
coronavírus. Quatro dias antes de falecer, ele havia dito em entrevista: “Tá chato demais esse negócio de quarentena.
Insuportável”. Vai que seu smartphone e sua Internet, em certo momento,
tenham dado problema. Fora do ar, sem contatos, Moraes se lembrou de seu pombo-correio,
aquele que deveria ter sido mas que não foi...
Se imagino tanta coisa, isso pode
ser verdade, também pode ser entendido como uma brincadeira inocente, uma
maneira que encontrei para homenagear Moraes Moreira, um dos grandes nomes da
Música Brasileira.
Etelvaldo Vieira de Melo