(UMA HOMENAGEM AOS INGLESES NA
CELEBRAÇÃO DO JUBILEU DE PLATINA DE SUA IMPERATRIZ, A RAINHA ELIZABETH II)
Não, não tenho nenhuma disposição de crítica quanto
ao modo inglês de ser, muito pelo contrário. Olhando para meu histórico de
vida, percebo heranças que remontam a acordos comerciais entre aquele reino e
Portugal, quando o Brasil não passava de incipiente colônia. Até mesmo o título
deste blog é uma deferência para com os ingleses: BBCr é uma forma que encontrei
de pegar carona com a famosa emissora BBC – Blog das Belas Coletâneas
ridículas foi o nome sugestivo e apelativo, elegante e charmoso,
insinuante e provocativo que encontrei para que meu espaço na Internet tivesse
o merecido destaque frente à enxurrada de concorrentes. Minha esperança era de que
alguém, ao pesquisar a BBC, sem querer esbarrasse na BBCr, em jogo de vale tudo
nessa terra hostil e sem lei, frequentemente assaltada por bandoleiros
modernos, denominados hackers, que infestam computadores com vírus letais.
Não haveria problema se eu assumisse uma postura
ácida quanto ao tema (principalmente quando, em se tratando de política, vejo a
subserviência da Inglaterra com os Estados Unidos, ou, por causa de seu jeito
fleumático, o inglês passe certo ar de arrogância). Sendo que isso, dada a
minha insignificância, não venha a afetar a ordem das coisas, vamos arrolar algumas
esquisitices e outro tanto de qualidades que observo no comportamento do povo
inglês. Primeiro, falemos das referências.
Na
Literatura, relegando o ícone da dramaturgia William Shakespeare, destaco as
lembranças de Charles Dickens, com seus romances de crítica social, notadamente
Oliver Twist e David Copperfield, além de seus memoráveis contos
de Natal; Thomas Hardy, com seu melancólico Judas, o Obscuro; W.
Somerset Maugham, autor do clássico Servidão Humana.
Quase cometo o deslize de incluir A. J. Cronin
nesta relação de escritores fantásticos, ele que foi autor de obras memoráveis
que embalaram muitos sonhos de minha adolescência: A Cidadela, O
Castelo do Homem sem Alma, Sob a Luz das Estrelas e tantos
outros. É quando me dou conta que não se trata de um escritor inglês, mas
escocês. Como na busca de compreensão do mistério da Santíssima Trindade,
torna-se difícil para um simples mortal latino-americano, sem dinheiro no bolso
e vindo do interior, entender que a Grã-Bretanha é uma das ilhas Britânicas,
composta por Escócia, Inglaterra e País de Gales; juntamente com a Irlanda do
Norte – além de outras ilhas menores e diversos territórios ultramarinos -
formam o Reino Unido.
No mundo do cinema, a Inglaterra se notabiliza com
elenco de excepcionais atores: Julie Andrews, Albert Finney, Jeremy Irons,
Boris Karloff, Vanessa Redgrave, Tim Roth, Peter Ustinov, Rachel Wisz, Kate
Winslet e - por que não? – Elizabeth Taylor. Mas como deixar de mencionar Sarah
Miles e seu desempenho em A Filha de Ryan? Como ignorar Jean Simmons,
memorável em Spartacus e em Deus e o Pecado? Uma citação menor,
mas de especial significado para mim e de quem guardava pedaços de película, é
a da musa de minha adolescência Hayley Mills, que fez sucesso em filmes da
Disney, destaque para Pollyanna.
E o que dizer dos diretores ingleses?
Por que não começar com o indescritível Charlie
Chaplin, de O Garoto e Tempos Modernos? Como esquecer seu
discurso em O Grande Ditador? Depois, vem a lembrança do mestre do
suspense Alfred Hitchcock, de Os Pássaros, Um Corpo que Cai
e Psicose. Depois, David Lean, com Lawrence da Arábia, Dr.
Jivago e Passagem para a Índia. Termino essa relação com Ridley
Scott, diretor de Prometheus, Gladiador e o diferenciado Blade
Runner – O Caçador de Androides.
Terminando essa série de referências culturais,
resta falar da música. A Inglaterra parece ser a nação que abriga maior
quantidade de músicos por metro quadrado. É inumerável a quantidade de
intérpretes e bandas. Exemplos? Podemos começar com aquela banda que foi a
maior de todos os tempos, não só marcando a música como também os costumes: The
Beatles. Mas existem outras e outros famosos: Black Sabbath, Coldplay, The
Hollies, Led Zeppelin, Oasis, Pink Floyd, Status Quo, The Holling Stones, The
Animals (pela música The House of the Rising Sun), ficando só no
universo das bandas.
Os ingleses inventaram o futebol e a Inglaterra
abriga as principais escuderias da Fórmula 1. Os eventos culturais e esportivos
ali primam pela organização e qualidade. Daí, a nossa observação ciumenta e
invejosa “pra inglês ver”, quando queremos algo pelo menos aparentemente bem
cuidado.
No plano das esquisitices, chama a atenção o fato
dos carros ingleses terem a direção do lado direito. Remonta esse costume ao
tempo das carruagens, quando os cocheiros ficavam assentados do lado direito
dos coches, para não trocarem agressões com chicotadas quando cruzassem com
outros cocheiros? Sei que o costume das pessoas se cumprimentarem apertando as
mãos se deve ao receio de serem agredidas com socos; por isso, o cuidado de
segurar a mão do outro num aperto de mãos...
Outra coisa estranha e peculiar aos ingleses é a
mania de aposta. A Inglaterra é chamada de reino das apostas. No casamento real
de William e Catherine, tudo era motivo de apostas: se a noiva deixaria o noivo
no altar, se o carro dela iria quebrar a caminho da igreja, quem seria o
primeiro a chorar, se a mãe da noiva ou o cantor Elton John. A Bolsa de Apostas
de Londres opera tanto quanto as Bolsas do Mercado Financeiro...
Mania de inglês é a de promover leilões até de
coisas banais e insignificantes. Frequentemente, tomamos conhecimento de
eventos em que peças íntimas de personalidades são leiloadas. Resumo da ópera:
qualquer bugiganga passível de render algum trocado pode ser levada a leilão.
Como os ingleses são exímios negociadores, peças encalhadas podem render bons
dividendos. Assim, o vestido que Amy Winehouse usou na capa de Back to Black
foi vendido pela bagatela 43.200 libras; o excêntrico artista plástico Damien
Hirst leiloou um touro em tanque de formol, com cascos, chifres e cabeça
coroada por um disco de ouro por US$18,6 milhões; um anuário com foto de
Madonna aos 13 anos de idade foi a leilão na Casa Christie’s, com expectativa
de venda no valor de 1.500 libras. A Casa também iria leiloar uma calçola usada
pela artista no filme Procura-se Susan desesperadamente, de 1985,
avaliada em 800 libras. Se um suposto dente de John Lennon foi arrematado por
10 mil libras em outubro de 2011 e colheres do navio Titanic, que afundou em
1912, foram vendidas como preciosidades, não é o caso de baixar desespero para
alguém em dificuldade financeira. Basta descobrir, encontrar ou até mesmo
inventar algo exótico e extravagante, enviar para uma Casa de Leilão na
Inglaterra e torcer para obter bons dividendos.
Como minhas finanças não estão voando em céu de
brigadeiro, estou propenso a estabelecer uma aposta. Nas comemorações dos
Jubileus de Diamante (2012) e Platina (2022) da Rainha Elizabeth II, o mundo
assistiu a eventos que realçam uma peculiaridade do inglês: o culto da
autoridade. Nas comemorações do Jubileu de Diamante, casualmente assisti ao
desfile da carruagem real, acompanhada pela cavalariça. O locutor descrevia os
cavalos que puxavam a carruagem. Nós, simples mortais, ficamos sabendo que eram
da raça Cleveland Bay, o mais antigo dos cavalos nativos da Grã-Bretanha, cuja
seleção enfrenta controles rígidos; que se trata de um cavalo de temperamento
estável, versátil e resistente; que 30 desses cavalos são mantidos no estábulo real...
Enquanto tantas informações relevantes eram repassadas, percebi que muita
sujeira era deixada no asfalto. Pois bem, creio que alguém, após o desfile se
deu ao trabalho de juntar um tanto daquele cocô e de guardá-lo em casa. Daqui a
cem anos, um dos herdeiros irá levar aquela preciosidade para leilão,
possivelmente na Christie’s. Minha aposta, na proporção de 3 para 1, é a de que
isso vai ocorrer. Meus descendentes e os de meu opositor poderão acertar o
resultado dessa disputa. Leiturino, quer ser você a apostar comigo?
Etelvaldo Vieira de Melo
1 comentários:
Etel
Seu texto é um excelente ensaio. Clássico e de fina ironia. Fantástico. Meu abraço tropical,
Mauro Passos
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