JAMAIS DESESPERAR

Mafia: Definitive Edition

 

Desesperar jamais, já dizia Vítor Martins há tempos, em música de Ivan Lins. De fato tem razão o letrista, pensa Eleutério, enquanto desce a encosta do morro de sua caminhada pela vida.

Vítor corrobora sua assertiva, detalhando: não faz sentido entregar o jogo no primeiro tempo, já que a vida, via de regra, também permite o segundo tempo e até mesmo a prorrogação. Se você não entende hoje o significado de alguma coisa, não quer dizer que ficará para sempre sem entender; se sente incapacitado de fazer algo, não quer dizer que amanhã ainda continuará incapaz.

Veja o que aconteceu com Percilina Predillecta, amável esposa de nosso amigo.

Por volta de 1980 e alguma coisa, ela ficou conhecendo e tomada de amores por uma música de Mercedes Sosa, intitulada “Volver a los 17”. Desde então, frequentemente ela se surpreendia solfejando aquele estribilho:  Se va enredando, enredando / Como en el muro la hiedra / Y va brotando, brotando / Como el musguito en la piedra / Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

Entender a letra ela não conseguia quase nada, com uma parte a deixando especialmente intrigada: “como el musguito em la piedra”. Ela se perguntava: - Que coisa é essa de mosquito na pedra?

Anos depois, com o advento da Internet, assistindo a um vídeo do YouTube, lá estavam Mercedes Sosa, Milton Nascimento, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gal Costa cantando “Volver a los 17”. Com a tradução simultânea, Percilina ficou sabendo, enfim, que o tal “musguito em la piedra” não significava “mosquito na pedra”, mas musguito, musgo na pedra, brotando como musgo na pedra. Veja você: Percilina conseguiu solucionar uma dúvida que parecia impossível.

Eleutério, por sua vez, foi desprovido de muitas coisas durante sua infância e adolescência, e que lhe acarretaram pequenos traumas. Mas não é que agora, com as folhas do outono a cair, foi presenteado pela filha Deusarina Rebelada com um aparelho de videogame, um Playstation 4, e alguns dos jogos conseguiram curar muitos de seus traumas?

Eleutério nunca aprendeu a nadar. Até pouco tempo, quando ia a passeio em praia, ficava se remoendo de inveja, vendo Percilina boiando de costas no mar, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Ele pensava: - Ah, se eu fosse capaz de fazer isso, minha vida seria pelo menos 4,8% mais feliz!

Com o jogo ABZÛ, Eleutério se viu nadando à vontade em aventura subaquática, realizando acrobacias na pele de mergulhador, interagindo com cardumes de milhares de peixes e predadores.

Outra coisa que Eleutério nunca conseguiu fazer na vida foi andar de bicicleta. Com o jogo DESCENDER, resolveu de vez o problema, conseguindo participar de muitas corridas de bicicleta. Já o TRIALS FUSION o colocou em cima de uma moto, fazendo acrobacias malucas, matando um pouco da saudade dos tempos de infância, com seus circos e o famoso e de arrepiar GLOBO DA MORTE.

Para enterrar de vez os traumas, aprendeu a dirigir carro, trabalhando como chofer de táxi, a serviço da Máfia, em MAFIA: DEFINITIVE EDITION.

Mas não fica por aí tanta alegria proporcionada pelo videogame (*). Eleutério se vê frequentemente praticando dois esportes de sua predileção: jogando sinuca, em HUSTLE KINGS, e pescando, em FISHING PLANET.

A pescaria ele faz questão de lembrar que é de mentirinha, que já não aceita mais uma que seja de verdade. Como precisa acumular crédito para ir cada vez mais melhorando o nível dos equipamentos, Eleutério tem que pescar muito. Para isso, também utiliza os nomes de Percilina e Deusarina. Quando estava usando o seu próprio, Castelo Caudado, a pescaria transcorria sem problema. A coisa ficava ruim quando utilizava os pseudônimos de Percilina ou de Deusarina. Aí, os pescadores masculinos ficavam em cima delas, não as deixando pescar direito, um aborrecimento sem igual. O que fazia Eleutério, Castelo Caudado, deixar o jogo de lado e ficar encarando os atrevidos. Só tempos depois é que ele descobriu que podia pescar usando o modo de “sala privada”.

Mas nem todos os traumas o Playstation IV conseguiu dar conta. Só que Deusarina acaba de presentear Eleutério com um neto. Aí, nosso amigo começa a fazer seus planos de comprar muitos brinquedos, especialmente aqueles que passaram distantes de sua infância. Sonha com o dia em que irá comprar um ferrorama. Não vê a hora em que irá montar o brinquedo na sala e se deliciar vendo o trem deslisando pelos trilhos. Só espera que Theo, o netinho, não seja egoísta e o deixe brincar nem que seja um pouquinho. Eleutério tem certeza de que irá recuperar uns 5,2% da felicidade que havia ficado para trás.

Para terminar, ele pede aos leiturinos não julgarem que tudo isso que experimentou com o videogame seja divagação, fantasia, faz de conta. Ele sente que, agora, sabe mesmo nadar, andar de bicicleta, dirigir. Para os incrédulos, ele lembra que até recebeu mensagens pelo celular sobre sua CNH. Na primeira, estava dito assim: “Atenção, Eleutério! Sua CNH pode ser cancelada. Consulte ww1...”. Já a segunda, falava: “NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL: Suspensão da sua CARTEIRA DE MOTORISTA em andamento...”. Está vendo como a fantasia acaba se tornando realidade?

Etelvaldo Vieira de Melo

DESABAFO FINAL

 



Ellen Pietra

Estamos cercados de IDIOTAS, querendo ditar as regras da vida em sociedade. Este texto se propõe explicar quem são tais indivíduos, ao mesmo tempo em que reflete sobre duas questões pertinentes. Esta é minha contribuição, na busca de entendimento do que seja o Brasil em fins de 2024.

Quem pariu Bolsonaro?

Quem pariu Bolsonaro foi o juiz parcial de Curitiba, que fez um trabalho sistemático de desmoralização dos políticos e da política, tendo como aliados a Globo e o Estadão.

Sem a Globo o Moro não existiria. Foi a Globo que desmoralizou os políticos, bons são os economistas da Faria Lima que a Míriam Leitão entrevista.

Quem pariu os bolsominions (eleitores do Bozo)?

Quem pariu os bolsominions foi a guerra cultural de extrema direita, aproveitando-se do desconforto emocional cognitivo de seu público; investiram nos fatos e ações que lhe faziam entrar em conflito com as suas crenças. Esses perdidos passaram então a aceitar qualquer explicação chinfrim que os fizesse sair desse estado de dissonância cognitiva e que os remetesse à crença original. Se alguém da sua bolha oferecesse uma justificativa pra seus bandidos de estimação, que permitia sustentar a crença sem conflito, esses indivíduos aceitavam com prazer. Sabe qual a crença dessa gente, independente de igreja e pastor? A Teologia da Prosperidade, só querem manter-se no pedestal, precisam manter a imagem falsa de que são competentes, inteligentes, porque não são! Suas competências sempre foram usurpadas e com empurrão de político, amigo ou parente. Só enxergam o pequeno mundinho falso em que vivem, sendo que em sua maioria vieram de classe pobre, e, mesmo sem compreender, são classe trabalhadora e não o patrão. 

Por que se identificam com o ladrão de joias sem escrúpulos e com linguajar e ações nefastas, com distúrbios emocionais gritantes?

Porque lhes interessa a MENTIRA, pois sempre pautaram suas vidas nela, na falsidade e na ganância pessoal e familiar. O que nos conforta é que a maioria está medicada.

Finalizo, explicando a malfadada EXTREMA DIREITA:

A extrema direita chega ao poder conquistando corações e mentes, e chega por eleições livres e democráticas.

Criaram uma guerra cultural, inventando inimigos imaginários, cuja existência gera um pânico social, medo e receio. E a resposta usual a esse medo, a esse pânico social, é o ÓDIO que é direcionado contra esse inimigo imaginário, que se torna assim uma máquina eleitoral muito poderosa, porque não existe combustível mais inflamável que o ÓDIO.

Fazem uma produção contínua de narrativas, polarizadoras, que têm como base fake news e teorias conspiratórias, sendo a finalidade dessas narrativas a criação constante de inimigos imaginários. Sem inimigos imaginários, a guerra cultural da extrema direita não prospera. Na Europa, o inimigo imaginário são os imigrantes; nos Estados Unidos, os ticanos (imigrantes), e nos outros países, de uma forma geral, o comunismo. O Pablo Marçal dizia que entrou na eleição somente para impedir que o comunismo dominasse o Brasil. A guerra cultural da extrema direita tem uma linguagem bélica, e com predominância na eliminação do outro, com uma linguagem própria que é a retórica do ÓDIO.

É um movimento poderosíssimo de massas, que tem como sustentação o desequilíbrio emocional de seus aliados.

As maiores inteligências brasileiras subestimaram essa massa de gente doente, como se o bolsonarismo não fosse nada, fosse apenas um espasmo que passaria sozinho.

Estamos em 2024, as eleições acabaram, e cada vez mais o bolsonarismo se fortalece, em todos os níveis da sociedade brasileira, e será tanto mais forte, quanto mais se afaste de Bolsonaro, pois tem a massa que se identificou com ele. A mídia é a alma da perversidade de um Brasil saqueado, esfolado e cooptado por uma iniciativa privada extremista e cruel, destruidora de ecossistemas e de vidas de toda espécie. O representante bolsonarista para as próximas eleições, o tal Tarcísio, está à frente de uma POLÍCIA SELVAGEM E VIOLENTA, ele também é militar, mas a mídia corporativa o trata como moderado.

Não nos conhecemos mais como parte de um mesmo povo. Mas não me permito mais sofrer por isso, sei que o posicionamento político e como quer que a sociedade seja, define o caráter de um indivíduo. Ao observar a existência vazia e mesquinha, onde a sensibilidade é substituída pela superficialidade, e o que resta é a IDIOTICE, disfarçada de sofisticação, faço das palavras do Vickye Vieira as minhas:

"Quando Freud diz que a fuga é um instrumento mais seguro para se cair prisioneiro do que se deseja evitar, ele nos ensina que não há para onde fugir. A vida é um caminho só de ida, qualquer tentativa de retroagir ou escamotear o percurso, pagamos um preço muito alto por isso.  Se refugiar no imaginário, infantiliza o sujeito. Abrigar-se totalmente na fantasia, entorpece o sujeito. Recalcar tudo o que é indigesto, coloca o sujeito em pulsão de morte. A fuga é muito mais dramática do que o enfrentamento da realidade. Não há antídoto contra a vida. Estar no mundo é pra se molhar."