O BOI, O LEÃO E A ÁGUIA
Não se assuste, estimado(a)
leitor(a), porque o título acima não quer dizer que eu vá propor ao seu cansado
e debilitado raciocínio aquele enfadonho, irritante Teste de Lógica, que lhe
convida a encontrar meios de atravessar
esses animais em uma balsa por um rio, sem que se trucidem uns aos
outros.
O título, na verdade, remete
a um livro de Pierre Weil, “O Corpo Fala”, livro esse que se encontra, há
muito, sumido de meu campo visual, mas cuja lembrança permanece vívida em minha
memória, segundo expressão de meu irmão, Vicente.
Pierre inventa uma nova
anatomia humana, dividindo o corpo em três partes: o abdômen representa a vida
vegetativa e é simbolizada pelo boi; o tórax, a vida sensitiva e seu símbolo é
o leão; por fim, a vida racional é expressa pela águia e se localiza na cabeça.
O esquema, então, é simples, assim:
* Abdômen = vida vegetativa > boi
* Tórax = vida sensitiva >
leão
* Cabeça = vida racional >
águia.
O autor também diz que o
lado direito do corpo está sob o domínio da razão; o esquerdo, do sentimento.
Essa divisão faz lembrar um
açougue, onde está estampado um mapa de um boi e suas partes. Você fica sabendo
onde estão os pedaços nobres e aqueles de 2ª, 3ª, 4ª categorias. Porque com os
bois (ou com as vacas, para não contrariar as feministas, que andam me olhando
de maneira enviesada), vale como nunca aquela máxima de Lavoisier de que nada
se perde, tudo se aproveita ou se transforma. Ultimamente, com o preço da carne
bovina custando os olhos da cara, nossa atenção se prende naqueles menos valorizados,
isso quando nos damos ao sacrifício de degustar uma carne. De minha parte,
penso seriamente em me tornar vegetariano, não por convicção, mas por
contingências da vida, maneira sutil de falar aperto financeiro.
Pierre Weil analisa as três
dimensões do corpo, mas não me lembro de seu estudo da parte racional, talvez
porque esteja me vendo mais para condor do que para uma águia propriamente.
O boi, ou vida vegetativa, é
exemplificado com o desenho de uma pessoa em determinada festa, recusando o segundo
(ou será o terceiro, o quarto?) pratinho de salgados. Ele faz um gesto com as
mãos, enquanto estica a barriga, querendo dizer = estou satisfeito.
O leão mereceu vários
exemplos, com destaque para aquele de um motoqueiro que, em final de semana,
desfila em sua moto pelas ruas do bairro, com o leão todo estufado:
vrum-vrum-vruuummm... esgoela a moto, chamando atenção das meninas para o “gato
angorá”, todo emplumado de tão metido.
Quando minha filha era
pequenina, saíamos em passeio pelas ruas do bairro. Muitas pessoas comentavam:
- Que menina linda!
Eu estufava o peito, com o
leão todo orgulhoso.
Tem pessoa cuja autoestima
anda muito em baixa, com o leão rastejando. Se você chegar até ela e,
discretamente, fizer um elogio, verá como seu leão desperta, abre os olhos e dá
um rugido de satisfação.
Mais ou menos isso aconteceu
comigo, nessa aventura de criar um blog. Eu me sentia incomodado diante da
pouca repercussão com as postagens. Dias desses, recebi um e-mail de meu amigo
Biba, dizendo que tinha lido tudo e que estava gostando muito. Eu lhe disse
para postar um comentário no blog, pois estaria fazendo um bem danado pro meu
ego, pro meu leão, para minha autoestima.
Uma última referência ao
livro de Pierre Weil é uma ilustração de um casal, sentado em um banco. O rapaz
puxa os ombros da menina em sua direção com sua mão esquerda (“quero subjugar você”), prende as mãos
da garota com sua mão direita (“você vai
ficar presa a mim”), todo seu corpo está voltado para ela (“vem cá, chega mais perto”). A garota,
por sua vez, está dividida entre sentimento e razão: “quero, mas não posso”. Seu corpo se encurva em direção ao rapaz (“você me domina”), fecha as pernas (“não, eu me fecho”), prende o pé
direito no pé do banco (“não, não quero”),
mas seu pé esquerdo se volta para o rapaz (“sim,
eu quero”).
E, assim, mostra-nos o autor
a linguagem da expressão corporal. Muito educativo você observar aquele fulano
que, numa apresentação, fala “Muito
prazer”, com tom de voz de descaso, mas, quando aperta a mão do outro,
parece que ela está dando choque, pela rapidez com que retira os dedos.
Educativo observar se uma pessoa está à vontade na casa do outro, quando –
sentado na poltrona – seus pés teimam em apontar a direção da porta. Educativo
também ver uma pessoa demonstrar seu desconforto quando, conversando com
alguém, fica o tempo todo com os braços cruzados.
Junto à linguagem corporal,
temos a linguagem das palavras, que coisa!
Minha amiga Nina teima em
achar que tenho algum conhecimento de inglês, por causa de uma crônica em que
falo da onda de estrangeirismo. Estando viajando por estradas americanas em
direção à Flórida, quase atropela um “deer” – foi assim que ela me descreveu
por e-mail. Corri ao minidicionário para saber se tratava de algo tenebroso.
Fiquei sabendo que significava um cervo, um veado.
Para terminar, conversando
com minha amiga Graça, parceira do blog, ela fala que vai chamar seu
cabeleireiro de “deer”. Eu falo para tomar cuidado com a entonação, pois, se
ficar ofendido, ele pode – no mínino – fazer um estrago em seu cabelo.
- Que nada! Ele vai é gostar. Se, por acaso, achar ruim,
vou dizer que estou falando “dear”, que significa “querido”. De um jeito ou de
outro, tudo acaba bem.
Etelvaldo Vieira de
Melo
2 comentários:
Tio. Adorei
O titulo Fez me lembrar do Leão e a Rosa Lembra ?
Que saudade foi o segundo livro de Senhor não Foi ? Pois é ! tavendo era garoto e lembro até hoje. O senhor sempre nos supreende. Parabéns
A Exemplo do Biba eu tambem estou ligado no seu trabalho. abraços
Aloisio
Estou acompanhando a série "Lie to me" e acabei me interessando pela linguagem do corpo e por consequência lembrei do livro "O corpo fala" que já tinha dado uma olhada por curiosidade apenas. Fiz uma pesquisa no Google mesmo sobre a águia, o leão e o boi e encontrei seu blog.
Parabéns, muito interessante seu texto.
Vou continuar o livro.
Aliás, sou estudante de psicologia e indo pra linha comportamental haha
Grande abraço!
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