LEIAM-ME, SE FOREM CAPAZES


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Perder-me no exílio da memória de navegantes cativos, vencidos, afogados.
O olhar blasé em constante mobilidade guarda em mim a potência da viagem.
O objetivo: chegar ao porto impossível da linguagem.
Sapho na escritura, sirgo entre zonas inquietíssimas do corpo.
Figuro esse desejo: o oco, o vazio, a palavra copiosa.
Um malogro de linhas cruza o itinerário deste discurso.
Daqui o país é estrangeiro. É preciso ancorar o navio no espaço.
Sei: as letras fazem-se plásticas na ponta escura do cais.
A impermanência, afasia do fantasma, solta-me as páginas do livro sem causa ou finalidade.
Miro no ponto cego do mapa um lar hipotético: residência no refluxo dos termos.
Busco a loucura de fazer uma volta ao dia em oitenta mundos.
Portadora de passaporte em heteroglossias, finjo-me simulacro de todos os desejos.
Viajante de papel, tento escapar pelo espaldar da cadeira onde me inscrevo.
Escrevo...

Graça Rios

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