Estava
aqui, observando minha mente a observar uma minha selfie com um sorriso enorme!
Constatei o quanto a selfie instiga e dá vazão ao narcisismo.
Lembrei
das fotos analógicas antigas com toda aquela essência da naturalidade, onde não
havia ali nenhuma intenção de informação, como a selfie digital, e era apenas
algo factual. Nas fotos antigas não existia nenhuma subjetividade construída em
torno da admiração “por si”, e nem a dificuldade de superar essa imagem
construída a partir de algum fato.
A gente
pensa que narcisismo é gostar de si mesmo, mas pra psicanálise, de uma certa
forma, tem um sentido oposto. A pessoa precisa o tempo todo se sentir aprovada,
quer prestígio e ser admirada. O NARCISISTA É A PESSOA QUE DUVIDA DELA MESMA, e
está constantemente preocupada em encontrar no olhar dos outros a aprovação e a
confirmação de que ela não é uma b0st@.
Voltei a
observar minha selfie digital sorridente, e percebi que não a guardaria como
uma coisa do coração, como guardo uma foto analógica, com expressão triste, ao
lado de minha mãe.
Parece
que a humanidade está se desmaterializando aos poucos.
Nada é
tão atual como as palavras viscerais de Jesus, disse o Caio Fábio: “Quanto mais
a iniquidade cresce, quanto mais a injustiça aumenta, mais o amor vai se
esfriando e a gente vai naturalizando a indiferença, a perversidade. A gente
vai chamando de meu cotidiano, a minha morte todo dia. Não tem amor que
sobreviva a isso! Não só o meu amor vai morrendo, mas eu vou matando amor em
volta de mim o tempo todo. Eu vou me tornando um assassino coletivo do
potencial do amor na sociedade humana.
Essa
volta narcisística e esse culto a nós mesmos como imagem, não tem amor nem
significação que resista a essa cultuação. Ela é tão profundamente instalada em nós, que
o que sobra é NADA!”
Eu sou,
eu fiz, eu serei, eu, eu, eu (….).
O ruído patológico do “eu” continua ininterruptamente para sempre, ou pelo menos até sermos separados dele pela morte.
(*) Colaboração.
1 comentários:
Esta crônica é profunda, pois trata de um tema que é visível em nosso cotidiano. Também percebo que estamos perdendo a nossa humanidade, embora muito se fala a respeito. Abraços. Parabéns.
Marcos G. Soares
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