Num desses vídeos que pululam
na Internet tais como milho de pipoca em frigideira, alguém disse que o cérebro
masculino é dividido em compartimentos ou caixas. Entre outras coisas, isso
quer dizer que o homem só consegue conversar sobre um assunto por vez, porque
abrir duas ou mais caixas complica a sua cabeça. Como exemplo, ele não consegue
conversar sobre família, futebol e política, ao mesmo tempo. Já as mulheres são
diferentes. Observe quando duas “amigas” se encontram: os assuntos se interligam
como ramificações neurológicas e as palavras voam pra tudo quanto é lado. (Eu
disse amigas entre aspas porque há controvérsia sobre a amizade feminina: para
muitos, não existe amizade entre mulheres, o que prevalece é competição e
rivalidade. De minha parte, acho que elas se permitem uma certa tolerância, não
mais que isso.) As mulheres conseguem, pois, discorrer sobre vários assuntos,
enquanto assistem a um programa de TV, ou preparam uma comida, ou amamentam um
filho. Já com os homens, os temas são tratados um de cada vez, em tom comedido
e intercalados por longos silêncios. Quando um homem fala em demasia, os outros
comentam que ele está sendo, pelo menos, linguarudo como as mulheres. Os momentos
de silêncio, muito apreciados, são aqueles em que uma caixa vazia é aberta,
fato que as mulheres não conseguem absolutamente entender:
- O
que você está pensando?
-
Nada, não estou pensando em nada.
-
Como não está pensando em nada?
Como
explicar que ele acabou de abrir uma caixa vazia e que está se deliciando com
aquele vácuo absoluto?
Segundo
o autor do vídeo, que acabei de identificar como Cláudio Duarte, outra caixa
que o homem gosta muito de visitar e sobre a qual pratica pouco é a caixa do
sexo.
Creio
que não posso me apresentar como protótipo de homem para as mulheres, já que
não tenho nenhuma semelhança física com um Brad Pitt, por exemplo, a não ser
quando em certos momentos do filme O
Curioso Caso de Benjamin Button. De qualquer modo, como homem, gosto muito
de caixas. Quando vou comprar alguma coisa, considero que a embalagem vale
quase tanto quanto o conteúdo. Se ela se encontra um pouco amassada, descarto o
produto. Também gosto de guardar as caixas, pois sempre penso que poderão ser
úteis de alguma maneira, nem que seja para embalar... outras caixas.
Quanto
às caixas de meu cérebro, uma das que gosto de abrir é a da imaginação. Faço
como o amigo Amador quando visita um Ferro Velho. Viro, vasculho, remexo e,
quando encontro alguma coisa interessante, trato de embrulhá-la com palavras,
pois as ideias são altamente voláteis e desaparecem por um nada. Quando consigo
prender uma imaginação rara, sinto um prazer imenso, como se aquilo fosse uma
das coisas mais importantes de minha vida.
Falando
sobre esse tema, lembro-me da vez em que estive na casa de meu amigo Aloísio.
Ele mora numa construção imensa, decorada com o maior bom gosto e cercada por
uma cuidadosa área verde. Nada disso, porém, despertava tanto seu orgulho
quanto um quarto de despejo, onde guardava – em catalogadas e numeradas caixas
– seus petrechos de marcenaria, hidráulica e elétrica, além de outros
acessórios. Desnorteado diante de tantas coisas bonitas e interessantes, fiquei
sem entender o porquê de seu empenho em nos mostrar aquele cubículo
aparentemente banal. Hoje, com um pouco de atraso, reconheço que aquele quarto
e aquelas caixas são a materialização da mente de meu amigo; daí, a sua beleza
e seu significado. Aloísio, peço-lhe desculpas por não ter compartilhado de sua
emoção, quando nos mostrava cada caixa com seu código de identificação.
Se o
cérebro masculino é dividido em compartimentos ou caixas, o feminino pode ser
entendido como uma bolsa de mulher, onde as divisões são meramente decorativas,
estando tudo junto, junto e misturado - expressão inventada por um repórter
esportivo – tudo disposto numa bagunça organizada.
Finalizando,
mais um reparo, que nos mostra essa pequena diferença entre as estruturas
mentais feminina e masculina. Recorrendo ao Livro do Gênesis: se aquela fruta proibida
estivesse embalada numa caixa, como hoje acontece nas gôndolas dos
supermercados, Adão teria pensado duas vezes antes de aceitar a oferta de Eva,
já que haveria de gastar muito tempo analisando a aparência da caixa. Melhor
seria se estivesse acompanhada de um manual de instrução, já que nenhum homem
ousa abrir qualquer embalagem sem antes ler as instruções técnicas. Como ela
estava despida a olho nu (a fruta), tudo deu no que deu. De forma mais
explícita, a mitologia grega tratou do tema no relato de Pandora (cf. crônica
postada em 29/12/2012). Se dependesse de
Epimeteu, a humanidade estaria feliz e em paz para sempre, pois a caixa com o
presente de Júpiter havia sido guardada lá em cima do armário. Foi Pandora quem
não resistiu à curiosidade de saber o que havia ali dentro. E você, já pensou
na possibilidade de receber US$1 milhão de presente neste final de ano? Basta
apertar um botão, que está dentro de uma caixa e que um desconhecido irá lhe
oferecer. Como contratempo, você estará provocando a morte de um desconhecido.
Esse é o tema do suspense A Caixa (The Box), de 2010, estrelado por Cameron
Diaz e James Marsden.
Mas é
melhor parar por aqui, antes que as mulheres comecem a me atirar pedras ou
caixas de sapato vazias. Vou decorar o texto e colocá-lo numa embalagem de
presente. Por fora, vou transcrever um trecho daquele singelo poema de Victor
Hugo, onde ele diz: O homem é o cérebro;
a mulher, o coração. O cérebro produz a luz; o coração produz o amor. Creio
que, assim, iremos terminar em paz, tendo dado – com a inestimável participação
de Cláudio Duarte - uma pequena colaboração na busca de entendimento entre as
mulheres e os homens.
Etelvaldo
Vieira de Melo
2 comentários:
Gostei. Falando de caixas e mulheres, duas coisas: a) que me perdoem as amigas, já ouviu falar naquela frase: as mulheres se beijam porque não podem se morder...? b) tem um belo filme (e trágico) chamado "Encaixotando Helena". Não é pornô, não, rs. Em inglês o t´´itulo é "Boxing Helena. Colocando Helena em caixas.
Gostei.
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