26/10: aniversário de 2
anos do blog BBCR
Quando
me aventurei no espaço da blogosfera, imaginava estar entrando numa terra de
ninguém, infestada de modernos bandoleiros, denominados hackers, onde valia a
lei do mais forte e onde minha vida não valeria um dólar furado, mesmo que eu
usasse o pseudônimo de Django e contasse com a direção de Quentin Tarantino.
Passados,
agora, dois anos, vejo que meu prognóstico pessimista não se concretizou,
certamente por ter tido um comportamento discreto e, sempre que necessário, ter
procurado a ajuda dos donos deste empreendimento cibernético, a Equipe Blogger.
Existe também uma explicação baseada no tamanho de minha insignificância, ou seja,
o fato de que eu represento um grão de areia no deserto saaraônico da
concorrência e ser uma espécie de Mosquito Namouss, o Perceptivo, aquele que,
durante muitos anos, morou na orelha de um elefante. Quando, por imperiosas
razões, teve que se mudar, achou por bem dar uma satisfação ao proboscídeo. O
elefante respondeu que estava tudo ok, mas não quis confessar que, na verdade,
nunca havia percebido a presença daquele mísero inseto em sua orelha.
Feito
o registro de minha alegria incontida por estar presente neste espaço, menciono
os dois sentimentos que tomaram conta de mim ao longo desses meses.
O
primeiro foi o de pensar que estava aqui para refletir sobre o comportamento da
terceira classe social do país, aquela que começava a usufruir das benesses do
consumismo. Meus primeiros textos falavam muito de lojas de 1,99 e de shoppings
populares, mencionava o fenômeno da globalização e alertava para os riscos das
pessoas serem controladas pelo sistema e seus segmentos.
O
segundo sentimento que tomou conta de mim foi o de assombro por perceber que,
quase sempre, estava repensando ou fazendo uma releitura dos ditos populares.
Essa descoberta me trouxe muita alegria também, já que havia adotado a máxima
de que “aprendizagem é a arte de
desocultar mistérios”. Eu, que busco ansiosamente um significado para a
existência, percebo que o trato com a sabedoria popular é uma forma de me
aproximar da cultura, da essência de tudo aquilo que a humanidade construiu ao
longo dos séculos. Se tudo isso não me traz uma resposta para minhas indagações
existenciais, pelo menos me aproxima mais da condição humana. Aparentemente
pode parecer coisa banal, mas isso me parece da mais extrema importância:
sentir que sou gente, que sou um ser humano, que carrego uma herança cultural de
muita riqueza, sabor e beleza.
Por
que o “tudo passa”? “Tudo passa, tudo passará” é trecho de uma canção de Nelson
Ned, um cantor de estatura pequena, mas que tinha um vozeirão e enxergava
longe. Sua lembrança, ele que também já passou desta, vem a propósito de uma
terceira ideia que anda me rondando e eu pretendo colar às outras duas,
mencionadas anteriormente, nem que tenha que recorrer a um super adesivo de
secagem rápida.
Ao
longo desse tempo, que se estende desde outubro de 2012, creio que mudei muito,
que me tornei uma pessoa melhor, mais interessante. Do ponto de vista físico,
nem quero fazer consideração, pois sei que os espelhos fabricados hoje em dia
passam longe, quando se trata de qualidade, dos de antigamente. Há uns 30 anos
atrás, eu podia demorar em frente a um espelho, analisando com cuidado cada
parte do meu rosto. Hoje, devido à péssima qualidade dos mesmos, só me olho de
relance, com um sentimento de aversão como a de um vampiro frente uma cruz. Mas
eu já encontrei uma solução para esse problema meu e de tantos outros; ela foi
postada numa crônica em que falo do projeto de exportar ideias (28/09/2013).
Detalhando
os ganhos, posso dizer que me tornei uma pessoa mais atenta à vida e aos
acontecimentos, agucei minha curiosidade frente ao que é novo, melhorei meu
vocabulário, aprendi muito ao compartilhar ideias com minha parceira de blog,
retomei o hábito da leitura, produzi textos (104 publicados até hoje) que, em
outras circunstâncias, não haveriam de vir à luz. Resumindo, quero dizer
que desenvolvi o hábito da reflexão. Hoje, posso fazer minhas as palavras de
Aristóteles ao afirmar que “a vida sem reflexão não merece ser vivida”.
Tudo
passa, mas também permanece, tudo se renova. Assim é a vida para quem não se
contenta em ficar olhando pela janela. Até as mínimas coisas ensinam essa lição
do novo. Semana a semana, compartilho com você essas descobertas e
aprendizagens. Muito obrigado pela sua companhia amiga. Espero contar com você
sempre e sempre me tornar cada vez mais digno de sua atenção.
Adendo (só pra não perder o trem da História):
De repente, eu me vejo pensando em trechos
de duas músicas.
A primeira, de Dorival Caymmi: “Marina morena Marina você se pintou/ ... Me
aborreci, me zanguei / ... desculpe Marina, morena / Mas tô de mal, de mal com
você”.
A outra é uma transversão daquela de
Antônio Barros e cantada por Ney Matogrosso, já apresentada duas semanas atrás,
neste blog: “Neste mato tem rastro de
cobra, tem couro de lobisome / Se ficar, o bicho pega; se correr, o bicho come”.
Etelvaldo Vieira de
Melo
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