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Existem várias possibilidades entre o
isto e o aquilo: uma coisa pode ser isto ou aquilo; também pode ser isto e
aquilo concomitante; até mesmo pode ser nem uma coisa e nem outra, algo
diferente do isto ou do aquilo.
Exemplos disso:
F Perguntaram ao Roberto Carlos, nos
tempos em que ele era uma ‘brasa, mora’:
- Roberto, o que você prefere: uma
flor ou um carrão?
- Prefiro uma flor dentro de um
carrão – respondeu o rei, já com aquele sorriso de mala velha.
F Certo político, viajando pelo
interior de Pernambuco, teve o carro estragado numa cidadezinha. Entrando num
casebre, em conversa com a família dali, perguntou em certo momento a uma
menininha de uns seis anos de idade:
- Me diga uma coisa: de quem você
gosta mais – do papai ou da mamãe?
- Gosto mais é de carne – a menina
respondeu com os olhos brilhando.
O mundo do político, às vezes, é
muito complicado, tão complicado que quase justifica seu indecente padrão de
vida comparado ao da maioria do povo brasileiro. Ele está sujeito a passar por
situações bem constrangedoras, quando iria preferir ser uma avestruz, enfiando
a cara num buraco, ao ter que se posicionar entre isto ou aquilo.
Imagem: Poder360 |
O diálogo narrado a seguir é quase que a transcrição de uma reportagem do jornal DCM, de 17/06/2020: o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, se irrita com uma repórter da Folha de São Paulo, ao ser instigado a se posicionar entre isto e aquilo.
- O senhor acha que ele deveria ter
se manifestado? – perguntou a repórter, querendo saber se o presidente
Bolsonaro deveria ter feito algum tipo de declaração sobre o ataque ao Supremo
Tribunal por parte de seus apoiadores.
Esta pergunta irritou Ibaneis. O
presidente merecia uma crítica; por outro lado, fazer a crítica significava
correr o risco de sofrer represálias econômicas. O que ele fez foi tomar o
telefone da repórter.
- Você está muito, olha, muito no
‘acho’. Eu não respondo no ‘acho’.
- Mas...
- Não adianta, porque esta entrevista
não está dada, porque eu não estou aqui para achar. Você está achando.
- Mas o celular é meu...
- Você está achando falou o
governador, enraivecido. – Você vai apagar a entrevista e acabou.
- Não, governador, a gente está
conversando.
- Não estamos conversando. Você está
querendo que eu ache. Eu não estou aqui para achar.
- Eu não estou querendo. Estou aqui
para perguntar a sua opinião, a opinião do governador – falou a repórter.
- Por favor, eu não estou aqui para
lhe dar opinião, estou aqui para dar a entrevista.
- Mas é o que estou fazendo, estou
perguntando e o senhor está respondendo.
- Você vai abrir isso aqui e apagar –
falou o governador, que sai andando com o celular.
- Governador, por que eu vou apagar a
entrevista?
- Porque eu não estou aqui para achar.
- Nós estamos tendo uma conversa. O
senhor é o governador do Distrito Federal...
- Vamos acabar com isso. (Chega de
conversa.)
Nisso, intervém um assessor:
- O senhor tem o direito de não dar a
entrevista.
- E eu não vou dar – falou Ibaneis. –
E esta entrevista não está dada, e eu quero que ela seja apagada.
- Tá – falou a repórter em tom de
conciliação. – Agora, posso conversar com o senhor? Eu vou tirar ela do
gravador e vamos conversar.
- Eu não quero conversar com você.
Por favor, tchau.
Fala novamente o assessor,
dirigindo-se à repórter:
- Você pode apagar a entrevista?
- Não estou aqui para achar, eu sou
governador, estou aqui para decidir – arrematou Ibaneis Rocha.
Depois disso, a entrevista é
retomada.
Como não sou nenhum governador, estou
me achando com todo direito de achar. No caso, achei essa conversa muito
divertida, mostrando o aperto do governador em ter de esconder o que ele acha.
Você também acha? Ou não?
Etelvaldo
Vieira de Melo