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Este
texto pretende ser expressão de verdade, já que foi escrito com base em suposições.
Vi, imagine onde, um
anúncio com os dizeres:
O importante é o que você diz. Não quem você é.
Dizia mais o
distinto: “Uma denúncia anônima pode salvar vidas. Disque Denúncia 181.”
Já imaginou aonde eu
estava?
Sim, esse anúncio
fazia parte de um cartaz maior - afixado no vidro de um transporte coletivo - chamado “Jornal do Ônibus”. Estava eu, pois, dentro de um transporte coletivo,
um ônibus ou lotação. Como o lotação é um daqueles lugares que me suscitam
reflexões mais consistentes, minha mente foi logo sendo tomada por pensamentos.
A seguir, vou descrever os que brotaram daquela frase, embalados por ronco de
motor, freadas, buzinas e conversas, muitas conversas.
Considero perigosa a
disseminação desse tipo de ideia, de que uma pessoa passa a valer pelo que ela
diz, não pelo que ela é. Mesmo quando se trata de uma denúncia anônima e que
pode salvar vidas.
Veja bem: nesse tipo
de caso, não sou contra a denúncia anônima. O que condeno é a disseminação da máxima perigosa, que já está se tornando lugar comum em nosso pobre país, de que “os fins justificam os meios”.
Exemplificando meu
ponto de vista, veja o caso da chamada Operação Lava Jato.
Desde o início ela me
provoca ojeriza. No iniciozinho, até que ela me confundiu um pouco, sabe como
é, esse tal de combate à corrupção. Depois, fui me dando conta de que a
moralidade não passava de mero pretexto. Duas das razões de minha antipatia
estão aqui (por favor, não torça o nariz; entenda que este texto pode ser um
remédio amargo, mas que irá lhe fazer bem): 1º - ela defende a máxima de que os
fins justificam os meios; 2º - espalha a ideia de que as pessoas valem pelo que
elas dizem e não pelo que elas são.
Só por essas duas
razões tal operação dá mais prejuízo do que lucro. Se não, vejamos:
- Você acha que é
certo fazer justiça com base tão somente em denúncias ou delações, ainda mais
premiadas? Não estaremos, agindo assim, premiando o desonesto, o bandido e a própria
corrupção? (Não sei porque, mas, quando falo isso, veio ao meu pensamento uma citação
de Kafka que vi num jogo de videogame – Resident Evil Revelations 2: “Confissão e mentira são
iguais: para confessar é preciso contar mentiras”.)
Aqueles que fizeram
delações premiadas, e que conseguiram jogar fora os sentimentos de escrúpulo e
de vergonha, acabaram se dando muito bem, não é mesmo?
No frigir dos ovos, a
nação brasileira aprende mais uma nova lição: o crime pode compensar.
Nesse jogo da Lava
Jato, mais político do que jurídico, os fins (botar os desafetos na cadeia,
usurpar a vontade da maioria da população e colocar no poder os ‘amigos’)
justificam meios “escalafobéticos” – como condenar com base em suposições.
Para os operadores da
Lava Jato, não precisa ser honesto e nem aparentar ser honesto. O que vale é ter
um dossiê contra pessoas influentes e que jogam no time adversário.
A Operação Lava Jato
colabora e corrobora com a inversão de valores que assistimos hoje em dia.
Amizade, confiança, respeito, honestidade e honradez são exemplos de valores
que se tornaram cartas fora do baralho.
No mais, o que ela faz é resgatar práticas de regimes ditatoriais, como
a figura do “dedo-duro”, agora afetuosamente chamado de delator.
Só me resta concluir
com uma citação de Cícero em sua Catilinárias: “O tempora! O mores!”, frase que
um esperto vestibulando de Direito traduziu por “Ó temporais! Ó mares!”.
Etelvaldo
Vieira de Melo
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