NOITES SOFRIDAS


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Alfredo Sales (*)
Cai a noite na cidade
Uma brisa leve entra pela janela do meu quarto
O cantar dos grilos é a música que ouço
A lembrança invade o meu ser
Vou viajando, voando como águia
A lua é minha amante
O rádio, um passatempo
Mas o caminhão é meu eterno companheiro
Madrugada a dentro, não posso mais parar
Apresso a chegada, tem outra noite a me esperar.

(*) Alfredo de Sales Barbosa é estudante de Direito na PUC/MG. Frequenta o Braille e foi caminhoneiro até perder a visão, há seis anos. Sua idade hoje é 32. Mora em São Joaquim de Bicas, onde encanta a todos com sua voz e o violão. Entre um livro e outro, escreve poemas de amor.


FÁBULA NEBULOSA 16: O LEÃO E A HIENA

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FÁBULA NEBULOSA 16: O LEÃO E A HIENA (*)

Ploc! Ploc! Ploc! – andava descuidado o leão
quando – Zapt! Cataplum! – caiu no alçapão.

Quer urrar o nobre animal
Mas só consegue soltar um fraco miau
- Miau! – Miau! – Miau!

Diante de tal cena, ri a hiena,
Sem pena: - Quá! – Quá! – Quá – Quá! –

Enquanto ri, vai desfilando palavrão:

Bocó de marca maior! - Filhote de jumenta!
- Mistura de Maracutaia com Corrupção!
- Projeto de lesma! – Catinga de gambá!
Mingau de pamonha! – Suco de Pimenta!
Molenga sem vergonha!
- Propina de Petrolão!
- Pernóstico Pacóvio Pedante!
- Vitupério Belicoso Rubicundo!
- Cacareco de Cumbuca Furada!

Diante de insulto terrível assim
Disse o Leão: - Quem me ofende é você não
Mais do que palavras, foi esse infortúnio
Que desabou sobre mim.
Moral:
O medíocre deita e rola, quando o famoso se enrola.
Etelvaldo Vieira de Melo

(*) Invento e/ou leitura/releitura de Fábulas, Esopo

JOURNAL STANDARD DA POÉTESSE DE LUXE


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D R E S S      C O D E

. Excesso de delineador dá um visual de guaxinim.
. É bem mais século XXI comprar sapatos à meia-noite.
. O imortal Burberry, of course, garante um make-up lendário.
. Lady Diane vinha a Saint-Tropez comprar rasteirinhas.
. Uma star de pele sublime usa o sabonete d`Alep. Sete de cada vez!
. Blazer azul-marinho + blusa de musseline branca + jeans brancos. Eis a receita Clean.
. Dior, Chanel, Louis Vuitton, Hermès, Céline: supermaisons do savoir-faire.

BILAN: Sophie Gachet oferece sapatos da Catherine Deneuve. Não. Não os da
                                           Belle de Jour, mas aqueles que ela criou para Roger Vivier.
                              
Boulevard des Filles  du  Calvaire, 
Rue de Grenel, 8
Paris
www.bonton.fr
Graça Rios

                                                  

FÁBULA NEBULOSA 11: O CÃO E O FERREIRO


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FÁBULA NEBULOSA 11: O CÃO E O FERREIRO (*)

Numa oficina de ferreiros
Um cãozinho matava o tempo
Dormindo a sono solto: ronc-ronc-ronc!

Enquanto isso
Marretas batiam em bigornas: plam-plam-plam!

Quando os homens paravam para comer
O cão ficava desperto e contente.
Abanando o rabo, ia se encostar nos donos.

Então, alguém disse:
- Como não acordas com o barulho de malhos tão pesados
- plam-plam-plam -
mas acordas ao mais leve ruído de nossos molares
- nhec-nhec-nhec? -

Ao que o cão respondeu:
- Au-au-au!

Moral
 Assim são muitas pessoas:
apáticas diante do que não lhes agrada,
mas  atentas a tudo aquilo do qual esperam tirar proveito.
Etelvaldo Vieira de Melo

(*) Invento e/ou leitura/releitura de Fábulas, Esopo


TU PROPIA HERIDA ESTAS VENAS LLEVARON

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Imagem: pedroelias.org
A chuva que há pouco golpeava
Tuas palavras
lançando-as ao vento

Entre relógios

A luz de abril afogando versos
Na tua boca of gold
            entonces
El corazón sube a las ramas

Onde o silêncio morde
La piedra y rosales

Se levantando em águas
Como  bear hunter de espuma

Perfume & cinza
Distantes  holorosos

Suddenly
A different face
Da poesia
A  través del confuso esplendor

Now  I explain  some things
Graça Rios

PROJEÇÃO & CONFABULAÇÃO


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F
inalmente! Chegou 2017. Viramos 2016 (ou nos reviramos). E o que o novo ano nos reserva? De cara, fico meio desconfiada. Sete é conta de mentiroso. Necessário se precaver. Melhor olhar de banda esse recém-nascido, que vem com necessidades especiais e saúde combalida.
A única certeza é que nessa terrinha vamos continuar jogando futebol. Bola é nossa especialidade. Todo mundo sabe. Também vamos continuar a comer muita pizza. Talvez até exportemos essa iguaria. Somos entusiastas. 

O que mais nos reserva esse nascituro? Políticos sem ética, impunidade, roubalheira, pobreza, desemprego. Olhando pela janela do trem, 2016 se aproximando da estação 2017, não há muito o que ver. Descemos do trem desconfiados, temerosos do que vamos encontrar. A feiura é só o que nossa vista alcança.
No primeiro momento, esse panorama cruel nos paralisa. Não há cirurgia plástica que dê jeito na dureza dessas feições. O real nos atinge com um soco dolorido.
Talvez vá soar algo ingênuo e infantil falar em esperança. Mas é isso. Não podemos condenar um recém-nascido, antes de usar todos os recursos para que ele sobreviva. Já vimos a carinha dele, já nos rendemos ao chorinho dele. Já mexeu com nossos brios, e já arregaçamos as mangas. Esse país é troncho desde 1.500. Em se plantando, tudo dá.
Talvez seja esse o ano de se plantar alguma coisinha. Talvez seja o ano de botar a cachola pra trabalhar e fazer desse país da bola o Inacreditável Futebol Clube, como diria Nelson Rodrigues, mas no bom sentido.
Quem sabe, como uma fênix, esse país renasça das cinzas aos 45 minutos do segundo tempo. Você não acredita? Azar o seu! É pegar ou largar! Esperança é grátis.

Solange Amado – autora de “Crônicas de Sol” – www.versiprosear.blogspot.com.br

 FÁBULA NEBULOSA 18: O SURICATE E A CRISE
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Quando o país da bicharada afundou numa crise sem precedentes, o Suricate, que era economista, disse:
            - Quando a Bovab acionou o Circuit Breaker mais de sete vezes na semana e as Blue Chips se aproximaram perigosamente das Small Caps, tudo era sinal de que a crise estava batendo à porta. A gota d’água foi o Default do Governo com seus C-Bonds, num quadro de Demanda Reprimida e Câmbio Flutuante.
Ao ouvir aquilo, falou o Burro:
            - Pqp! Mas por que você só vem dizer isso agora, depois que a “vaca já foi pro brejo com chifre e tudo”?
Moral: Assim são os profetas do acontecido; explicam as tragédias, mas são incapazes de preveni-las.
Etelvaldo Vieira de Melo

PAISAGEM

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Estão voando penas
sobre as montanhas de Minas.

Os morros devastados
ficam cobertos de cera:
anjos constelados
pelo mestre Athayde.

Chovem penas
gordas, bêbadas
nas vertentes gerais.
São formas decadentes
(lágrimas santas
no monte Calvário).

Chorai, chorai,
montanhas mineiras!
Sobre vós cai o suplício
das rezas marianas.

Quantos peregrinos
depositam suas penas
nas asas do pintor
que vai forjando imagens
nos tetos celestiais.

As minas flageladas
morrem de pena dos anjos
embriagados na dor.
Graça Rios

COISAS BANAIS

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COISAS BANAIS
No soneto Velho Tema, discorrendo sobre a felicidade, Vicente de Carvalho reconhece que ela, a felicidade,
Existe, sim, mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Esta passagem sempre me vem à cabeça, quando penso que as coisas nem sempre acontecem como é nossa ideia ou desejo. Assim, quando queremos algo, não o temos; quando ele chega às nossas mãos, já não podemos ou não o desejamos mais. Quase sempre falta sincronismo entre nossos desejos e nossas posses.
André Gide já chamava a atenção para isso, ao dizer: Espera tudo que vem a ti, mas não desejes senão o que vem a ti. Não desejes senão o que tens.
Pode parecer (e é) uma banalidade isto que estou a dizer, mas assim é a vida, feita quase só de banalidades. Por que não damos valor ao trivial, ao comum, nossas vidas ficam quase sem sentido, vazias, já que quase nada têm de extraordinário. O que importa, então, é que a felicidade seja colocada nas coisas que estão bem pertinho da gente.
Meu amigo Eleutério, por exemplo, quase todo dia está chamando sua mulher para, juntos, comemorarem alguma coisa. O quê? As coisas mais banais e simples, como um dia que chega ao fim ou um filme a que se assistiu.
Eleutério é agradecido à vida por ter lhe ensinado isso: que importa reconhecer e valorizar mesmo as coisas banais e simples do dia a dia. Ele entende que é essa sabedoria que se aprende com o tempo. Se não fossem as dores que se distribuem pelo seu corpo, por causa da idade, bem que ele poderia tocar a vida com leveza e alegria.
A propósito, ele está agora me chamando para uma comemoração:
            - Meu amigo, venha tomar comigo um cafezinho, que acabei de coar! Vamos comemorar a tarde de sábado, com esta chuva gostosa a cair!
Distraído, eu nem estava notando a chuva. Quando Eleutério me chamou a atenção, olhei para a janela, a tempo de perceber um arco-íris se formando no horizonte, com o sol aparecendo por detrás de nuvens.
Não sei por que, aquilo me pareceu assim algo extraordinário, apesar de aparentemente ser também algo simples e banal.
Etelvaldo Vieira de Melo