O NARCISISMO DA SELFIE

 

Elis Queralt (*)

Estava aqui, observando minha mente a observar uma minha selfie com um sorriso enorme! Constatei o quanto a selfie instiga e dá vazão ao narcisismo.

Lembrei das fotos analógicas antigas com toda aquela essência da naturalidade, onde não havia ali nenhuma intenção de informação, como a selfie digital, e era apenas algo factual. Nas fotos antigas não existia nenhuma subjetividade construída em torno da admiração “por si”, e nem a dificuldade de superar essa imagem construída a partir de algum fato.

A gente pensa que narcisismo é gostar de si mesmo, mas pra psicanálise, de uma certa forma, tem um sentido oposto. A pessoa precisa o tempo todo se sentir aprovada, quer prestígio e ser admirada. O NARCISISTA É A PESSOA QUE DUVIDA DELA MESMA, e está constantemente preocupada em encontrar no olhar dos outros a aprovação e a confirmação de que ela não é uma b0st@.

Voltei a observar minha selfie digital sorridente, e percebi que não a guardaria como uma coisa do coração, como guardo uma foto analógica, com expressão triste, ao lado de minha mãe.

Parece que a humanidade está se desmaterializando aos poucos.

Nada é tão atual como as palavras viscerais de Jesus, disse o Caio Fábio: “Quanto mais a iniquidade cresce, quanto mais a injustiça aumenta, mais o amor vai se esfriando e a gente vai naturalizando a indiferença, a perversidade. A gente vai chamando de meu cotidiano, a minha morte todo dia. Não tem amor que sobreviva a isso! Não só o meu amor vai morrendo, mas eu vou matando amor em volta de mim o tempo todo. Eu vou me tornando um assassino coletivo do potencial do amor na sociedade humana.

Essa volta narcisística e esse culto a nós mesmos como imagem, não tem amor nem significação que resista a essa cultuação.  Ela é tão profundamente instalada em nós, que o que sobra é NADA!”

Eu sou, eu fiz, eu serei, eu, eu, eu (….).

O ruído patológico do “eu” continua ininterruptamente para sempre, ou pelo menos até sermos separados dele pela morte.

(*) Colaboração.

1 comentários:

Anônimo disse...

Esta crônica é profunda, pois trata de um tema que é visível em nosso cotidiano. Também percebo que estamos perdendo a nossa humanidade, embora muito se fala a respeito. Abraços. Parabéns.
Marcos G. Soares

Postar um comentário