Imagem: IStock |
Nas
escolas de antigamente, os estudantes estudavam, sendo que a leitura de livros
fazia parte do processo de aprendizagem. Daí, os estudantes tinham que ler
muitos livros. Com o passar do tempo, pedagogos foram se apiedando dos pobres
adolescentes, dispensando-os de atividades tão maçantes, substituídas por jogos
e outras de lazer, que ninguém é de ferro. Estou falando isso porque, há pouco
tempo, caí na besteira de publicar um livro. Achei que seria no ambiente
escolar que iria encontrar a maior parte dos possíveis leitores. Desisti na
primeira investida quando, ao abordar uma professora, ela, tapando a boca com a
mão esquerda e fazendo um gesto de empurrar com a direita, falou:
- Que
você me desculpe, mas tenho alergia só de ouvir a palavra “livro”.
Deixei
pra lá, e os livros continuam empilhados lá no quartinho da dispensa de casa.
Se, por um lado, minha experiência foi ruim, por outro foi boa. É que consegui
realizar aquela tríade de objetivos da vida de um ser humano: plantar uma
árvore (olha o dia da árvore aí, gente!), ter um filho, escrever um livro.
Maktub!
Mas,
voltando aos tempos de antigamente. Vendo que os estudantes viviam
sobrecarregados com a tarefa de ler muito, alguém teve a ideia de inventar um
curso de “leitura dinâmica”. Através dele, um livro, que iria gastar umas cinco
horas de leitura, poderia ser degustado em pouco mais de cinco minutos, ao
tempo das páginas serem passadas lentamente uma a uma.
Não
cheguei a fazer um curso de leitura dinâmica, mas ela, a leitura dinâmica,
chegou hoje ao meu encalço, e ao de todo mundo, com a Internet, os telefones
celulares, as Redes Sociais. Porque hoje as notícias são digeridas pelas
manchetes, que ninguém se dá ao trabalho de perder tempo, buscando saber e
compreender os detalhes. Sendo assim, as manchetes são cuidadosamente
elaboradas para que suas mensagens sejam prazerosamente engolidas pelos
incautos internautas. Elas são apresentadas de forma axiomática, como se fossem
verdades absolutas, a não permitir o mínimo de contestação. Daí, qual rastilho
de pólvora, irão se espalhar pelas bolhas das redes sociais, fazendo seus
estragos.
Vamos a
um exemplo, que estou naquela fase de matar a cobra, passando atestado, e
acredite quem quiser, que estou me lixando.
Vivemos
o período pré-eleitoral, para a escolha de prefeitos, vereadores e parte de
senadores. É uma época onde rola muito dinheiro, deixando muita gente de
barriga cheia. Se, antes, a campanha ficava por conta dos “santinhos”, dos
postes de luz (e dos “joões do poste”), dos cabos eleitorais e dos votos de
cabresto, a coisa hoje sofisticou um pouco, caindo nas Redes Sociais. E o
negócio passou a ser produzir notas curtas, os chamados “cortes”, para serem
espalhadas pelos robôs. As redes de notícias irão dar o suporte logístico
necessário.
Tivemos
no domingo, dia 15 de setembro, um debate entre os candidatos à prefeitura de
São Paulo, produzido e transmitido pela TV Cultura. A certa altura, após sofrer
várias agressões morais do oponente Pablo... (como é mesmo o sobrenome dele?
Marçal, achei aqui anotado), José Luiz Datena foi em sua direção, agredindo-o
com uma cadeirada. Na segunda-feira, fomos bombardeados com as repercussões do
acontecido.
-
“Marçal teve fratura na costela e está com braço imobilizado”, esbravejou a
CNN, indo além do que disse, no momento, a assessoria do candidato Marçal (que
levantou apenas a sus-pei-ta de fratura) e do que não disse o hospital;
-
“Marçal fala sobre estado de saúde e dispara contra adversários após agressão
em debate”, corrobora a Rádio Itatiaia, farinha do mesmo saco da CNN, tanto
física quanto ideologicamente falando;
- “Datena
dá seu show de horror. É grave! Pablo Marçal hospitalizado!”, repercute vídeo
do YouTube, usando logotipo G1;
- “Pablo
Marçal ganha seguidores nas redes sociais após agressão em debate”, arremata o
Correio Braziliense.
Estando
as mensagens subliminares das reportagens de jornais e revistas contidas nos
seus títulos, já que quase ninguém vai se dar ao trabalho de ler seus conteúdos,
é com base em leituras superficiais que as pessoas tiram suas conclusões e
fazem seus juízos de valor. Daí, podemos dizer que estamos perdidos num mato
sem cachorro, diante da avalanche de notícias falsamente produzidas e embaladas
por uma mídia subserviente ao poder dos tubarões da Faria Lima, todos temerosos
de que o controle político caia nas mãos de quem não atende diretamente aos
seus interesses.
O
saudoso Jô Soares dizia: “Se a propaganda é a alma do negócio, que nenhum
negócio seja a alma da propaganda”. No Brasil, os poderosos pensam assim: “Por
dinheiro, vendemos a alma ao capeta. E o povo que se dane”. E, felizes, vão
abraçar os capetas em figura de gente, enquanto pastores e padres dão a bênção.
Etelvaldo Vieira de Melo
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