"Existem certas vantagens em não
saber" é uma frase da escritora brasileira Clarice Lispector.
A frase completa é: "Existem certas
vantagens em não saber.
Como um território virgem, a mente está
livre de equívocos.
Tudo o que não conheço constitui a maior
parte de mim: esta é a minha dádiva.
E com esse não saber, eu entendo
tudo."
Expectativa: qual o verdadeiro sentido
dessa palavra, baseada na esperança do que ainda não existe e em pressupostos,
promessas e probabilidades?
Talvez seja melhor compreender primeiro,
o que seja o contrário de expectativa: imprevisível, incalculado e inesperável?
E quem quer a dúvida? Nós queremos mesmo
é a certeza!
Mas qual o sentido de ter expectativa ou
não ter expectativa, se a natureza do cosmo como um todo é a IMPERMANÊNCIA, e a
tendência do ego é sempre repetir os medos existenciais, busca do prazer e
afastamento da dor. No palco da vida,
estamos realmente nos identificando com a máscara que usamos ou temos medo de
abandonar o papel que estamos desempenhando?
O que temos feito, além de práticas
diversas como oração, yoga, meditação etc., para alcançar algo espiritual que
na verdade é parte da construção do ego? O que temos feito, além de práticas
diversas como busca de conhecimento e intelectualidade, reconhecimento, autovalorização,
se esquecemos o que somos e nem sabemos que esquecemos?
Podemos fazer nossa modelagem facial,
botox, preenchimento e o diabo, mas seremos sempre um desconhecido para nós
mesmos, e por mais que tentemos manipular a imagem refletida no espelho,
seremos sempre a fonte da imagem no espelho.
Então, qual o sentido de TER
EXPECTATIVA, se tudo pode ser colocado em dúvida, incluindo todo o conteúdo da
nossa mente e sentidos?
Sinto informar que não há em mim nenhuma
expectativa para 2025 e nem para nenhum ano seguinte, pois, se tivesse, estaria
condenada a rolar essa pedra eternamente, assim como Sísifo, tentando encontrar
um significado nessa existência absurda, onde se trabalha sem parar, consumidos
por um amanhã que nunca chega e finalmente morremos.
Creio que a LIBERDADE e a QUIETUDE são o
que fazem sentido para mim nesse momento.
E essa liberdade não pode depender de
eventos exteriores, e nem da expectativa em o que quer que seja, pois aceitar a
realidade como "ela é" e não como eu gostaria que fosse parece-me
mais lúcido.
Obviamente, quem tem expectativa, vai
continuar buscando fora o que deveria buscar dentro, vai continuar mentindo que
deseja paz e vota em quem quer guerra, violência, terror. Mentindo que é pelos
direitos humanos, mas continua a comprar produtos feitos com trabalho escravo.
Mentindo que ama os animais e vai comer seu bife e usar seu sapato de couro.
Mentindo que quer proteger o meio ambiente, mas continua a poluir e passar pano
para quem destrói a natureza (rios, montanhas, florestas etc.). Mentindo que
não quer ficar doente, mas continua com seus hábitos autodestrutivos e vícios,
que os torna suscetíveis a doenças. A expectativa parece ser um movimento, da
mente inconsciente, da própria INSATISFAÇÃO.
Expectativa de quê, se fomos nós que
criamos essa sociedade doente e caótica? Não se iludam, nossa digital está aí
nessa confusão.
Nunca tivemos acesso a tanto
conhecimento, porém nunca fomos tão limitados e ignorantes como estamos.
Nós criamos o mundo como ele é agora,
criamos o sofrimento alheio e o próprio, criamos a competição em todos os
níveis e criamos interesses pessoais como meta de vida. Quanto mais expectativa se tem, mais
divididos estamos, e isso cria mais sofrimento.
A solução é ter expectativa ou
reconhecer a verdade da divisão que todos nós criamos entre o eu e o outro, o
meu e o seu, homem e natureza, interior e exterior? As crises externas do nosso mundo refletem
as graves crises internas, pois não sabemos mais quem somos e estamos
completamente identificados e enfraquecidos pelos nossos medos. Raças,
religiões, países, afiliações políticas ou qualquer grupo que façamos parte, só
servem para reforçar essa divisão, que é uma prisão onde a mente está, onde
quer que se vá.
A nossa mente só conhece a continuidade,
nem pensamos que vamos morrer, e PERDEMOS O PRESENTE para o que virá a ser.
Dante, na Divina Comédia, escreveu na
porta do inferno: "Abandonai toda esperança, vós que aqui estais", e
isso deveria estar escrito em toda porta de igreja, templo, meditação etc. Mas
abandonar a esperança seria uma humilhação para o ego que vive do pensamento
(que é sempre o passado). Abandonar a esperança também é abandonar o medo, pois
todo nosso sofrimento é produzido por eles.
Ouvi alguém dizer um dia: "Todos
amam o salvador, mas ninguém quer subir na cruz", muito menos encarar o
vazio do Buda.
Qual o verdadeiro sentido de ter
EXPECTATIVA FUTURA de paz, dinheiro, amor, posses e bem-estar físico, SE A VIDA
ACONTECE AGORA, e tornar-se consciente disso é uma realidade possível, enquanto
o que virá a ser é apenas expectativa?
Felicidade, paz e bem-estar físico para
mim, é ter a capacidade de enfrentar a vida de maneira completa, em níveis
diferentes e em todas as ocasiões e intempéries que ela se apresente, em sua
magnânima IMPERMANÊNCIA.
Assim, pois, antes da morte, devemos sim
descobrir o significado da vida neste instante, pois VIVER é em si a
SIGNIFICÂNCIA E A SUA PRÓPRIA FINALIDADE.
Que em 2025 e sempre possamos viver em
plenitude, vendo as coisas como são, acolhendo toda experiência, agradável ou
desagradável, estando satisfeitos com o que temos, não estando confusos, mas
lúcidos, constatando que a REALIDADE só pode ser compreendida no viver e não na
fuga dela.
Que em 2025 e sempre a LIBERDADE também
seja em si a nossa finalidade, pois nela está contido o nosso começo e fim.
Que em 2025 e sempre tenhamos abundância
de amor, de sensibilidade ao silêncio e grande simplicidade!
A desilusão é necessária para se
observar a VERDADE.
Abraço fraterno.
Elis Queralt
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