Como haveria de dizer o brilhante ex-ministro da Educação Abraham
Weintraub, “houveram tempos” em que cultivei a pretensão de encontrar uma
explicação racional para o sentido da vida, ou seja, em que seria capaz de
encontrar uma resposta para estas três perguntas fundamentais: Quem sou eu? De
onde vim? Para onde vou?
O tempo foi passando e aquele propósito foi esvanecendo, esvanecendo,
até sumir de vez. Hoje, contento-me com explicações periféricas, aquelas que me
chegam através da leitura dos chamados ditados populares. O que tenho procurado
fazer é ajuntar um daqui com outro dali para ver o que pode dar. Sei que os
ditos populares representam o substrato de tudo aquilo que a humanidade foi
aprendendo através dos tempos. Por se traduzirem em linguagem delimitada pelas
circunstâncias, acaba de me cair a ficha, muitos deles se tornam incompreensíveis, à medida em que o
tempo muda trazendo novos termos e novos conceitos. De qualquer modo, o que
fica é sempre enriquecedor, contribuindo de seu jeito para desvendar o enigma da existência humana.
Um ditado antigo e ainda pertinente para os dias atuais é este: “Se
ficar, o bicho pega; se correr, o bicho come”. Tal ditado fazia muito sentido no
tempo em que as pessoas viviam mais no meio rural e estavam cercadas de bichos,
muitos deles perigosos e selvagens. Hoje, quase não há mais bichos,
domesticados que foram, e as pessoas já não correm o risco de serem pegas ou
comidas. O ditado se torna pertinente pelo seu sentido figurado: vivemos
situações sem saída, onde, de um jeito ou de outro, vamos nos dar mal.
Foi o que deduzi ao assistir a um vídeo, onde determinado cidadão
extravasava sua indignação com o preço da tarifa da energia elétrica.
De uma conta de👉R$227,08, ele constatou que estava pagando 🔎R$176,00
(74,68%) de taxas (tributos, incluindo uma taxa de escassez hídrica,
transmissão, distribuição, encargos, perdas, taxa de iluminação pública),
enquanto 🔎R$51,39 (25,32%) ficavam por conta de seu consumo de energia. Ou
seja: de R$10,00, R$7,50 eram pro governo, enquanto R$2,50 pagavam o serviço.
E o cidadão vociferava, quase eletrocutado de raiva: - Isso aqui é escravidão? O povo é escravo?
Tem que trabalhar pro estado ladrão? Cadê os hospitais funcionando? Cadê a
saúde melhor? Cadê as estradas melhores? Esse país é livre?
Assistindo ao vídeo, fiquei pensando. Um antigo compositor dizia que o
Brasil é um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. E, ainda com
esses bônus: tem carnaval em fevereiro, tem futebol e tem uma nega chamada
Tereza. Mas cabe perguntar: tanta coisa boa acaba sendo revertida em favor da
maioria da população?
Desde que me entendo por gente, percebi que ser cidadão brasileiro é
viver sendo jogado entre esses dois extremos: se ficar, o bicho pega; se
correr, o bicho come.
Veja o caso da energia elétrica. Estando nas mãos do governo, temos uma
exploração danada. Mas, e se cair para a iniciativa privada, vai melhorar? Ela
que só pensa em lucro! Foi isso que assistimos com a privatização da VALE e das
telefonias.
Falando em telefonia, depois de sugar tudo o que podia do governo e
mesmo assim quebrar, a empresa da qual sou cliente acabou sendo leiloada entre
outras três. E deste modo estou: sem opção de escolha, encurralado no dilema de
se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Ou, no dizer de outro ditado: se
sair da brasa, acabo caindo no espeto. Parece que ser brasileiro é ter a opção
de não ter opção.
Mas, não obstante, porém, contudo, vislumbro uma luz no fim do túnel,
capaz de me animar e acalmar o indignado cidadão da energia elétrica. Pesquisando sobre a origem do ditado, descobri
que ele é conhecido pela metade, faltando o complemento. Enunciado na sua forma
original e verdadeira, ele diz assim: Se ficar o bicho pega. Se correr o
bicho come. Se juntar o bicho corre. Daí: - Vamos juntar, gente, e fazer o
bicho correr!
Etelvaldo Vieira de Melo
1 comentários:
Excelente 👏🏽👏🏽
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