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empos atrás, fui até certo cemitério da
cidade para acompanhar o enterro de um conhecido.
Entre as
capelas-velório, havia uma com um corpo aparentemente abandonado, sem ao menos
uma coroa de flores. Com esforço, vislumbrei na penumbra o vulto de uma mulher
sentada num canto.
Aquela cena de
aparente abandono e solidão me chocou profundamente, fez com que eu voltasse no
tempo, para minha cidade natal, quando aconteciam os enterros.
Havia aqueles que
provocavam comoção geral, com direito a missa de corpo presente, badalos de
sinos, o comércio fechando suas portas e toda a população, compungida, acompanhando
o esquife. Formavam-se filas imensas e até o vigário se dava ao trabalho de ir
ao cemitério para fazer as orações finais.
Outros, entretanto,
procuravam atalhos para chegar logo ao destino. O caixão, em vez de construído
em madeira trabalhada, era uma armação coberta de pano. Além dos quatro
carregadores, havia, quando muito, mais três a quatro acompanhantes.
Adolescente, então,
tomado de veleidades poéticas, cheguei a produzir este texto, que até hoje
guardo de cor:
Enterro de pobre
Que tão bem encobre
A dor que causou.
Adeus de vivente
Que parte e não sente
Aquilo que deixou.
Sentimento velado
Em coração marcado
Procurando esquecer:
Esquecer o adeus
Esquecer o vazio
Para continuar a viver.
São
contradições assim que me fazem sofrer. Mesmo no momento de despedida, alguns
são mais reconfortados, enquanto outros partem pedindo desculpas pelo espaço
que ocuparam nesta vida. Isso dói.
Etelvaldo
Vieira de Melo
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