Estamos vendo hoje: nem tiro de fuzil e nem veneno mortal
são tão fatais como a palavra maldosa e mentirosa. É por isso que está escrito
no Evangelho: “Por tuas palavras serás condenado”.
A palavra é o espelho que melhor reflete a imagem do que
você é. Daí, se você quiser se conhecer, analise as palavras que profere.
Existem pessoas que temem as palavras. Tom Jobim, por
exemplo, dizia: “Cuidado com as palavras. Eu digo ‘Maria’ e fico achando que
conheço Maria. As palavras são enganadoras”.
Existem outras para quem elas são assustadoras. Belchior
cantava: “Sons e palavras são navalhas”.
Existe aquele que acredita poder brincar com as palavras.
Uma hora as coloca aqui, outra hora as joga para lá; em certos momentos, quer
que elas sirvam à verdade, em outros, que elas se prestem à tapeação. Para ele,
a palavra é pura conveniência. Usada para atender a interesses, ela passa a ter
um preço e serve a quem lhe paga mais.
Existem outros que vivem de discursos. Porque as palavras
podem ser como embalagens de conteúdos vazios. Estes são os demagogos, que
vestem com palavras maiores suas ideias menores.
Existe pessoa que reverencia a palavra, conferindo-lhe
poderes sobrenaturais. Para ela, a palavra é pura magia. Em sua boca, mais do
que testemunho de fé, a palavra se torna instrumento para enganar os ingênuos e
crédulos.
Porque tem gente de muito palavreado, mas que não tem
coração. Seria preferível que deixasse de ter a palavra, mas que tivesse
coração.
Estejamos atentos. Quando a palavra se mostrar cheia de
falsidade ou arte, é melhor prestar atenção ao olhar, pois ele é a linguagem do
coração.
Procuro tornar as palavras minhas amigas. Não as trato mal
e nem as desprezo, a não ser por ignorância ou por dificuldade em expressá-las.
Também gostaria muito que elas pudessem estar a serviço do bem, que elas
contribuíssem para tornar esse mundo melhor, um lugar mais agradável, onde as
pessoas pudessem viver em paz, construindo a felicidade.
Gostaria que as palavras não pudessem ser usadas para
servir à mentira e à falsidade. Quando alguém fosse dizer uma mentira, queria
muito que ele se engasgasse com as palavras, não conseguindo dizer nada.
Vejo que o mundo seria um lugar maravilhoso se houvesse
mais respeito com as palavras. Assistindo a um noticiário pela TV, por exemplo,
junto com a imagem, que não deixa de ser uma palavra, ouviríamos aquelas
outras, que chegariam aos nossos ouvidos de forma límpida e nos ajudariam a
entender cada vez mais e melhor o mundo, as pessoas, os acontecimentos.
Gostaria mesmo que a palavra estivesse a serviço da
verdade. Você poderia perguntar: O que é a verdade? Eu não saberia responder,
nem da forma como entendo e nem da maneira que você seria capaz de entender ou
aceitar. Mas isso não importa, já que a verdade não é propriedade minha, nem
sua, mas da vida e, por isso, todos sabemos o que é, mesmo sem conseguir
traduzi-la em palavras.
É assim que vejo as palavras. Quisera que sempre estivessem
a serviço do bem, ajudando a colorir o mundo e a vida das pessoas. Olhando ao
redor, vejo tanta coisa sombria! Eu me pergunto: não há como melhorar tudo
isso, resgatando a alegria, o amor e a paz? Acredito que, uma das formas de
tornar isso possível, seja através da palavra. Uma boa palavra, uma palavra bonita,
sincera, transparente, uma palavra honesta. Uma simples palavra.
Etelvaldo Vieira de Melo
2 comentários:
Excelente e verdadeiro texto.
Palavras: as vezes muro, as vezes ponte.
Excelente reflexão!
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