ENSACANDO O SACOLÃO

    Sacolão é aquele estabelecimento que, entre outros, vende verduras, legumes e frutas. O termo passou a ser usado quando os comerciantes do gênero começaram a vender tais produtos, com algumas exceções, a preço único, com valor convidativo. Logo, logo, quase todos os produtos foram para o campo das exceções, o que fez com que a regra se tornasse, essa sim, exceção.
        
Fato similar aconteceu com as lojas de R$1,99. Hoje, quando você entra em uma dessas lojas, tal preço só é encontrado em produtos que são a sucata da sucata. Tanto em um caso como no outro, o que verificamos foi a esperteza de artistas em engambelar a plebe ignara. No caso dos sacolões, certos produtos atingiram o patamar de primeira linha e nunca mais foram rebaixados, como o inhame, a banana e o quiabo. Outros oscilam, numa gangorra, que assusta e diverte. O chuchu, por exemplo, é um vegetal, vamos dizer, vagabundo, que não tem gosto de nada, a não ser quando cozido à moda de “chuchu beleza”, uma especialidade do amigo Raimundo e que se tornou, mais tarde, Santiago.
        
O chuchu tem, em geral, uma cotação baixa, vendido a preço de sacolão. Entretanto, existem momentos em que ele atinge preços estratosféricos. E não é que, nessas ocasiões, o desejo de comer chuchu fica aguçado? Quem vai entender e explicar o funcionamento de nossos dois cérebros...
        
A banana da espécie “prata” subiu e nunca mais perdeu sua dignidade. Logo, essa história de “dar uma banana” ou aquela outra de dizer que determinado produto é vendido “a preço de banana” mudaram radicalmente de sentido. Se alguém fala: “Estou dando uma banana pra você”, não entenda como ofensa, pois ele pode estar lhe fazendo um elogio; se outro fala: “Este produto está a preço de banana”, pode estar querendo dizer que o tal produto está caro.
        
A ida a um sacolão de bairro popular, o que não é lá essas coisas, requer paciência e análise cuidadosa do que se pretende comprar. No meu caso, quando vou a um supermercado, também demoro, pois, além de confrontar preços, tenho que alisar as latas e suas bundinhas, evitando, assim, comprar alguma amassada.
        
No sacolão onde faço minhas compras, “gigante no nome e pequenino nos preços”, noto muitos frequentadores com problemas de vista, sendo que vários já utilizam óculos. Talvez isso se deva ao fato de que os produtos à venda necessitem de exame minucioso, pois, caso contrário, a gente acaba levando gato por lebre.  Talvez seja por isso que, no quadro de avisos do estabelecimento, existe um cartaz de propaganda de exame de vista em sala das proximidades e a preço módico.
        
Pelo que andei falando, você deve estar pensando ser cansativo como uma maratona o ato de fazer um sacolão. Realmente, posso dizer que sim, mas não fique preocupado em demasia. Caso venha a esbarrar por essas bandas e tenha que se submeter a isso, terá uma agradável surpresa, que irá lhe amenizar a dor: o dono do estabelecimento, cada vez mais rico, mais estribado, logo nos primeiros contatos, estará lhe cumprimentando, apertando sua mão. Ele irá falar assim, o que deverá enchê-lo de orgulho:
        
- Bom dia, chefe. Tudo bem com o senhor?
        
Melhor do que isso, só mesmo ir ao Mercado Central da cidade e, depois de comprar queijos e doces, ouvir a vendedora, toda apetrechada, perguntar:
        
- Mais alguma coisa, querido?
Etelvaldo Vieira de Melo

            

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