FÁBULA NEBULOSA: UM CACHORRO, A MULHER, UM HOMEM


FÁBULA NEBULOSA 2: UM CACHORRO, A MULHER, UM HOMEM

(Do Livro “Totó, Teteo e os Outros")

    Havia uma mulher que tinha um homem e um cachorro. No princípio, ela se dava bem com os dois, mas, aos poucos, seu afeto foi ficando cada vez mais com o cachorro.
    Pequenos gestos demonstravam isso: o bife especial com a ração especial, a água filtrada e gelada no bebedouro, o ventilador junto à casinha nos dias em que o calor era mais intenso, os ossinhos e brinquedos trazidos da cidade.
    O homem percebia o que estava acontecendo, que estava sendo jogado pra escanteio. Procurou analisar o comportamento do animal, para que pudesse imitá-lo. Quem sabe assim trazia de volta o amor da mulher! Anotou: 1 - quando quer chamar a atenção, ele quase não late – mais resmunga; 2 - tem o olhar intenso e direto; 3 - abana freneticamente o rabo, quando a dona está perto.
O homem foi colocar em prática o que havia estudado. A primeira lição foi a de resmungar para chamar a atenção da mulher. Ao ouvir aquilo, ela foi logo falando:
    - O que aconteceu, por acaso está com dor de barriga?
    O olhar intenso (que libera oxitocina, o chamado “hormônio do amor” – pesquisou na Internet) foi a segunda lição. A mulher reagiu assim:
    - Que aconteceu agora? De onde tirou esse olhar de lerdeza?
    Abanar freneticamente o rabo ele não deu conta, mas cuidou de ficar ao lado do cão, balançando a bunda de lá para cá, de cá para lá, assim que a mulher se aproximava. Ela, no entanto, o ignorava, só tendo olhos para o cãozinho do coração.
    Como último recurso, notou que o cachorro corria ao encontro da dona (cuidadora, melhor dizendo), assim que ela chegava da rua. Foi fazer o mesmo, mas acabou tropeçando no tapete, caindo em cima da mulher e a jogando no chão.
    A mulher, exasperada, talvez aproveitando o pretexto, dirigiu-lhe estas palavras cruéis e fatais:
    - A partir de agora, trate de sumir desta casa. Não quero ver você nunca mais.
    Assim, assim mesmo, o homem foi sua mala arrumar, para, logo depois, partir e nunca mais voltar.
Moral
Anote aí: quem nasceu pra ser homem nunca chega a ser cachorro.
Etelvaldo Vieira de Melo

0 comentários:

Postar um comentário