Quem não tem colírio
usa óculos escuros.
(Raul Seixas)
Assim caminha a política no Brasil. Com meias palavras e
sem reticências começo este texto. Como tudo muda hoje, importa o uso do boné.
Cada partido político deve criar o seu boné – escolher a cor, o designer e a
confecção. A partir daí, estará estabelecida a marcha para o vazio – nova dieta
da política brasileira. Mais ainda: dois lados para bom uso – esquerda ou
direita (sem direito a árbitro). Assim, o boné cumpre sua missão – agasalhar
opiniões. Numa época aberta ao ilusório, o boné é o triunfo do devaneio. Nesse
sentido, uma nova fábula está sendo editada – “A cigarra e o boné”. Detalhe:
uma fábula sem moral. Na realidade, o boné vai-se tornando o centro da vida
política, pois Descartes foi descartado e a máxima filosófica moderna ganhou
outra métrica: “Tenho boné, logo existo”. As fake news e o marketing são os
novos fermentos políticos e viraram o carro-chefe dos discursos em defesa da
vida e da moral. Assim, o cantochão do sertanejo universitário e do funk
adormece as consciências, no cenário nacional e no calendário das cidades, com
performances, flashs mobs, shows, espetáculos, festas. Sem falar do Big Brother
e do futebol com seus heróis. Com isso posto, a indiferença e a resignação são
fofas almofadas que nem alcançam os bonés.
Os bonés de direita, extrema direita como também os
católicos evangélicos e os evangélicos católicos aplaudem a nova cartilha
política. Assim, a junção dos tempos se converte em unção dos tempos. Em um
quadro com essa moldura de bonés, “tudo que é sólido desmancha no ar”. E
informar de forma líquida é o caminho seguro, pois significa “impor forma”. Na
realidade, a promiscuidade já alcança os bonés. Por ser escandalosa, abafa e
mascara os ataques “chupetinhas”, sob pretexto de denúncia e em defesa de Deus,
da Pátria e da Família. As mídias, particularmente os canais de televisão,
receitam sucesso, lucro e prestígio com sofisticação e pinceladas sensíveis.
Sem a arca de Noé, restam “Jeremias sem chorar”.
No jogo das cadeiras, todas ficam na mesma ordem. Com os
bonés é diferente, podem ficar virados para trás ou para frente, para a
esquerda ou direita, como no regime democrático. No entanto, na política nunca
se produziu ‘tantos menos’ – menos cuidado, menos respeito, menos diálogo,
menos direitos, menos ação, menos política, menos ética, menos educação, menos
humanidade, menos tolerância, menos alegria, menos liberdade, menos futuro,
menos sonhos. Na visão de Chesterton: “Os governos lutam por colônias ou
direitos comerciais; por portos ou tarifas; por uma mina de ouro ou uma pesca
de pérolas. Parece suficiente responder que os governos não lutam de fato.” (*)
Não obstante, os políticos correm cada vez mais rápidos
para votarem cada vez menos. Muitas coisas não mudam, só os políticos mudam de
partido, mas com o mesmo boné. E permanecem no mesmo lugar, como também os
partidos, as instituições, as religiões e as leis. Difícil é saber que tipo de
político o cidadão brasileiro quer ter. Com boné ou sem boné? Concluindo: use
colírio antes de comprar o boné.
(*) CHERSTON, G. R. O homem eterno. São Paulo: Principis,
2020, p. 171.
(Prof. Mauro Passos)
3 comentários:
Como é bom ler uma mente sã! Aplausos pra vc Mauro!
Lembro quando a porta do hospício foi aberta. Tudo começou quando os imbecís, filhos de ex pobres, usurparam a camisa verde e amarela e a bandeira brasileira. Aécio foi o precursor da falaciosa, débil e imoral extrema direita.
Hoje a notícia é:
Brasil alcança menor nível de pobreza e extrema pobreza desde 2012.
Menor inflação desde o Plano Real.
Menor taxa de desemprego da série histórica. Menor endividamento das famílias. Menor nível de pobreza extrema.
Mas a fake news do chupetinha, endiabrado filho de pastor🤢, surtiu mais efeito, e Lula caiu pra 24% de aprovação!
Quanto aos Sertanejos, nos anos 90, o cantor Lulu Santos desabafou no programa do Faustão sobre como os sertanejos e a agromusica ajudaram a eleger Fernando Collor. Agronegócio e seu projeto foi muito bem feito pela extrema direita.Eles nunca engoliram o apoio massivo dos artistas em 89 ao Lula. 😢Destruíram a MPB.
Quem nasce hoje, já nasceu ouvindo esse lixo sertanojo
Destruir a cultura é a melhor forma de dominar um povo.
Sophie Flora
**** Sophia ( o editor ortográfico mudou pra Sophie)
O boné da vez, de hoje, está escrito:
TIC TAC TIC TAC
👨✈️
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