Salta
aos olhos da cara que este texto é endereçado a um público específico: aquele
que passa pelas casas dos “entas”, que atingiu o patamar da “juventude
acumulada”. Entretanto, que não o subestimem os demais possíveis leitores, pois
haverão de chegar lá um dia – se as forças do destino conspirarem a favor.
Antes de falar das considerações pertinentes,
chamo a atenção para os eufemismos com que uma idade em que “a vaca está indo
pro brejo” com chifre e tudo é brindada (não seria melhor dizer blindada?):
melhor idade, terceira idade, juventude acumulada, maturidade, pessoa vivida e
experiente. Tudo muito bonito, respeitando a máxima do “engana que eu gosto”.
Já a expressão “pé na cova” é sinal de sadismo.
A
propósito da expressão “terceira idade”, vale a pena lembrar Ariano Suassuna,
quando diz que “terceira idade é para fruta: verde, madura e podre”. Mas vamos
deixar de lenga-lenga, indo ao que interessa.
Sei que se sente como Bartolomeu Dias, ali
por volta de 1488, ao atravessar o Cabo das Tormentas. Você, que até aqui
navegou na sua vida em águas tranquilas, de repente, enfrenta um mar raivoso,
acometido por dores pra tudo quanto é lado. Entretanto, tal qual Dom João II,
quero lhe mostrar que, sob certos aspectos, esse cabo pode ter outra
denominação: Cabo da Boa Esperança. É o que vai ver em seguida. Não estou
querendo “dourar a pílula”, engabelar você, fazê-lo de trouxa. Simplesmente,
quero lhe mostrar que, o que dá pra chorar, também pode fazer rir.
São sete as revelações. As quatro primeiras
foram compiladas por Leon Beaugeste e estão em piadasantigasenovas.blogspot; as
três últimas resultam de aconselhamento junto ao meu vizinho Jacinto das Dores,
ele que já faz parte desse honroso (quase escrevi horroroso), garboso e
impoluto time da “juventude acumulada”.
De Leon Beaugeste – Quatro motivos para se
sentir bem com a idade que tem:
1º) Ninguém mais o considera hipocondríaco;
2º) Seus segredos ficam bem guardados com
os amigos, porque eles esquecem;
3º) As suas articulações passam a ser mais
confiáveis que o serviço de meteorologia;
4º) O seu investimento em planos de saúde
finalmente começa a valer a pena.
Já
Jacinto das Dores, com base em sua experiência de vida, pede que eu registre os
seguintes conselhos:
1º) Modere
seu fluxo verbal.
Não se
sabe bem por que, você, antes tão contido, reprimido, comprimido, tampado,
travado, enrustido, de repente, abriu a porteira, destaramelou a língua e
desandou a falar “pelos cotovelos”. Eu daria parabéns para a sua fluidez
verbal, se não notasse que ela passa dos limites da conveniência. Lembre-se do
ditado que diz “quem fala muito dá bom-dia a cavalo”. Só posso dizer que
moderação no linguajar (além do enigmático caldo de galinha) não faz mal a ninguém.
2º) Procure
expandir seu círculo de relações sociais.
Hoje em
dia, as pessoas vivem isoladas umas das outras. A comunicação interpessoal está
em petição de miséria. Aproveite de ser você uma exceção para essa regra. As
pessoas não temem cumprimentá-lo. Use desse seu direito quase exclusivo, mas
respeitando os limites, conforme primeira recomendação.
3º) Usando
da gratuidade do transporte coletivo, não se esqueça de um agrado para os motoristas.
Finalmente,
entenda que é natural a má vontade dos motoristas dos transportes coletivos em
tê-lo como passageiro. Além de não pagar passagem, você tem se mostrado um
sujeito cada vez mais lento e mais lerdo. Somado a um trânsito caótico, isto
faz com que a profissão de “motô” se torne cada vez mais estressante. Uma coisa
que poderá lhe render alguns dividendos é você se abastecer com algumas
guloseimas – balas, especialmente – para oferecer aos motoristas. Adoçando suas
bocas, talvez amoleça seus corações.
Jacinto
lembra que, depois de muita enrolação, 1º de outubro foi oficializado como Dia
do Idoso. Ele pede aos leitores para anotarem a data em suas agendas. Segundo
ele, a data tem passado em brancas nuvens, sem que uma viva alma se lembre de
lhe oferecer uma balinha jujuba que seja.