O
|
título
acima recomenda duas observações.
A primeira: se conselho fosse bom, não seria
dado, mas vendido, certo? Erradíssimo, como vou discorrer, logo em seguida.
Segunda: de graça, até
injeção na testa, como alardeava meu amigo Jacinto, ele que já partiu dessa, ao
que parece, sem sentir a tal agulhada na testa.
Foi esse amigo que,
formado em Matemática, teve que se virar, lecionando Ciências (já mencionei o
fato em tempos passados, mas - parodiando um programa de TV – vale a pena ver
de novo).
Certo aluno, notando
sua insegurança no trato da matéria, seja pelo suor a escorrer pela face, seja
por certa tremedeira na voz, fez-lhe uma pergunta escabrosa, daquelas que você
tem que pesquisar com lupa em pé de página.
Jacinto, pego assim no
contrapé, mostrou presença de espírito e jogo de cintura para retrucar:
- Por acaso já
estudamos este assunto?
- Não, professor –
falou, com sinceridade, o frangote.
- Pois, então –
arrematou Jacinto, com um sorriso dissimulado. - Estudo é como medicamento: tem
que ser a dosagem certa na hora exata. Quando estudarmos este tema, haverei de
esclarecer sua dúvida, certo?
- Certíssimo,
professor. Muito obrigado.
Assim, o curso seguiu
em frente, aos trancos e barrancos, mais tranco que barranco, até o dia em que
o colega dependurou de vez as chuteiras das Ciências, quando da pergunta de uma
aborrecente cdf:
- Professor, quando
dorme, peixe fecha os olhos?
Não sei por que você
haveria de ficar chateado comigo por haver reprisado essa história. Por acaso,
você “bota a boca no trombone”, isto é, torna público, através de órgãos de
imprensa, sua indignação ao assistir a tantos programas e filmes repetidos na
TV?
Para se ter uma ideia,
o Pica Pau mal consegue dar um “toc” na madeira, porque, mais que isso, seu
bico se parte todo em caquinhos.
Você não vê mais o Tom
correr atrás do Jerry. Agora, com cabelos grisalhos e apoiados em bengalas,
contentam-se em trocar farpas, sentados em bancos.
Tem uma emissora
especializada em importar dramalhões mexicanos. Ela passa um humorístico,
querendo sem querer, em que mal você consegue visualizar os personagens, quase
totalmente apagados de tão repetidos.
Isso me faz lembrar
dos tempos em que estudava num internato. Uma vez ou outra, tínhamos sessões de
cinema. Como os filmes eram graciosamente oferecidos pelas distribuidoras,
muitos eram repetidos.
Havia, por exemplo, “O
Homem da Máscara de Ferro”, não nessa versão modernosa com Leonardo DiCaprio,
mas uma mais antiga. O filme repetiu tantas vezes que aconteceu o dia em que a
fechadura enferrujou. Como não havia desengripante na época da história, o
filme terminou assim pela metade do caminho, com o mocinho tentando inutilmente
arrancar a máscara que lhe cobria o rosto.
Vejo que está ficando
tarde, já chegando a hora de ir embora. Quanto aos prometidos bons conselhos,
fica para uma próxima: não quero que você tire mais uma conclusão apressada: a
de que estou sofrendo de incontinência verbal.
Etelvaldo Vieira de
Melo
0 comentários:
Postar um comentário