CALEIDOSCÓPIO

 

EFÊMERA

Fosse tudo e ainda seria pouco

Fosse muito e ainda seria quase nada

Mesmo que fosse ainda não seria

Mesmo que chegasse ainda não estaria perto

Pois o que parte nunca vai chegar

E o que fica não permanece

Já que tudo oscila entre a verdade e o que acontece

Tudo transita entre o desacerto e o correto.

Etelvaldo Vieira de Melo


MEIO AMBIENTE? YES! NÓS TEMOS BANANA"!



 Os tempos são difíceis, são tempos duros,

portanto, mudem as pessoas e

os tempos serão melhores.

(Santo Agostinho)

O Brasil vive atualmente um momento ímpar com a questão ambiental. A degradação do Meio Ambiente decorre, em grande parte, de licenças expedidas pelos poderes públicos – prefeituras municipais e licenças do Estado. Tudo isso acontece em desacordo com a legislação. A caricatura ajuda a entender o retrato do governo de Minas e de muitas prefeituras. Interessante que para comer a banana com a casca, o governador de Minas Gerais consultou uma nutricionista. Isso me dá o direito de perguntar: Por que não consultar a legislação sobre o meio ambiente e os órgãos competentes antes de conceder uma licença ambiental? Essa e outras exigências atravessam a política, pois o momento histórico que estamos vivendo vai além de uma política partidária e exclusivista. Mais que em outros períodos históricos, nossa realidade é diversa e plural. A melhoria moral da política brasileira é a base para que possa existir uma saída desta situação complexa em nível nacional, estadual e municipal. Como lembra o poeta Maurício Segall: “Brasil, país sonhado,/ Brasil inferno vivenciado”. A questão ambiental é grave em Minas Gerais devido ao projeto excludente e corrupto. É bom lembrar a luta pela Serra do Curral, o rompimento de barragens nas bacias do Rio Paraopeba e Rio Doce. Tudo leva a crer que há um consenso geral sobre a necessidade de preservar o meio de vida e salvar o planeta. Um compromisso com esta causa engloba meio ambiente, desenvolvimento e sociedade civil. O pensador Milton Santos dizia: “O território é o chão. O território são as pessoas, a identidade, os fatos e o sentimento de pertencimento”.  Se o desenvolvimento é a meta a ser atingida, é possível alcançá-la com a preservação ambiental. Caso contrário, no futuro não teremos mais o Brasil, mas um pedaço de floresta, um chão batido, uma vala por onde passava um rio etc. Será o “Exílio da canção”, de Gonçalves Dias, somente estampado em calendários e “souvenirs”. A esse quadro, acrescento o desrespeito à vetusta cidade de Ouro Preto, patrimônio cultural da humanidade, recentemente. O governo Zema flexibilizou regras de licenciamento ambiental favorecendo o desmatamento da Serra do Botafogo, comprometendo o clima, a biodiversidade e destruindo esse espaço natural. Quando essa devastação começou, a população gritou, os ambientalistas se movimentaram, vários órgãos e departamentos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) se posicionaram para impedir o cortejo de incidentes nos arredores da cidade. No entanto, nenhuma voz foi ouvida, nenhum documento mereceu um olhar crítico e sério. Tudo foi espezinhado em sua dignidade e em seus mais sagrados direitos. A omissão (e negligência) do Estado não respeitou os direitos da sociedade em relação a esses bens. Era preciso salvar “a casca da banana” que nem deu cacho e, ainda, não sacrificar o altar do capital. O balcão de negócios nos órgãos do governo mineiro é o retrato corrupto dessa história, segundo a operação realizada pela Polícia Federal no dia 17 de setembro deste ano. É um combo nocivo ao meio ambiente. Diante deste cenário, “é preciso estar atento e forte”, pois a questão ambiental é uma questão social. Os setores conservadores e a lógica autoritária defendem a problemática ambiental como sendo uma questão técnica e desenvolvimentista. Não podemos assistir passivamente a este cardápio desidratado dos poderes públicos. Precisamos tirar a ética do exílio e do desterro. O atual sistema político necessita de saneamento. O mundo, a vida, a criação precisam ser preservados. É sempre bom lembrar que o nosso voto em 2026 tem poder de mexer, remexer e inventar outra política. A saída é mudar o atual cenário político: outros deputados e outros senadores. Os políticos que temos são pobres demais, só têm dinheiro. É difícil, mas mobilizar é preciso. É preciso abrir os olhos para as coisas que estão acontecendo. Assim, dialogo com a canção “Clareou (Deus é maior)”, de Serginho Meriti e Rodrigo Leite: “Pode a dor uma noite durar /Mas um novo dia sempre vai raiar / E quando menos esperar, clareou”.

(Mauro Passos)