ENTRE BUGIGANGAS E VADIAGENS





    Li na Internet: “O Governo Federal prepara uma medida provisória para taxar todos os produtos importados por Marketplace como Ali Express, Shopee e Wish em 60%. A alíquota única de 60% é cobrada, atualmente, apenas em produtos que ultrapassem US$ 50. A nova medida provisória pretende taxar todos os produtos comprados nas plataformas. A ação do Governo é uma resposta à demanda de empresários brasileiros, liderada por Luciano Hang, dono da rede Havan, contra o chamado "camelô digital" (mundoconectado.com.br).

Bolsonaro fazer isso será colocar a cereja no bolo de seu (des)governo. Na minha opinião, já que, para muitos, ele é o melhor presidente que já tivemos nesse Brasil varonil. Tem gosto e interesse para tudo. Mesmo desgostando, tem gente que gosta. Fazer o quê. Estamos vivendo um tempo onde está se tornando cult cultivar a cretinice, a estupidez e a ignorância.

Mas eu fico querendo entender: não dizem que o capitalismo é o suprassumo da bondade? Pois, então, por que não deixar a patuleia usufruir um pouco do consumismo?  Se você abrir as páginas desses chamados “camelôs digitais”, vai ler comentários de consumidores falando da mais pura alegria por terem comprado uma bugiganga pela bagatela de 7 reais! Negar esse prazer para os menos favorecidos parece gesto da mais pura maldade. É como se dissessem assim: o capitalismo é para a classe dos privilegiados. Os menos favorecidos têm mais é que ficar chupando o dedo!

Foi isso que comentou o funcionário dos Correios, quando veio me entregar um rato sem rabo (fio) e com bluetooth, que eu havia importado da China.

- Todo dia eu sou testemunha da alegria de dezenas de pessoas com suas pequenas compras de produtos importados. Acabar com isso é pura maldade, própria de gente sem coração.

Pelo que estou vendo, Bolsonaro quer adotar dois sistemas econômicos para o país: para uns, o capitalismo, com direito a depredar o meio ambiente, envenenar as lavouras com agrotóxicos, encher os bolsos e as cuecas com propinas de orçamento secreto, cumprir as ativas e as reservas regadas a uísque, filé, picanha, leite condensado, prótese peniana e viagra; para outros, o comunismo da penúria, do gás nas alturas, do chuchu a preço de caviar, do osso pra roer.

Enquanto o Brasil tenta se equilibrar nessa balança desigual, o presidente encara sua função como se fosse uma brincadeira. Feito criança que não vê limite para o que quer e o que faz, está todos os dias estourando seu cartão corporativo, uma espécie de cartão de crédito pago com dinheiro público. Entre janeiro e fevereiro de 2022, só ele gastou R$ 1,8 milhão. Até dezembro de 2021, seu governo utilizou R$ 29,6 milhões de verba pública para cobrir o tal cartão.

Fora isso, temos que considerar também o que ele gasta com suas férias. Puxe uma calculadora (made in China):

- As que ele passou em São Francisco do Sul, SC (14-23/12/2020, 08-17/02/2021 e 27/12/2021-02/01/2022) custaram a bagatela de R$ 2.377.101,36. Para passar a véspera do Natal do ano passado em Guarujá, no litoral de São Paulo, nosso amado presidente gastou, junto com sua comitiva, R$ 130.795,96 por dia, durante uma semana. Os gastos entre 17 e 23 de dezembro somaram R$ 915.571,72.

Vamos falar dos passeios de moto?

- Quando foi a Chapecó (22-26/06/2021), foram gastos no total R$ 454.532,94. Já sua ida a Florianópolis (03-07/08/2021) ficou por conta de R$317.223,11.

Já disse aqui neste espaço blogosférico que tenho muita dificuldade em lidar com cifras. Quando elas passam de R$ 10.000,00, minha vista começa a ficar embaralhada, minha cabeça começa a doer e o estômago passa a ficar embrulhado. Como solução, costumo traduzir os valores em anos de trabalho de um assalariado. Sendo assim, tendo por base o salário mínimo de R$ 1.212,00, só o que Bolsonaro gastou com seu passeio em Guarujá (R$ 915.551,72) corresponde a mais de 58 anos de trabalho de um assalariado. Ou seja, ele teria que trabalhar a vida inteira para ganhar o que Bolsonaro gastou numa semana!

Depois que deixou nas mãos e nos bolsos do Centrão o governo do país, a doce vida de Bolsonaro ficou ainda mais suave, aí é que foi vadiar de vez – usando expressão do colunista Vinícius Torres Freire.  O que faz agora é só passear, torrando seu cartão corporativo. Seu ‘trabalho’ mais pesado é fazer propaganda para sua reeleição ou ameaçar dar um golpe, com ataques sistemáticos ao Supremo e às instituições democráticas. Enquanto isso, pegando algum $ por fora da indústria armamentista, ele usa seu papel de influencer, espalhando o mote: “Povo armado jamais será derrotado!”.

No meio de tanto barulho, tem gente que faz vista grossa com esse desperdício de dinheiro público, diz que Bolsonaro é um mito ou um messias.  Só acha absurdo é um pobre coitado gastar sete reais comprando uma bugigangazinha da China.

Para acabar com tal desmando, a receita é dada pelo próprio, quando questionado sobre os gastos com seus passeios. Ele diz:

- Se achar que eu não devo sair mais de folga (!), se eu virar candidato à reeleição, que não vote em mim, aí eu não vou estar mais aqui no hotel gastando esses milhões. Talkey?

- Talkey, Mito. Está anotado aqui na agenda para 2 de outubro.

Etelvaldo Vieira de Melo

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