O COPO VAZIO E O PAPA
Os jornais, as revistas e as emissoras de TV noticiam com alarde a renúncia ao papado de Bento XVI. Agora, qualquer declaração sua em público é explorada “ad nauseam”. Interessante como alguém sem nenhum apelo midiático, mistura de chuchu com repolho, de repente, por causa de uma decisão inusitada, torna-se popstar, figurinha disputada a tapas, manchete de noticiários, ídolo emergente de pessoas ávidas de celebridades a quem cultuar.
Consideração de tal natureza pode parecer injusta, já que não disponho de dados suficientes para avaliar uma pessoa com um histórico de vida merecedor de respeito. Mas esse exemplo nada mais representa do que um pretexto para outras considerações acerca da natureza humana e suas estranhas peculiaridades, independente de qualquer juízo de valor. Bento XVI estava fadado a ter um pontificado medíocre, apenas considerando a dimensão de marketing, graças a seu temperamento alemão e por suceder a um verdadeiro campeão de audiência, João Paulo II. De repente, não mais que de repente, toma a decisão de renunciar ao pontificado, atitude, se não inédita, pelo menos de uma raridade que chega a soar como surrealista. Não importa, pois a decorrência de tudo isso foi que ele demonstrou ter uma personalidade intrigante e provocativa das mais variadas insinuações possíveis.
É preciso observar, entretanto, que não só Ratzinger faz o mundo rodar. Nós mesmos – e a maioria das pessoas de nossa convivência – somos vistos como seres obscuros e medíocres em termos de projeção social. Isso é o que pode parecer, mas somos constituídos de valores inimagináveis que poderiam ser facilmente desvendados, se o mundo nos olhasse de maneira mais atenta e cuidadosa.
Por quase uma semana, a título de exemplo, tenho convivido – no Hospital Felício Rocho, de Belo Horizonte – com profissionais que colocam a pessoa humana acima dos interesses financeiros, tratando os pacientes com dedicação, carinho e respeito. Em um mundo onde prevalece a linguagem do egoísmo, chega a ser comovente estar num ambiente que transpira sentimento de humanidade.
O mundo da mídia, no entanto, o que mais quer é o circo, o espetáculo, o show que proporciona retorno em termos de lucros fenomenais. Até que a fumaça branca se espaireça pela chaminé da Capela Sistina, com o anúncio solene de que “habemus papam”.
Etelvaldo Vieira de Melo
1 comentários:
Etelvaldo,
Ontem, ao ligar para Sandra para ter notícias suas, tive a grata surpresa de saber que você estava com seu notebook, no hospital, escrevendo suas crônicas... Com o intuito de mandar uma mensagem carinhosa de nosso desejo de sua plena e rápida recuperação conheci seu blog: estou encantada! Você brinca com propriedade com as palavras... Só mesmo alguém com tamanha sensibilidade para fazer um link da situação que está vivenciando com a questão da renúncia do Papa... Um grande abraço!!!
Cristiane
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