Desesperar
jamais. Assim diziam Vítor Martins e Ivan Lins em música de 1979, quando a
Ditadura Militar ainda corria solta, mas com os clarões da Liberdade já
despontando no horizonte. Para mim, são emblemáticas duas passagens da letra.
“Aprendemos
muito nesses anos”. Olhando para o atual quadro político brasileiro, em 2024,
eu me pergunto se de fato aprendemos alguma coisa ou se estamos repetindo os
mesmos erros. Quando vejo a Imprensa tratando a “pão de ló” (não é mesmo, dona
Folha de São Paulo?) aqueles que quase nos jogaram de novo nos braços da
Ditadura, percebo que ela, a Imprensa, é cínica e debochada, já que está
atrelada aos interesses dos poderosos da chamada “Faria Lima”, pouco se lixando
para os ideais de Liberdade e Democracia. Se julgam que estou exagerando, basta
ter olhos para ver os resultados das eleições municipais deste ano, com o país
caminhando perigosamente para as mãos da extrema direita, aquela que prega a
lei do mais forte, com o resto que se dane.
“Cutucou
por baixo, o de cima cai / Cutucou com jeito, não levanta mais”. Aqui cabe uma
crítica direta ao Poder Judiciário e ao Procurador-Geral da República, eles que ficaram postergando, procrastinando,
“empurrando com a barriga” (bem daquele jeitinho brasileiro) as medidas legais
contra aqueles que alimentaram, provocaram, financiaram as tentativas de golpe
de Estado (não foi uma só, não). As arraias miúdas, os peixinhos, até que foram
um pouco penalizados. Mas onde estão os mentores e os tubarões?
Existe
um provérbio japonês que diz assim: “Em vez de perseguir o gato, tire o seu prato”,
ou seja: o mal tem que ser cortado pela raiz, pois não dá para ficar correndo
atrás. Cutucar com jeito significa fazer justiça logo. Nesse país, quando pobre
é suspeito de fazer algo errado, nem mesmo é julgado, logo é preso e condenado.
Já para os ricos e poderosos, a justiça é postergada e caduca por decurso de
prazo. Pelo andar da carruagem, corremos o risco dos inelegíveis retomarem o
poder e os peixinhos miúdos, agora presos (coitadinhos, tão bonzinhos!) serem
soltos e indenizados, vítimas que foram de danos físicos, religiosos, sociais,
psicológicos e morais.
“Já
tivemos muito que chorar”, ainda falam Vítor e Ivan. “Pelo andar da carruagem
se conhece quem vem dentro”, este é o ditado completo. Olhando pra quem está
dentro dessa carruagem da Legislação e da Justiça no Brasil, pressinto ainda muito
choro para aqueles que querem um país justo, solidário, desenvolvido,
democrático. Quem viver verá.
Etelvaldo
Vieira de Melo
2 comentários:
Disse tudo o que penso porém não sei por em letras
Clodomiro Bannwart*
Ontem, na capital Federal, morreu um cidadão. Morreu de ódio. Sim, morreu envenenado de ódio. Ele morreu com o desejo de matar. Morreu atirando bombas e destilando fúria contra as instituições da República. Morreu como lobo solitário, saudoso da turba do 8 de janeiro. Registraram os jornais o óbito do senhor Francisco Wanderley Luiz. O cidadão que nela habitava já havia morrido desde quando o rancor passou a ser ofertado como elixir pela extrema-direita. Já havia sido morto desde o dia que foi alvejado pela fúria do gabinete do ódio. Morreu como terrorista. Um corpo insepulto na praça dos Três Poderes, no coração da República. Dói perder um cidadão. O discurso de ódio mata. O fanatismo também! Que os políticos histriônicos reflitam o que plantaram no país. Que os religiosos de arminha em punho repensem o fanatismo maniqueísta que ajudaram a endossar nos púlpitos de suas igrejas.
*Academia Londrinense de Ciências, Artes e Letras
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