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Ai,ai, aiai, está chegando a hora...
da população brasileira praticar tiro ao alvo.
Bom seria se fosse, como naquela outra
música de Adoniran Barbosa e Osvaldo
Molles, “Tiro ao Álvaro”. Nesse caso,
seriam uns poucos a serem atingidos.
No caso das eleições, e estou falando
delas mesmo, os “álvaros” somos todos
nós. Por isso, todo cuidado é pouco pra
fugir de uma bala fatal. Bom seria se ela
passasse de raspão ou que, no máximo,
atingisse nosso dedão do pé. Mas não
tem jeito: todos – em maior ou menor
escala – sairemos feridos.
Vivemos um arremedo
de democracia. Tanto é assim que nem dispomos do princípio básico de escolha:
somos obrigados a comparecer às urnas e votar. A democracia aqui é tanta que se
tornou obrigatória. Quando chegamos à sala de votação, estamos referendando um
jogo de cartas marcadas. E tudo por conta de nosso sistema político corrupto e
corrompido.
Com tanto “santinho”
para colar numeração, tem gente que pensa que a eleição para presidente é a
principal. Ledo engano. Ali, quem quer que seja eleito, terá que se submeter às
chantagens e ao fisiologismo de um Congresso que funciona na base do “dá cá,
que eu vou pensar se dou lá”.
Estou sendo
pessimista demais? Que nada! Tanto é que, muitas vezes, chego a ser confundido
com meu amigo Ingenaldo, a pessoa mais crédula que existe na face da Terra.
Considerem vocês outra
questão: gasta-se muito e cada vez mais com as eleições em nosso país. Advinha
quem financia esse gasto. Pense mais um pouco: quem vai pagar a conta?
Colocando lenha na fogueira, levantamento feito pelo UOL constatou que “sete
das maiores empresas doadoras de campanha nas eleições de 2010 foram ou estão
sob investigação, devido a indícios de corrupção envolvendo contratos públicos
ou por conta de relacionamentos com partidos e políticos”.
Comenta-se à boca
pequena que, como o país para a cada dois anos, ele para para (!) que alguns
possam encher seus bolsos com dinheiro à rodo.
Além dos “cientistas
políticos” e tantos mais, quem ama de montão as eleições são os institutos de
pesquisa.
Engraçado: ao longo
de meus não sei quantos anos de eleitor, nunca, mas nunca mesmo, fui
entrevistado por um desses institutos. Pergunto para as pessoas de meu círculo
de relações se algum já foi (entrevistado). A resposta é sempre a mesma: Não!
De duas, uma: ou os
institutos têm um quadro fixo de um mil e pouco eleitores-padrão, ou eles
realizam suas pesquisas usando de um atributo peculiar ao meu cãozinho de
estimação, Thor: o olfato.
É quase certo que
tais institutos funcionem movidos por sensores olfativos, quando não por
montões de “Deus seja louvado”. Se eles dispõem do chamado “quadro fixo”, seria
melhor que tal quadro nos representasse nas eleições, proporcionando aos cofres
públicos (isto é, nossos bolsos) uma economia fabulosa.
Para dar um desfecho
a este texto, deveria recheá-lo com dados estatísticos. Vou fazê-lo, embora
lidar com números seja para mim uma tremenda dor de cabeça. Quando eles
envolvem valores, aí a coisa complica de vez. Como assalariado, consigo lidar
com valores até R$10.000,00; passando disso, minha cabeça entra em parafuso. No
entanto, em defesa da honra, vamos lá:
O desfecho foi
inspirado numa daquelas revistas antigas que folheio, quando minha mente fica vazia.
A revista em questão é de 2012, com quase dois anos de existência, sendo, pois,
página da História que, todo mundo sabe, é essa sucessão de fatos sucedidos
sucessivamente. A reportagem, de duas páginas, descreve as perspectivas de
gastos com as eleições daquele ano.
Resumidamente,
a estimativa era que o TSE iria gastar R$6 bilhões para organizar a eleição
daquele ano. O custo da propaganda eleitoral gratuita para o contribuinte seria
da ordem de R$606 milhões e R$52 seria o custo
do voto de cada eleitor aos cofres públicos. Para não me sentir
completamente perdido diante desses números, dados complementares me chamam à
razão: naquele ano, o governo iria destinar R$260 milhões para a erradicação do
trabalho infantil e R$70 milhões no combate à violência sexual contra crianças
e adolescentes. Só não entendi os R$50 milhões que seriam desprendidos na prevenção
e combate à corrupção. Isso foi o que li na revista.
Como esses dados
representavam previsões, procurei confrontá-los com outras fontes posteriores,
obtendo resultados bem diversos. Quem me ajudou a ter uma compreensão melhorada
do gasto na eleição daquele ano foi o Jornal Folha de São Paulo, edição de
31/12/2012. Para o que vem ao caso, destaco as seguintes notas:
- Os quase meio
milhão de candidatos a prefeito e a vereador desembolsaram cerca de 4,1 bilhões
de recursos públicos e privados, próprios ou captados;
- Em média, a eleição
municipal custou a candidatos R$29,44 para cada um dos 138,5 milhões de
eleitores;
- Quanto aos gastos
públicos, foram investidos cerca de R$1,3 bilhão (R$286,3 de Fundo Partidário
R$606,1
milhões não arrecadados p/horário eleitoral gratuito
R$395,3
milhões de gastos operacionais do TSE).
No frigir dos ovos,
vejo que os dados apresentados pela Folha se aproximam daquela projeção inicial
de R$6 bilhões, passando a ser esse valor referência para minhas considerações.
Quanto às eleições de
2014, ou o STF está fazendo boca de siri, ou não estou sabendo pesquisar
corretamente. De qualquer modo, consegui encontrar em alguns sites os seguintes
dados:
- Só os onze
candidatos à presidência deverão gastar quase 1 (hum) bilhão de reais;
- Já os 178
candidatos à vaga de senador deverão gastar um pouco mais que 1 (hum) bilhão de
reais;
- A soma do limite de
gastos de todos os candidatos já registrados na Justiça Eleitoral será de
R$73,9 bilhões;
- O limite médio de
gastos com campanha é de R$2,9 milhões por candidato.
Concluindo, quero
deixar registrada a minha indignação diante de tanto gasto. Sei que, ao fim de
tudo, quem vai pagar a conta é o povo, conta que será acrescida de juros e
correção monetária. Gostaria de poder contar com a ajuda de meu amigo de
adolescência, Aloísio, o Homem Que Calculava, para determinar o quanto de tempo
deverá trabalhar um cidadão de salário mínimo para ganhar o que se gasta numa
eleição. Eu me pergunto: a quem pode interessar ver o país parado de dois em
dois anos por causa de uma suposta democracia, graças a um Sistema que torna a
eleição um jogo de cartas marcadas? Como gente do povo, eu me recuso a aceitar
a acusação de ser responsável pela classe política que temos aí. As eleições,
nos moldes em que estão postas, são uma fonte de desmando e de corrupção. Dizem
que é um grande negócio, com muita gente ganhando muito dinheiro (ao ponto de
certos políticos terem dificuldade em administrar “sobras de campanha”).
Certamente é por isso que somente o povo quer as regras mudadas, o povo,
ninguém mais.
Etelvaldo Vieira de
Melo
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