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FÁBULA NEBULOSA 12: A RAPOSA E O GALO (*)
Quando prendeu o galo, a raposa quis
porque quis comê-lo logo. Também quis que tal gesto aparentasse um ar de
legalidade. Por isso, começou a acusá-lo, em busca de uma razão plausível.
Falou:
-
Você é uma ave inconveniente.
-
Inconveniente eu? Se o fosse, os homens não iriam me criar - retrucou com
veemência o galo.
A raposa não gostou de ser
contestada. Continuou:
-
Sua barba é inconveniente.
-
Barba? Minha cara, o que você chama de barba não passa de meu pelo, minhas
penas.
-
E o seu bico? Ele é inconveniente.
-
Ora, meu bico é assim para eu me alimentar e cantar.
-
Pois, então – retrucou a raposa. – Você canta feio e de madrugada. Não deixa
ninguém dormir direito. Isso é inconveniente.
-
Canto de manhazinha pra acordar as pessoas para o trabalho.
Definitivamente, a raposa já estava
perdendo a paciência. Além disso, corria o risco de ser ridicularizada por
aquela ave insignificante, logo quando o interrogatório passou a ser
transmitido via TV.
-
Você tem uma vida sexual desregrada. Cruza até com parentes. Vai dizer que isso
não é uma grande inconveniência! – desferiu a raposa, os olhos injetados de
raiva.
-
Ora, ora, pois, pois – falou o galo, imitando o jeito lusitano de falar. –
Cruzo com qualquer galinha interessada, nem preciso tomar esse tal de Viagra.
Meus donos andam até bem satisfeitos comigo, tal a quantidade de ovos
produzidos no meu galinheiro.
Ao ouvir isso, a raposa considerou:
-
Pensa que suas defesas serão sempre bem-sucedidas, e eu não terei como comer
você? Só de se achar com razão, você demonstra grande inconveniência.
Assim falando, a raposa torceu o
pescoço do galo.
Moral: Democracia
é bom até certo ponto; depois cansa.
Ao fim de tudo, a verdade não passa do interesse de quem pode e de quem
manda.
(*) Invento e/ou leitura/releitura de
Fábulas, Esopo
Etelvaldo Vieira de Melo
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