Imagem: bocaberta.org/natasha kinaru |
Olhei o meu semblante numa fonte,
dos anos ele já está cortado.
Se Marília me visse com certeza
outro semblante ameno havia amado.
Minhas mãos não são estas
tão vazias e frias.
Em que espelho terei perdido
o seu esmalte,
onde estão minhas mãos
de ontem às mãos?
Ah, Marília,
não queira o fado triste
pôr abaixo esta face
ainda em riste.
Não era assim o meu cabelo.
As cãs
não se outonizam com dignidade,
nem o corpo caindo
tem cuidados.
Ah, Marília,
não queira o longo inverno
descair nossos sonhos
mais etéreos.
Não era assim o meu gesto
doce mente
eu escrevia versos
lentamente.
Ah, Marília,
não queira o tempo amaro
desfalecer a poesia
sem amparo.
Eu olhei novamente numa fonte
e meu semblante já está cortado.
Ai, Marília,
teu estro canta e chora
o espaço que foi leite
derramado.
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