Dinheiro. Foi o que alguém já disse: “O dinheiro é tudo. Ele é a fonte de todo o bem. Faz dentes
mais claros, olho mais azul, amplia a dignidade individual, aumenta a
popularidade, produz amor e paz espiritual e, quando tudo falha, paga o
psicanalista.” Foi o que falou Millôr Fernandes.
Disse outras coisas mais. Com umas
concordo; de outras, noto leve exagero. Por exemplo: “O dinheiro compra o cão, o canil e o
abanar do rabo.” Está aí uma coisa que discordo. O cão lá de casa, o Thor,
apesar de todo meu esforço para ter sua amizade, fica sempre me olhando com indiferença.
E olha que, todo dia, procuro ter agradáveis conversas com ele, mas não tem
jeito: o seu amor já está comprometido com outras pessoas.
Por causa do dinheiro, não sei se
como causa ou consequência, tem uma moça que aparece nas notícias de fofocas e
achou que colocar uma melancia na cabeça era pouco - mais parece carro que saiu
da oficina: trocou os faróis, botou um capô mais arredondado, zerou o
velocímetro, mudou a caixa de marchas, pôs um câmbio automático. Tenho “um dó”
danado dessa menina, já até andei falando sobre ela (“Parem o mundo, que eu quero descer”: 30/11/2013). O que ela não
sabe é também aquilo que Millôr não se deu conta. Tem coisas que o dinheiro não
compra, e uma delas é o tempo. Ele, o tempo, é o tipo que até pode fazer de
conta. Pode fazer de conta, por exemplo, que está sendo enrolado, mas chega a
hora em que ele é quem vai dar as cartas, perguntar: E agora, José?
Agora, alguém aqui está buzinando nos meus ouvidos,
dizendo pra abreviar o texto. Então, vamos lá.
Além do dinheiro, uma coisa que pode
amenizar a dor da anomia (anonimato, pra quem não sabe) é a pessoa ter um nome exótico, estranho. Quem possui nome exótico, nunca passa
despercebido, notadamente quando frequenta os bancos escolares. Pode ter
certeza que vai chamar a atenção dos professores, nem que seja só por causa do
nome. E isto é bom, porque na escola sobressaem os extremos: os cdfs e os indisciplinados.
Quem fica no meio, não é nem uma coisa e nem outra, acaba no ostracismo. Tendo
um nome exótico, querendo ou não, vai ser lembrado nos conselhos dos
professores: “- Sabe
aquela menina?” “-Qual?” “- A Holofontina Fufucas...” “- Ah, é claro que sei!”
Finalizando, uma coisa que facilita
a vida é usar um boné. Foi isso que depreendi de uma entrevista de Clarice
Lispector com Pablo Neruda. Ela disse: “Neruda
é extremamente simpático, sobretudo quando usa o seu boné”.
Como vê, ajuntando uma coisa daqui,
outra dali, temperando tudo com criatividade, você acaba encontrando muitas
coisas que podem amenizar, facilitar e
tornar a vida mais agradável. Eu, por exemplo: 1) Não tenho Dinheiro, não sou estribado; 2) Possuo um nome mais ou menos exótico, estranho, porque, quando nasci, meus pais
disseram: “- Vamos colocar um nome estranho no nosso filho pra ver se sai algo
que presta!”. Escolheram este nome “que
ainda hoje carrego comigo”, com um “l” sobrando, exagero que se deve ao
escrivão da cidade, que era amante daquela água que passarinho não bebe; 3) Quanto
a usar boné, lamento não ter
adotado este costume há mais tempo. Sempre tive os cabelos repartidos; depois,
eles ficaram “unsdoslados”; depois,foram raleando, raleando, até desaparecerem
quase por completo. Enquanto isso, eu ficava brigando contra o vento, tinha
ódio de lufadas de vento. Só agora é que fui me dar conta das vantagens de se
usar um boné. Quando estou com um, fico igual ao Neruda, extremamente simpático.
Quem convive comigo vive dizendo isso.
Etelvaldo Vieira
de Melo
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