Cebola faz chorar. Quem trabalha na cozinha sabe muito bem
disso. Segundo Germano Luís Marinho, do Colégio Técnico da UFMG, no interior
das células de uma cebola há compostos químicos que contêm enxofre. Ao cortar a
cebola, rompem algumas células, liberando substâncias químicas no ar. Tais
substâncias, sob ação de enzimas, se transformam em compostos sulfurados, que
evaporam facilmente. Os compostos sulfurados, liberados quando cortamos a
cebola, reagem, transformando-se em gases que irritam os olhos. Entre eles está
o gás sin-propanetial-S-óxido (C H OS). Esse gás reage com a umidade dos nossos
olhos, formando uma solução muito diluída de ácido (provavelmente ácido
sulfúrico), que produz a sensação de queimação e irritabilidade. Como os olhos
são muito sensíveis, o organismo reage, produzindo mais água nos olhos, para
que o ácido seja diluído, até que pare a irritação.
Existem algumas técnicas que permitem amenizar o desconforto
de quem descasca uma cebola. A mais simples delas recomenda que seja mergulhada
numa vasilha d’água. Desse modo, ela pode ser fatiada à vontade, sem exalar seu
vapor assassino.
Além de nos fazer chorar quando a descascamos, a cebola
também está fazendo as pessoas chorarem quando vão a um supermercado ou sacolão
para comprá-la. Isso por causa de seu preço, que está chegando lá nas alturas.
Tal disparada de preço está acometendo toda espécie de leguminosa, hortaliça e
fruta. Dia desses, fazendo minha tradicional compra lá no Sacolão Gigante, que
é gigante no tamanho e quer ser pequenino no preço, fui surpreendido por uma
espécie de carro forte com guardas, estacionado em frente ao estabelecimento.
Imaginei que estivesse ali para recolher um pouco da féria. Para minha
surpresa, vi que, na verdade, ele estava protegendo o descarregamento de
algumas caixas de cenoura.
Tal preocupação tenho observado em outras situações. Outro
dia, a avenida principal aqui do bairro foi tomada por algumas motos, fazendo
papel de batedores. Atrás, desfilavam aqueles carros fortes, abarrotados de
guardas armados. Num primeiro momento, até pensei que o presidente Bolsonaro
estivesse fazendo uma motociata no bairro. Cheguei até a pensar que ele fosse
parar na esquina do Açougue Três Amigos, onde tradicionalmente é vendido um
churrasquinho no espeto assado em brasas, para saborear um de camarão, com
risco de ficar engasgado. Mas me dei conta de que todo aquele aparato era para
proteger um caminhão carregado de botijões de gás.
Falando em Bolsonaro, sua eleição para presidente veio mostrar
que não devemos lamentar tanto o presente, uma vez que o futuro é sempre pior,
que essa história de chegar ao fundo do poço é ficção, com o Brasil se
mostrando um buraco sem fundo. Mas não sou de todo pessimista. Na perspectiva
do futuro, vejo que o presente está ruim, mas está bom, já que caminha para ser
pior. É assim que pensa certo tipo de brasileiro: está ruim, mas está bom.
Esta reflexão me ocorre após a leitura de uma notícia através
de meu querido smartphone: uma liquidação de cebolas em um supermercado na
região administrativa de Planaltina, no Distrito Federal, causou confusão entre
clientes. Tal fato sucedeu no domingo (1º.mai.2022). O produto estava sendo
vendido por R$ 0,99 o quilo. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram
consumidores brigando para encher o carrinho (aparentemente, não houve mortes e
ninguém ficou seriamente ferido). O episódio se deu durante a inauguração de
uma unidade da rede Atacadão Dia a Dia.
Como todo mundo sabe (embora muitos finjam que não sabem), o
projeto de governo de Bolsonaro é destruir tudo de bom que foi feito até agora
no país. De forma brilhante, ele está conseguindo: em um supermercado, as
pessoas se agridem por causa de cebolas; em frente a um outro, tentam pegar
retalhos de osso para, quem sabe, fazer ensopado em fogões alimentados a
gravetos e pedaços de papelão.
Como bem diz Machado de Assis: ao vencedor, leite condensado,
picanha, vinho, prótese peniana, viagra e camarão; ao vencido, as cebolas e
osso para roer.
Etelvaldo Vieira de Melo
1 comentários:
Ainda acho que pior são os eleitores. Bostonaro está realizando um projeto pessoal e ficando muito rico, juntamente com os milicos. Meu pai os chamava de cachorrada do governo!
Esses que vão pra rua defender a barbárie sao piores! Elite podre perversa, classe me(r)dia burra e pobraiada ignorante …. Conhecimento emprestado dá nisso mesmo… um país de gente sem sensibilidade, sem afeto… turma do diazepam 🤷♀️
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