PERFORMÁTICO

P
orque o sistema político brasileiro privilegia o Poder Executivo, colocando em suas mãos, no dizer popular, “a faca e o queijo”, sobra muito pouco trabalho efetivo para os membros do Legislativo, além de comer o dito queijo e fazer chantagem para conseguir mais benesses. Não estou dizendo com isso que os políticos sejam preguiçosos ou deixem de trabalhar, mas eles o fazem em causa própria, fazendo “política”, isto é, cuidando de garantir os votos de eleitores para a próxima legislatura. Para comprovar a veracidade do que falo, temos o exemplo de um deputado federal por Minas Gerais que, durante 8 mandatos (31 anos), apresentou 20 míseros projetos, quase todos arquivados e que quase nada de positivo acrescentaram à vida da população.
           
Falando dos vereadores, de suas poucas atribuições, e que eles amam de montão – pois acreditam que podem lhes trazer dividendos eleitorais, estão a de dar nome às ruas e a de oferecer títulos de cidadão honorário para personagens de destaque na mídia.
           
O nome de uma rua deveria ser escolhido por seus moradores, através de consenso. Quando não fosse possível, que se acolhessem sugestões tiradas de nossa flora e de nossa fauna, buscassem nomes sugestivos ou até mesmo de valores, cujas cotações andam em baixa.
           
- Moro na Alameda da Esperança, quase esquina com Avenida da Honestidade – iria responder Brisabela Alves à pergunta de Armando Bonfim.
           
Raramente seria admitido dar nome de pessoas aos logradouros. Eu, por exemplo, moro numa rua com o nome de um indivíduo que nunca vi mais gordo. Gostaria que ela se chamasse Rua da Solidariedade, para que as pessoas que ali passassem pudessem ser tocadas por esse valor.

          Outra mania que toma conta da classe política é a de espalhar estátuas de bronze pelas praças e calçadas da cidade. Não tenho nada contra isso, até acho bonito, embora carregue um pouco de receio de levar um tropicão em uma delas.
           
Imagem: www.skyscrapercity.com
Existe outro inconveniente. Minha amiga Isaura Felicidade, passando por uma das principais praças da cidade, vislumbrou algo que ela imaginou ser um artista performático. Ela se aproximou e lhe disse:
           
- Parabéns pelo seu desempenho. Você se apresenta igual ao Roberto Drummond.
           
(Para os desavisados, Roberto Drummond foi aquele cronista que induziu toda uma torcida de futebol a comprar secadora de roupa, tendo se declarado inimigo do vento: “Se houver uma camisa preta e branca pendurada no varal durante uma tempestade, o... torce contra o vento”.)
           
Como o pseudo-Roberto não disse nada, nem estendeu a mão como gesto de pedir um trocado, Isaura tocou-lhe o rosto e se deu conta de que estava, na verdade, diante de uma estátua de bronze.
           
Dias desses, passei perto do Roberto e notei-lhe o rosto um tanto descascado, parecendo que estava com aquela doença chamada vitiligo. Pensei: Será que a Prefeitura não toma a iniciativa de passar um protetor solar no rosto desta estátua? Com essa onda de aquecimento global, não há pele que resista, mesmo sendo de bronze! Se eu fosse o Roberto, deixaria de bobeira e, quando o calor apertasse ou já chegasse a noite, iria tratar de me esconder sob uma marquise.
           
Está certo que existem outras estátuas espalhadas pela cidade, como “os quatro cavaleiros do Apocalipse”: Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos. Estão eles numa praça bastante arborizada, estando Otto e Fernando sentados. Quer dizer que a conversa deles pode se prolongar indefinidamente, sem problemas. O mesmo ocorre com Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava. Embora tenha a cabeça desprotegida, Carlos pode contar com as sombras dos prédios. O problema mesmo ocorre com o Roberto. Também, quem mandou ele ter sido torcedor daquele time...

Etelvaldo Vieira de Melo

1 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal, mas, amigo, o que que vc tem contra aquele time? É um time muito simpático, tão simpático qto o seu.Regina

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