COM-SENTIR, O SENTIMENTO QUE NOS FALTA



Mal o Ano Novo começara e já estava eu ligando para o amigo Tião, pedindo-lhe um favor. Tião é um pedreiro aposentado, mas que, uma vez ou outra, costuma me prestar pequenos favores. Dessa vez, era um vazamento ocasionado pela chuva, infiltrando pelo muro com o vizinho e saindo exatamente dentro de um armário em área coberta junto à casa.

Antes de falar sobre o problema, quis saber como havia passado o Natal e a entrada do Ano Novo.

- Correu tudo bem.

- E aí, animado para o ano que começa? – continuei o pingue-pongue da conversa.

- Estou bem animado.

- Bom, Tião. Espero que tenha um ano com muita saúde, paz e alegrias.

- Obrigado. Também espero que todo mundo, todas as pessoas tenham também um ano assim.

- Como assim? – eu quis saber.

- É que não faz sentido eu ser feliz sozinho. Todo mundo merece ser feliz. E tudo irá ficar melhor se todos forem felizes.

De maneira simples e direta, Tião acabara de tocar em um ponto essencial e que deveria ser a preocupação de todos: tornar a Terra um lugar de felicidade para todas as pessoas.

Quando olhamos para as manchetes dos jornais que circulam no dia a dia, ficamos assustados com o egoísmo, a irresponsabilidade, a ganância e a insensatez das pessoas e, especialmente, dos governantes que teimam em plantar a discórdia, o ódio, a destruição da Natureza. Parece até que a felicidade individual só é possível em cima da desgraça dos outros!

Tal consideração me faz lembrar o que disse Simone de Beauvoir em um de seus textos. Ele diz mais ou menos assim:

Pergunto para certa pessoa, que demonstra um ar de preocupação:

- Está preocupado com as milhares de crianças que morrem de fome no interior do Sudão do Sul, ou com as que morrem em Gaza?

- Que nada! – ela me responde. – Minha preocupação é com um sapato que está me apertando o pé!

Mas existe alguém que se preocupa com as crianças que morrem de fome no interior do Sudão do Sul, com as que morrem em Gaza. Se eu disser para ela:

- Por que você se preocupa? Você não passa fome?

Ela irá me responder, quase com raiva:

- Como posso ser feliz vendo outras pessoas sofrendo?

Está aí um propósito a ser cultivado neste ano novo: o de sempre nos colocarmos junto dos outros, buscando sentir seus sentimentos, “com-sentindo” com suas alegrias e tristezas. Penso que, se as pessoas e os governantes buscarem a felicidade própria na felicidade dos outros, certamente o mundo todo será bem melhor. Esta é minha intenção para o novo ano, que já caminha a passos largos: ter o cuidado de enxergar pelo menos um palmo à frente de meu próprio nariz.

Etelvaldo Vieira de Melo


1 comentários:

Anônimo disse...

Acho que os governantes, precisa pensar assim!


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