ENTREVISTA COM A ESCRITORA ANA CRISTINA CESAR (BASEADA EM "INÉDITOS E DISPERSOS")



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R  : Defina-se para o leitor, ACC.
AC: "Não sou divina, não tenho causa.
        Não tenho razão de ser nem finalidade própria:
        Sou a própria lógica circundante."
        Sou uma mulher do século XIX disfarçada em século XX."
        "Femme d'interieur e Femme intrigante."
R  : Que pensa neste momento?
AC: "Eu penso
        a face fraca do poema
        a metade na página partida
        mas calo a voz dura
        flor apagada no sonho."
R  : Faça uma pergunta ao leitor.
AC: "Pergunto aqui, meus leitores,
        Quem é a loura donzela
        Que se chama Ana Cristina
        E que se diz ser alguém.
        É um fenômeno mar
        Ou é um lapso azul?"
R   : Do que você anda atrás?
AC: "do depoimento mais inteiro
        da simplicidade mais erma
        da palavra mais recém-nascida
        do nascimento a mais da palavra."
R   : Com que você sonha?
AC: Sonho "Inesperadas estrelas
        silhuetas
        que se unem
        ajuntam
        céus sem vácuo
        véus caindo."
R   : Fale sobre a Política.
AC: "É difícil ancorar um navio no espaço."
        "Devo impor justiça do um gesto da outra mão
        alimentá-los."
        "Ao meio-dia ligo e leio a última notícia:
        menina de dois anos causa pânico na vida da cidade.
        O tempo virou dramaticamente."
R   : Para quem você escreve?
AC: "É para você que escrevo
        hipócrita, fã, cônjuge, craque,
        de raça, travestindo a minha pele."
R   : Despeça-se do leitor.
AC: "Pensei que não viria mais aqui,
        nas fiz por onde."
        "Chegamos ao mesmo tempo ao mirante
        onde a luz se rompe."
R   : Obrigada pela entrevista.
AC: "Que perdoem (meus) silêncios,
        e os ventos altos."
("Inéditos e Dispersos" foi tema de nossa tese de Mestrado)

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