JUSTIÇA SURDA

Imagem relacionada
Imagem: compreensaotb.blogspot.com.br
                Sob o título “Togas em Riste”, li a seguinte matéria numa revista de circulação nacional:
            “Faz dez dias que os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, do STF, não trocam uma só palavra. E parece que ficarão assim por um bom tempo. Semana passada, no intervalo de um julgamento que envolvia o senador Romero Jucá, Mendes dirigiu-se a Mello reclamando de colocações feitas no plenário. O tom subiu e só acabou após intervenção do ministro Luis Fux – faixa preta no judô – que evitou mal maior.”
            - E daí? – pode você perguntar. – Afinal, Mendes e Mello estão sempre trocando farpas, Jucá tem sempre um processo para responder e Fux, bem, parece que Fux é lutador de judô.
            De fato, tudo isso ocorre, mas o que chama a atenção é a data da reportagem: 5/10/2011, quase seis anos atrás. É justamente seu tempo de vida que assusta, pois mostra como as coisas no país se arrastam, sempre naquele nhem-nhem-nhem, enquanto os problemas explodem, pedindo soluções. Falta seriedade e empenho para cuidar da coisa pública. No caso do Judiciário, se os juízes atuassem com mais senso de responsabilidade, o país não haveria chegado a esse caos que vivenciamos hoje. A gente sempre se pergunta: por que os políticos recorrem ao foro privilegiado? Não seria porque estão contando com a impunidade?
            A propósito de tudo isso, dessa falta de empenho, de seriedade e de responsabilidade, dessa mania de contemporizar e de protelar o enfrentamento dos problemas, estou transcrevendo uma fábula de Esopo. Ela ilustra o descontentamento que experimentamos, ao tempo que aponta uma solução.
O MENINO LADRÃO E SUA MÃE
         Um menino roubou, na escola, a lousinha de seu colega de classe e levou-a para sua mãe. E ela não o repreendeu; ao contrário, até o elogiou. Então, numa segunda oportunidade, ele roubou um manto e levou-o para a mãe. E, mais uma vez, ela o aceitou. O tempo foi passando e o menino foi crescendo e, quando se tornou um rapaz, já estava empreendendo roubos mais vultosos. Certa vez, porém, apanharam-no em flagrante e, enquanto o levavam, de mãos amarradas, para o carrasco, a mãe seguia atrás, esmurrando o próprio peito. Foi então que o rapaz pediu: “Eu queria falar uma coisa no ouvido de minha mãe”. Ela, mais do que depressa, se achegou a ele, que, com uma mordida, lhe arrancou a orelha. E, quando ela se pôs a recriminar sua impiedade, ele disse: “Se você tivesse me dado uma surra naquele dia em que eu lhe trouxe aquela primeira lousinha que roubei, eu não teria chegado a esse ponto de ser conduzido à morte”.

PS1: Parece até brincadeira, assim que acabei de digitar o texto acima, 26/05/2017, vejo estampado em revista eletrônica: “Janot quer inquérito, no STF, contra... Jucá para apurar desvio nos Correios”.
PS2: O Ministro Luis Fux, além de lutar judô, é autor da liminar que concede auxílio moradia de 4377 reais aos 16 mil juízes de todo o país, um gasto de 1 bilhão de reais aos cofres públicos por ano. 
Etelvaldo Vieira de Melo

0 comentários:

Postar um comentário