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FÁBULA NEBULOSA 4: O SEGREDO DO MAU CHEIRO DAQUELA
CASA (*)
Quando se elegeu pela primeira vez, aquele
político estranhou muito o mau cheiro das dependências da Casa Legislativa. Nos
corredores, salas, gabinetes e, especialmente, no salão de reuniões havia um
mau cheiro quase insuportável, que chegava a provocar vômitos.
Em conversas com colegas, esses aconselhavam:
-
Tenha calma, que você irá entender a situação.
Outros colegas, novatos como ele, chegavam a
usar máscaras. Alguns desistiram da profissão. Nosso político, por sua vez,
começou a ver que tanto desconforto tinha lá suas compensações: o excelente
salário, os inúmeros abonos e auxílios, sem contar os poucos dias semanais de
“trabalho”, dois a três. Além disso, percebeu que sempre poderia ganhar mais,
vendendo emendas orçamentárias, quando não seus votos. Gostou daquilo tudo, chegou a se acostumar com
o mau cheiro, reelegeu-se para novos mandatos.
Certo dia, um colega lhe falou:
-
Já está na hora de entender a razão do mau cheiro desta casa. Existe um erro de
arquitetura e que faz com que o cheiro de esgoto se espalhe por todas as
dependências.
-
Não existe reparo?
-
A única solução é demolir o prédio e construir outro.
-
Mas por que isso não é feito? – perguntou nosso político.
-
Ora, se fizermos assim, todos aqueles que foram embora e mais outros irão
querer voltar. Então, não teremos vez. Nós servimos é para conviver com esse
mau cheiro, tirando daí todo proveito.
Moral:
Em ambiente enevoado, ultrajado, até
o ar fica empestado.
(*) Invento
e/ou leitura/releitura de Fábulas, Esopo
Conversa de Leitor com Redator
Leitor: - Você não se sente
incomodado por “bater” tão pesado na classe política?
Redator: - De fato, eu me sinto muito
chateado com isso.
Leitor: - Pois, então: tenha um pouco
de consideração e de respeito.
Redator: - Mas eles, os políticos,
por acaso demonstram respeito e consideração para com os eleitores? Não vejo a
hora de elogiar alguns, mas me sinto como Diógenes, o Cínico: ando com uma
lamparina na mão, à procura de um que seja honesto. Depois, eu só falo mal de
uma espécie de político e que é, infelizmente, a que nós temos. O problema
maior, no meu modo de ver, é a estrutura, essa construção política que está aí
e que precisa ser derrubada.
Leitor: - De fato, com ela de pé, não
há Lava Jato que dê jeito.
Redator: - Fala-se muito em combate à
corrupção, mas as pessoas se esquecem de um detalhe importante: a ocasião faz o
ladrão, como diz o ditado. Só
mudando as caras dos políticos, estaremos trocando seis por meia dúzia. Nossos sistemas político e eleitoral são fábricas de
ladrões. Depois, as coisas não são assim de graça. Esse tipo de político está
lá para atender a outros interesses. Ao fim de tudo, o mau cheiro vem dos
políticos e daqueles que se beneficiam da situação.
Etelvaldo Vieira de Melo