Nota Explicativa: Por fazer referência a determinada data, 21 de dezembro de 2012, o presente texto mereceu tratamento diferenciado, antecipando-se a outros que aguardam pacientes em fila. Como o tempo é inexorável e uma contingência da vida, ou ele aparecia agora - talvez prematuramente, ou corria o risco de não resistir a três meses de espera, conforme registro em sua senha de inscrição: Nº 19.

VANITAS VANITATUM

Preciso tomar cuidado com esses textos que ando produzindo e seus termos, uma vez que não sei onde poderão parar – se é que não ficarão guardados em uma gaveta de minha escrivaninha, sem irem à luz do Sol.

Sendo assim, tenho notado que estou me tornando uma pessoa muito linguaruda, eu que, por índole e educação, sempre fui um sujeito comedido, poderia até dizer enrustido, mas aí estaria dando margem a análises psicológicas que poderiam me transformar em sucata de Ferro Velho.

Então, para precisão de conceitos, estou usando o termo “linguarudo” com a conotação de quem fala demais, e não no sentido de designar alguém que tenha a língua grande. Enquanto falastrão, poderei estar ofendendo essa ou aquela pessoa, mas não pretendo machucar ou magoar ninguém. O acontecido é que, de repente, minha língua se soltou e não estou encontrando meios de ficar com a boca fechada.

No momento, o assunto que anda me incomodando já foi tratado em outra ocasião e será apresentado em oportunidade futura, quando falei do risco que as pessoas correm ao demonstrarem ostentação, exibindo para outros suas posses e pertences.

A ostentação ou exibicionismo de hoje é mais de cunho psicológico, quando determinada pessoa quer aparecer diante das outras por seus dotes intelectuais ou morais, procurando chamar a atenção.

Tempos atrás, nos estertores* (uma das 100 Palavras Exóticas Que Você Um Dia Deverá Pronunciar) da Ditadura, ou Regime Militar, dois políticos participavam de um debate televisivo; Tancredo Neves representava o MDB, enquanto Jarbas Passarinho pontuava em favor da Arena, sendo MDB e Arena os dois partidos políticos permitidos então.

Logo no Prefácio do debate, Jarbas Passarinho gastou todos seus trunfos, com seis ou sete citações, algumas delas em língua estrangeira. Assim, já pelo meio do programa, estava refém de Tancredo, uma esperta raposa na arte de argumentar, que tratou de colocar aquele passarinho em uma gaiola, terminando a discussão sendo ovacionado pelos telespectadores em suas casas.

Tempos depois, um Presidente da República, que se elegeu usando o slogan de “caçador de marajás”, prometeu matar a Inflação com um único tiro. Esqueceu-se de que aquele monstro requeria até mais do que uma rajada de metralhadora. Essa foi uma das razões pelas quais se tornou desacreditado, mesmo tendo, depois, recorrido a outros planos para remendar seu deslize verbal.

Vez por outra, ouvimos alguém anunciar o fim do mundo. Certos líderes arrebanham seus seguidores e os preparam para a hecatombe anunciada. Imagina a cara desses fulanos quando, passando a data fatal, nada de mais aconteceu! O “hit” do momento vem de um Calendário Maia e sua previsão de uma catástrofe para 21 de dezembro de 2012. Vamos ver no que vai dar. Aposto, com quem quiser, que não vai dar em nada. Se nada acontecer, estarei ganhando a aposta; se acontecer o pior, não estarei aqui para pagar o devido.

Ainda nessa linha de ostentação e exibicionismo, devo lembrar um professor de Geografia que, na primeira aula, dramatizou uma situação em que iríamos conhecer a Floresta Amazônica por meio de um voo de avião. Essa pessoa era mais um ator do que um professor. Pessoalmente, senti todas as expectativas e emoções proporcionadas pela aventura. Recorrendo à memória, entretanto, vejo ser esse o extrato de todo seu trabalho. Parece que o avião caiu no meio da floresta, por falta de combustível.

Tenho um parente que, por volta do término de sua terceira... quarta... não, de sua segunda relação matrimonial, apresentou-se perante o juiz todo arrumado, perfumado, sapato pra lá de social, calça presa por suspensório, camisa de manga comprida, enfim, estava todo elegante. Sua ex, no entanto, colocou um vestido de terceira categoria, até mesmo tomado de remendos, deixou os cabelos desalinhados, colocou umas sandálias tipo “havaianas” e parece que passou cinzas no rosto, para aparentar um aspecto sombrio e doentio. Quando confrontados perante o juiz, esse não pensou duas vezes para proferir a sentença: deu ganho de causa para todas as pretensões da ex, enquanto que meu parente voltou para casa sem nada, quase tendo perdido a própria calça, que se desprendeu do suspensório.

Falando tudo isso, vejo como é fácil enxergar um cisco no olho do vizinho. Entretanto, olhando para mim mesmo, observo que o sentimento de fracasso como professor, sentimento que carrego como uma cruz e uma dor permanente, vem de quando, nos primeiros contatos com os alunos, na pretensão de seduzi-los, esgotava meu repertório de trunfos, lançava-me na aventura de uma viagem sem combustível suficiente, ostentava uma aparência que contrariava radicalmente com minha pobreza franciscana, usava de uma erudição contrária à minha maneira de ser. Talvez se eu fosse eu mesmo, honestamente, colhesse melhores resultados. Poderia não ser bem sucedido, mas estaria sendo sincero, e a sinceridade é sempre um valor.

Pelo que foi dito e descrito, fica a certeza de que, no final, caso alguém possa se sentir ofendido com minhas palavras, esse alguém só pode ser eu mesmo.
Etelvaldo Vieira de Melo   

1 comentários:

Anônimo disse...

Etelvaldo,
Quero que você saiba que tenho acompanhado suas postagens no blog, da primeira à última. Estão ótimas, gostosas de ler, simples de entender, muito bom mesmo.
Estou torcendo pela continuidade do blog. Por falar em blog, você já encontrou seu anel de formatura?
Feliz Natal para você e sua família, Feliz 2013, cheio de sucessos e conquistas.
Abraços.
Antônio Fernandes (Biba) - Santo Antônio do Amparo - MG

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