Para
mim, uma coisa que pode provocar grande desavença é ser chamado de alienado. No
meu tempo de juventude, esta expressão andou rondando perigosamente a minha
porta. Era um tempo difícil, onde viver significava se equilibrar em corda
bamba. Se caísse prum lado, havia a repressão com seus cassetetes e porões; se
caísse prum outro, seria trucidado por uma enxurrada de palavrões proferidos
pelos patrulheiros ideológicos. Em caso de tombo, como se vê, a gente estava
fodido.
O
termo “alienação” é complexo. Dizer que um indivíduo é alienado vai além de
afirmar que ele está desligado dos problemas sociais e políticos. Significa
dizer que tal indivíduo não tem a posse de sua vida, que transferiu para outros
o poder de decisão sobre seus atos, não dispõe de liberdade.
No
fundo, é isso que se observa na sociedade moderna, de consumo. Os indivíduos
não têm autonomia em suas decisões e, mesmo aqueles que não são manipulados
pelo “sistema”, mesmo esses que correm pelas margens são monitorados e
patrulhados através das “redes sociais”.
Deixando
de lado essas considerações conceituais, tentando me livrar da pecha de
“alienado”, trago ao domínio público temas que me incomodam e que requerem
providências urgentíssimas. Para não cansar a beleza de ninguém, vou me ater,
hoje, tão somente a um deles.
AQUECIMENTO GLOBAL
Imagem: sintomasdadengue.net.br |
Enquanto
o planeta Terra agoniza, uma das ameaças para a humanidade pode ser vista a
olhos despidos e sentida na pele. O mosquito aedes aegypti aprendeu rápido as
técnicas capitalistas para se tornar um empreendedor bem sucedido: expandiu sua
área de atuação, ao tempo em que criava novas franquias. Hoje, é um oligopólio
formado por transmissores dos vírus da dengue 1, 2, 3 e 4, além do Zica e da
Chicungunya.
Imagem: oportaln10.com.br |
O
mesmo aquecimento global, responsável pela disseminação desenfreada do danado
do mosquito, também provoca degelo na Antártida e, como consequência, avaliam
os especialistas, os oceanos podem aumentar seu volume em até um metro. Isso
pode trazer trágicas consequências para países como Bangladesh.
Aqui no Brasil,
me causa preocupação a cidade de Recife, que aprendi a amar, mesmo sem ter
conhecido “a moça bonita da Praia da Boa Viagem”, a Belle de Jour do Alceu.
Ela, a moça, quer dizer, a praia, melhor: a cidade, ela é baixa, está no nível
do mar; qualquer mudança na configuração do oceano pode lhe causar desastrosas
consequências.
Aproveito
o ensejo para mandar um recado pros meus amigos recifenses, para que se
mobilizem e se tornem recificientes, desencadeando uma campanha mundial em
favor do gelo, contra o degelo. A título de exemplo, eles poderiam montar uma
peça publicitária, mais ou menos nestes termos:
*Primeira
Tomada: Uma imagem do globo terrestre girando e pegando fogo. Como fundo
musical, “Asa Branca”, com Luiz Gonzaga cantando:
♫“Quando olhei a terra ardeno, qual
fogueira de São João, eu perguntei, ai, a Deus do Céu, ai, porque tamanha
judiação...”♪
E a sanfona arremata: Nhem, nhem,
nhem, nhem, nhem, nenhem, tcbumbumbumbum, tcbumbumbum...
*Segunda
Tomada: Uma jangada, transportando uma geladeira, um freezer ou um ar
condicionado, vai se afastando do Recife, passa pela câmera e se perde no
horizonte.
*Terceira Tomada (estilo
abertura de Star Wars): Os dizeres
Destino
Polo Sul
“Algo deve ser
feito para frear o
aquecimento global.
Já sabe o que você
pode fazer?
Não seja
um alienado!”
Etelvaldo Vieira de Melo
1 comentários:
Multo boa, aliás, ótima a sua crônica. Vivemos em uma sociedade de alienados , até de si próprios, nāo enxergando nada akém do pröprio umbigo. Multo bem colocados, dentre tantos outros, alguns problemas atuais, com destaque ao aquecimento global. Nāo sabia de Recife, o triste final a que poderá ter, nāo foram os tubarōes. Como sempre, a pitada de um humor sutil nāo deixou de permear um texto sério...
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