PASTEL & PASTEL

       
D
e repente, vejo-me intrigado com o termo “pastel”. Fico sem entender como ele pode designar uma pessoa moleirona, molenga, preguiçosa, babaca (aquele que, entre outros defeitos, quer linhas de metrô até os estádios para o campeonato da FIFA [i]) já que, no seu sentido original, designa um delicioso petisco, um lanche que remedia a fome em muitas situações de emergência. Tanto é verdade que as cidades vivem abarrotadas de pastelarias. Fico sem entender como um termo pode designar conceitos tão distintos, um cheio de nobreza e deferência, o outro tão vulgar e pejorativo.
        
Quando o Muro de Berlim caiu para mim e outros colegas de internato, ou seja, quando fomos expulsos de um confinamento e obrigados a sobreviver comendo do pão conquistado á custo de nosso suor, tive três colegas que foram morar em uma república. Numa das visitas que lhes fiz, encontrei-os entusiasmados, devorando um prato de mingau de fubá, regado a folhas de couve. Pensei comigo, eu que não era dado a perceber de imediato as coisas: A vida anda difícil para esses meus amigos! Todos eles, hoje, já ultrapassaram a casa do milhão. Um deles, que já ultrapassou a casa do bilhão, naquela ocasião, além do mingau de fubá, vivia à custa de pastéis. Tenho uma vontade danada de ir até sua casa, levando uma porção de pastéis, só para ver sua reação, se ele demonstra um pouco de reconhecimento para aquele alimento que foi seu maná nos tempos de vida no deserto, agora que tem um cardápio que vai de caviar para cima.
        
Estive numa cidade turística do Estado de São Paulo, onde existe uma famosa pastelaria que presta homenagem a políticos, identificando com seus nomes os diferentes tipos de pastéis que produz. Assim, temos, por exemplo, um pastel que homenageia aquele político que não pode colocar o dedinho do pé fora do país, para não ir pro xilindró (presídio). Como todo turista acometido de bobeira, acabei comendo alguns daqueles pastéis, mal sabendo que poderia ter uma indigestão ou uma morte por envenenamento.
        
Agora, estou sabendo que, numa cidade turística do Sul Maravilha, existe uma pastelaria do gênero que homenageia artistas de cinema. Desse modo, as mulheres poderão saborear um Brad Pitt, um Bradley Cooper, um Johnny Depp, um Channing Tatum, um Leonardo diCaprio, um Ray Gosling ou um George Cloney. Tenho uma amiga que era apaixonada por Richard Gere. Se for para olhar com olhos de hoje, ele irá parecer um pastel frio, e não existe nada pior do que um pastel frio. Por isso, ele pode ser lembrado por seus melhores momentos, como seria o caso do Harrison Ford e até mesmo Tom Cruise, impecável nos tempos de Ases Indomáveis. Quanto ao rol feminino, os homens poderão se deliciar com uma Scarlett Johansson, uma Jennifer Lawrence, uma Emma Stone ou uma Charlize Theron. Deixando de lado os desgastes temporais, deve ser pra lá de bom um pastel de Ava Gardner, Ingrid Bergman, Elizabeth Taylor e um de Marilyn Monroe, fazendo justiça ao dito cujo em Quanto Mais Quente Melhor.

Etelvaldo Vieira de Melo




[i]  Por mim, gostaria que a FIFA se fifasse.

1 comentários:

´Mário Cleber disse...

Adoro pastel, adorei sua crônica e me revolto com o termo usado para designar um "bobão", parado, ou entupido, como diz minha mãe.

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