(Adaptado de “Os
Fazedores de Leão”, Contos Orientais, de Leonardo Fróes, Editora Rocco)
Era uma vez quatro amigos. Três deles haviam se tornado
eruditos, tanto tinham estudado; o quarto não gostava de estudo, era tido pelos
demais como idiota, mas dispunha de bom senso, coisa que os outros não tinham.
Andavam, certo dia, pela floresta, quando
avistaram os restos mortais de um leão. Um dos eruditos, o mais velho, disse:
- Vamos testar nossos conhecimentos, trazendo
esta criatura de volta à vida. Sou capaz de unir os ossos e reconstituir de
novo seu esqueleto.
E assim ele fez com perfeição.
O segundo, mostrando aptidões invulgares,
acrescentou carne, couro e sangue ao animal.
Quando o terceiro erudito ia insuflar-lhe o
sopro da vida, o imbecil o interrompeu, dizendo:
- Tenham cuidado, amigos, pois estão fazendo um
leão e, se tudo der certo, ele pode comer a gente.
No entanto, ninguém levou a sério sua
ponderação. O insuflador chegou a falar, indignado:
- Como se atreve a questionar meu saber, seu babaca?
Quer atentar contra minha liberdade?
- Está bem – falou o boboca. – Mas, então,
espere um pouco para que eu suba nesta árvore.
Assim, o leão reviveu e, no mesmo instante,
atacou e matou seus criadores. Só mais tarde, o idiota desceu da árvore e,
guiado pelo seu bom senso, tomou o rumo de casa.
Leitura: Esta fábula vem mostrar que sabedoria não se
confunde com erudição: muitos idiotas podem ser sábios, enquanto muitos
eruditos não passam de ignorantes.
Esta fábula também nos faz lembrar a Internet
com suas redes sociais. A pretexto da liberdade de expressão, internautas criam
verdadeiros monstros, quando espalham suas mentiras a troco de interesses
sombrios. Ao fim, esses monstros irão
destruir a própria liberdade de expressão. Poderíamos ver isso, se as pessoas
não estivessem com ouvidos e olhos tampados, sem enxergarem um palmo à frente
do próprio nariz.
Parodiando Malcolm X: “Se você não for
cuidadoso, as redes sociais farão você odiar as pessoas que estão sendo
oprimidas e amar as pessoas que estão oprimindo”. Esta é a tristeza dos tempos
modernos: amamos a quem não merece, enquanto odiamos aqueles que necessitam de
nossa atenção e cuidado.
6 comentários:
Gostei da proximidade das palavras "babaca"
e "boboca" ...
"OS FASCISTAS DO FUTURO NÃO VÃO TER AQUELE ESTEREÓTIPO DO HITLER OU MUSSOLINI. VÃO SER HOMENS FALANDO TUDO AQUILO QUE A MAIORIA QUER OUVIR. SOBRE BONDADE, FAMÍLIA, BONS COSTUMES, RELIGIÃO E ÉTICA. NESSA HORA VAI SURGIR O NOVO DEMÔNIO, E TÃO POUCOS VÃO PERCEBER."
JOSÉ SARAMAGO
Os gregos diziam que “teoria” significa aquele que vê! A maioria só vê o que tem escrito na cognição e não o que existe. No caso da turma de bolsominions, não tem como mostrar a verdade. Eles recortam parte de fragmentos da realidade, dão uma interpretação maliciosa e ela vem em escala. A visão de mundo e a percepção como cosmo visão, é um recorte da realidade deles mesmos e de suas psicoses diárias. Vivem na caverna de Platão vendo sombras e acreditando que essas sombras são a realidade. E se dizem ser “ o cidadão de bem”. 🤔
Como dizia o saudoso Nelson Rodrigues: “O homem de bem é um cadáver mal informado. Não sabe que já morreu”
Muito obrigado. Excelente forma de dizer das nossas preocupações. Um abraço.
Tadeu Gandra
"Poema da Mente que Mente”
É um presidente que mente,
Mente de corpo e alma, completa/mente.
E mente de maneira tão pungente
Que a gente acha que ele mente sincera/mente,
Mais que mente, sobretudo, impune/mente... Indecente/mente.
E mente tão nacional/mente,
Que acha que mentindo história afora
Vai nos enganar eterna/mente.'
Mas só crê mesmo quem é de/mente.
(Affonso Romano de Sant Anna)
Excelente texto e atual. Um detalhe: as fábulas, paródias e parábolas sempre nos levam a pensar.
Mauro Passos
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