O BEIJO DE KLIMT

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            Ela, amarela
            Ele, azul
            Ela, com bolas
            Ele, em quadrado
            Ela, submissa
            Ele, dominante
O manto que os envolve sobe até ele e desce até ela
            Pra que chão?
            Sobre o plano os amantes
            Cairiam das nuvens
Obnubilando o beijo que vai ser consumado
            Pra que nuvens?
            Pra que quê?
            Ele vira a cara dela
            Em sinal de onipotência
(Klimt é um misógino: pinta-se dois. Se pintasse o meu retrato, socava ele no nariz de tinta.)
Graça Rios






          






















FÁBULA NEBULOSA 3: O GANANCIOSO E O BURRO DE CARGA

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Imagem: anda.jor.br


FÁBULA NEBULOSA 3: O GANANCIOSO E O BURRO DE CARGA (*)
            Um burriqueiro conduzia seu burro por uma estrada esburacada.
            - Ploc, plec, ploc, plec – era o barulho que fazia o burro, por conta de uma pata sem ferradura.
Durante muitos anos, o quadrúpede havia prestado incontáveis serviços ao seu dono. Agora, estava cansado e mal se aguentava em pé. Chegaram à beira de um precipício.
            - Veja bem, que eu não queria isso, desejava continuar cuidando de você. Contudo, quer me deixar. Sendo assim, a vitória é sua. – Enquanto falava essas palavras, o homem empurrou o animal com as duas mãos sobre o abismo.
            Moral: Assim procede o ganancioso que, ao invés de proporcionar uma velhice decente para quem lhe prestou tantos serviços, prefere vê-lo morrer à míngua, quando não o mata covardemente.
            Submoral: Qualquer semelhança com o Projeto de Reforma da Previdência na República das Bananas não é mera coincidência.
(*) Invento e/ou releitura de Fábulas, Esopo
Etelvaldo Vieira de Melo

UMA HISTÓRIA POÉTICA

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Imagem: YouTube

O poeta atapulhou um poema que gonadia inspiração.
Foi um mastaréu de rimas em crúmen
E o famoso astro lonqueadou versos em boa endiva.
Gonadia outrossim que ele fosse longerão nas estrofes
A fim de nucular o mastaréu de invisos.
Afinal foi evônimo o gossip da crítica.
O herói gornope da silva publicou o seu belo gongom.



PARODIANDO RONDÓ DOS CAVALINHOS (*)

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Imagem: arterocha.blogspot.com.br
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Ministro do STF dá festa em salão
Pra político que pode ser seu réu por corrupção.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Ministro do STF e do TSE presidente, sem cuidados,
Discute reforma política com delatados.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Primo de ministro do STF é nomeado diretor da ANT
Pelo presidente da República, procê vê.

(Pode ser? / Aqui, na república das bananas, pode.)

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Ministro do STF diz que crimes de caixa 2 são relativos
Que os atos ilícitos são opções das empresas em seus ativos.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Ministro do STF com presidente sempre está jantando
Que parece não temer julgamento que o está aguardando.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Ministro do STF busca holofotes da mídia diária
Agindo de forma partidária.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Ministro do STF aparece de cara feia nos jornais e tevês
(Tá fazendo beicinho. Feio vai ficar quando fechar a cara de vez.)

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Esmeralda, Esmeralda, só mesmo tua beleza
Pra acalmar minha dor e afastar a tristeza.

“Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minh’alma  - anoitecendo!”

(*) Paródia a “Rondó dos Cavalinhos”, de Manuel Bandeira,com citações de Felipe Pena  -  jornal Extra, de 16/03/2017.
Etelvaldo Vieira de Melo 





ULTRALIGHT

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Confira esta embalagem de stevia
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A tampa também é verde e o
corpo de plástico é branco também
80 ml Edulzante líquido
Kosher B.K. A Parve
Contiene educorantes artifi
ciales glucosideos de stevol
Vire e leia
Modo de usar: 3 gotas equivalen a uma cucharadita de té de
azúcar
Lightsweet
Nota da tradutora – Azúcar =açúcar (s.m.)
Graça Rios


O QUE AMENIZA, FACILITA E TORNA A VIDA DE UM HOMEM MAIS AGRADÁVEL?

Dinheiro. Foi o que alguém já disse: “O dinheiro é tudo. Ele é a fonte de todo o bem. Faz dentes mais claros, olho mais azul, amplia a dignidade individual, aumenta a popularidade, produz amor e paz espiritual e, quando tudo falha, paga o psicanalista.” Foi o que falou Millôr Fernandes.
            Disse outras coisas mais. Com umas concordo; de outras, noto leve exagero. Por exemplo: “O dinheiro compra o cão, o canil e o abanar do rabo.” Está aí uma coisa que discordo. O cão lá de casa, o Thor, apesar de todo meu esforço para ter sua amizade, fica sempre me olhando com indiferença. E olha que, todo dia, procuro ter agradáveis conversas com ele, mas não tem jeito: o seu amor já está comprometido com outras pessoas.

            Por causa do dinheiro, não sei se como causa ou consequência, tem uma moça que aparece nas notícias de fofocas e achou que colocar uma melancia na cabeça era pouco - mais parece carro que saiu da oficina: trocou os faróis, botou um capô mais arredondado, zerou o velocímetro, mudou a caixa de marchas, pôs um câmbio automático. Tenho “um dó” danado dessa menina, já até andei falando sobre ela (“Parem o mundo, que eu quero descer”: 30/11/2013). O que ela não sabe é também aquilo que Millôr não se deu conta. Tem coisas que o dinheiro não compra, e uma delas é o tempo. Ele, o tempo, é o tipo que até pode fazer de conta. Pode fazer de conta, por exemplo, que está sendo enrolado, mas chega a hora em que ele é quem vai dar as cartas, perguntar: E agora, José?  


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Agora, alguém aqui está buzinando nos meus ouvidos, dizendo pra abreviar o texto. Então, vamos lá.
            

Além do dinheiro, uma coisa que pode amenizar a dor da anomia (anonimato, pra quem não sabe) é a pessoa ter um nome exótico, estranho. Quem possui nome exótico, nunca passa despercebido, notadamente quando frequenta os bancos escolares. Pode ter certeza que vai chamar a atenção dos professores, nem que seja só por causa do nome. E isto é bom, porque na escola sobressaem os extremos: os cdfs e os indisciplinados. Quem fica no meio, não é nem uma coisa e nem outra, acaba no ostracismo. Tendo um nome exótico, querendo ou não, vai ser lembrado nos conselhos dos professores: “- Sabe aquela menina?” “-Qual?” “- A Holofontina Fufucas...” “- Ah, é claro que sei!”
            Finalizando, uma coisa que facilita a vida é usar um boné. Foi isso que depreendi de uma entrevista de Clarice Lispector com Pablo Neruda. Ela disse: “Neruda é extremamente simpático, sobretudo quando usa o seu boné”.
            Como vê, ajuntando uma coisa daqui, outra dali, temperando tudo com criatividade, você acaba encontrando muitas coisas que podem amenizar, facilitar e tornar a vida mais agradável. Eu, por exemplo: 1) Não tenho Dinheiro, não sou estribado; 2) Possuo um nome mais ou menos exótico, estranho, porque, quando nasci, meus pais disseram: “- Vamos colocar um nome estranho no nosso filho pra ver se sai algo que presta!”.  Escolheram este nome “que ainda hoje carrego comigo”, com um “l” sobrando, exagero que se deve ao escrivão da cidade, que era amante daquela água que passarinho não bebe; 3) Quanto a usar boné, lamento não ter adotado este costume há mais tempo. Sempre tive os cabelos repartidos; depois, eles ficaram “unsdoslados”; depois,foram raleando, raleando, até desaparecerem quase por completo. Enquanto isso, eu ficava brigando contra o vento, tinha ódio de lufadas de vento. Só agora é que fui me dar conta das vantagens de se usar um boné. Quando estou com um, fico igual ao Neruda, extremamente simpático. Quem convive comigo vive dizendo isso.
Etelvaldo Vieira de Melo
           



UM CLICK NUM ÉCLAIR

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Imagem: arteparacegos.blogspot.com.br
Diz o jornal que há um cego projetando mundo afora
suas fotografias concebidas em alto mar.
Diz-que-diz que o moço apreendeu o arco-íris
nos dourados palhacinhos que nadavam num coral.
O aquanauta mergulha a máquina nas águas
e reproduz num flash o tubarão-baleia
 preso na câmera clara.
Discover and swim with the whale sharks! – convida ele.
Quem revela as cores prodigiosas dos golfinhos
morsas focas tartarugas cobras seixos
é a mulher superstar também cega
do clarividente artista plástico.
Graça Rios

FÁBULA NEBULOSA 4:O SEGREDO DO MAU CHEIRO DAQUELA CASA

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Imagem: fortalezadesentupidora.com

FÁBULA NEBULOSA 4: O SEGREDO DO MAU CHEIRO DAQUELA CASA (*)
Quando se elegeu pela primeira vez, aquele político estranhou muito o mau cheiro das dependências da Casa Legislativa. Nos corredores, salas, gabinetes e, especialmente, no salão de reuniões havia um mau cheiro quase insuportável, que chegava a provocar vômitos.
Em conversas com colegas, esses aconselhavam:
            - Tenha calma, que você irá entender a situação.
Outros colegas, novatos como ele, chegavam a usar máscaras. Alguns desistiram da profissão. Nosso político, por sua vez, começou a ver que tanto desconforto tinha lá suas compensações: o excelente salário, os inúmeros abonos e auxílios, sem contar os poucos dias semanais de “trabalho”, dois a três. Além disso, percebeu que sempre poderia ganhar mais, vendendo emendas orçamentárias, quando não seus votos.  Gostou daquilo tudo, chegou a se acostumar com o mau cheiro, reelegeu-se para novos mandatos.
Certo dia, um colega lhe falou:
            - Já está na hora de entender a razão do mau cheiro desta casa. Existe um erro de arquitetura e que faz com que o cheiro de esgoto se espalhe por todas as dependências.
            - Não existe reparo?
            - A única solução é demolir o prédio e construir outro.
            - Mas por que isso não é feito? – perguntou nosso político.
          - Ora, se fizermos assim, todos aqueles que foram embora e mais outros irão querer voltar. Então, não teremos vez. Nós servimos é para conviver com esse mau cheiro, tirando daí todo proveito.
Moral:
Em ambiente enevoado, ultrajado, até o ar fica empestado.
(*) Invento e/ou leitura/releitura de Fábulas, Esopo
Conversa de Leitor com Redator
Leitor: - Você não se sente incomodado por “bater” tão pesado na classe política?
Redator: - De fato, eu me sinto muito chateado com isso.
Leitor: - Pois, então: tenha um pouco de consideração e de respeito.
Redator: - Mas eles, os políticos, por acaso demonstram respeito e consideração para com os eleitores? Não vejo a hora de elogiar alguns, mas me sinto como Diógenes, o Cínico: ando com uma lamparina na mão, à procura de um que seja honesto. Depois, eu só falo mal de uma espécie de político e que é, infelizmente, a que nós temos. O problema maior, no meu modo de ver, é a estrutura, essa construção política que está aí e que precisa ser derrubada.
Leitor: - De fato, com ela de pé, não há Lava Jato que dê jeito.
Redator: - Fala-se muito em combate à corrupção, mas as pessoas se esquecem de um detalhe importante: a ocasião faz o ladrão, como diz o ditado. Só mudando as caras dos políticos, estaremos trocando seis por meia dúzia. Nossos sistemas político e eleitoral são fábricas de ladrões. Depois, as coisas não são assim de graça. Esse tipo de político está lá para atender a outros interesses. Ao fim de tudo, o mau cheiro vem dos políticos e daqueles que se beneficiam da situação.
Etelvaldo Vieira de Melo